sexta-feira, 19 de novembro de 2010

tudo sobre a igreja





        TUDO SOBRE A IGREJA

ÍNDICE


Título                                                                                  Página
     Prefácio..................................................................................5                                
1   A Posição Correta da Igreja.............................................7
2   A Igreja de Acordo com o Desejo do Coração de Deus.......21
3   A Maneira de Deus Edificar a Igreja................................37
4   O Fluir e o Aspecto Prático da Igreja...............................51
5    Voltar à Base Correta para a Restauração da Igreja...........65
6   O Único Lugar para o Nome e a Habitação de Deus.........77
7   Os Seis Testes de uma Igreja Genuína............................93                                                   93
8   A Base da Genuína Unidade ......................................107























PREFÁCIO



       Este livro é composto de mensagens dadas pelo irmão Witness Lee numa conferência de jovens em Ananheim, Califórnia, Estados Unidos, em 1976.




































































          Todas as citações da Bíblia são da Versão Revista Atualizada de João Ferreira de Almeida, a menos que há outra indicação identificada por:
VRC: Versão Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida IBB - Rev.: Versão Revista da Imprensa Bíblica Brasileira lit.: tradução literal do original grego ou hebraico





CAPÍTULO UM


A POSIÇÃO CORRETA DA IGREJA

          Nestes capítulos veremos que a restauração do Senhor importa-se com dois ítens principais: a experiência plena de Cristo em nosso espírito e a vida prática da igreja. Há mais de cinqüenta anos, desde 1922 , o inimigo não tem cessado de atacar a restauração do Senhor. Durante os últimos anos nos Estados Unidos, os ataques têm sido sempre focalizados em dois pontos; o Espírito e a base da igreja. O inimigo tem ten­tado ao máximo derrotar-nos em relação à nossa experiência do Espírito e à nossa prática da base da igreja. Aqui vemos a sutileza do inimigo. O que o inimigo ataca são os pontos cruciais. Se o inimigo for atacar algum ponto específico, esse tem de ser um ponto vital. Por isso, temos encargo de tratar essas duas questões.

UMA VISÃO GERAL DA IGREJA
NO NOVO TESTAMENTO

Nesta mensagem, tenho encargo de tratar as questões da vida prática da igreja e sua base correta. Há muitos versículos que precisamos mencionar. Em Mateus 16:18, o Senhor Jesus disse: “Edificarei a minha igreja”. A igreja aqui, que é edificada sobre Cristo como a rocha, é a igreja univer­sal. Entretanto, quando o Senhor Jesus disse em Mateus 18:17: “Dize-o à igreja”, Ele se referia não à igreja universal, mas à igreja local à qual podemos ir. Em 1 Coríntios 10:32 fala-se de “a igreja de Deus”, e em 1 Coríntios 11:16 fala-se de “as igrejas de Deus”. Aqui vemos a igreja, no singular; depois, as igrejas, no plural. Além disso, temos algumas ilustrações da igreja: a igreja em Jerusalém (At 8:1), a igreja em Antioquia (At 13:1 - VRC), a igreja em Cencréia (Rm 16:1 – VRC), a igreja em Corinto (1 Co 1:2). Galatas 1:22 fala de “as igrejas da Judéia” e 1 Tessalonicenses 2:14 fala de “as igrejas na Judéia”, isto é, as igrejas no território judeu da Judéia. Além disso, Romanos 16:4 menciona “as igrejas dos gentios”. Assim, primeiramente temos as igrejas na terra judia; e então, as igrejas no mundo gentio. Atos 15:41 refere-se às igrejas na Síria e Cilícia, duas províncias gentias do antigo Império Romano. Além da Síria e Cilícia, o Novo Tes­tamento fala das igrejas em três outras províncias do antigo Império Romano: Asia, Galácia e Macedônia. Em 1 Coríntios 16:19 fala de “as igrejas da Ásia”; Gálatas 1:2 e 1 Coríntios 16:1 referem-se às “igrejas da Galácia” ; 2 Coríntios 8:1, às “igrejas da Macedônia”. Em 1 Coríntios 4:17, en­contramos a frase: “Como por toda parte ensino em cada igreja”. De acordo com o original grego, Atos 14:23 diz que os apóstolos designavam presbíteros em cada igreja. Romanos 16:16 menciona “as igrejas de Cristo” e l Coríntios 14:33, “as igrejas dos santos”. Assim, temos as igrejas de Deus, as igrejas de Cristo e as igrejas dos santos.

OS DOIS ASPECTOS DA IGREJA


Como já enfatizamos inúmeras vezes, toda verdade na Bíblia tem dois lados. Isso também é verdade com respeito à igreja. A igreja tem dois aspectos: o aspecto universal e o aspecto local. Universalmente a igreja é unicamente uma. Entretanto, localmente a igreja é expressada em muitas cidades. Assim, a igreja universal única torna-se as muitas igrejas locais. Deus é expressado em Cristo, Cristo é expressado na igreja e a igreja é expressada nas igrejas locais. Se não houvesse Cristo, Deus então não seria prático para nós. Seríamos como os judeus que guardam a doutrina de Deus, mas não têm Cristo. Como resultado, Deus é para eles um mero termo; Ele não é prático. O Deus prático é o Deus ex­pressado em Cristo porque Cristo é a expressão prática de Deus. Separado ou fora de Cristo, ninguém pode ter Deus. Entretanto, se você tiver Cristo, então terá Deus. Onde está Cristo? Doutrinariamente falando, você pode responder: “Cristo está nos céus.” Mas se Cristo estivesse somente nos céus, como poderíamos contactá-Lo? Nesse caso, Ele seria doutrinário para nós, sem ser prático. Com certeza, precisamos dizer que hoje Cristo está na igreja. Toda vez que você toca a igreja, toca Cristo. Se tem a igreja, então você tem Cristo. Pela palavra “igreja”, não me refiro a uma construção com um campanário e um sino. Refiro-me à igreja real, que é a expressão de Cristo.

ONDE ESTÁ A IGREJA?

Embora muitos cristãos estejam falando acerca da igreja, precisamos perguntar-lhes onde está a igreja deles. A maioria dos cristãos não ousa dizer que a igreja está na Igreja Católica Romana ou em alguma denominação. Cinqüenta anos atrás eles podem ter tido a audácia de dizer isso, mas hoje não mais, porque a luz da verdade está brilhando nas trevas, e os olhos estão sendo abertos para ver que o catolicismo e as denominações certamente não são a igreja. Tampouco teria alguém a ousadia de asseverar que um grupo livre é a igreja. Grupos livres são grupos livres; não são a igreja. Uma maçã é uma maçã e um pêssego é um pêssego. Você não pode chamar um pêsscgo de maçã, pois tudo tem de ter seu próprio nome. As denominações são deno­minações, os grupos livres são grupos livres e a igreja é a igreja. Por isso, ainda estamos com a indagação: onde está a igreja?
Muitos, achando difícil responder a essa pergunta, podem replicar: “A igreja é celestial e espiritual, e todos os cristãos estão nela.” Isso soa bem e tenho ouvido isso muitas vezes. No passado, as pessoas que falavam comigo não ousavam dizer que a igreja está no catolicismo, nas denominações ou nos grupos livres. Elas foram iluminadas para ver que nenhuma dessas coisas é a igreja. Por isso, elas dizem: “A igreja inclui todos os salvos. Por isso ela tem de ser celestial e espiritual; ela não está na terra.” Eu, entretanto, quero algo prático. Não fale de dinheiro se você não tem nem mesmo um cruzeiro. Prefiro que você me dê um cruzeiro do que falar em vão sobre um bilhão de cruzeiros. Portanto, para com aqueles que dizem que a igreja é meramente celes­tial e espiritual, eu sempre insisto nesta pergunta: “Onde está a sua igreja? Você diz que a igreja inclui todos os salvos. Você não é salvo? Tenho certeza de que você é um querido irmão. De acordo com a sua definição de igreja, todo salvo está na igreja. Exatamente agora, onde está a sua igreja?” Ao falar-lhes dessa maneira franca, eles não ousam dizer: “A minha igreja é a ‘igreja’ metodista.” Numa conversa trivial eles podem dizer que vão à “igreja” metodista, mas quando se chega à verdade concernente à igreja, ninguém ousa falar dessa maneira. Qualquer um que fale dessa maneira, ime­diatamente perderá sua causa. Bem no íntimo, eles sabem que nem a denominação metodista ou qualquer outra denominação é a igreja. Achando difícil responder minha pergunta de um modo claro, muitos têm dito: “Irmão Lee, a igreja é celestial e espiritual, mas ainda estamos na carne e na terra. Embora sejamos salvos e pertençamos à igreja, a igreja não está aqui hoje. É impossível ter-se algo tão celestial e espiritual na terra hoje. Temos de esperar até irmos para o céu, então seremos todos espirituais e estaremos no aspecto prático da igreja.” Minha resposta a esse argumento é muito simples: “Irmão, se for este o caso, então não vamos falar mais sobre a igreja. De que adianta fazer isso? De acordo com a sua argumentação, não pode haver igreja na terra hoje, mas somente no céu no futuro.” Depois de ouvir isso, eles têm dito: “Oh! não quero dizer isso.” Respondo, então: “Por favor, diga-me o que você quer dizer ao afirmar que a igreja é celestial e espiritual, e que não pode ser encontrada entre os seres humanos na terra. Isso não quer dizer que não há igreja na terra hoje? Você disse que a igreja inclui todos os crentes. Uma vez que inclui você, diga-me, por favor, onde a igreja está. Não quero doutrina. Sou como uma pessoa faminta que quer algo para comer. Não estou pedindo um farto jantar. Tão-somente dê-me uma fatia de pão. Você diz que a igreja é celestial. Essa é a natureza da igreja. Mas onde a igreja está localizada? Irmão, pela sua própria palavra está claro que, falando do aspecto prático, você não está na igreja, porque se estivesse na igreja de um aspecto prático, você imediata­mente me diria onde está a igreja. Diria: ‘Esta é a igreja na qual estou’. Irmão, precisamos ser práticos.”

A EXPRESSÃO LOCAL DA IGREJA

Não seja enganado pelo cristianismo de hoje. No cris­tianismo há muito falar vão, principalmente com relação à igreja, mas pouco desse falar é prático. De acordo com a revelação do Novo Testamento, a igreja o Corpo de Cristo, é expressado nas igrejas locais. Se você não tem a igreja local, não tem a igreja. Deus é expressado em Cristo, Cristo é ex­pressado na igreja e a igreja é expressada nas igrejas locais.
Leia outra vez o Novo Testamento. A primeira menção da igreja está em Mateus 16:18, onde o Senhor disse: “Edificarei a minha igreja.” Como já citamos, essa é a igreja universal. A última menção da igreja está no livro de Apocalipse. Em Apocalipse 1:11 lemos sobre sete igrejas em sete cidades: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Aqui a igreja não é universal, mas local. Em vez de dar-nos ensinamentos sobre a igreja, a Bíblia nos dá ilustrações de sete igrejas um sete cidades específicas. Os nomes de todas essas cidades são dados em um único versículo. Assim vemos que toda igreja é igual, em jurisdição, a uma cidade. A carta à igreja em Éfeso é uma carta à cidade de Éfeso. Assim, a igreja em Apocalipse não é a igreja universal, mas a igreja numa cidade, uma igreja local. A intenção de Deus é produzir a igreja por meio de Cristo e fazê-la exprienciável de uma maneira prática e expressada nas igrejas. No Novo Testamento, dois pontos estão muito claros: que a igreja é prática nas igrejas e que cada igreja deve ser equivalente à cidade onde ela está. Em outras pala­vras, cada cidade tem de ter somente uma igreja.

UMA CIDADE, UMA IGREJA

É semelhante ao princípio governante de Deus no casamento, o princípio de uma esposa para um marido. Se um marido tem mais de uma esposa, isso é fornicação, confusão. Assim como todo marido deve ter uma única esposa, também cada cidade só pode ter uma única igreja. Se uma cidade tiver mais de uma igreja, isso é fornicação e confusão espiritual. Como Corpo de Cristo, a igreja é unica­mente uma em todo o universo. Quando essa igreja é expressada em qualquer cidade específica, tem de ser unica­mente uma naquela cidade. Se não for unicamente uma em cada cidade, haverá divisão e fornicação espiritual. Se um homem tiver muitas outras mulheres além da esposa, essas serão concubinas. Somente a esposa aceita legalmente é sua esposa; as outras têm uma relação com aquele homem, mas não são esposas: são somente concubinas. De modo seme­lhante, cada cidade, como um “marido”, tem de ter somente uma igreja. Com relação a essa verdade, não há qualquer sombra de dúvida na Bíblia. A verdade cristalina na Bíblia é: uma cidade, uma igreja.
Após mencionar a igreja universal em Mateus 16:18, Senhor, em Mateus 18:17, mencionou a questão da igreja local, a igreja à qual podemos ir para ter nossos problemas re­solvidos. Depois disso, em Atos, a igreja é mencionada com relação à cidade, como por exemplo a igreja em Jerusalém e a igreja em Antioquia. Em Romanos 16:1, lemos sobre a igreja em Cencréia e em 1 Coríntios 1:2, sobre a igreja em Corinto. Atos 14:23 diz que os apóstolos ordenaram presbíte­ros em cada igreja, e Tito 1:5 diz que presbíteros foram orde­nados em cada cidade. Porquanto uma igreja equivale a uma cidade, os presbíteros da igreja são os presbíteros da cidade. Em cada cidade só deveria haver um único presbitério. Como já enfatizamos, no último livro da Bíblia as igrejas são men­cionadas relacionadas às cidades. Aquilo que João viu, ele escreveu num livro e enviou-os às sete igrejas em sete cida­des. Enviar o livro às sete igrejas equivalia enviá-lo às sete cidades onde as igrejas estavam (Ap 1:11). Essa é a revelação clara da Bíblia. A igreja no universo é uma, mas essa igreja tem de ser expressada na prática na terra nas cidades onde os santos estão. Em cada cidade deveria haver uma só igreja; assim como cada marido deveria ter uma única esposa.
       Entretanto, olhe para a situação hoje. Um “marido” po­de ter muitas “esposas”. Quando visitei pela primeira vez a cidade de Las Vegas, vi uma placa próxima dos limites da ci­dade, dando a população –  cerca de noventa mil –, e tam­bém se gabando de que em Las Vegas havia mais de noventa das assim chamadas igrejas. Em outras palavras, havia uma “igreja” para cada milhar de pessoas. Parece que a cidade do jogo de Las Vegas queria ter a reputação de ser uma cidade cheia de “igrejas”. Entretanto, eles na verdade estavam se gabando da sua fornicação espiritual e da sua confusão. Se você fosse um cristão em Las Vegas, para qual dessas noventa “igrejas” iria? Se não fosse a nenhuma delas, estabeleceria uma outra, a nonagésima-primeira? Isso é divisão, e divisão signífica confusão. Aos olhos de Deus, confusão é fornicação. Fornicação significa que os santos não têm uma relação cor­reta um com outro de acordo com o princípio governante de Deus. Toda vez que um homem relaciona-se com uma mulher fora da restrição do princípio governante de Deus, isso é fornicação. Essa fornicação gera confusão, e confusão significa divisão. Hoje, a situação global do cristianismo é uma questão de divisão. Quem pode negar isso?
Vejam a situação no distrito de Orange, principalmente em Anaheim. Disseram-me que Anaheim é famosa por três coisas: escolas, parques e “igrejas”. Aos olhos de Deus, essas “igrejas” não são igrejas, mas confusão, fornicação. Talvez al­guns haverão de dizer-nos: “E quanto ao fato de vocês virem a Anahcim? Vocês não acrescentaram mais uma ao número atual? Não é mais um acréscimo à confusão? Vocês dizem que nós somos divisões e que vocês são a igreja. Vocês são muito orgulhosos em dizer isso. Também não somos nós cristãos? Como, então, podem vocês dizer que não somos a igreja?” Precisamos responder essa pergunta com muito cuidado para que os nossos olhos possam ser totalmente abertos. Quando dizemos que somos a igreja e não uma divisão, os outros nos acusam de sermos uma seita. Dizem: “As igrejas locais reivindicam que são a igreja e que todos os outros não são a igreja. Isso não significa que eles são uma seita?” Sobre essa questão precisamos de luz. Alguns de vocês, estando sob a influência dessas acusações, podem dizer a si mesmos: “Não somos todos nós cristãos? Por que, então, dizemos que somos a igreja e que eles são divisões, não igrejas? Talvez não seja justo dizer isso. Talvez o irmão Lee tenha ido a um extremo. Talvez alguns daqueles fora da igreja sejam melhores cristãos do que nós. Eles, por exemplo, podem orar mais do que nós e ser mais piedosos em seu viver diário. Muitos deles são gentis, bondosos, mansos e aten­ciosos. Alguns de nós, porém, são superficiais e um tanto descuidados. Como poderíamos com justiça dizer que somos a igreja e eles não?” Freqüentemente tenho me confrontado com esse tipo de conversa.
Vamos refletir acerca de uma esposa, corretamente ca­sada com o seu marido. Mais tarde, o marido se junta a cinco outras mulheres. Suponha que a primeira, a correta, seja bastante rude, mas a segunda é bondosa, a terceira é tranqüila, a quarta diligente, a quinta generosa, a sexta amorosa e espiri­tual. Todas essas outras mulheres são muito melhores em certos aspectos do que a esposa. Todavia, digam-me, dentre essas seis, qual é a verdadeira esposa: a bondosa? a tranqüila? a diligente? a generosa? a espiritual? A resposta a tudo isso é “não!”. A primeira, embora seja rude, é a legítima esposa. So­bre que base dizemos que ela é a esposa correta? A base não é o que ela é, mas em que posição ela está. A pergunta a ser respondida é esta: a posição dela é a de uma esposa ou de uma concubina? Se a posição dela for a de uma concubina, não importa quão boa ela seja: ela não será a esposa porque não tem a posição de esposa. Se alguma das outras cinco mu­lheres fosse a um tribunal, juiz algum diria: “Porquanto você é bondosa e atenciosa, reconheço-a como a esposa ver­dadeira.” Não, o juiz pronunciaria a sua decisão de acordo com aquela que tinha a verdadeira posição, a base correta. Assim, a primeira mulher, embora não possuísse as virtudes das outras, seria reconhecida como a verdadeira esposa.
Encorajo vocês a gastar bastante tempo estudando dois livros que editamos, Palestras Adicionais sobre a Vida Igreja  e A Expressão Prática da Igreja. Esses livros esclarecem a verdadeira situação e expõe a sutileza do inimigo. Posso as­segurar-lhes que tem sido integralmente levado em conta tudo aquilo que o Senhor nos tem dado como o ministério em Sua restauração. O que quer que ministremos é cuidado­samente avaliado. Além disso, todas essas coisas têm sido praticadas na China há anos. Desse modo, temos certeza ab­soluta de que o que estamos fazendo aqui vem do Senhor e que esta é a restauração do Senhor.
Não seja influenciado por qualquer tipo de conversa sutil. Se encontrar críticas que não consiga rebater, leve-as aos presbíteros e cuidaremos juntos dessas críticas. Nossos críticos nos acusam com relação a dois itens principais: a Trin­dade e a igreja. Portanto, todos precisamos conhecer a verdade sobre esses dois pontos. Precisamos conhecer bem a situação e ter as armas adequadas para lutar na batalha.

O SIGNIFICADO DE HERES
NO NOVO TESTAMENTO

Suponha que você encontre alguém que nos acuse de uma seita e de sermos hereges. Não fique ofendido por causa dele nem perca a paciência. Antes, continue aberto e peça-lhe que lhe dê todos os pontos e definições. Quanto mais ele lhe der, melhor. Anote todos os pontos e, junta­mente com outros, ore e tenha comunhão com respeito a eles. Talvez, em dado momento, o Senhor lhes proporcione a oportunidade de ajudar aquela pessoa a obter uma com­preensão adequada do que realmente é heresia.
Muitos cristãos sabem que heresia se refere a algo negativo, mas poucos conhecem o verdadeiro sentido de heresia. Se você consultar um dicionário, descobrirá que heresia é uma palavra grega aportuguesada – uma palavra grega introduzida na língua portuguesa. Você sabe o que é heresia? Para sabermos o que é heresia, precisamos ir ao Novo Testamento e compreender o significado e utilização dessa palavra na língua grega. Não podemos conhecer o sen­tido da palavra heresia simplesmente estudando um léxico. Precisamos conhecer tanto o sentido da palavra grega como também a sua utilização no Novo Testamento. A palavra grega hairesis é usada nove vezes no Novo Testamento (At 5:17; 1:5; 24:5, 14; 26:5; 28:22; 1 Co 11:19; Gl 5:20; 2 Pe2:1). A forma adjetiva hairetikos é encontrada em Tito 3:10. Na maioria vezes em que aparece, o seu significado é “seita”. Em Atos 5:17, por exemplo, fala-se da “seita (hairesis) dos saduceus”. Em Atos 24:5, Paulo foi acusado de ser “o prin­cipal líder da seita dos nazarenos”. Aqui, um pequeno número de pessoas oriundas da religião judaica seguiu Jesus para formar um outro grupo, considerado pelos outros como uma seita. Paulo usa a palavra hairesis enfaticamente em Gálatas 5:20, equiparando heresia (VRC; facções na Versão Revista e Atualizada) à obras da carne, tais como prosti­tuição, impureza e feitiçaria. Imediatamente antes de falar de heresias, Paulo menciona “inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões”. Portanto, iras, discórdias, dissensões e heresias (facções) estão inter-relacionadas. Primeiro temos iras, depois discórdias, e depois de discórdia temos dissen­sões. Em seguida há heresias (facções). Isso significa que se contendermos e lutarmos uns contra os outros, o resultado será divisões que resultam em seitas, facções. Assim, nesse versículo, Darby traduz hairesis como “escolas de opinião”. Ter uma escola de opinião significa agarrar-se a uma opinião que faz com que você se separe e se divida dos outros, e forme uma seita, facção.
A palavra hairesis também é usada em 2 Pedro 2:1, que diz: ‘Assim como no meio do povo surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou”. De acordo com esse versículo, heresia é um ensinamento que desvia você da fé no Senhor. Por isso, considerando todas as nove citações dessa palavra no Novo Testamento, podemos dizer que heresia primeiramente significa causar divisões que formam seitas ou facções no Corpo de Cristo; em segundo lugar, significa apegar-se a um ensinamento que seduz as pessoas e as desvia do Senhor, do Salvador. Por isso, estabelecer uma divisão que resulta numa seita e seduzir pessoas para longe do Senhor, essas duas coisas são heresia.
Uma vez que estejamos claros do significado de heresia de acordo com o Novo Testamento, podemos auxiliar os ou­tros a perceber que não podem tão levianamente acusar-nos de sermos hereges. Se alguém forma uma divisão que resulta numa seita, esse é herege. Além disso, se alguém não crê que o Senhor Jesus é o Filho de Deus encarnado para ser um homem, que Ele foi                     morto na cruz pelos nossos pecados, derramando Seu sangue para redimir-nos, e que Ele ressuscitou e está agora tanto nos céus como também em nós para ser a nossa vida, então tudo o que ele ensinar acerca de Cristo também deve ser herético. Podemos dizer a todos os opositores que cremos no Senhor Jesus segundo a Bíblia. Sustentamos todos os pontos cruciais: que Ele é o Filho de Deus, que se tornou um homem, que morreu por nossos pecados, que derramou Seu sangue para nossa redenção, que ressuscitou, que está agora nos céus, que está também em nós para ser nossa vida e está voltando para encontrar conosco. Uma vez que creiamos em tudo isso, ninguém que seja justo poderia nos condenar como hereges. E totalmente injusto fazer isso. Entretanto, ainda podem alguns dizer: “Vocês prejudicam a Pessoa de Cristo ensinando que Ele é tanto o Pai como o Filho.” Isso nos leva de volta, outra vez, à questão da Trindade.
Dizemos que Cristo é o Pai e o Espírito por causa de Isaías 9:6, 1 Coríntios 15:45 e 2 Coríntios 3:17. Cremos em tudo o que a Bíblia diz. Embora outros possam não concor­dar conosco, não é contudo justo condenar-nos por crermos no que a Bíblia diz. Por isso, a diferença entre nós e os outros não é uma questão de heresia, mas de diferentes inter­pretações, diferentes opiniões. Eles seguem o ensinamento tradicional sobre a Trindade, e nós cremos na pura palavra da Bíblia. Aí há uma discrepância. Os outros dizem que somos hereges, e quanto a eles? Pode acontecer o contrário: aqueles mesmos que nos acusam de sermos hereges serem eles os hereges. Entretanto, por serem queridos irmãos, não desejamos condená-los. De modo semelhante, pedimos-lhes que não nos condenem. Se vocês tiverem comunhão com eles dessa maneira, poderão ser capazes de ajudá-los a ver que não é certo nem justo acusar alguém, que crê no que a Bíblia revela a respeito de Cristo, de ser herege. Diga a eles que muitos mestres fundamentalistas, inclusive alguns que ajudaram a formular o credo ortodoxo no Concílio de Nicéia, foram condenados, ou por serem modalistas ou triteístas. Eles foram condenados porque, ao defenderem a verdade contra a heresia do triteísmo, na ocasião pareceram ser modalistas; e ao defenderem a verdade contra o Sabelianis­mo, que é uma forma de modalismo, eles pareceram estar seguindo o triteísmo. Entretanto, todo o cristianismo não condenaria esses mestres notáveis como hereges, pois eles foram honestos em crer em ambos os aspectos da revelação do Deus Triúno na Bíblia.
Agora cremos que o Filho é o Pai e também que o Se­nhor é o Espírito. Porém, ainda cremos no outro lado do Deus Triúno: que todos os três da Deidade existem ao mesmo tempo e que entre Eles há uma verdadeira co-inerência por toda a eternidade. Embora não consigamos conciliar esses dois aspectos da Trindade, absolutamente cremos em ambas. Por isso não é justo acusar-nos de sermos hereges. Antes, os nossos opositores correm o risco de serem eles os hereges, porquanto põem muita ênfase no aspecto de três e negligen­ciam o aspecto de um. Isso os leva ao ápice da heresia do triteísmo.
Vocês precisam apresentar a questão aos críticos dessa maneira. Talvez, enquanto mantêm uma atitude positiva com relação a eles, vocês sejam capazes de ensinar-lhes algo mais e dissipar as nuvens com relação à verdade. A verdade é a verdade, um fato é um fato e uma falsidade é uma falsidade. Enquanto nos posicionarmos de conformidade com a Bíblia e tivermos um espírito de sermos um com o Senhor, posterior­mente a situação será esclarecida e dissipadas serão as dúvidas a respeito da verdade. Se os outros aceitam ou não a verdade, é responsabilidade deles. Não somos responsáveis por isso. O nosso encargo hoje é pela restauração do Senhor. Não seja enganado ou desviado pelos opositores. Anote todos os seus argumentos e tenha comunhão a respeito deles. Estude e aprenda a verdade com eles. Creio que todos seremos ajudados por isso e que o Senhor ganhará mais ter­reno para Sua restauração.

UMA DESCRIÇÃO, NÃO UM TÍTULO

Com relação à igreja, não temos título. O termo “igreja local” não é o nosso título. Quando falamos da igreja em São Paulo, a igreja em Salvador e a igreja em Hong Kong, é o mesmo que dizer a lua em São Paulo, a lua em Salvador e a lua em Hong Kong. A frase “a lua em Hong Kong” não é o título da lua: é simplesmente uma descrição da lua. De modo semelhante, “a igreja em São Paulo” não é o nosso título; é a nossa descrição. Quando a lua aparece em Lima, ela é chamada de “a lua em Lima”, e quando a lua aparece no alto em Paris, ela é chamada de “a lua em Paris”. As palavras “igreja local” são simplesmente um termo descrevendo a natureza da igreja. Hoje, não nos posicionamos meramente pela igreja universal, mas também pela igreja local. A natureza da igreja não só tem o aspecto universal, como também o aspecto lo­cal. Por isso, precisamos deixar claro que as palavras “igreja local” não são um título. Jamais diga: “Eu freqüento a igreja local na avenida Bosque da Saúde em São Paulo.” Fazer das palavras “igreja local” um título é transformar-nos numa seita igreja local e fazer com que nos tornemos uma denominação igreja local. Não praticamos qualquer igreja sectária, mas a igreja local. Quando as pessoas pedem que vocês comparti­lhem com elas a respeito da igreja, pacientemente explique-lhes que não temos qualquer título. Simplesmente somos a igreja. Quando estamos em São Paulo, somos a igreja em São Paulo; quando estamos em Salvador, somos a igreja em Salvador; quando estamos em Buenos Aires, somos a igreja em Buenos Aires. Qualquer que seja a cidade em que nos encontremos, simplesmente somos a igreja lá. Não temos nada a ver com qualquer coisa denominacional. Esta capítulo tudo ok






























CAPÍTULO DOIS

A IGREJA DE ACORDO COM
O DESEJO DO CORAÇÃO DE DEUS

Neste capítulo e nos seguintes vamos nos voltar para a questão da realidade e para o aspecto prático da igreja. Não nos preocupamos com a igreja quanto à doutrina ou mera­mente com a igreja quanto ao aspecto da revelação, mas com a igreja quanto ao aspecto real e prático. Entretanto, a fim de vermos o aspecto real e prático da igreja, precisamos ter uma revelação clara concernente à igreja. Precisamos ver o que é a igreja. Tenho um encargo especial de ajudar àqueles que entraram recentemente na vida da igreja a verem o que é a igreja e conhecer o seu aspecto real e prático hoje na restauração do Senhor. Todos na vida da igreja deveriam estar familiarizados com esses pontos.
O termo “igreja” tem sido danificado, contaminado e es­tragado pelo seu uso no cristianismo. Quando muitos ouvem a palavra “igreja”, pensam em uma catedral ou um edifício com um alto campanário e um sino. Que vergonha entender a igreja dessa forma! A igreja não é um edifício material. Aguns têm sido ajudados – principalmente pelo ensinamento dos Irmãos Unidos – ao saber que a igreja, de acordo com a palavra grega ekklesia significa os chamados reunindo-se juntos. Isso está correto, pois, a igreja é um ajuntamento dos chamados por Deus. Entretanto, essa compreensão da igreja é superficial demais. A igreja revelada no Novo Testamento é muito mais profunda do que isso. Precisamos daí voltar à Palavra santa para ver a revelação concernente à igreja.

O DESEJO DO CORAÇÃO DE DEUS

       Antes de fazermos isso, precisamos ter alguma comu­nhão a respeito do fato de a igreja ser de acordo com o desejo do coração de Deus. Percebo que a frase “o desejo do coração de Deus” não é encontrada na Bíblia. Entretanto, em Efésios 1:5 e 9 temos os termos “o beneplácito* da sua vontade” e “o seu beneplácito”. Quando jovem, ficava muito perturbado com essa frase. Perguntava-me: “Qual é o beneplácito, o bom prazer da vontade de Deus?” Agora, dirijo essa questão a você: você sabe qual é o bom prazer da vontade de Deus? Efésios 1:5 não só fala da vontade de Deus, mas também do beneplácito da Sua vontade. Hoje, principalmente neste país, todos desajam prazer. Os feriados são dias de prazer. As pessoas vão a eventos esportivos em busca de prazer. Se nós desejarnos prazer, entao certamente Deus também deseja. Somente algo morto ou inanimado não tal necessidade. Uma mesa de madeira, por exemplo, não tem necessidade de prazer porque não é viva. Entretanto, todo ser vivo deseja prazer. De fato, quanto mais vivo você for, de mais prazer necessitará. Uma criança de sete anos exige mais prazer do que um homem idoso que mal pode respirar. Uma criança é freqüentemente travessa simples­mente porque está buscando prazer. O nosso grau de vida determina de quanto prazer necessitamos. Porquanto Deus é, sem dúvida o mais vivo de todos, Ele certamente precisa do máximo de prazer. Se nós, como pecadores caídos, necessitamos de prazer, então quanto mais Deus, Aquele que vive, não terá uma profunda necessidade de prazer? Quando es­tava no cristianismo, ouvi inúmeras vezes que fomos salvos porque Deus nos ama. Constantemente os pregadores citavam João 3:16. Diziam-me meramente que Deus ama os pecadores e que deseja introduzi-los em Sua mansão celes­tial. Todavia, jamais me disseram que Deus tem um prazer. *N. do T.: Palavra de origem latina: “bene”- bom; “placere”-  prazer. Ou seja, “bom prazer”.
Diferente do livro de Romanos, que começa da perspec­tiva da condição de homem caído, o livro de Efésios não começa a partir do homem, mas a partir de Deus. O livro de Efésios revela do que Deus necessita. Deus necessita de prazer, e esse prazer está de acordo com a Sua vontade. Não entenda essa palavra “vontade” à sua maneira. Aqui, não quer dizer que Deus tenha uma vontade forte; antes, o significado aqui é um pouco semelhante a um desejo. Deus tem um bom deseo um anelo. Ele anela, deseja provar algo. O desejo de Deus é um bom desejo, uma boa vontade, e Seu prazer é esse tal bom desejo. Isso é exatamente o que as palavras “desejo do coração” querem dizer. O termo bíblico para “desejo do coração” é “o beneplácito de sua vontade”. O beneplácito da vontade de Deus é simplesmente o desejo do Seu coração.
Que Deus deseja? O desejo do coração de Deus é ter a igreja. Não é ter um grupo de pecadores salvos, mas obter uma entidade – a igreja. Todos os estudiosos da Bíblia con­cordam que o livro todo de Efésios é sobre a igreja. No livro de Efésios, a igreja é descrita em pelo menos sete ou oito aspectos. Neste capítulo, precisamos tratar de todos esses aspectos. Desejo impressionar todos vocês, principalmente os jovens, com o fato de que o desejo do coração de Deus é ter a igreja. A igreja que está em Seu coração é muito maravi­lhosa. E tão maravilhosa e profunda que nem mesmo o apóstolo Paulo, ao escrever aos efésios, teve expressões ade­quadas para descrevê-la e defini-la. Língua humana nenhuma consegue adequadamente retratar a maravilhosa entidade que está no coração de Deus.

SALVOS PARA ESTAR NA IGREJA


No passado, recebemos ajuda para sermos salvos e depois ensinaram-nos a aperfeiçoar o nosso comportamento. Tudo isso é bom e não há falha aí. Mas isso é tudo? Alguns cristãos são conhecidos como os de “vida profunda”. Não sei se eles realmente são profundos ou não, mas pelo menos ten­tam ajudar outros a conhecer a vida mais profunda. Entretanto, há diferentes aplicações do termo “vida profun­da”. As pessoas que enfatizam a santidade consideram-na como sendo a vida profunda; os que enfatizam o falar em línguas consideram isso como a vida profunda. Outros relacionam a vida profunda à “segunda bênção”; outros ainda entendem a vida profunda como algo misterioso e místico. Entretanto, jamais ouvi alguém aplicar o termo “vida profun­da” à vida da igreja. Embora haja muitas escolas de doutrina no cristianismo, não há qualquer escola chamada “vida da igreja”. Os cristãos hoje perderam o alvo e continuam a perdê-lo. O objetivo de Deus não é simplesmente salvar pecadores e então aperfeiçoar o seu comportamento e dar-lhes uma vida mais profunda: o Seu objetivo é ter a igreja. Se você, depois de ter sido salvo, somente aperfeiçoou o seu comportamento e tornou-se profundo em sua vida, você é útil apenas para algum tipo de exibição. Deus não quer tal exibição. Ele não deseja cristãos individuais – Ele quer a igreja. Ao edificarmos nosso salão de reuniões em Anaheim, adquirimos uma grande quantidade de materiais. A nossa intenção não era ter uma pilha imensa de materiais – era construir um salão de reuniões. De modo semelhante, o desejo do coração de Deus é ter a igreja. Oh! todos precisamos ver isso! Fomos salvos para a igreja, não para qualquer outro propósito. Não fomos salvos somente para a igreja, mas salvos para ser a igreja.
Preocupo-me com o fato de que muitos de vocês ainda não estão claros acerca do propósito da sua salvação. Você precisa ver claramente que foi salvo para a igreja: Essa visão tem de dirigir, controlar e guiar a sua vida toda. Você foi salvo para ser parte da igreja. Agora, deixe-me fazer-lhe esta pergunta: Você vive diariamente como uma parte da igreja? Doutrinariamente, reconhece que é uma parte da igreja e que foi salvo para estar na igreja, mas na prática você vive como uma parte da igreja?. Quando vai às compras, compra coisas como uma parte da igreja? Em nosso viver diário podemos não viver como uma parte da igreja. Doutrina é uma coisa; prática é outra.
Quão deplorável é a situação entre os cristãos hoje! Desde que o Senhor trouxe a Sua restauração a este país, os cristãos têm falado sobre a igreja. Muitos dizem: “Por que vocês dizem que são a igreja e nós não?” Talvez, após dis­cutirem acerca da igreja, alguns pastores saiam para jogar tênis. Por um lado, eles argumentam que nós ensinamos doutrinas erradas a respeito da igreja e, por outro, esquecem-se disso tudo e saem para jogar futebol ou tênis. Hoje, quem se importa com o aspecto real e prático da igreja? Falando quanto ao aspecto prático, quem são esses que estão nas igrejas? Precisamos aplicar essa pergunta a nós mesmos. Em sua vida familiar, você vive como uma parte da igreja? Outra vez digo que fomos salvos para ser a igreja.

A RESTAURAÇÃO DO ASPECTO PRÁTICO
DA VIDA DA IGREJA

Anos atrás ensinaram-me que fomos salvos para que pudéssemos ser santos, e li muitos livros acerca da santidade e de como ser santo. Entretanto, jamais li um livro sobre como ser a igreja. Peço-lhe que leia outra vez o seu Novo Testamento. Se fizer isso, verá que grande ênfase há na revelação divina de Deus sobre essa questão da igreja.
Embora muitos mestres da Bíblia digam que o livro de Efésios fala sobre a igreja, para eles isso é mera teologia. Se examinar o seu viver prático, verá que não se importam ab­solutamente com a igreja. Mas, e quanto a nós? Precisamos ficar impressionados com o fato de que a restauração do Se­nhor hoje é, definitivamente, a restauração da vida da igreja. Aquilo que o cristianismo perdeu, o Senhor está restaurando. Isso não é uma doutrina. O Senhor hoje está restaurando a vida da igreja. Uma vez que não haja vida prática da igreja, o Senhor ainda não tem a Sua restauração. Embora muitas coisas positivas sejam santas, bíblicas e espirituais, nenhuma delas é o objetivo. Novamente declaro que o alvo é a igreja.
Em Atos 2 temos o registro da primeira igreja: a igreja em Jerusalém. Os versículos 41 a 47 revelam que aqueles cristãos eram a igreja. Embora não tivessem a doutrina da igreja e talvez nem mesmo a palavra “igreja”, eles eram ‘a igreja em seu viver. Dia e noite viviam a vida da igreja. Eles podem não ter falado sobre a igreja nem ensinado sobre ela – simplesmente eram a igreja. Durante a época de Atos 2, o Senhor ganhara o que estivera buscando. Todavia, pouco tempo depois, esse objetivo foi gradualmente se obscurecen­do e se perdeu. Agora, no fim desta era, o Senhor veio para restaurar esse alvo perdido. Assim, não estamos aqui por causa da santidade, da espiritualidade, trabalho evangélico ou qualquer tipo de movimento. Estamos aqui pela igreja.  Esse é o desejo de Deus. Deus quer uma igreja real, palpável e prática, não um grupo de pessoas falando sobre a doutrina da igreja. Desde que fui iluminado a respeito disso, ninguém tem sido capaz de enganar-me.
Se você alguma vez viu a igreja numa visão transparente e cristalina, ninguém será capaz de enganá-1o. Jovens, ao irem às universidades, vocês precisam ir com a visão da igreja real e prática. Então, não importa o que os outros lhe digam, você estará claro. Terá uma visão de raio x; será capaz de ver através das coisas, e ninguém será capaz de tirar-lhe algo. Entretanto, se não tiver essa visão clara, você será influen­ciado pelas palavras enganosas de certos cristãos. Por isso, uma vez que tenha tido a visão da igreja, ninguém será capaz de seduzi-lo. Quanto mais falam, mais claro você se torna e diz: “Oh! vejo a pequena serpente sob a língua desta pes­soa!” Somente tendo a visão da igreja é que podemos vencer esse falar enganador da serpente.

A IGREJA COMO A FILIAÇÃO


Vamos agora considerar os diversos aspectos da igreja desvendados no livro de Efésios. Em primeiro lugar, a igreja é revelada como a filiação. Efésios 1:5 diz: “Nos predestinou para ele, para a filiação (lit.) por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”. Essa filiação é a igreja ou a vida da igreja. A filiação para a qual nós, os escolhidos de Deus, fomos predestinados é uma bênção na vida divina a fim de que pudéssemos desfrutar a igreja. Essa filiação veio a existir à época da ressurreição do Senhor. Em Sua ressurreição, o Senhor Jesus, o Filho unigênito de Deus, nas­ceu para ser o Filho primogênito de Deus. Atos 13:33, contendo uma citação do Salmo 2:7, diz: “Como Deus a cumpriu plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei.” A palavra “hoje” refere-se ao dia da ressurreição. No dia da ressurreição, o Filho unigênito de Deus na carne foi gerado pelo Pai para ser o Filho primogênito de Deus. Antes dessa época, o Filho de Deus era o Filho unigênito de Deus, mas em ressurreição Ele se tornou o Filho primogênito de Deus.
A Bíblia nos diz claramente que na ressurreição do Se­nhor, não só Ele próprio foi gerado, mas que todos os escolhidos de Deus nasceram (1 Pe 1:3). O Filho unigênito era tão-somente um. Além Dele não havia outro. Entretanto, o Filho unigênito, em ressurreição, nasceu para ser o Primogênito. Isso implica que há outros filhos. Aleluia! somos os outros filhos! Tenho certeza de que estou incluído entre os muitos filhos de Deus. As palavras “muitos filhos” são encontradas em Hebreus 2:10, que indica que o Pai está “conduzindo muitos filhos à glória”. Deus Pai tem muitos fi­lhos e Deus Filho tem muitos irmãos. Os “muitos irmãos” são mencionados em Romanos 8:29, que diz: “Aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem con­formes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” No dia da ressurreição, o Senhor Jesus nos introduziu a todos na filiação. De acordo com Hebreus 2:11 e 12, os muitos irmãos de Cristo são a igreja: “Pois, tanto o que santifica, como os que são san­tificados, todos vêm de um só. Por isso é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: A meus irmãos declararei o teu nome, cantar-te-ei louvores no meio da congregação (igreja - lit.)”. Os muitos irmãos de Cristo, que são os muitos filhos de Deus na divina filiação, são a igreja. Esse é um conceito muito profundo.
A igreja é a filiação corporativa, a totalidade da divina filiação de Deus. Isso implica que a igreja tem de ser uma en­tidade corporativa que tem a própria natureza de Deus. A filiação implica tanto a natureza como a fonte, pois a filiação indica a fonte e a natureza da igreja. A fonte e a natureza da igreja é Deus Pai. Na Bíblia, o nome Pai sempre denota a fonte e natureza. Numa família, o pai é a fonte com a natureza. Todos os filhos são provenientes da fonte do pai deles e têm a natureza de seu pai. A igreja é uma entidade corporativa resultante da fonte de Deus Pai e que tem a Sua natureza. Nós, na igreja, temos a natureza de Deus Pai. A nossa natureza é divina porque somos oriundos daquela fonte única que é o próprio Deus Pai.
Desde que vim para este país, tenho freqüentemente perguntado aos irmãos qual é a sua nacionalidade de origem. Houve alguns que me disseram que sua origem era britânica, outros eram dinamarqueses e outros eram espanhóis. Agora precisamos indagar qual é a origem da igreja é Deus Pai. A origem de uma pessoa está expressa em sua face. Mas tem a igreja a aparência de Deus Pai? Será que verdadeiramente temos a Sua expressão? Não só temos a origem, a fonte do Pai como nossa aparência, mas também a Sua natureza como nosso conteúdo. A natureza divina, que é o próprio Deus, é a própria natureza da igreja.
Hoje, muitos falam e argumentam acerca de quem é a igreja. Olhe para si mesmo: você se parece com uma parte da igreja? Pelo contrário, você pode se parecer com uma tar­taruga. Sua maneira de sair para jogar futebol lhe dá a aparência de uma tartaruga. Como poderíamos chamar uma tartaruga de parte da igreja? Mesmo que você rotulasse uma tartaruga como parte da igreja, ela ainda não seria parte da igreja. Muitas vezes tenho dito a mim mesmo: “Tantas pes­soas miseráveis na terra andam, trabalham e vivem como tartarugas, e ainda assim proclamam ser a igreja.” Quem é a igreja? Os cristãos que são provenientes da origem de Deus Pai, que têm a aparência de Deus Pai e que estão cheios da natureza divina de Deus Pai e constituídos com ela – esses são a igreja.
Novamente digo: se você teve essa visão, ninguém será capaz de enganá-lo. Se outros tentarem fazer isso a você, simplesmente sorria para eles e diga: “Meu querido, você simplesmente não sabe do que está falando. Você lembra uma tartaruga que se rotula parte da igreja. Você está tentan­do me vender o pacote errado. Quero comprar aquilo que tenha sua origem em Deus, não algo do nível inferior de uma tartaruga. Tive a visão da igreja. Não tente me enganar com a sua mercadoria barata. Agora, deixe-me dizer-lhe o que é a igreja.” Por falar dessa maneira no passado, consegui má reputação porque todos aqueles que se aproximavam de mim a respeito disso eram expostos. Entretanto, não tente aplicar casa palavra aos outros – aplique-a a si mesmo. Você diz que está na igreja. Mas que tipo de pessoa é? Você vive como uma tartaruga ou como alguém cuja origem é Deus Pai? Es­tamos sendo constituídos com a natureza divina ou ainda estamos na nossa natureza chinesa, brasileira ou americana? A igreja não é uma composição de chineses, espanhóis e brasileiros. É uma entidade corporativa, cheia da natureza divina de Deus Pai e constituída dela.
Quando vocês ouvem que a filiação da natureza divina é a igreja, podem replicar: “Como podemos ser assim?” Em primeiro lugar, precisamos ser regenerados, e depois, transformados. Nascemos com uma nacionalidade, tal como chinesa, brasileira, americana, espanhola, britânica. Todavia, essa não é mais a nossa origem. Hoje, a nossa origem é Deus Pai. Nascemos da Sua natureza e agora a Sua natureza está fazendo dentro de nós uma obra de transformação. A Sua natureza não somente gera, como também transforma.

A IGREJA COMO A FAMÍLIA DE DEUS


O livro de Efésios também revela que a igreja é a famíliá de Deus (Ef 2:19). A filiação e a família estão intimamente relacionadas. Se você não estiver na filiação, não pertencerá à família porque essa baseia-se na filiação. Enquanto a filiação indica origem e implica natureza, a família denota a nossa vida doméstica. A nossa vida não deve ser uma vida in­dividualista, mas uma vida familiar. Embora não goste de ver os irmãos e irmãs se casarem com menos de vinte anos, gosto de vê-los casados numa idade adequada e tornarem-se, então, pais de dois ou mais filhos. Isso é vida familiar.
A vida familiar mata o seu individualismo. Preocupo-me com alguns entre nós. Embora sejam bons irmãos e irmãs, seu individualismo jamais foi exterminado. Sabe o que pode matar o seu individualismo? Em primeiro lugar, o seu marido ou esposa, e depois os seus filhos. Quando você se casa, ganha alguém que extermina o seu individualismo. Dia após dia, na vida familiar da igreja, estamos sofrendo a aniquilação do nosso individualismo. Você já sentiu alguma vez que, na vida da igreja, está sob o aniquilar de alguém? Alguns dos meus filhos disseram: “Papai, você tem muitos filhos. Gos­taria que fosse somente eu e não tivesse tantos irmãos e irmãs, porque todos eles me incomodam.” Louvado seja o Se­nhor pela vida da igreja ser uma vida familiar!
Deus Pai não tem intenção de ter filhos individualistas. Sua intenção é ter uma família, e nós somos a Sua família. Embora todos pertençamos à família, alguns peraltas não gostam de permanecer com ela; antes, preferem estar fora, em algum outro lugar, vivendo por si mesmos. Você ainda pode manter a sua preferência de ficar longe dos seus irmãos e irmãs. Você gosta de ficar isolado. Entretanto, se considerar a situação humana, verá que a humanidade não depende de indivíduos, mas da família. A igreja é a família de Deus. A unidade de Deus é corporativa, não é individual. Ele não quer que você seja filho único. Você não pode ser Seu filho único porque Ele já tem o Seu Filho unigênito. Você tem de ser um membro da Sua família.
Em grego, a palavra para família ou lar é a mesma para casa ou habitação. Assim, a igreja é a habitação de Deus, a Sua casa e lar (1 Tm 3:15; Hb 3:6). Hoje, família é diferente de casa, mas no Novo Testamento casa e família são um. Em alguns casos é difícil determinar se se deve traduzir a palavra grega para casa ou lar. Ambas estão corretas. Aos olhos de Deus, a casa é a família e a família é a casa. Individualmente, você e eu jamais poderemos ser a casa de Deus. A casa de Deus é algo corporativo, não individualista. Se dissermos que somos a igreja, então precisamos examinar a nós mesmos para ver se somos a casa, a habitação de Deus. Se dissermos que somos a igreja de Deus, então precisamos ser a Sua habitação. Muitos falam acerca da igreja, mas não têm a sua realidade. A realidade da igreja é que ela é a residência de Deus. Deus mora lá. Temos a residência de Deus em nosso meio? Se não a tivermos, então não estaremos qualificados para dizer que somos a igreja. Somos a assim chamada igreja, mas falta-nos a residência divina.

A IGREJA COMO O CORPO DE CRISTO


Com relação ao Pai, a igreja é a filiação e o lar. Agora precisamos ver o que a igreja é em relação a Cristo. Todos os cristãos sabem que a igreja é o Corpo de Cristo (Ef 1:22-23; 5:30). O Corpo de Cristo é a igreja. Esse termo, entretanto, tem sido usado de uma maneira muito descuidada. Depois de chegar a este país, tenho ouvido muita conversa a respeito de “ministério do Corpo” e a “vida do Corpo”. O que era descrito como “ministério do Corpo” por fim revelou ser algo totalmente diferente. Outros disseram que tinham a “vida do Corpo”, mas fiquei imaginando onde será que estava a Cabeça. O Novo Testamento diz claramente que o Corpo é um com a cabeça.. Se não tivermos a Cabeça, não poderemos ter o Corpo. Sem a Cabeça, você terá algo semelhante ao Corpo, mas que não será o Corpo – será um cadáver. Se proclamarmos ser o Corpo, então precisamos perguntar onde está a Cabeça. Em nossa vida da igreja, nós temos a Cabeça? A Cabeça certamente tem de ser Cristo. Em nossa vida da igreja, será que realmente percebemos que Cristo está aqui como a Cabeça? Muitos que proclamam ser o Corpo, mas que não têm a Cabeça, são como um cadáver que de alguma maneira ainda está ativo – um corpo sem uma cabeça ainda agindo como se estivesse vivo. Isso é uma monstruosidade. Se alguém ficasse andando na reunião, sem uma cabeça, todos ficaríamos terrificados. Porém, a situação no cristiánismo hoje é de muitos corpos ativos sem a Cabeça. Estamos realmente sob o encabeçamento de Cristo? Realmente temos a consciência e a aplicação do encabeçamento de Cristo em nosso meio. Muitas vezes os irmãos são incapazes de fazer certas coisas por terem consciência do encabeçamento de Cristo. Percebem que somente Cristo, não nenhum deles, é o Cabeça. Não ousamos tomar certas decisões porque percebemos que somente Ele é o Cabeça. Precisamos honrar o encabeçamento de Cristo e aplicá-lo à prática da vida da igreja de hoje. Se a Cabeça for removida, o Corpo está acabado. Contudo, quando temos a Cabeça, temos também o Corpo.
A igreja como o Corpo implica vida e função. O corpo é um organismo vivo. Se nele não houver vida, já não pode mais ser o Corpo. Sem vida, seria ou um cadáver ou uma organização. Um corpo tem de ter vida. Um corpo também implica função. Assim, o Corpo de Cristo tem três coisas: a Cabeça, a vida e a função. Meu corpo funciona mesmo quan­do estou dormindo. Um corpo morto, entretanto, absolutamente não tem função. Se dissermos que somos a igreja, precisamos então perceber três coisas concernentes ao Corpo: encabeçamento, vida e função. Espero que todos vocês assimilem essa palavra.
Embora possamos ter a vida do Corpo, podemos não viver por essa vida. O corpo humano tem uma vida e certa­mente vive por ela. Se o corpo não viver vida pela que nele está, ele então deve estar doente. O corpo ficar doente sig­nifica que uma parte dele não está vivendo pela vida que está no corpo. Muitos cristãos estão falando sobre a igreja como o Corpo, mas estão doentes, não vivendo pela vida do Corpo. Dizer que somos a igreja, o Corpo de Cristo, significa que vivemos pela vida do Corpo, que é o próprio Cristo. Suponha que você procure um irmão para ter alguma comunhão com ele ou tratar algum assunto com ele. Ao fazer isso, você precisa perceber que está no Corpo e que precisa viver pela vida que está no Corpo. Você não deveria ter comunhão com aquele irmão ou tratar algum assunto com ele pela sua vida natural, mas pela vida que há no Corpo. Talvez, não muitos entre nós tenham percebido isso totalmente. Precisamos perceber que temos de viver e agir vida ue está dentro dentro do Corpo. Não é para sermos santo, vitoriosos ou espirituais, mas para sermos uma parte da igreja, uma parte do Corpo.
Toda vez que refletimos sobre a questão das funções no Corpo, o nosso coração dói. Tantos foram drogados e estragados pela tradição, passado e ambiente do cristianismo. Quando vêm às reuniões, sentam-se lá sob a influência do cristianismo, esperando que alguns “contratados” funcionem por eles. Embora essa seja a prática no cristianismo, não é a igreja funcionando. Na igreja, todo membro funciona. En­quanto estou falando, todo o meu corpo está funcionando. Se o meu diafragma não funcionasse, eu não seria capaz de projetar minha voz para muito longe. Se as minhas pernas não funcionassem, todo o meu corpo sentiria e sofreria por causa disso. Todavia, muitos membros sentam-se nas reuniões sem funcionar e até mesmo sem qualquer sentimento interior com relação a isso. Isso prova que foram drogados pelo cris­tianismo. Em nossas reuniões, todos têm de funcionar. Não importa quantos tenham se ajuntado, mesmo que sejam mais de mil, todos precisam funcionar. Mesmo que não assuma uma grande responsabilidade no Corpo, você ainda precisa funcionar. Se formos sinceros ao dizer que somos a igreja, então todos precisamos funcionar como membros Corpo.

A IGREJA COMO COMPLEMENTO DE CRISTO


A igreja é também o complemento de Cristo, a Sua esposa (Ef 5:25-27, 32). A igreja, como complemento de Cris­to, implica satisfação e descanso em amor. Todo marido necessita de satisfação e descanso, os quais são encontrados no amor. Os irmãos casados podem testificar que a nossa satisfação e descanso só podem estar em nossa esposa. Se dissermos que somos a igreja, então precisamos indagar se Cristo tem o Seu descanso em nosso meio. Isso é sério. Não sejam   tão afoitos em proclamar que vocês são a igreja. Ser a igreja é proporcionar a Cristo a satisfação e descanso adequados em amor. Cristo precisa de tal esposa. A igreja não é meramente um ajuntamento dos chamados por Deus. É satisfação e descanso para Cristo em amor.

A IGREJA COMO O TEMPLO

Para Deus Espírito, a igreja é o templo. Em 1 Coríntios 3:16 lemos: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (VRC). Os crentes, como uma unidade corporativa numa certa cidade, são o templo habitado pelo Espfrito de Deus. Assim, para Deus Espírito, nós somos o templo cheio Consigo mesmo. Não é simples­mente uma questão de se ter a manifestação de certos dons, como cura e falar em línguas. É uma questão de se ter o habitar interior corporativo do Espírito Santo. Essa é a realidade da vida da igreja.

A IGREJA COMO O EXÉRCITO

Para inimigo, Satanás, a igreja é um exército (Ef 6:11-13). Ser um exército não é uma questão individualista. No máximo, você e eu podemos ser apenas soldados. Porém, todos os soldados têm de ser formados e constituídos como um exército. Toda vez que ficamos separados do exército, ficamos numa situação muito perigosa. Precisamos ter a proteção de estarmos no exército. Porque muitos cristãos hoje não estão no exército, estão constantemente sob o ata­que do inimigo. A igreja é totalmente uma entidade corporativa. Todos os aspectos da igreja que abordamos – filiação, família, Corpo, complemento, templo e exército – são entidades corporativas.

A IGREJA COMO O NOVO HOMEM

Além de todos esses aspectos, a igreja é também o novo homem (Ef 2: 15-16). A igreja, como o novo homem, é para o nosso viver. Aleluia! na terra há tal novo homem vivendo! Para o Pai, a igreja é a filiação e família; para o Filho, a igreja é o Corpo e o compelemento; para o Espírito, a igreja é o templo; para Satanás, a.igreja é o exército; para o nosso viver, a igreja é o novo homem. Louvado seja o Senhor por sermos o novo homem! Individualmente não somos o novo homem. Deus tem um novo homem corporativo – a igreja.
Após vermos todos esses aspectos da igreja, ainda podemos ser individualistas? Posso testificar que depois que vi                                                                tudo isso, meu individualismo foi aniquilado. Vi que a igreja é totalmente uma entidade corporativa. Com respeito ao Pai, ao Filho, ao Espírito, ao inimigo e ao nosso viver, a igreja é uma entidade corporativa. Aleluia! a igreja é a filiação, a família, o Corpo, o complemento, o templo, o exército e o novo homem!
Cabeçalho desse capítulo é “O DESEJO DO CORAÇÃO DE DEUS”

























CAPÍTULO TRÊS


A MANEIRA DE DEUS EDIFICAR A IGREJA


Mateus              28:19 diz: “Ide, portanto, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em (para dentro do – lit.) nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” Embora você possa já ter lido muitas vezes esse versículo, talvez jamais tenha per­cebido que ele está relacionado com a edificação da igreja. Em. Mateus 16:18, o Senhor Jesus disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. Mas como o Senhor edifica a Sua igreja? A resposta está em Mateus 28:19. A maneira de se edificar a igreja é batizar os crentes para dentro do Deus Triúno. O Senhor tinha um propósito ao incumbir Seus discípulos de discipular as nações e de batizá-las para dentro do Deus Triúno. O propósito não era que as pessoas escapassem do inferno e fossem para o céu; era que elas pudessem ser edificadas como a igreja.

O MATERIAL E A MANEIRA


Precisamos tomar a Palavra Divina como um todo. Se formos leitores cuidadosos, lógicos, que pensam, ao lermos em Mateus 16:18 que o Senhor Jesus edificará a Sua igreja, devemos imediatamente indagar acerca da maneira pela qual o Senhor edifica a Sua igreja. Para edificarmos algo, precisamos tanto de material como de uma maneira de cons­truir. O material para a edificação da igreja é mencionado em Mateus 16:18. O Senhor aqui diz a Pedro que ele é uma pedra e que Ele edificará a Sua igreja sobre Si mesmo como a rocha. Entretanto, a maneira de se edificar a igreja não é en­contrada nesse versículo. Ao longo dos anos, muitos grandes mestres cristãos têm falado sobre a igreja edificada em Mateus 16:18, mas duvido que um só deles tenha falado sobre a maneira de se edificar a igreja. Outra vez digo que a maneira está registrada em Mateus 28:19.
Somente depois de o Senhor ter passado pela crucificação e ressurreição, cumprindo a redenção plena, é que Ele revelou a Sua maneira de edificar a igreja. A Sua morte foi o término da velha criação, e a Sua ressurreição foi a germinação da nova criação. Por Sua morte todo-inclusiva, na cruz, Cristo pôs fim a tudo da velha criação, inclusive a nós mesmos, nossa carne e nossa vida natural. Não se preocupe com o que você sente a respeito do seu forte ego ou da sua carne corrupta. Importe-se com o fato de que o Senhor pôs fim a toda a velha criação. Aleluia! fomos aniquilados! Todavia, se houvesse somente morte sem ressurreição, a situação seria desesperadora. Louvado seja o Senhor porque após a terminação nós temos a germinação! Hoje, estou feliz e vivo porque fui germinado. A ordem do Senhor a Seus discípulos em Mateus 28:19 está baseada nesses fatos gloriosos.

BATIZADOS PARA DENTRO DA PESSOA
DO DEUS TRIÚNO

Muitos anos atrás, fui convidado para falar numa missão chamada “Missão Ide”. Enquanto refletia sobre o título da­quela missão, imaginava se aqueles amados percebiam o que aquelas palavras realmente significavam. O conceito deles sobre a palavra do Senhor, “Ide”, era sair ao campo missionário para resgatar pecadores caídos a fim de que pudessem ser salvos e ir para o céu. O Senhor Jesus, entretanto, não ordenou a Seus discípulos nesse sentido. Antes, Ele os incumbiu de discipular as nações batizando as pessoas, não só imergindo-as em água, mas para dentro nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O batismo men­cionado aqui não é uma questão de aspergir algumas gotas de água na cabeça de alguém. Esse batismo é colocar os crentes dentro da Pessoa do Deus Triúno.
Um nome sempre denota uma pessoa. Quando chamo um irmão pelo nome, eu tenho a pessoa. Assim, batizar pessoas para dentro do nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo significa imergi-las na Pessoa divina. Mateus 28:19 não menciona três nomes: fala de batizar pessoas para dentro do “nome”. Esse nome é o nome do Pai, do Filho e do Espírito, denotando a Pessoa do Deus Triúno. Batizar pessoas para dentro do nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo é batizá­las para dentro da Pessoa divina do Deus Triúno.
A água usada no batismo é um sinal, não só da morte de Cristo, mas também do próprio Cristo. Romanos 6:3 diz: “Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte?” A maioria dos mestres cristãos enfatiza a água batismal como repre­sentando a morte de Cristo. Não enfatizam que a água também representa a Pessoa de Cristo. Ao imergirmos pessoa em água, colocamo-las dentro da morte de Cristo e, simultaneaniente, dentro da Pessoa de Cristo. Gálatas 3:27 diz: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes.” Se colocarmos esse versículo junto de Mateus 28:19, vemos que ser batizado para dentro de Cristo é ser batizado para dentro do nome, da Pessoa, do Deus Triúno.
Porquanto Cristo hoje é o pneuma, é fácil batizar as pes­soas para dentro Dele. Nada é mais fácil do que inspirar. Estamos no ar o tempo todo e o ar também está dentro de nos. O ar físico é um símbolo do pneuma divino. Cristo hoje é o Espírito que dá vida (1 Co 15:45). Agora, Cristo Senhor é aquele pneuma, o Espírito (2 Co 3:17).  Porquanto Cristo é o próprio pneuma, Espírito, ar, podemos ser facilmente imer­sos Nele. Todos fomos colocados dentro da Pessoa divina do Deus Triúno. A realidade, a substância, a essência da Pessoa divina do Deus Triúno é o Espírito. Deus é Espírito (Jo 4:24). O pneuma divino é a própria essência e substância do Deus Triúno. Quando as pessoas são batizadas para dentro do nome do Deus Triúno, elas são colocadas para dentro da Pes­soa do Deus Triúno, que é a essência, a substância do Ser divino. Não somos imersos na substância do Deus Triúno a fim de que possamos ir para o céu ou meramente para que sejamos santos ou espirituais. É para que sejamos a igreja. O Senhor Jesus edifica a Sua igreja colocando-nos dentro do Deus Triúno. Posso testificar que indubitavelmente estou no Deus Triúno. Você tem certeza de que está no Deus Triúno? Você tem a ousadia de declarar isso? Uma vez que estejamos no Deus Triúno, somos a igreja.

A TRANSFORMAÇÃO PELO FLUIR
DO DEUS TRIÚNO

Ser colocado dentro do Deus Triúno não é algo pequeno. Implica estarmos preparados e posicionados para permitir Deus entrar em nós. Quanto mais o Deus Triúno entra em nós, mais Ele nos transforma.
A melhor ilustração de transformação é a madeira petrificada. A água flui através da madeira para levar embora a essência da madeira e substituí-la com elementos minerais da água. Dessa forma, a madeira é petrificada, transformada. Aleluia! todos fomos colocados dentro do Deus Triúno! O Deus Triúno agora, como a água viva, está fluindo para dentro, através e para fora de nós. Ao fluir através de nós, Ele leva embora a nossa substância “vegetal” e introduz a Sua essência de ouro. Dessa forma, somos transformados.

A TRANSFORMAÇÃO É PARA A EDIFICAÇÃO


Essa transformação é para a edificação. Recentemente, alguns irmãos e irmãs perguntaram-me como poderiam ser edificados. Ser edificado não significa amar um ao outro de uma forma natural – isso é ser um, não no Espírito, mas na carne e na vida natural. Isso está totalmente errado. A maneira de se edificado é ser transformado. O nosso elemento natural tem de ser levado embora. Embora eu possa nunca ter abraçado certo irmão ou tê-lo amado de acordo com o conceito natural, religioso, ele e eu podemos ser plenamente edificados juntos, tendo o nosso elemento natural levado embora e substituído pela essência de ouro de Deus. Quando essa essência de ouro, o fator de edificação, permeia a ambos, somos edificados juntos.
O Senhor Jesus edifica a igreja primeiramente batizan­do-nos para dentro do Deus Triúno. Sendo imersos no Deus Triúno, somos posionados para beber Dele. Em 1 Coríntios 12:13 diz-se: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos bati­zados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” Então, ao bebermos diariamente do Espírito como a água divina, Ele flui dentro de nós; e esse fluir da vida divina leva embora a nossa vida natural, a nossa natureza “vegetal”, e a substitui pela essência de ouro de Deus.
Jamais pense que abraçar uns aos outros e amar uns aos outros de uma forma exterior é um sinal de edificação. Não, isso não é edificação. Edificação é a unidade na natureza de ouro. Quanto mais formos transformados, mais seremos edificados. Se não tivermos sido transformados, até mesmo o nosso amor será um tipo de “mel”. Os cristãos superficiais pensam que esse tipo de amor é unidade. Não, isso não é unidade. Unidade significa que a essência pura de ouro do Deus Triúno é trabalhada para dentro do nosso ser para subs­tituir o nosso elemento “vegetal”. Essa é a maneira de o Senhor edificar-nos como igreja. Que todos possamos ver isso! Esqueça-se do que você recolheu da sua história pas­sada e do que compreendeu de acordo com o seu conceito natural. Precisamos ver a luz celestial.

A ORAÇÃO DO SENHOR PELA UNIDADE

DOS CRENTES


Em João 17, o Senhor orou para que os crentes fossem um. João 17:21-23 diz: “A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim.” É di­fícil recitarmos ou nos lembrarmos desses versículos, porque o conceito aqui transcende totalmente a nossa compreensão natural. De acordo com a palavra do Senhor nesses versículos, devemos ser um assim como o Pai e o Filho são um. Aqui o Senhor orou dessa maneira: “A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós.” Unidade significa que nós, os crentes, es­tamos todos no “nós”. Esse “nós” é o Deus Triúno: o Pai, o Filho e o Espírito. A verdadeira unidade é a unidade no Deus Triúno.
João 17:22 diz: “Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado.” A glória que o Pai deu ao Filho é a filiação com a vida e natureza divina do Pai (Jo 5:26) para expressar o Pai em Sua plenitude (Jo 1:18; 14:9; Cl 2:9; Hb 1:3). Essa glória o Filho deu aos Seus crentes a fim de que eles também pudessem ter a filiação com a vida e natureza divina do Pai (Jo 17:2; 2 Pe 1:4) para expressar o Pai no Filho em Sua plenitude (Jo 1:16). Esse conceito vai muito além do noss raciocínio natural. E fácil agarrar-se à idéia de amar um ao outro. Entretanto, é difícil definir glória. Glória é a filiação com a vida e natureza de Deus para expressar o Pai em Sua plenitude. A verdadeira unidade está nessa glória. Essa unidade é profunda. Nela não há base ou espaço para o égo ou vida natural. Durante os últimos dezenove séculos, o Se­nhor tem desejado ter essa unidade entre os crentes.
João 17:23 diz: “Eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade.” Duvido que alguém hoje compreenda o que significa ser aperfeiçoado na unidade. Se perguntasse aos irmãos líderes dessa área se são realmente um, eles teriam de admitir que, devido a grande parte do seu ser não ter sido ainda transformada, são um somente ate cer­to ponto. Todavia, eles estão a caminho de serem aperfei­çoados na unidade. Ser aperfeiçoado é ser “petrificado”, transformado, isto é,  isto é ter a nossa essencia natural levada embora substituída pela essência divina. Essa é a maneira de ser aperfeiçoado na unidade. Essa unidade não pode ser en­contrada nem mesmo entre a maioria dos maridos e esposas. O Senhor Jesus, porém, orou por ela, e nós estamos no processo de atingi-la.

A REALIDADE DA IGREJA — DEUS TRABALHADO

DENTRO DA HUMANIDADE


A extensão da realidade da vida da igreja que possuimos depende do grau em que fomos aperfeiçoados na unidade. Freqüentemente cantamos as palavras: “Somos um”. Mas o quanto somos realmente um? Tudo depende do quanto temos sido transformados pelo Deus Triúno e até mesmo com o Deus Triúno. Não é algo superficial ou insignificante proclamar ser a igreja. A igreja não é meramente a Pessoa divina ou meramente seres humanos. A igreja é o Ser divino sendo trabalhado para dentro de seres  humanos. Isso é profundo. Quando alguns mestres cristaos ouvem isso, podem se opor e dizer que é algum tipo de misticismo. Mas isso não é misticismo ou filosofia: é a verdade nas profun­dezas da Palavra Sagrada.

A UNIDADE É A IGREJA

A minha intenção neste capítulo é enfatizar que o Se­nhor edifica a Sua igreja batizando as pessoas para dentro da Pessoa do Deus Triúno. No Evangelho de João vemos como somos colocados dentro do Deus Tríúno. João 14 revela que o Senhor Jesus é um com o Pai e que Ele é também o Espíri­to habitando em nosso interior, no qual todos fomos bati­zados e no qual todos podemos ser aperfeiçoados na unidade. Vimos que em João 17, o Senhor orou para que todos aqueles que Nele cressem fossem aperfeiçoados na unidade. Essa unidade é a igreja. O fato de o Senhor aperfeiçoar-nos na unidade consiste na Sua edificação da igreja.
O Senhor edifica a igreja primeiramente imergindo-nos no Deus Triúno; em segundo lugar, aperfeiçoando-nos na unidade mediante o processo de transformação. Transformação é o fluir da essência divina para dentro do nosso ser e a substituição do nosso elemento natural. A maneira de se edificar a igreja não é tentar se aproximar um do outro. Isso é organização, o equivalente a unir tábuas de madeira para se fazer uma mesa. Organização é uma questão de colocar pessoas juntas, entretanto, de acordo com a Bíblia, edificação é uma questão do nosso ser ser transformado numa pessoa, no Deus Triúno. Todos precisamos ser transformados na Pessoa divina. O grau em que podemos ser edificados com os irmãos depende do grau de nossa transformação. Pela nossa vida natural não conseguimos ser edificados na unidade. Se quisermos ter edificação genuína, precisamos ser transfor­mados pela Pessoa divina e até mesmo com a Pessoa divina. O resultado dessa transformação é a unidade, e a expansão dessa unidade é a igreja. A igreja é a unidade entre aqueles que foram transformados, do ser natural para o Ser divino. Embora permaneçamos humanos, fomos transformados no Ser divino, porquanto o Ser divino tem sido trabalhado para dentro de nós. Como resultado, nós somos a igreja. Reflita novamente acerca da ilustração da madeira petrificada. Porquanto a essência mineral tem sido trabalhada para dentro da madeira para substituir a essência vegetal, a madeira posteriormente torna-se pedra. Esse tipo de transformação é para a edificação da igreja.

NÃO PSICOLOGIA, MAS TRANSFORMAÇÃO


Há mais de quarenta anos, costumava fazer muitas admoestações. Por exemplo, via que um presbítero era muito ousado e outro era muito tímido. Por causa disso, eles não eram um. Assim, costumava visitar o ousado e procurava a oportunidade de dizer-lhe uma palavra. Quando a oportuni­dade adequada se apresentava, dizia: “Irmão, na vida da igreja somos um grupo de irmãos. Alguns como você são bem ousados, e outros, como o irmão Fulano, são tímidos. Entre­tanto, todos precisamos ser um. Irmão, espero que doravante você não seja tão ousado e que o irmão Fulano não seja tão tímido.” O irmão aquiescia com a cabeça e dizia: “Irmão Lee, sou sempre ousado. Nasci assim. Que posso fazer? Buscarei o Senhor para que pela Sua graça Ele me ajude a não ser mais tão ousado.” Eu replicava: “Assim está bem, irmão. Vou orar por você.” Eu procedi como um bom pastor. Poucos dias depois visitei o outro irmão e aguardei a oportunidade de dizer-lhe uma palavra. Na hora oportuna, disse-lhe: “Irmão, é maravilhoso, na vida da igreja, ser-se humilde, ponderado e paciente. Outra coisa bem diferente, todavia, é ser tímido.” O irmão, então, disse: “Irmão Lee, nasci uma pessoa tímida.” A isso, respondi: “Já que você percebe que é tímido, precisa orar ao Senhor a fim de que se torne forte e ousado.” Após ouvir isso, o irmão disse: “Sim, vou orar para ser forte e ousado.” Novamente procedi como um bom pastor. Entretanto, na semana seguinte, o irmão ousado ainda era ousado, e o irmão tímido era ainda mais tímido. O meu modo de agir não funcionou. Depois, tentei outra maneira, dizendo ao irmão ousado que fosse ousado e ao irmão tímido que fosse tímido. Por fim, eles foram transformados e disseram: “Irmão Lee, você nos disse para sermos ousados e para ser­mos tímidos. Porém, algo em nosso interior nos mudou.” Por intermédio de experiências como essa aprendi que estava pastoreando uma igreja, não edificando a igreja.
No seminário, os estudantes estudam psicologia. Embo­ra jamais tenha ido a um seminário, no passado cheguei a pôr em prática alguma psicologia. A palavra que ministrava era a palavra da psicologia. Embora essa possa capacitá-lo a pastorear uma igreja, ela não o ajudará a edificar a igreja. A maneira de se edificar a igreja é colocar as pessoas dentro da Pessoa do Deus Triúno e ajudá-las a beber do único Espírito a fim de que o fluir da vida divina dentro delas leve embora a sua essência natural e a substitua pela essência divina. Entre­tanto, quanto mais pastorearmos as pessoas de um modo psicológico, mais dificuldades teremos. O pastorear psicoló­gico meramente alimenta a vida natural e a nutre. Espero que todos vejamos que a edificação da igreja é o operar da Pessoa divina para dentro do nosso ser. Isso produz a unidade. Nesses dias estamos sendo aperfeiçoados na unidade.

A UNIDADE DO ESPÍRITO NO ÚNICO CORPO


De acordo co Efésios 4:3, essa unidade é a unidade do Espírito. Espírito é a realidade da Pessoa do Deus Triúno. O nome denota a Pessoa e a realidade da Pessoa do Ser divino é o Espírito. Assim, a unidade do Espírito denota a unidade dessa Pessoa divina trabalhada dentro de nós.
Essa unidade é chamada de unidade do Espírito, e esse Espírito é o Espírito no Corpo. Assim, Efésios 4:4 diz: “Há somente um corpo e um Espírito”. Isso significa que Espírito não é só para o Corpo, mas está no Corpo. Em um Espírito todos fomos batizados para dentro de um Corpo (1 Co 12:13). O Espírito está no Corpo, não só nos membros individuais. Os sete “um” em Efésios 4 não são mera doutrina. Um Corpo, um Espírito” significa que esse único Espírito é trabalhado para dentro do nosso ser e é constituído para den­tro do nosso ser a fim de que sejamos constituídos em um único Corpo. O Corpo é a constituição do único Espírito. Quando dizemos “um Corpo, um Espírito”, queremos dizer que o Corpo é a constituição do único Espírito, que o único Espírito foi trabalhado para dentro do ser do único Corpo. Por fim, porquanto o Corpo é a constituição do único Espí­rito podemos dizer que o único Corpo é um com o Espírito.
Edificar o Corpo é ter o Espírito trabalhado para dentro de nós e constituído para dentro do nosso ser a fim de saturar e permear cada fibra do nosso ser a fim de fazer-nos um com o Espírito. A igreja é a propria constituiçao do Espirito divino. O único Corpo e o único Espírito não são duas en­tidades separadas. Não, o único Corpo é um com o Espírito, e o único Espírito é um com o Corpo. Essa é razão de não poder haver qualquer divisão na igreja. O Espírito é dois ou é um? O Espírito certamente é um. Portanto, só podemos ter um Corpo.

A ELIMINAÇÃO DOS NOMES DENOMINACIONAIS

 

       Entretanto, veja quantos assim chamados “corpos” há no cristianismo de hoje. Somente na cidade de São Paulo há mais de quinhentos “corpos”. Muitos cristãos se recusam a eliminar essas divisões e a renunciar aos seus nomes denomi­nacionais. O nome presbiteriano tem de ser eliminado e o nome batista tem de ser abandonado. Muitos valorizam nomes como batista e presbiteriano. Alguns Batistas do Sul chegam a dizer: “Primeiro o Senhor Jesus, depois a Igreja Batista.” Eles se importam, não com o Corpo, mas com a sua denominação. Eles não estão dispostos a renunciar aos seus nomes denominacionais. Antes, querem ostentar esses nomes para ser muitas denominações divididas. Contudo, não haverá designações denominacionais na Nova Jerusalém. Se não hoje, então pelo menos na eternidade, todos os nomes denominacionais, que denotam divisões, serão eliminados.


UMA ESPERANÇA DA NOSSA VOCAÇÃO

Efésios 4:4 também diz: “Como também fostes chama­dos numa só esperança da vossa vocação.” Essa única espe­rança da nossa vocação é para o único Corpo. Somente aqueles que realmente vivem no Corpo com o único Espírito têm essa esperança genuína. Aqueles, nas denominações, es­tando na base errada, não mantêm essa única esperança de uma forma genuína. O Corpo, a igreja, tem essa esperança genuína, mas as denominações têm algumas outras esperan­ças. Estou certo de que um dia os amigos denominacionais verão os nomes que eles apreciam sendo lançados fora. Mas qual é a nossa esperança no único Corpo e no único Es­pírito? A esperança da nossa vocação é estar na glória, estar na herança divina na Nova Jerusalém. Essa é a consumação final e máxima da igreja. A vida da igreja de hoje é o Corpo, e a glória de amanhã com a herança divina na Nova Jerusalém é a esperança desse Corpo. A Nova Jerusalém vindoura, onde todo nome denominacional será abandonado, é a esperança do Corpo. Estamos esperando pela Nova Jeru­salém. Aqueles, todavia, que amam as denominações ficarão desapontados em ver o fim de suas denominações. Todos os seus nomes denominacionais serão então abolidos.

UM SENHOR, UMA FÉ, UM BATISMO

Efésios 4:5 diz: “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. A maneira de se entrar nesse único Senhor é pela fé. Nascemos em Adão, não em Cristo. A maneira de entrar em Cristo é crer para dentro Dele. Em muitos exemplos, as palavras gregas traduzidas para “crer em” deveriam sê-lo como “crer para dentro de”, segundo o significado da preposição grega. Em João 6:47, por exemplo, o Senhor Jesus disse: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim (para dentro de mim - lit.) tem a vida eterna” (VRC). Assim, estávamos em Adão, mas cremos para dentro de Cristo. Louvado seja o Senhor pela fé ter-nos introduzido em Cristo! Quando temos fé, temos o segundo nascimento. Tivemos o nosso primeiro nascimento ao nascermos de nos­sos pais, e temos o nosso segundo nascimento pela fé mediante a qual cremos para dentro do Senhor. Ter a única fé é estar no único Senhor.
Efésios 4:5 também fala de “um só batismo”. De acordo com o Novo Testamento, o batismo tem dois aspectos. O primeiro aspecto é a terminação e o segundo aspecto é a germinação. Fomos batizados tanto para dentro da morte de Cristo como para dentro do próprio Cristo (Rm 6:3). Ser batizado para dentro da morte de Cristo é terminação e ser batizado para dentro de Cristo é germinação. Por meio desse um só batismo, a nossa história, a nossa biografia em Adão foi levada a um fim. O batismo pôs fim à nossa história em Adão e simultaneamente conduziu-nos para dntro de uma nova vida. Por isso, pela única fé e pelo único batismo fomos tirados de Adão e transferidos para dentro de Cristo. Agora posso proclamar: “Aleluia, já não mais estou em Adão. Estou totalmente em Cristo, nosso Senhor.” Onde você está? Você precisa responder: “Estou em Cristo”. Porquanto Cristo não está dividido, nós que estamos em Cristo somos um. Porque somos um Nele, a igreja é uma. A igreja não está dividida porque ela está em Cristo e Cristo não pode ser dividido.

UM DEUS E PAI DE TODOS

Efésios 4:6 diz: “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos”. O Pai está não só acima de nós e age por meio de nós, como também em nós. Não conseguimos racionalizar isso. Enquan­to o Pai está acima de nós, Ele age por meio de nós, e en­quanto está acima de nós e age por meio de nós, Ele está em nós. Simultaneamente, Ele está acima de nós, por meio de nós e em nós. Aqui temos unidade. Falta-me expressão ade­quada para falar de todos esses mistérios. A unidade que temos no Pai é a igreja. A igreja é a unidade no Pai, que está acima de nós, por meio de nós e em nós. A realidade da igreja é a Pessoa divina sendo trabalhada para dentro de nós até que sejamos totalmente saturados e permeados com a Sua essência dívina. Aqui temos a única unidade. Essa unidade é a igreja. Quando perde essa unidade, esse um, você já não é mais a igreja. A igreja não é um grupo de cristãos reunindo-se no ar. A igreja é a unidade, o um, da Pessoa divina trabalhada para dentro dos crentes.

AS RIQUEZAS DE CRISTO

E A PLENITUDE DE CRISTO


Em Efésios 3:8 Paulo disse: “A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo”. Paulo pregava as insondáveis riquezas de Cristo a fim de que a igreja podesse vir a existir. A igreja é proveniente das riquezas de Cristo. Junto com o termo as insondáveis riquezas de Cris­to”, o livro de Efésios menciona “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (1:23). Poucos cristãos conho­cem a diferença entre as riquezas de Cristo e a plenitude de Cristo. As riquezas de Cristo são todos os itens do que Cristo é: vida, luz, santidade, justiça e muitos outros itens. Essas são as riquezas de Cristo que estamos constantemente desfru­tando. A plenitude de Cristo é a igreja o Corpo, o resultado do desfrute das riquezas de Cristo. As riquezas de Cristo são um tanto objetivas, mas nós mesmos somos a plenitude de Cristo. Em nosso homem natural, não somos a plenitude de Cristo. Quando, porém, desfrutamos as riquezas do Cristo transformador, tornamo-nos a Sua plenitude.
Veja, por exemplo, um brasileiro robusto. Esse homem é a plenitude das riquezas do Brasil, porque ele é o resultado do desfrute dos bifes, frangos, ovos, milho, feijão, arroz, leite, bananas e muitos outros alimentos brasileiros. Se ele jamais tivesse desfrutado todas essas riquezas, não seria um brasileiro forte e robusto. Esse brasileiro não é as riquezas do Brasil, mas a plenitude do Brasil. De modo semelhante, como o Corpo de Cristo hoje, a igreja é a plenitude de Cristo. Essa plenitude é proveniente do nosso desfrute das riquezas de Cristo.
Após mencionar as riquezas de Cristo em Efésios 3:8, Paulo orou ao Pai, dizendo: “Para que. segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e assim habite Cristo nos vossos corações, pela fé” (3:16-17). Cristo fazer Sua morada em nosso coração é o Seu expandir-se para dentro do nosso ser mediante nós O desfrutarmos. Comer Jesus é o modo de experienciarmos isso. Quando um brasileiro consome tantos frangos, feijão, arroz, ovos, laranjas e bananas, ele se torna uma composiçâo de todas essas ri­quezas. Entretanto, ainda há a necessidade de digestão. Essas riquezas têm de ser assimiladas para dentro do seu ser. Precisamos desfrutar as riquezas de Cristo e assimilar tudo o que Ele é para dentro do nosso próprio ser a fim de que não só sejamos transformados no elemento constituinte da igreja, mas também sermos edificados no único Corpo. Isso é o que significa ser a igreja. A igreja é tão-somente uma. Se quiser­mos ver o que é a igreja, precisamos de graça. Uma vez que tenhamos tido essa visão, jamais seremos enganados por qualquer vento de doutrina (Ef 4:14).
A MANEIRA DE DEUS EDIFICAR A IGREJA

Paramos aqui






























CAPÍTULO QUATRO


O FLUIR É O ASPECTO PRÁTICO DA IGREJA


UM ESBOÇO GERAL DA REVELAÇÃO DA BÍBLIA

A revelação na Bíblia é um todo completo. A Bíblia (Gn 1:1) e termina com uma cidade qua­drada (Ap 21:10, 16). Deus é a origem e a cidade quadrada é a consumação. Assim, considerada como um todo, a revelação na Bíblia é a revelação de Deus resultando numa cidade. Se você não tiver essa visão panorâmica da Bíblia, os milhares de versículos lhe parecerão uma espessa floresta e você se perderá no meio deles. Não saberá o que está lendo ou para onde está indo. Não terá como saber do que a Bíblia fala. Se você penetrar em todos os detalhes de coisas como rãs, gafanhotos e chifres, encontrados no livro de Apocalipse, ficará perdido. Ler a Bíblia pode ser comparado a consultar o mapa de uma cidade. Primeiro, você precisa ter uma visão panorâmica. Depois, terá de atentar às ruas principais. Isso proporcionará a você um esboço geral da cidade e o esboço o guiará a todos os detalhes.
Gostaria de apresentar agora um esboço geral da revelação da Bíblia. Gênesis 1:1 diz: “No princípio criou Deus.” No fim da Bíblia há uma cidade quadrada. “A cidade équadrangular, de comprimento e largura iguais... Seu com­primento, largura e altura são iguais” (Ap 21:16). Essa cidade tem doze portas, três de cada um dos quatro lados. Deus no trono está tanto no alto da cidade como no seu centro (Ap 22:1-2). Vimos que Deus é a origem, o início, e que a cidade quadrada é a consumação, o final. A cidade Nova Jerusalém é uma montanha de ouro, e o trono de Deus repousa no topo dessa montanha. Agora precisamos perguntar: como essa cidade está relacionada com o próprio Deus que é o centro da cidade, e como essa cidade, como a consumação, pode ser o resultado de Deus como origem. Há um fluir, uma corrente dentro dessa cidade, descendo em espiral ao redor da mon­tanha de ouro. Apocalipse 22:1 diz: “Então me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro.” O rio da água da vida procede do trono e flui no meio da rua de ouro. Esse fluir, essa corrente, une Deus e a cidade.

O FLUIR ÚNICO, RECOLHEDOR

Esse fluir não começou em Apocalipse 22; começou no capítulo dois de Gênesis. Em Gênesis 1 vemos Deus como o originador e a origem. Após o homem ter sido criado, ele foi colocado diante da árvore da vida, donde fluía um rio (Gn2:9-10). Gênesis 2:10 diz que esse rio “dali se dividia, repar­tindo-se em quatro braços”, fluindo para as quatro direções da terra, indicando que o fluir é para a terra inteira. O qua­dro em Gênesis 2 é uma miniatura do retrato em Apocalipse 22. Em Gênesis 2 temos Deus, de quem flui um rio. Embora em Gênesis 2 houvesse um jardim, não havia edificação. A diferença entre o jardim e a cidade é que o jardim é algo da criação de Deus em seu estado natural, ao passo que a cidade é algo edificado com certos materiais. No princípio da Bíblia temos um jardim com todas as coisas naturais criadas por Deus. No final da Bíblia, como resultado de Deus dispensar a Si mesmo para dentro do homem, temos uma cidade que substituiu o jardim. Tanto no alto como no centro dessa cidade está o trono de Deus, e desse trono procede o fluir vivo que desce em espiral a montanha. Quanto mais flui esse rio, mais partes da cidade ele alcança. Por fim, esse único fluir atinge todas as doze portas nos quatro lados da cidade.
Não importa de que direção nos aproximemos da cidade, seja norte, sul, leste ou oeste, imediatamente es­taremos no fluir. Aqueles que vêm da América do Sul, entram pelas portas do lado sul; aqueles que vêm da Europa entram pelas portas do lado oeste. Anos atrás, na China, entrei por uma das portas do lado leste. Após entrarmos na cidade por uma dessas portas, encontramo-nos no fluir. Louvado seja o Senhor, estamos no fluir! Por fim, esse fluir nos ajunta em um. Nesse fluir somos verdadeiramente um. Antes de entrarmos no fluir, estávamos espalhados. Os brasileiros eram brasileiros, os dinamarqueses eram dinamar­queses, os americanos eram americanos e os chineses eram chineses. Aleluia! há hoje na terra um fluir recolhedor! Aonde quer que esse fluir recolhedor chegue, as pessoas têm a oportunidade de ser ajuntadas por ele. Há mais de cinqüenta anos, esse fluir chegou à China. Chegou até mim, apanhou-me e levou-me embora. Algumas vezes tentei pular fora desse fluir, mas fui incapaz de fazê-lo. Ainda estou no fluir. Esse fluir recolhedor trouxe-me a este país para eu ser um com todos vocês.

A IGREJA ESTÁ NO FLUIR

A igreja está no fluir. Os que estão nas igrejas vieram de todas as direções para estar no fluir. Louvado seja o Senhor por termos todos sido ajuntados! A única maneira de ser um é estar na corrente. Embora seja maravilhoso estar na cor­rente, às vezes sentimo-nos como que saltando fora dela, tal­vez para ficar longe de certos irmãos. Entretanto, a corrente é muito profunda e muito larga, e simplesmente não temos força para pular fora dela. Se é capaz de pular fora da cor­rente, isso é uma prova de que você nunca esteve realmente na corrente. Não creio que alguém que esteja na corrente possa sair dela facilmente. Alguns parecem estar na corrente, mas mais tarde torna-se evidente que jamais estiveram real­mente nela. Esse fluir, essa corrente, está na igreja.

EDIFICAR A IGREJA BATIZANDO
PESSOAS PARA DENTRO DO DEUS TRIÚNO

Em Mateus 16, o Senhor Jesus disse que edificaria a Sua igreja com Pedro e os outros como pedras, e com Ele mesmo como a rocha fundamental. Em Mateus 18, o Senhor deixou claro que haveria uma igreja à qual devíamos ir para termos nossos problemas resolvidos. Se tivermos um problema que não conseguimos resolver por nós mesmos ou com o auxilio de alguns, podemos ir à igreja. Sem dúvida, essa igreja é a igreja na localidade, a igreja na cidade em que vivemos.
No final do Evangelho de Mateus o Senhor revelou a maneira de se edificar a igreja. E batizar as pessoas para dentro do Deus Triúno. Provavelmente, poucos de nós vimos que o batismo é a maneira de se edificar a igreja. Recente­mente, minha esposa perguntou-me como eu podia provar que batizar pessoas para dentro do Deus Triúno era a maneira de se edificar a igreja. Quando lhe indiquei Mateus 28:19; ela disse que esse versículo não menciona a igreja. Imediatamente lhe referi 1 Coríntios 12:13, que diz: “Pois em um só Espírito, todos nós fomos batizados, em um (para dentro de um -  lit.) corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” Ser batizado em um Espírito é ser batizado para dentro de um só Corpo. Essa certamente é a maneira de se edificar a igreja. Minha esposa ficou convencida. A maneira de se edificar a igreja é colocar as pessoas dentro do Deus Triúno, posicionando-as dentro do Deus Triúno a fim de que sejam capazes de beber Dele. Todos fomos batizados em um Espírito para dentro de um só Corpo, e agora estamos todos bebendo do único Espírito. A Primeira Epístola aos Coríntios 12:13, que mostra ambos os aspectos, é uma prova categórica de que batizar pessoas para dentro do Deus Triúno é a maneira de se edificar a igreja.

A VIDA DA IGREJA DE ACORDO COM ATOS 2

De acordo com Atos 2, no dia de Pentecoste, três mil foram salvos. Se ler os últimos versículos desse capítulo, verá que o que está registrado lá cumpre exatamente a ordem do Senhor em Mateus 28:19 e 20. Nesses versículos, o Senhor encarregou os discípulos de batizarem pessoas para dentro do Deus Triúno e de ensiná-las a observar tudo o que Ele ha­via ordenado. Atos 2:42 diz que os três mil que foram salvos no dia de Pentecoste “perseveravam na doutrina dos após­tolos e na comunhão”. Atos 2 é um registro da vida prática da igreja. Quando, no dia do Pentecoste, os três mil foram batizados para dentro do Deus Triúno, a corrente do trono de Deus os alcançou e os recolheu. Daquele dia em diante, ficaram todos na corrente, praticando a vida da igreja.

DESVIOS PARA FORA DO FLUIR

Entretanto, essa cena agradável não durou muito. Em­bora o fluir lá estivesse, vários ensinamentos judaizantes começaram a penetrar sorrateiramente. Nos capítulos seguin­tes de Atos vemos a entrada desses ensinamentos, todos os quais como pequenas serpentes. Um ensinamento dizia que além de crer em Cristo, os crentes tinham de praticar a circuncisão. Esse ensinamento acerca da circuncisão tornou-se um elemento divisivo, um vento de doutrina que levou alguns embora (Ef 4:14). No dia de Pentecoste, todos os três mil cento e vinte crentes eram um no único fluir. No fluir desfrutavam o Senhor e contavam com a simpatia dos ho­mens. Estavam felizes uns com os outros e experienciavam uma maravilhosa vida da igreja. Entretanto, o inimigo sutil usou uma doutrina do Velho Testamento para causar danos. A circuncisão era bíblica; fora ordenada por Deus e registrada nas letras impressas da Bíblia. Suponha que você estivesse no fluir da igreja e um irmão lhe dissesse: “Não me oponho ao fato de você estar no fluir da igreja, mas e quanto à circuncisão? De acordo com Gênesis 17, Deus ordenou a circuncisão por intermédio de nosso pai Abraão. Nos livros de Moisés, Deus ordenou repetidamente que Seu povo tinha de ser circuncidado e Ele repreendeu os incircuncisos. Certa­mente que a circuncisão não devia ser abandonada. Você não acha que devemos continuar a praticá-la?” Sem dúvida, você seria influenciado por essa doutrina sutil. Embora esse en­sinamento seja saudável, bíblico e claro, nada tem a ver com o fluir atual de Deus. Hoje não são dias de Abraão ou Moisés; são dias da igreja, dias do Espírito. A circuncisão pode ser bíblica, mas fora de época.
Alguns podem dizer que é herético e contrário à santa Palavra de Deus ensinar que devemos renunciar à circuncisão. Entretanto, isso foi exatamente o que o apóstolo Paulo ensinou a respeito da circuncisão. Nos primeiros anos, o vento de doutrina acerca da circuncisão soprou muitos amados para fora do desfrute do fluir da igreja. Eles foram desviados do fluir e formaram a divisão da circuncisão. Aqueles que foram levados por essa doutrina e formaram a facção da circuncisão, sem dúvida nenhuma eram irmãos cristãos, mas não eram a igreja. Pelo contrário, eles se tor­naram uma divisão. Embora fossem membros da igreja, o que eles praticavam era uma divisão e não a vida da igreja. A Bíblia diz que a igreja inclui todos os verdadeiros cristãos. Aqueles na facção da circuncisão eram cristãos, mas haviam sido carregados para fora do fluir da igreja.
Outros judaizantes nos primeiros anos sentiram-se incomodados com o fato de aqueles no fluir da igreja se reunirem no oitavo dia e não mais se importarem com o sábado. Esses judaizantes estudaram os ensinamentos bíblicos sobre guar­dar o sábado. Quanto mais estudaram as Escrituras, mais fortes se tornaram as suas convicções. Eles sabiam que Moisés encarregara o povo de Deus de guardar o sábado, e que Isaías os repreendera por não guardá-lo, dizendo-lhes que haviam perdido a bênção de Deus por violarem o sábado. Esse foi um outro vento de doutrina. Por causa disso, muitos foram varridos do fluir da igreja. Embora essa doutrina acer­ca do sábado fosse bíblica, ela resultou numa outra divisão.
Outros judaizantes ainda se preocuparam com regras sobre alimentação. Eles ressaltaram que, em Levítico, Deus deu regras sobre a alimentação. Esses judaizantes podem ter dito: “As pessoas na igreja comem coisas que são impuras de acordo com Levítico 11. É claro que isso é contrário às Escrituras.” Essa doutrina judaizante tornou-se ainda um outro vento de doutrina tirando os crentes do fluir.
Por fim, o fluir da igreja atingiu a Grécia, onde muitos com uma mente filosófica se reuniam. No início eles ficaram felizes por terem sido introduzidos no fluir divino. Gradual­mente, entretanto, ficaram desapontados porque algumas coisas acerca da igreja não lhes eram tão agradáveis como certos aspectos da sua filosofia grega. Como resultado, eles começaram a ensinar aos crentes a sua filosofia, conhecida na história da igreja como gnosticismo. Os gnósticos pareciam dizer: “O ensinamento de Cristo é bom, mas porquanto é in­completo em certos aspectos, há a necessidade da nossa filosofia.” Essa filosofia tornou-se outro vento de doutrina afastando os crentes do fluir adequado da igreja. Assim, além do fluir da igreja, houve pelo menos quatro divisões.

A CONDIÇÃO DIVIDIDA
DO CRISTIANISMO DE HOJE

Podemos aplicar esse princípio ao cristianismo de hoje. Quase não há hoje na terra o fluir da igreja porque a maioria dos cristãos foi levada embora por ensinamentos diferentes. Alguns, por exemplo, foram afastados pela doutrina relativa à imersão. Toda denominação está fundada sobre uma certa doutrina e essa sempre se torna um vento forte. A Igreja Batista do Sul tem doze ou treze milhões de membros. Quão grande é esse vento! O movimento carismático é outro vento. Alguns naquele movimento ensinam que precisamos todos falar em línguas, sem se preocupar se a língua é ou não genuína. Alguns dizem a você para não falar a sua língua nativa, mas fazer alguns sons peculiares. E proclamam que isso é línguas! Estou familiarizado com isso porque fui uma vez líder naquele movimento. A situação do cristianismo hoje é de divisão. Você agora pode ver porque dizemos que aqueles nas divisões não são a igreja. Eles estão em divisões, não no fluir da igreja. Muitos de nós estávamos naquela situação, mas a misericórdia de Deus nos alcançou, e vimos que o lugar onde estávamos não era a igreja no fluir.

A UNIDADE DO ESPÍRITO E A UNIDADE DA FÉ

No início de Efésios 4, Paulo fala da unidade do Espírito (v. 3). Toda pessoa regenerada tem a unidade do Espírito. Entretanto, os ventos de doutrina mencionados em Efésios 4:14 afastaram a maioria dos cristãos da unidade do Espírito, produzindo divisão após divisão. Em Efésios 4:11 e 12, Paulo diz que os apóstolos, profetas e outras pessoas com dons devem aperfeiçoar os santos. Aperfeiçoar os santos significa ajudá-los a crescer até chegarem a unidade da fé (4:13). A fé em Efésios 4:13 é o objeto da nossa crença; é no que precisamos crer a fim de sermos salvos. Essa fé inclui prin­cipalmente a Pessoa de Cristo e a Sua obra redentora. É claro, isso não inclui a circuncisão, o guardar o sábado e regulamentos sobre alimentação. Não inclui nem mesmo coisas tais como o uso do véu, lava-pés, imersão e falar em línguas. Aqueles que foram carregados por essas coisas precisam voltar ao fluir, aonde podem receber auxílio para crescer em vida. Com algum crescimento, eles abandonarão os “brinquedos”. Seus brinquedos são seus ensinamentos. Pela misericórdia de Deus, alguns serão convencidos e voltarão ao fluir da igreja.
Isso é o que Efésios 4:13 quer dizer com chegar à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo. Chegar à perfeita varonilidade é já não ser mais crianças. De acordo com Efésios 1:23, a plenitude de Cristo é o Corpo. Efésios 4:13 não diz meramente “a plenitude de Cristo”, mas “a medida da estatura da plenitude de Cristo”, isto é, a medida da estatura do Corpo.

DUAS CAUSAS DE DIVISÃO – CEGUEIRA E IMATURIDADE

Esses exemplos de divisões na história da igreja primitiva ajudam-nos a ver a diferença entre a igreja e as denominações. Uma vez que tenhamos tido a visão dessas coisas, seremos mantidos no fluir. Os que estão nas divisões até denominam a si mesmos como certos tipos de divisões. A “igreja” luterana e a “igreja” batista são ambas denomina­ções. Eles até mesmo colocam as palavras luterana e batista depois da palavra igreja. Isso é sério.
Os cristãos são divididos porque são infantis e imaturos; falta-lhes crescimento. Além disso, nada vêem do propósito eterno de Deus e não sabem o que é a economia de Deus. Embora muitos deles amem ao Senhor, amam-No de uma forma ignorante. Veja o exemplo de Saulo de Tarso. Enquanto ele se opunha ao Senhor Jesus e perseguia a igreja, certamente deve ter pensado que estava servindo a Deus. Ele era zeloso e fervoroso por Deus, porém seu zelo era cego. Por esse motivo, quando o Senhor derrubou-o no caminho para Damasco, Ele o fez ficar cego, fazendo-o perceber que ele era cego, estava em trevas e precisava de alguém para instruí-lo de modo que escamas pudessem cair de seus olhos. O irmão Ananias veio para cumprir essa tarefa, dizendo: “Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo” (At 9:17). Depois de Ananias ter dito isso, “imediatamente lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver” (v. 18). Saulo teve uma mudança radical. Muitos cristãos hoje têm um coraçao pelo Senhor, mas estao cegos e em trevas; nao têm a visão celestial. Mais tarde, Paulo pôde dizer: “Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial” (26:19). Desde o dia em que Paulo teve essa visão no caminho para Damasco, ele jamais foi desobediente a ela. Em princípio, ocorre o mesmo conosco. Nós vimos algo. Se não viu essa visão, talvez agora seja a hora de você vê-la. Não é adequado simplesmente ser religiosamente zeloso por Deus. Muitos dos perseguidores de Jesus e dos apóstolos eram zelosos por Deus. Eles até mesmo sentenciaram o Senhor Jesus à morte em seu zelo por Deus. O zelo deles, entretanto, era total­mente cego e em trevas.
Louvado seja o Senhor por termos um céu aberto com uma visão clara! Vimos que a igreja adequada é o fluir. Assim, não precisamos nos preocupar com ensinamentos divisivos, mas voltarmo-nos à unidade da fé. No passado, muitos de nós fomos levados pelos muitos ensinamentos divisivos, porém, pela misericórdia de Deus, nós nos afas­tamos deles. Renunciamos aos ventos de doutrina e agora somos pelo fluir. Estamos no fluir e o fluir está em nós.

O ASPECTO PRÁTICO DA IGREJA

Até este ponto, temos tratado da realidade da igreja. Agora precisamos prosseguir considerando o aspecto prático da igreja. Tenho sabido de alguns amados que verdadeira­mente viram a realidade da igreja, mas não estão claros sobre o aspecto prático da igreja. Posteriormente, por causa disso, eles perderam o alvo. Precisamos tanto da realidade quanto do aspecto prático.
Em diversos versículos da Bíblia, certos aspectos da igre­ja são expressos. Quando combinamos esses versículos como as peças de um quebra-cabeça, obtemos uma visão completa da igreja. O mesmo é verdade com relação ao aspecto prático da igreja.

A IGREJA LOCAL É O ASPECTO PRÁTICO DA IGREJA

       O primeiro versículo que trata do aspecto prático da igreja é Mateus 18:17, no qual o Senhor Jesus fala de dizer algo “à igreja”. Nesse trecho da Palavra, temos uma visão clara do aspecto prático da igreja. Em Mateus 16 vemos o material para edificação da igreja – pedras edificadas sobre a rocha. Em Mateus 28 vemos que a maneira pela qual o Senhor edifica a igreja é batizando as pessoas para dentro do Deus Triúno. Agora porém precisamos descobrir o lugar onde o Senhor edifica a igreja. Não é lógico dizer que Ele edifica a igreja nos céus. A edificação da igreja tem de ocor­rer na terra. Todavia, já que a terra é muito grande, ainda precisamos saber em qual lugar da terra o Senhor edifica a igreja.
       Isso nos leva de Mateus 16 a Mateus 18. Ao relatar o caso de como lidar com um irmão que pecou, o Senhor Jesus indica que a igreja só pode ser edificada nas cidades onde os crentes vivem. O Senhor primeiramente diz para ir sozinho ao irmão e então, se necessário, com um ou dois irmãos. Se ele não der ouvidos aos dois ou três, então o irmão deve levar a questão à igreja. Por um lado, a questão pode ser levada à igreja (Mt 18:17). Por outro lado, dois ou três devem se reunir em nome do Senhor para orar (Mt 18:19-20). Quando eles se reunirem em Seu nome, Ele estará no meio deles. Essa é a compreensão adequada de Mateus 18:15-20.
       Entretanto, a maioria dos mestres cristãos usam mal esse versículo dizendo: “Uma vez que dois ou três se reúnam jun­tos e tenham a presença do Senhor, eles são a igreja.” Tenho ouvido esse ensinamento desde o tempo da minha juventude. Por anos a fio fui cegamente desviado por esse conceito. Um dia, em meu estudo da Bíblia percebi que tolice é dizer que dois ou três são a igreja. Se dois ou três são a igreja, então por que eles ainda têm de trazer o problema à igreja? O fato dos dois ou três terem de ir à igreja prova que não são a igreja. Se fossem a igreja, não haveria necessidade deles “dizerem à igreja”. Pelo contrário, os “dois ou três” aqui são alguns santos que são parte da igreja e que se reúnem, não para ter uma reunião da igreja, mas simplesmente para orar por um irmão problemático. Essa é a correta interpretação desse trecho da Palavra.
       A igreja mencionada em Mateus 16 torna-se prática em Mateus 18 porque aí há uma igreja à qual podemos ir. A igreja aqui é sólida, prática e real em nosso viver. A igreja não é meramente uma questão de reunião, mas de administração com autoridade. A igreja tem a autoridade no fluir para lidar com os santos. Isso é o que chamamos de o aspecto prático da vida da igreja.
       O aspecto prático da igreja é a igreja local. Vimos que em Mateus 28:19, o Senhor incumbiu os discípulos de dis­cipular as nações e batizar as pessoas para dentro do Deus Triúno. Esse discipulado das nações começou no dia do Pen­tecoste quando pelo menos três mil foram discipulados e batizados para dentro da igreja. Imediatamente a primeira igreja, a igreja em Jerusalém, passou a existir. A partir da­quele dia, a igreja não só era real, mas também prática. Antes daquela época não havia o aspecto prático da igreja. Se não estivermos numa igreja local, estaremos simplesmente no ar e não teremos o aspecto prático da igreja.
       A Bíblia é maravilhosamente arranjada. A primeira igreja estabelecida foi a igreja em Jerusalém (At 8:1). Quando a corrente fluiu de Jerusalém, alcançou a cidade de Antio­quia, onde também havia a igreja (At 13:1). A igreja em Antioquia era um ponto de parada do fluir da igreja. De An­tioquia, Deus fez virar o Seu fluir divino na direção oeste, da Asia para a Europa. Depois do fluir ter virado na direção da Europa, ele atingiu a Grécia e a Macedônia. Aí, veio a existir a igreja em Corinto (1 Co 1:2). Para onde quer que tenha ido o fluir da igreja, houve sempre uma igreja na base localidade. Somente em tal base a igreja pode ser prática. So­mente na igreja local e por ela podemos ter a prática da igreja. Se não tivermos a igreja local, não teremos qualquer coisa prática concernente à igreja. Por fim, a Bíblia termina com sete igrejas (Ap 1:10-13).

AS IGREJAS SÃO O DESTINO DA REVELAÇÃO E MANIFESTAÇÃO DE DEUS

Como já enfatizamos em outro lugar, as igrejas são o destino da revelação e manifestação de Deus. Começando com Gênesis 1, Deus é progressivamente revelado. Por fim, nas igrejas a revelação progressiva de Deus chega ao seu des­tino. Assim, sem a igreja, nao há destino para a revelação de Deus.
As igrejas são também o destino da manifestação de Deus. Em Gênesis 1, Deus foi manifestado no homem feito à Sua imagem. Nos Evangelhos, Deus foi manifestado em Jesus Cristo. Depois dos Evangelhos, em Atos e nas Epístolas, Deus foi manifestado na igreja. Por fim, no livro de Apocalipse, Deus é manifestado primeiramente nas igrejas, e finalmente na Nova Jerusalém. Assim, se você rejeitar a igreja na base da localidade, perderá tanto o aspecto prático da igreja quanto o destino da revelação e manifestação de Deus.
Porquanto muitos cristãos perderam esse alvo, eles se tornaram muito pobres. Entretanto, louvado seja o Senhor por estarmos desfrutando o aspecto prático da vida da igreja e o destino da revelação e manifestação progressivas de Deus. Para nós, a Bíblia é transparente. Não tínhamos essa clareza antes de entrarmos na igreja. Isso não é sabedoria do homem; advém do fluir. Oh! o fluir é algo grandioso! Por­quanto estamos no fluir, temos o aspecto prático da vida da igreja.

A IGREJA LOCAL – A IGREJA
MANIFESTADA NUMA CIDADE

A igreja é a igreja. Se não somos a igreja, então que somos? Não denominamos a nós mesmos de “a igreja local”. As palavras “igreja local” não são um título e jamais devemos considerá-las como tal. Considerar as palavras “igreja local” como nosso título faz de nós a denominação Igreja Local. As palavras “igreja local” denotam a natureza da igreja, são a sua descrição. A igreja hoje é local porque o aspecto prático da igreja é local. Dizer que somos a igreja em São Paulo é como falar da lua em São Paulo. Quando estamos em Hong Kong, podemos falar da lua em Hong Kong, e quando estamos em Londres, podemos falar da lua em Londres. Isso é tanto lógico quanto prático. Não somos a igreja no ar: somos a igreja numa cidade. A igreja manifestada em São Paulo é a igreja em São Paulo, e a igreja manifestada em Curitiba e a igreja naquela cidade. Esse não é um título da igreja. Assim como a lua é simplesmente a lua, também a igreja é simples­mente a igreja. Dizer que somos a igreja não é dar a nós mesmos um título: é simplesmente afirmar um fato.

AS DENOMINAÇÕES SÃO DIVISÕES

As denominações e grupos livres são divisões. Eles dão a si mesmos diversos nomes denominacionais. No passado, al­guns líderes cristãos vieram a mim com boas intenções dizendo: “Como podem dizer que vocês são a igreja e que nós não somos? não somos salvos?” Eu repliquei: “Defini­tivamente vocês são salvos, mas porque chamam a si mesmos de presbiterianos? Se vocês são a igreja, por que se denominam dessa maneira? Ao virem falar comigo a respeito disso, certamente querem que eu admita que vocês são a igreja. Admito que vocês sejam uma parte da igreja, mas vocês chamam a si mesmos de presbiterianos. Já que vocês fazem isso, como posso eu chamar vocês de a igreja? Se você é o sr. Almeida, mas leva um crachá dizendo que é o sr. Mendonça, não estou correto ao chamá-lo de sr. Mendonça? Você pode dizer: ‘Não, eu sou o sr. Almeida. Não preste atenção a esse rótulo.’ Todavia, se você quer que eu o esqueça, precisa tirá-lo fora. Por que você não joga fora esse rótulo?” Eles então disseram: “Irmão, isso não é algo simples. Somos missionários de outro país e temos a nossa matriz. Não é fácil abandonar isso.” A isso eu disse: “Então vocês são o que são. Vocês são presbiterianos.” Por que os santos nas denominações precisam dar nomes a si mesmos de maneiras divisivas? Se eles quisessem desistir dos seus nomes denominacionais, nós imediatamente seríamos um com eles. Todavia, enquanto eles ostentarem títulos denominacionais, como presbiteriano ou batista, é-nos difícil ser um com eles de uma maneira prática.

















CAPÍTULO CINCO


VOLTAR À BASE CORRETA
PARA A RESTAURAÇÃO DA IGREJA

Ao ensinar crianças, freqüentemente lhes mostramos primeiro uma ilustração e depois lhes damos uma palavra clara. Sem uma figura é difícil explicar-lhes as coisas. Entre­tanto, uma boa ilustração torna as coisas fáceis de serem entendidas. Em Sua sabedoria, antes de apresentar os itens do Novo Testamento, que são espirituais e abstratos, Deus nos deu diversas figuras no Velho Testamento para mostrar as realidades que haveriam de vir. Infelizmente, entretanto, ao longo dos séculos, poucos cristãos, até mesmo os mestres cristãos, têm prestado a devida atenção a todas essas figuras.

VÁRIAS PREFIGURAÇÔES DE CRISTO

Todos os estudiosos da Bíblia concordam que as experiências dos filhos de Israel são prefigurações. A Páscoa, por exemplo, era uma prefiguração. Naquela festa, os filhos de Israel ofereciam um cordeiro a Deus. Quando Deus viu o sangue do cordeiro aspergido nos umbrais, Ele passou sobre eles (Ex 12:13). Em 1 Coríntios 5:7 Paulo disse: “Porque Cris­to, nossa páscoa, já foi sacrificado” (IBB –  Rev.), indicando que a Páscoa era uma prefiguração Cristo. Após celebrar a primeira Páscoa, os filhos de Israel cruzaram o Mar Verme­lho e entraram no deserto. De acordo com 1 Coríntios 10: 1 e 2, cruzar o Mar Vermelho foi uma prefiguração do batismo do Novo Testamento. Durante os anos que passaram no deserto, os filhos de Israel foram nutridos pelo maná. Todos os estudiosos das Escritutas concordam que maná era um tipo de Cristo como comida para o povo de Deus Jo 6:31-35). Além disso, Deus ordenou aos filhos de Israel que erigis­sem o tabernáculo e fizessem certas ofertas, inclusive o holocausto, a oferta de manjares, a oferta pacífica, a oferta pelo pecado e a oferta pela transgressão. Todos os estudiosos da Bíblia admitem que essas ofertas são tipos dos diversos aspectos de Cristo. Na verdade, o tabernáculo inteiro, in­cluindo todos os seus utensílios, era um tipo de Cristo. O altar, a bacia, a mesa dos pães da proposição, o candelabro, o altar de incenso e a arca – todos eram prefigurações de Cris­to. Depois de os filhos de Israel terem entrado na boa terra, eles edificaram o templo, que era não só um tipo de Cristo, mas também um tipo da igreja.

A DISPERSÃO E VOLTA DOS FILHOS DE ISRAEL
SÃO UMA PREFIGURAÇÃO

A história dos filhos de Israel inclui a sua dispersão. Após a edificação do templo, eles foram divididos, e depois de serem divididos, eles foram dispersos, sendo mantidos em cativeiro por setenta anos. No fim daquele período de cativeiro, Deus lhes disse para voltarem a Jerusalém e reedificar o templo. Embora quase todos os mestres cristãos tenham aplicado os tipos da Páscoa, do cruzar o Mar Verme­lho, do maná e do tabernáculo e seus utensílios à realidade do Novo Testamento, para o meu conhecimento, raramente alguém prosseguiu para fazer uma aplicação da parte final da história deles.

O LUGAR QUE DEUS ESCOLHEU

Em Deuteronômio 12, 14 e 16, muitos pontos críticos são tratados. O primeiro desses pontos é que Deus ordenou aos israelitas que O adorassem no lugar que Ele escolhera (Dt 12:5, 11). Ao estudar o livro de Deuteronômio quando jovem, imaginava por que Deus proibira os filhos de Israel de adorar no lugar que eles haviam escolhido. A eles não era permitido adorar a Deus ou desfrutar as ofertas que apresen­tavam a Deus em qualquer lugar que fosse do seu agrado. Não, tinham de ir a um único lugar. A escolha era de Deus, não deles. Essa exigência não fazia sentido para mim. Certa­mente Deus é onipresente. Ele está cm toda parte, seja norte, sul, leste ou oeste. Uma vez que Deus seja onipresente, por que Ele exigiu que Seu povo viajasse para um só lugar? No que me dizia respeito, Deus não foi razoável ao fazer essa exigência. Se eu fosse Deus, não teria exigido isso. Eu teria dito: “Povo meu, como o grande Deus, Eu sou onipresente. Estou convosco aonde quer que estejais. Não importa onde estejais na face da terra, podereis adorar-Me.” Entretanto, a maneira de Deus não é a nossa maneira. Ele tem a Sua própria maneira sábia. No capítulo 12 de Deuteronômio, Deus parecia estar dizendo: “Após entrardes na boa terra, atentai para não apresentardes os vossos holocaustos em qualquer lugar que virdes. Vós não tendes o direito de fazer isso. Deveis ir ao lugar que Eu escolhi. Isso não é uma questão da vossa visão, mas da Minha visão.” Fi­quei imaginando por que Ele não deu ao Seu povo liberdade nessa questão.
Como todos sabemos, Deus por fim escolheu Jerusalém. Os que viviam próximos a Jerusalém sem dúvida ficaram fe­lizes em saber disso, e podem ter dito: “Aleluia, não teremos de viajar para muito longe.” Entretanto, aqueles no norte, que tinham de fazer uma longe jornada até Jerusalém, podem ter pensado que Deus fora injusto e exigido demasiado deles. Contudo, Deus parecia dizer: “Filhos de Israel, vós não tendes o direito de escolher o lugar. A escolha é Minha. Vós tendes de ir ao lugar que Eu escolhi.” Essa questão tem de ter algum significado na tipologia.
O cordeiro pascal tipifica Cristo, o cruzar o Mar Verme­lho tipifica o batismo e o maná tipifica Cristo como nosso alimento. Todavia, que tipifica a escolha de Deus por Jerusa­lém? Durante os anos que estive no cristianismo, li muitos li­vros, mas nenhum deles me falou sobre o significado desse ponto na tipologia. Em Deuteronômio 12, 14 e 16, Deus dis­se as palavras “o lugar que escolherei” quinze vezes. Assim, isso deve ser vitalmente significativo. Mesmo assim, isso foi negligenciado ou visto superficialmente ao longo dos séculos.


A ORDEM DE DEUS  ACERCA DO PRODUTO
DA BOA TERRA
                                                                                                                                     DA 5QÃ~
Deus também ordenou que a melhor porção do produto da boa torra fosse comida no lugar que Ele escolhera. Em relação ao desfrute do produto da boa terra, Deus parecia dizer: “Ao entrardes na boa terra, ponde de lado a melhor porção das vossas colheitas dos vossos rebanhos. Não ten­des o direito de comer essa porção portas adentro. Tereis de trazê-1o ao lugar que Eu esco1hi para o Meu nome e para Minha habitação. Três vezes por ano devereis trazer a porção escolhida a esse lugar.” Ao ler isso quando jovem, fiquei perturbado e pensei que isso não era nem um pouco económico. Qualquer coisa afora a melhor porção poderia ser comida ou nos lares dos israelitas ou em qualquer outro lugar à sua escolha, mas aquela melhor porção só poderia ser desfrutada no lugar que Deus escolhera para Seu nome e Sua habitação. Para mim, essa exigência era muito estranha. Provavelmente você jamais ouviu uma mensagem dizendo-lhe o significado disso em tipologia.

PORÇÃO ESCOLHIDA DE CRISTO, DESFRUTADA SOMENTE NA IGREJA

A boa terra é um tipo do Cristo todo-inclisivo*, e todo o rico produto da terra é um tipo das riquezas de Cristo. Além disso, como vimos, todas as ofertas do produto da boa terra são também tipos de Cristo.  Baseado nesse princípio, podemos formular a seguinte pergunta: Há uma porção de Cristo que não podemos desfrutar em nessa privacidade, mas somente no lugar escolhido por Deus? Se você viu que há tal porção, eu perguntaria se na sua vida cristã você alguma vez experenciou Cristo no lugar que Ele escolheu. Se você já teve essa experiência, gostaria de ouvi-lo testificar a acerca disso. Você deve ser capaz de testificar que onde quer que vá, você desfruta Cristo invocando o Seu nome. Mas também devia ser capaz de testificar que a melhor porção das riquezas de Cristo só pode ser desfrutada no lugar da Sua escolha. Posso testificar que não fui capaz de desfrutar o melhor aspecto das riquezas de Cristo em minha comunhão par­ticular com Ele. Individualmente, desfruto somente a porção comum de Cristo, não a porção especial. Posso desfrutar essa porção escolhida das riquezas de Cristo somente na igreja, no lugar escolhido e designado pelo Senhor. Portanto, temos visto dois pontos importantes: o lugar escolhido e a porção especial do produto das riquezas da boa terra. Duvido que no cristianismo alguma vez você tenha ouvido uma mensagem dando-lhe o significado dessas questões. rodapé*N. do R.: Ver O Cristo Todo-Inclisivo, publicado pela Editora Árvore da Vida
  A SABEDORIA DE DEUS EM MANTER
A UNIDADE DO SEU POVO

Baseados no princípio de que tudo relacionado com a história dos filhos de Israel tem um significado na tipologia, precisamos agora considerar o significado de Deus escolher um lugar único de adoração. Embora eu, a princípio, tenha pensado que o Senhor não fora razoável nessa questão, mais tarde meus olhos foram abertos para ver quão sábio Ele foi. Ele escolheu um único lugar para o Seu povo adorá-Lo e oferecer-Lhe sacrifícios com o propósito de preservar a unidade de Seu povo. Sem esse regulamento, essa restrição e limitação, dúzias de centros de adoração teriam sido estabelecidos por toda a terra de Israel e, conseqüentemente, o povo se dividiria. O sutil povo de Dã (que foi comparado a uma serpente em Gênesis 49:17) provavelmente teria dito: “Não estamos contentes com aqueles em Judá. Preferimos ficar com nós mesmos. Vamos ter um centro de adoração aqui em Dã.” Outras tribos poderiam ter dito: “Estamos bem longe de Jerusalém. Vamos estabelecer um centro no lugar em que estamos.” Se todas as tribos tivessem feito isso, elas teriam ficado divididas e jamais poderiam cantar o Salmo 133, que era sempre cantado nas três festas anuais – a festa da Páscoa, a festa das semanas e a festa dos tabernáculos (Dt 16:16). Ao subirem os filhos de Israel ao monte Sião, eles cantavam essas palavras: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” (VRC). Suponha que alguns is­raelitas de tribos diferentes tivessem problemas entre si. Três vezes ao ano, ainda assim tinham de ir ao lugar escolhido para adorar. Um israelita não poderia dizer: “Não estou con­tente com você. Porquanto você está indo a Sião adorar a Deus, eu me recuso a ir lá.” Se ele tivesse feito isso, teria per­dido todas as bênçãos. Embora esses israelitas pudessem não perdoar um ao outro antes do dia da festa, pelo menos na época da festa eles tinham de se reconciliar a fim de cantar o Salmo 133. Aqui é demonstrada a sabedoria de Deus. O único centro de adoração escolhido por Deus era um poderoso fator de união. Ao longo dos séculos, os filhos de Israel não tentaram edificar um templo para o Senhor em nenhum outro lugar. Eles perceberam que em toda a terra há somente um lugar para o templo de Deus: o monte Sião. Eles podem ter conceitos, opiniões, desejos e ambições diferentes, mas o lugar para a edificação do templo de Deus é tão-so­mente um. Esse lugar único mata todos os seus conceitos, opiniões, desejos e ambições. Deus não lhes dá a opor­tunidade de satisfazer suas ambições. Certamente um bom número de judeus inteligentes ao longo dos séculos têm sido muito ambiciosos, mas nenhum deles ousou construir um templo em qualquer outro lugar. Escolher um lugar específico como centro de adoração foi a sabedoria de Deus para manter a unidade do Seu povo.

O PECADO DE JEROBOÃO
E SEU SIGNIFICADO NA TIPOLOGIA

Após a morte de Salomão, o reino de Davi foi dividido. Por causa da degradação de Salomão, dez das doze tribos foram perdidas para Jeroboão, que estabeleceu outro reino (1 Rs 11:29-37). Daquela época em diante, os filhos dc Israel se tornaram dois reinos separados: o reino de Judá ao sul e o reino de Israel ao norte. O centro de adoração escolhido por Deus, entretanto, não foi dividido –ainda era um. O reino pode ficar dividido, mas o centro do testemunho de Deus nao. Jeroboão ficou muito preocupado com essa questão. Provavelmente, bem lá dentro do seu coração, ele tenha dito:
“Se essas dez tribos continuarem a ir a Jerusalém para adorar ao Senhor, podem ser influenciadas a matar-me e voltar à casa de Davi.” Assim, Jeroboão estabeleceu dois outros centros de adoração, um em Betel e o outro em Dã, para a conveniência do seu povo (1 Rs 12:26-33). Jeroboão parecia estar dizendo ao povo de uma forma sutil: “Para vocês, é muito longe viajarem até Jerusalém. Não é nem um pouco conveniente. Estabeleci para vocês dois outros centros de adoração. Vocês agora não precisam ir a Jerusalém. Podem ir ou a Dã ou a Betel para adorar ao seu Deus.” Isso também é muito significativo na tipologia.
       O significado do pecado de Jeroboão pode ser visto praticado no cristianismo de hoje. Certos pastores e assim chamados obreiros cristãos desejam ter um império sob seu controle. A fim de terem seu próprio reino, eles, como Jeroboão, estabelecem seus próprios centros de adoração. Jeroboão não tinha o verdadeiro Deus. Tendo feito dois bezerros de ouro, Jeroboão disse: “Vês aqui teus deuses, ó Is­rael, que te fizeram subir da terra do Egito!” (1 Rs 12:28). Talvez você pense que ninguém teria sido tão tolo a ponto de seguir uma orientação tão cega. Todavia, muitos cristãos são esses tolos de hoje. Assim como Jeroboão tinha Deus so­mente de nome, algumas das coisas que são chamadas “Deus” nos centros de adoração hoje são Deus só de nome. Na verdade, não é Deus –  é um bezerro.
       Certamente Jeroboão não tinha um coração para Deus; seu coração era para si mesmo e para o seu império. Ele não só estabeleceu aqueles dois ídolos mas também teve a ousadia de edificar “santuários nos altos” (1 Rs 12:31). A palavra hebraica para santuário nesse versículo é a mesma para “a casa do Senhor”, referindo-se ao templo (1 Rs 6:37). Assim, Jeroboão edificou um templo nos lugares altos. Hoje, há muitos “lugares altos” no cristianismo sobre os quais as pessoas edificam templos em nome de Deus. Na verdade, esses templos não são edificados de uma forma pura para Deus, mas também para a ambição daqueles que os edificam. Muitos assim chamados obreiros cristãos valorizam também os nomes específicos que têm. Porque querem manter con­trole sobre o seu império, não se denominam por um termo comum, mas por um específico. Se adotassem um nome comum, perderiam seu império. Os seus nomes não são bíblicos. Você não consegue encontrar na Bíblia o nome que usam. Em princípio, alguns dos seus atos são os mesmos dos de Jeroboão.

A VOLTA DE BABILÔNIA PARA JERUSALÉM

       Depois do cativeiro babilônico, Deus disse ao Seu povo que voltasse de Babilônia para Jerusalém. Ele parecia estar dizendo: “Saí do vosso cativeiro e entrai na Minha restau­ração.” Embora nem todos os filhos de Israel tenham retornado, alguns regressaram a Jerusalém. Esdras foi um líder entre aqueles que voltaram, e o livro de Esdras é o livro da volta de Babilônia para Jerusalém, do cativeiro à restauração do Senhor. Aqueles que voltaram para Jerusalém
reconstruíram o templo e, mais tarde, o muro da cidade.
       Você sabe qual é o significado desse ponto? Com cer­teza essa questão é importante. Se cremos que Gênesis 1:26 é palavra de Deus, então precisamos também crer que esse ponto é Sua palavra. A questão é como aplicá-la. Aplicamos a Páscoa a Cristo, o cruzar o Mar Vermelho ao batismo, o maná a Cristo como nossa comida, o tabernáculo a Cristo, o altar à cruz de Cristo e os utensílios no tabernáculo e o templo a Cristo. Se aplicarmos todos os pontos que já consideramos até aqui nesta mensagem, precisamos ser bem
sóbrios e não dar ouvidos à conversa superficial do cristianismo de hoje. Muitos críticos dizem que não é justo nós proclamarmos que somos a igreja e que eles não o são. Dizem: “É justo vocês dizerem que são a igreja e nós não? Não somos cristãos? Não fomos salvos? Não amamos ao Se­nhor? Não estamos aqui servindo ao Senhor? O nosso trabalho não é para o Senhor? Então por que vocês chamam a si mesmos de igreja e dizem que nós não somos a igreja?”Não pense que você não possa se deixar levar por tais con­versas superficiais. Aparentemente, tal falar é bem lógico; na verdade, não é absolutamente bíblico. Admito que há muitos cristãos genuínos que realmente amam ao Senhor e têm um coração para servir ao Senhor, mas eles ainda estão no cativeiro e não retornaram à base correta.

DUAS QUESTÕES CRUCIAIS

Ao contactar outros cristãos, você precisa ser calmo e sóbrio e fazer-lhes duas perguntas importantes. Primeiro, pergunte-lhes por que eles têm nomes diferentes que não podem ser encontrados na Bíblia. Pergunte-lhes por que es­colheram esses nomes para si mesmos. Diga-lhes que ao ler o Novo Testamento, você não encontra indício desses nomes. Pergunte-lhes que nome eles têm. Já que eles se consideram bíblicos, por que não renunciam a esses nomes não bíblicos? Em vez de dar-lhe uma resposta direta, eles podem torcer as coisas numa tentativa de se excusarem.
Em segundo lugar, já que eles reivindicam ser a igreja, pergunte-lhes quantas igrejas deve haver. Ninguém vai que­rer dizer que deve haver mais de uma igreja. Pelo contrário, todos dirão que deve haver apenas uma igreja. Contudo, ao dizerem isso, eles são apanhados. Então, você deve replicar: “Já que há somente uma igreja, por que vocês estão aqui como uma ‘igreja’ e alguém mais está lá como outra ‘igreja’? Vocês têm tantas assim chamadas igrejas em uma única cidade. Já que todos vocês estão em São Paulo e até mesmo na mesma vizinhança, por que vocês todos não se ajuntam? Vocês dizem que são a igreja e que há somente uma igreja. Por que, então, vocês não são um? Todos nós sustentamos a mesma Bíblia, cremos no mesmo Senhor Jesus e vivemos na mesma cidade. Vocês todos proclamam ser a igreja e ainda assim se recusam ser um. Que é isso?” Se alguém disser que não é conveniente se reunir junto, você deve replicar: “Nos primeiros dias em Jerusalém havia dezenas de milhares de crentes que se reuniam em casas. Atos 8:1 fala de a igreja, não as igrejas, em Jerusalém. Na Bíblia há somente a igreja na cidade tal, não a igreja na rua tal.” Se alguém quiser tentar justificar a existência de denominações, devemos apontar as quatro divisões mencionadas em 1 Coríntios 1 e perguntar se elas são positivas ou negativas, se são aprovadas pelo apóstolo Paulo ou condenadas.
Desse modo, precisamos perguntar acerca de duas ques­tões: nome não-bíblicos e divisões. Essas indagações precisam ser respondidas. Não temos nomes específicos, nomes que não estão na Bíblia. Não somos divisivos; estamos preparados para ser um com todos os crentes em Cristo. Desse modo, es­tamos na base correta como a igreja. Se não somos a igreja, então, que somos?

NENHUM DIREITO PARA A NOSSA PRÓPRIA ESCOLHA

Se você levar todos esses pontos ao Senhor em oração, verá claramente que Deus escolheu uma única base, a base da unidade. O princípio é encontrado em Deuteronômio 12, 14 e 16, onde Deus incumbiu Seu povo repetidas vezes de se importar com o único lugar escolhido por Ele. Até onde diz respeito à adoração pública do povo de Deus, nenhum de nós tem o direito de escolher o lugar a nosso bel-prazer. Deuteronômio 12:8 diz: “Não procedereis em nada segundo estamos fazendo aqui, cada qual tudo o que bem lhe parece aos olhos.” Nesses capítulos Moisés incumbiu o povo de fazer o que é certo aos olhos de Deus, não mais ir ao lugar de sua escolha e não oferecer seus holocaustos no lugar de sua preferência. Antes, eles tinham de atentar ao lugar que Deus escolheria. Eles tinham de aprender como adorar a Deus. Eles não tinham o direito de escolher um lugar. O único lugar é a base escolhida por Deus. Isso era verdade em tipologia e também tem de sê-lo em realidade.
DESFRUTAR A PRESENÇA
E A GLÓRIA DE DEUS EM SEU TEMPLO

Vimos que o povo de Deus se degradou e que mais tar­de foram espalhados por causa da sua degradação. Durante o cativeiro, eles não tinham a base para a edificação do templo de Deus. Depois que acabaram os anos do seu cativeiro, Deus os chamou de volta a Jerusalém, de volta ao lugar origi­nal, o único lugar que Deus escolhera para a reedificação do Seu templo. Alguns voltaram e reconstruíram o templo. Por causa disso, a glória de Deus retornou. Muitos dos filhos de Israel permaneceram no lugar do seu cativeiro, não dispostos a pagar o preço de voltar para Jerusalém. Eles se estabe­leceram em Babilónia, Síria e Egito. Aqueles que voltaram puderam proclamar que tinham o templo de Deus. Num sen­tido bem positivo, eles mesmos eram o templo de Deus.
Suponhamos que aqueles que ficaram em Babilônia, Egito e Síria dissessem: “Vocês dizem que são o templo de Deus e que nós não. Entretanto, não somos nós o povo de Deus?” Aqueles que voltaram a Jerusalém poderiam replicar: “Sim, vocês são o povo de Deus, tanto quanto nós. Há, porém, uma diferença entre nós. Nós voltamos à terra de nossos antepassados, mas vocês ainda permanecem no cativeiro no mundo gentio. Nós temos a presença de Deus em Seu templo, mas vocês não.” Sim, admitimos que todos os verdadeiros cristãos em todo o mundo são realmente o povo de Deus. Entretanto, tantos deles estão ainda em cativeiro e não têm a vida da igreja. Assim, eles não são o templo com a presença e a glória dc Deus. Se virmos essa questão com clareza, então saberemos onde estamos e o que é a restauração do Senhor hoje. Aleluia! estamos na restauração do Senhor! A restauração do Senhor é levar-nos de volta à base original a fim de que o Seu templo possa ser edificado de modo que possamos ter a Sua presença em Sua glória para o nosso desfrute. Hoje estamos desfrutando essa glória. Temos a ousadia de dizer que a igreja está aqui. Você não consegue encontrar a vida da igreja nas denominações e grupos livres porque os cristãos perderam a base e ainda estão no cativeiro.





Parei aqui CAPÍTULO SEIS


O ÚNICO LUGAR PARA O NOME E
A HABITAÇÃO DE DEUS

Como enfatizamos no último capítulo, a Bíblia nos dá um quadro maravilhoso no Velho Testamento. Antes de pros­seguirmos, para refletirmos sobre o único lugar para o nome de Deus e Sua habitação, precisamos rever esse quadro. A revelação toda da Bíblia indica que Deus tem um propósito eterno, uma intenção eterna. Esse propósito é ganhar um povo para ser Sua expressão. No Velho Testamento Deus chamou os filhos de Israel e eles se tornaram o Seu povo a fim de expressá-Lo na terra. Os filhos de Israel, entretanto, eram um tipo, não a realidade. A realidade chegou com o Novo Testamento. No Novo Testamento vemos um povo, que é a igreja, a real expressão de Deus. Embora tenhamos a realidade no Novo Testamento, não temos ali um quadro completo. Se tivéssemos apenas a realidade do Novo Tes­tamento, seria difícil compreender cada aspecto dessa realidade. Toda realidade está presente, na forma de tipo, no Velho Testamento. Por isso, precisamos considerar mais profundamente o quadro no Velho Testamento.

 O ÊXODO DO EGITO

Deus escolheu os filhos de Israel. De acordo com o qua­dro no Velho Testamento, esse povo acabou por cair no Egi­to. No final do livro de Gênesis, é-nos dito que José, o repre­sentante do povo escolhido de Deus, foi colocado num caixão no Egito (Gn 50:26). Assim, o primeiro livro da Bíblia termi­na com o povo escolhido de Deus sendo colocado num caixao no Egito. Se a Bíblia tivesse só esse livro, teríamos de chorar por essa situação miserável. Mas louvado seja o Senhor por­que Exodo vem após Gênesis. A palavra êxodo significa saí­da. Os filhos de Israel saíram do seu caixão e do Egito. Antes de fazermos o nosso êxodo, estávamos num caixão no “Egi­to”, no mundo. Essa era a minha condição há cinqüenta anos. Aleluia! fizemos o nosso êxodo de nosso caixão no Egito!
O êxodo dos filhos de Israel do Egito incluiu duas coisas: a Páscoa e o cruzar o Mar Vermelho. Na Páscoa havia dois itens principais: o sangue do cordeiro e a sua carne. O sangue cobriu os filhos de Israel de modo que o justo julgamento de Deus pudesse passar por cima deles. A palavra Páscoa indica que Deus passou sobre Seu povo que estava sob o sangue remissor do cordeiro pascal (Ex 12:13). Aleluia pelo sangue! Embora o povo de Deus estivesse coberto pelo sangue, eles ainda tinham de comer a carne do cordeiro para se for­talecerem a fim de escapar do Egito. Eles tinham de ser fortalecidos a fim de sair do caixão e, por fim, do Egito. Do lado de Deus, os filhos de Israel foram redimidos e for­talecidos. Entretanto, do lado de Satanás, o lado do poder maligno representado por Faraó e as forças egípcias, aos fi­lhos de Israel não foi permitido fugir. Assim, havia a necessidade de se cruzar o Mar Vermelho.
Contrastando com o rio de água da vida, a água do Mar Vermelho não aparece como algo muito agradável ou positivo. Ninguém beberia água do Mar Vermelho. Na economia de Deus há dois tipos de água: a água do Mar Ver­melho e a água da vida no rio que flui procedente do trono (Ap 22:1). Embora a água do Mar Vermelho não sacie a nossa sede, certamente sepulta o exército egípcio, as forças malignas de Satanás. Cruzando o Mar Vermelho, o povo es­colhido de Deus foi libertado da tirania de Faraó. O sangue do cordeiro pascal não os livrou disso; o sangue que os cobria livrou-os do julgamento de Deus. A água do Mar Vermelho é que livrou o povo escolhido por Deus da tirania de Faraó. Aleluia pela Páscoa e pelo êxodo! Agora, tendo feito o nosso êxodo para fora do Egito, estamos na praia dançando e louvando (Ex 15:20-21). Louvado seja o Senhor, somos os verdadeiros hebreus, os que realmente cruzam o rio. Todos nós passamos pelas águas do Mar Vermelho. O nosso batismo ocorreu quando cruzamos o Mar Vermelho (1 Co 10:1-2).
Depois que os filhos de Israel passaram pelo Mar Ver­melho, eles se acharam no deserto. O deserto não é um lugar agradável como o Egito. Como os filhos de Israel, muitos de nós ainda nos recordamos do sabor do “alho”, “cebolas” e “pepinos” quando estávamos no deserto após termos feito o nosso êxodo do Egito (Nm 11:5). Gostamos de nos lembrar de nossas experiências no mundo. Muitas vezes você pode ter-se lembrado do prazer de ir ao cinema. Isso é o gosto de “alho”. Talvez ainda se lembre das vezes que foi dançar. Isso é uma “cebola”. Antes de terem sido salvos, alguns iam a cassinos em Las Vegas. Depois de terem sido salvos, entretanto, nos momentos de solidão eles podem ter-se recordado da­quelas experiências. Essas são “pepinos”. Se formos hones­tos, teremos de admitir que todos temos tido tais recor­dações.

O DESFRUTE DE CRISTO NO DESERTO

Embora o deserto não pareça ser um lugar agradável, nele há um certo desfrute de Cristo. No Egito, à época da Páscoa, os filhos de Israel desfrutaram Cristo como o cor­deiro. No deserto desfrutaram o maná diariamente. Eles desfrutaram Cristo, não como algo da terra, mas como algo do céu. Quando os filhos de Israel provaram o maná pela pri­meira vez, todos devem ter ficado muito animados. Devem ter dito: “Que comida maravilhosa, celestial! É nutritiva, rica e deliciosa.” Todavia, pouco depois, eles ficaram enjoados de maná. De manhã, ao meio-dia e à noite eles nada tinham para comer senão maná. Daí queixaram-se a Moisés, dizendo: “Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos. Agora, porém, seca-se a nossa alma, e nenhuma coisa vemos senão este maná” (Nm 11:5-6). Eles pareciam estar dizendo a Moisés: “Quando estávamos no Egito, tínha­mos uma variedade de coisas boas para comer. Comer maná aqui no deserto é uma punição. Por que você nos trouxe para cá?” Essa não é só a história dos filhos de Israel, mas também a nossa biografia. Com freqüência nas reuniões louvamos ao Senhor, dizendo: “Aleluia pelo desfrute de Cristo!” Mas será que não houve pelo menos uma vez que você ficou cansado de desfrutar Cristo? Duvido que haja alguém que nunca tenha se enfadado do desfrute de Cristo.
Embora os filhos de Israel não gostassem de estar no deserto, não havia nada que pudessem fazer a respeito. Era muito tarde para se arrepender e voltar ao Egito. Não tinham escolha exceto ir em frente. Se quisessem algo mais rico do que aquilo que tinham no deserto, teriam de ir em frente, não para trás. Teriam de continuar através do deserto e cruzar um outro rio, o Jordão.

Parei aqui DESFRUTAR AS RIQUEZAS DA BOA TERRA
      
       Depois que os filhos de Israel cruzaram o rio Jordão, eles entraram na boa terra, e o maná cessou. Josué 5:12 diz: “No dia imediato, depois que comeram do produto da terra, cessou o maná, e não o tiveram mais os filhos de Israel; mas nesse ano comeram das novidades da terra de Canaã.” Mesmo que quisessem desfrutar o maná outra vez, não havia mais maná. Talvez depois de habitar na boa terra por alguns anos, muitos dos filhos de Israel se lembrassem do sabor agradável do maná. Entretanto, em vez de maná havia lá as riquezas da boa terra. O seu primeiro desfrute das riquezas da boa terra não foi do novo, mas do velho produto. Daquela época em diante, todavia, eles desfrutaram o produto novo e fresco da boa terra a cada ano.

O DÍZIMO, AS PRIMÍCIAS
E O LUGAR QUE DEUS ESCOLHEU
      
       Deus encarregou os filhos de Israel de reservarem o dízimo, o primeiro décimo, de todo o produto da boa terra, inclusive das primícias e dos primogênitos, e os oferecessem a Ele no lugar de Sua escolha para Sua adoração. Deuteronômio 14:22 e 23 diz: “Certamente darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que ano após ano se reco­lher do campo. E, perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer o Senhor teu Deus todos os dias.” Os primogênitos eram oferecidos ao Senhor. Aos israelitas não era permitido usá-los em seu trabalho; pelo contrário, era-lhes exigido mantê-los à parte para oferecer ao Senhor nas três festas anuais. Deuteronômio 15:19 e 20 diz: “Todo primogênito que nascer do teu gado, ou de tuas ovelhas, o macho consagrarás ao Senhor teu Deus; com o primogênito do teu gado não trabalharás, nem tosquiarás o primogênito das tuas ovelhas. Comê-lo-ás, perante o Senhor, tu e a tua casa, de ano em ano, no lugar que o Senhor escolher.” Se os filhos de Israel quisessem desfrutar o seu gado, tinham de começar com o segundo. Além disso, não podiam desfrutar os primogênitos de seus rebanhos e manadas no lugar de sua es­colha. Tinham de levá-los ao lugar que Deus escolhera para Seu nome e para Sua habitação (Dt 12:5, 17-18). O mesmo era verdade com as primícias de todas as colheitas: do trigo, do cereal, do vinho e do azeite. Os primeiros frutos tinham de ser postos à parte para serem oferecidos a Deus no lugar que Ele escolhera. Se lermos o Velho Testamento cuidadosa­mente, veremos que Deus incumbiu os filhos de Israel de pôr à parte três tipos de dízimos para o propósito de Deus. Ne­nhuma dessas porções podia ser desfrutada no lugar de sua preferência. Embora tivessem total liberdade de desfrutar o restante a qualquer hora, em qualquer lugar, com qualquer um, as melhores porções tinham de ser oferecidas a Deus no lugar de Sua escolha.

DOIS ASPECTOS DO DESFRUTE DE CRISTO

Agora precisamos considerar o significado dessa exi­gência. No capítulo anterior, enfatizamos que o cordeiro pas­cal era um tipo de Cristo e que o maná era um tipo de Cristo como nossa comida. No Egito, os filhos de Israel desfrutaram Cristo conforme representado pelo cordeiro pascal. Isso sig­nifica que no “Egito” desfrutamos Cristo como nosso cordeiro pascal. João 1:29 diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” No “deserto” desfrutamo-Lo como nosso maná. Além disso, podemos desfrutar Cristo como nossa boa terra, vivendo e andando Nele. Cristo é nossa terra, nossa esfera na qual podemos viver e andar dia após dia. Cristo é a esfera do nosso viver. Podemos viver Nele e por Ele. Cristo é também a nossa comida, conforme é tipificado pelo produto da boa terra. Cristo como nossa co­mida não é de uma só categoria, mas de muitas, como os numerosos pratos de uma festa abundante. Quão abundantes são as riquezas de Cristo na boa terra! Cristo é hoje a nossa boa terra. Todas as riquezas da boa terra são tipos das ri­quezas de Cristo.
Talvez você jamais tenha ouvido que para desfrutar Cris­to há a necessidade de se pôr à parte a melhor porção de Cristo. Não temos o direito de desfrutar essa porção de Cris­to na hora e lugar de nossa escolha. Somente a porção comum de Cristo, não a primícia, pode ser desfrutada a qualquer hora e em qualquer lugar que desejamos (Dt 12:15). Isso não é uma questão doutrinária; é verdade para a nossa experiência.
Há dois aspectos do desfrute de Cristo. Um, é o aspecto comum. Onde quer que estejamos, não importa a hora e o lugar, podemos desfrutar Cristo. Esse é o desfrute comum de Cristo. O outro aspecto do desfrute de Cristo é o desfrute da melhor porção, a porção escolhida, a primícia ou primo­gênito, de Cristo. Somente podemos ter esse aspecto do desfrute de Cristo na vida adequada da igreja. Você já ex­perienciou ambos os aspectos? Embora Cristo sempre permaneça o mesmo, entretanto Ele tem uma porção esco­lhida e uma porção comum. Você pode desfrutar a porção comum em qualquer lugar e a qualquer hora. Pode desfrutá­Lo dessa maneira enquanto dirige o seu carro. Entretanto, jamais desfrutará a melhor porção de Cristo sozinho. Mesmo que você jejue, ore e O invoque noite e dia por três dias sozinho em sua casa, ainda não será capaz de desfrutar a porção escolhida de Cristo. Se quiser desfrutar essa porção, precisa vir à igreja, ao lugar que Deus escolheu.

AS DUAS MAIS PROEMINENTES CARACTERÍSTICAS
DO LUGAR ESCOLHIDO POR DEUS

No Velho Testamento, o lugar escolhido por Deus foi Jerusalém. Precisamos, porém, conhecer as características marcantes do lugar escolhido por Deus. Deuteronômio 12:5 diz: “Mas buscareis o lugar que o Senhor vosso Deus esco­lher de todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome, e a sua habitação; e para lá ireis.” Nesse versículo vemos as duas mais proeminentes características do lugar escolhido por Deus – Seu nome e Sua habitação. Porquanto o nome do Senhor estava lá, aquele lugar era único. O Seu nome não es­tava lá automaticamente; teve de ser posto lá. Como esse versículo indica, a habitação de Deus também estava lá.
Deuteronômio 12:11 diz: “Então haverá um lugar que escolherá o Senhor vosso Deus, para ali fazer habitar o seu nome.” No versículo 5 Deus disse que poria lá o Seu nome, mas no versículo 11 Ele diz que fará com que o Seu nome habite ali. O versículo 11 prova que o nome de Deus é vivo. O nome não é meramente um nome, mas uma Pessoa viva que pode viver e habitar em certo lugar. Essas duas questões, o nome e a habitação, são as marcas mais proeminentes do único lugar escolhido por Deus para o nosso desfrute da me­lhor porção de Cristo.

DESFRUTAR A MELHOR PORÇÃO DE CRISTO
NA VIDA DA IGREJA

       Essa questão é tão significativa que merece repetição. Os filhos de Israel podiam desfrutar o rico produto da boa terra de duas maneiras. A maneira comum era desfrutar a porção comum do rico produto da boa terra a qualquer hora, em qualquer lugar e com qualquer um. A maneira especial era desfrutar a melhor porção, as primícias e os primogênitos no único lugar escolhido por Deus. As características distin­tivas desse lugar eram o nome e a habitação de Deus. Tudo isso é um quadro claro do nosso desfrute de Cristo. O nosso desfrute de Cristo também tem dois aspectos: o aspecto comum de desfrutar Cristo a qualquer hora e em qualquer lugar, e o aspecto específico de desfrutar Cristo no lugar que Deus escolheu. Esse único lugar tem o nome de Deus e Sua habitação.
       Se considerarmos a nossa experiência, veremos que temos dois tipos de desfrute das riquezas de Cristo. Usando os termos deste capítulo, podemos dizer que temos o desfrute comum de Cristo e o desfrute específico de Cristo. Experienciamos o desfrute especial de Cristo na vida ade­quada da igreja. Toda vez que viermos a uma reunião da igreja, o desfrute de Cristo é elevado e rico. Todos precisamos desfrutar Cristo, tanto em nossa vida privada como na vida da igreja. Embora o desfrute de Cristo na vida da igreja seja maravilhoso, ele não pode substituir o nosso desfrute Dele em nossa vida privada. De modo semelhante, o desfrute em nossa vida privada não pode substituir o desfrute em nossa vida pública, em nossa vida da igreja.
       Muitos cristãos hoje não vêem esses dois aspectos do desfrute de Cristo. Alguns até podem pensar que é desper­dício de tempo freqüentar as reuniões da igreja. Quando eles estão na igreja, sentem-se restringidos. Alguns têm dito: “Em vez de freqüentar as reuniões da igreja, gosto de ficar em casa e desfrutar minha liberdade. Sempre que vou a uma reunião, sinto-me preso. Não consigo evitar de ficar olhando para o meu relógio.” Contudo, mesmo aqueles que consideram as reuniões da igreja uma forma de prisão têm de confessar que muitas vezes tiveram algum desfrute de Cristo nas reuniões. Embora o seu desfrute de Cristo nas reuniões possa não ter sido muito rico, pelo menos eles tiveram um desfrute Dele que não poderiam ter tido em sua vida privada ou mesmo com sua esposa e alguns amigos íntimos. Somente nas reuniões da igreja podemos desfrutar a melhor porção de Cristo.
No começo, gastava mais tempo desfrutando Cristo em minha vida privada e menos desfrutando-O na vida da igreja. Gradualmente, contudo, passei a desfrutá-Lo mais na vida da igreja do que em minha vida privada. Não há comparação entre o desfrute na vida da igreja e o desfrute em minha vida privada. Mas isso não quer dizer que não mais desfruto Cristo em minha vida pessoal. Entretanto, o sabor nao e tao doce como o é na vida da igreja. Estou sempre sequioso por estar presente a uma reunião para desfrutar a melhor porção de Cristo. E quanto a você? Freqüentemente em minha vida privada fico cansado e preciso descansar. Quando trabalho, trabalho com todas as fibras do meu ser. Isso me deixa exaus­to. Assim, minha vida privada é um tempo para eu fazer repousar todo o meu ser –  meu espírito, meu coração, mi­nha consciência, minha alma, minha mente, minha emoção, minha vontade e todas as partes do meu corpo. Depois de um período de descanso, estou pronto outra vez para freqüentar reuniões para o desfrute escolhido de Cristo. Esse é o motivo de eu ser tao rico no desfrute de Cristo. Muitos, pelo contrário, são pobres no desfrute de Cristo porque gastam muito tempo tentando desfrutá-Lo privadamente e pouco tempo para desfrutá-Lo corporativamente. Encorajo todos a gastar mais tempo na vida da igreja.

A IGREJA É O LUGAR ESCOLHIDO POR DEUS

Embora haja milhares de lugares na terra, há somente um lugar –  a igreja –  onde estão o nome e a habitação de Deus. Alguns de vocês estiveram antigamente na Igreja Católica. Enquanto esteve lá, você desfrutou a melhor porção de Cristo? Provavelmente não tenha desfrutado nem mesmo a porção menor. Um dia, pela misericórdia de Deus, você nasceu de novo, estando em Babilônia. Recentemente alguém me disse: “Depois de entrar para a vida da igreja, tenho ouvido muito sobre estar no cativeiro. Não entendo isso. Jamais fui capturado e levado para o cativeiro.” Repliquei: “Você não precisou ser capturado porque nasceu em cativeiro. Você nasceu em Babilônia, no cristianismo cativo.” Aqueles que nasceram de novo enquanto estavam no catolicismo, nasceram de novo em cativeiro. Após terem sido salvos, alguns começaram a perceber que nem mesmo a menor porção do desfrute de Cristo é acessível na Igreja Católica. Por isso, eles deixaram o catolicismo e se tornaram uma igreja itinerante, viajando de um lugar para outro. Em­bora em alguns lugares eles possam ter ouvido um pouco acerca do desfrute de Cristo, o que ouviram não foi muito satisfatório. Por fim, chegaram ao único lugar: a igreja. Depois de experimentarem uma amostra do desfrute na igreja, podem ter dito: “Que é isto? O modo pelo qual as pes­soas têm as reuniões certamente ofende os meus conceitos religiosos, mas não posso negar que há algo doce e satisfatório aqui.” Eles então podem voltar a alguns outros lugares. Todavia, por comparação, eles chegam a saber em qual lugar havia o melhor desfrute de Cristo. O desfrute que provaram no único lugar estragou-os para qualquer outro lugar. Assim, tiveram de retornar ao lugar escolhido por Deus. Isso prova a realidade do desfrute especial de Cristo.
Quando, pela graça do Senhor, dizemos que somos a igreja, alguns nos criticam e condenam como hereges. Per­guntam: “Por que vocês dizem que são a igreja e que os outros não?” Eu ignoraria a acusação deles de heresia e lhes perguntaria se têm o melhor desfrute de Cristo em sua expreriência. Se forem honestos, terão de admitir que não tem tal desfrute. Toda vez que criticam a igreja, perdem qualquer desfrute de Cristo que tenham. Até o desfrute comum de Cristo será perdido. Quando alguns tentaram dis­cutir comigo, muitas vezes apenas sorri e disse: “Meu amigo, você está falando uma coisa com a boca, mas a sua consciência lhe diz outra coisa. Enquanto está argumentando comigo, a sua consciência está dizendo que você perdeu tudo. Quanto mais tentar combater-me, mais irá perder. Por favor, importe-se com a sua consciência, com os seus verdadeiros sentimentos e sentimento interior, e com o seu desfrute de Cristo”. Para lhe dizer a verdade, quanto mais eu combato pela restauração do Senhor, maior é o meu desfrute da melhor porção de Cristo. Toda vez que ministro nas reuniões, o meu desfrute de Cristo é supremo. Isso não é uma questão de doutrina; mas um fato. Se não fosse um fato, não ousaria dizer essas coisas. Que há aspectos diferentes para o desfrute de Cristo, é um fato.

O NOME, A PESSOA E O ESPÍRITO

Precisamos agora nos concentrar nessas duas questões cruciais: nome e habitação. Essas duas questões são profun­das. Em Deuteronômio 12:5 o Senhor disse que escolheria um lugar dentre as tribos dos filhos de Israel para ali colocar o Seu nome. É claro que não havia uma placa na frente do templo: “Jeová Eloim”. Mas você alguma vez ponderou sobre como Deus na verdade colocou ali o Seu nome? Certamente que a Sua maneira não era colocar uma placa com o Seu nome nela. A fim de compreender como Deus colocou o Seu nome em Seu lugar escolhido, precisamos saber o que sig­nifica um nome.
João 14:26 liga o nome ao Espírito: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome”. Esse versículo diz que o Pai enviará o Consolador, o Espírito Santo, no nome do Filho. Aqui vemos que o Espírito está relacionado ao nome, e o nome ao Espírito. Pela nossa experiência chegamos a perceber que o nome é o título e que o Espírito é a Pessoa. O Espírito é enviado no nome do Se­nhor Jesus. Por isso, todo aquele que invocar “Ó Senhor Jesus”, imediatamente recebe o Espírito. Ao invocarmos o nome do Senhor, obtemos a Pessoa, o Espírito. Ninguém pode dizer “Senhor Jesus”, exceto no Espírito Santo (1 Co 12:3). Isso significa que toda vez que dizemos “Senhor Jesus”, imediatamente estamos no Espírito. Isso também é provado por Joel 2:32 e Atos 2:21. Atos 2:17 diz: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne”, e Atos 2:21 diz: “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” O Espírito já foi derramado, e a maneira de ganhar o Espírito é invocar o nome do Senhor. Quando in­vocamos Jesus”, recebemos o Espírito. Ao chamarmos certo irmão pelo nome, esse irmão vem em pessoa. De modo semelhante, ao invocarmos o nome do Senhor Jesus, o Espírito vem, O nome é o título e o Espírito é a Pes­soa. Assim, o nome é o título da Pessoa, e a Pessoa é o Espírito.
Uma vez que o nome em Deuteronômio 12:5 não é um mero título, mas uma Pessoa, e uma vez que a Pessoa é o Espírito, para Deus colocar lá o Seu nome significa que o Seu Espírito lá estava. Sempre que o povo de Deus invoca o nome do Senhor, o Espírito lá está. Essa é a nossa experiência hoje. Tem de haver uma razão de alguns cristãos se oporem ao nosso invocar o nome do Senhor. O motivo é que o inimigo sutil sabe que quando invocamos “Ó Senhor Jesus”, o Espírito vem. Não discuta comigo acerca disso – experimente. Também, gostaria de pedir-lhe para tentar receber o Espírito sentando-se silencioso por quinze minutos. Faça isso e veja quanto do Espírito recebe. Posso testificar que a maneira mais rápida e eficaz de ganhar o Espírito é in­vocar o nome do Senhor Jesus. Quando invocamos o Seu nome, a Pessoa, o Espírito, vem.

A HABITAÇÃO DE DEUS Ë O NOSSO ESPÍRITO

De acordo com Efésios 2:22, a habitação de Deus é o nosso espírito humano. Lembre-se de que o que é en­contrado no Velho Testamento é um tipo, e o que é encontrado no Novo Testamento é a realidade. A realidade do nome é o Espírito e a realidade da habitação é o nosso espírito humano. Isso é comprovado pela palavra do Senhor à mulher samaritana em João 4. Quando ela lhe perguntou a respeito da adoração a Deus dizendo: “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” (Jo 4:20). Jesus disse: “Mulher, podes crer-me, que a hora vem quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai... Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade” (Jo 4:21,23). A Jerusalém de hoje é o nosso espírito. O Pai está buscando aqueles que O adorem
em seu espirito humano.

A VERDADEIRA UNIDADE —UNIÃO DE DOIS ESPÍRITOS

Muito tem sido dito acerca da unidade. A verdadeira unidade é a união de dois espíritos: o Espírito Santo que é a Pessoa do nome divino, e nosso espírito, que é a habitação de Deus. Para que os crentes sejam um, eles têm de estar nesses dois espíritos. A verdadeira unidade dos crentes no Corpo é esse espírito amalgamado. Essa é a Jerusalém de hoje, o lugar que Deus escolheu. E possível estar-se na base local e ainda assim não ser verdadeiramente um. Estamos na base local, nas igrejas locais, não nas denominações e grupos livres. Todavia, se não estivermos no espírito mesclado, ainda estará nos faltando a genuína unidade. Repetindo, a ver­dadeira unidade está no mesclar do Espírito Santo com o espírito humano. Porquanto o Espírito Santo habita no inte­rior do espírito humano esse dois espíritos foram amalgamados juntos como um só Espírito. “Mas aquele que se une ao Senhor é um espíto com ele” (1 Co 6:17). Esse um espírito é hoje o único lugar escolhido por Deus.
Já passei por muitas formas de cristianismo. Nasci no cristianismo formal, organizado; mais tarde fui salvo e intro­duzido no cristianismo fundamentalista. Mais tarde estive na assembléia dos irmãos unidos livres e, depois disso, no movimento pentecostal. Também me envolvi com a questão da vida interior. Louvado seja o Senhor porque por fim vim para a igreja. Quando aqueles no cristianismo fundamentalis­ta se reúnem, reúnem-se com formas, rituais, doutrinas e muitas outras coisas. Durante os anos que estive no cristianis­mo fundamentalista, jamais percebi que precisava me reunir com os outros no espírito. Muitos de vocês passaram anos no cristianismo. Você alguma vez percebeu que tinha de estar no seu espírito humano? O seu pastor estava na sua doutrina, outros estavam no seu ritual, e você, com os seus dois olhos críticos, observadores, estava em sua mente. Repetidas vezes alguns ficaram insatisfeitos com o seu pastor e tentaram faze-­lo sair. Mas o pastor manobrava como um hábil político e foi capaz de manter a sua posição. Já que aqueles que quiseram detelo não tiveram sucesso, eles foram forçados a deixar aquela congregação. Isso tudo é um contraste expressivo em relação à genuína unidade.
A verdadeira unidade não está numa prática, numa doutrina, num ritual ou numa forma. A verdadeira unidade está no nosso espírito, que é habitado interiormente pelo Espírito Santo, que é a Pessoa do nome divino. Somente nesse lugar podemos ter a vida adequada da igreja. A igreja tem sido dividida porque muitos cristãos não têm estado no espírito. Se na vida da igreja não formos capazes, pela Sua misericórdia e graça, de ser mantidos em nosso espírito, seremos divisivos. Qualquer um que não esteja no espírito será por fim um fator divisivo. Durante os últimos catorze anos nos Estados Unidos, houve alguns poucos desses divisivos em nosso meio. Entretanto, tenho de admitir que houve um pequeno número daqueles que se recusaram a vol­tar para o espírito. Nós os conhecemos bem e conhecemos o seu modo de viver. É um fato que eles jamais quiseram se voltar para o espírito, mas sempre permaneceram na mente. Mesmo em oração eles continuaram a exercitar a mente, não o espírito. Era quase como se eles não tivessem um espírito, mas somente uma mente analítica. Assim, para mim ficou claro que mais cedo ou mais tarde esses irmãos seriam divisivos. Por fim, a situação revelou-se exatamente essa. Em­bora tentássemos ao máximo evitar isso, esse foi o resultado final porque eles jamais se voltaram para o espírito. O cris­tianismo de hoje tem sido dividido por causa de uma coisa: as pessoas não estão no espírito.
O espírito humano hoje é Jerusalém, o lugar escolhido por Deus. A Jerusalém material no Velho Testamento era um tipo do nosso espírito humano habitado interiormente pelo Espírito Santo e com Ele mesclado. Esse é o lugar onde Deus coloca o Seu nome e onde o Seu ser habita . É também o lugar onde Ele edifica a Sua habitação.

A ERA DA REALIDADE

Quando a mulher samaritana perguntou sobre o lugar de adoração, o Senhor claramente disse que era chegada a hora de se adorar o Pai em espírito. “A hora ter chegado” sig­nifica que a era mudou. A era anterior foi a era da tipologia; agora é a era da realidade. Quando Cristo veio, a era foi mudada da tipologia para a realidade. Na era da realidade já não é uma questão de lugar material, mas do espírito humano, no qual todos os verdadeiros adoradores de Deus podem contactá-Lo. Jerusalém hoje não é um lugar: é o nosso espírito regenerado habitado interiormente pelo Espírito Santo e mesclado com o Espírito Santo como um espírito. Esse é o lugar que Deus deseja. Nada é mais desejável para o nosso Deus do que o nosso espírito mesclado. Aqui temos unidade, a vida da igreja, e aqui desfrutamos a melhor porção de Cristo.

O DESFRUTE CORPORATIVO DE CRISTO

Uma vez que a Jerusalém de hoje não é um lugar material, mas o nosso espírito humano mesclado com o Espírito Santo, alguns podem ficar imaginando por que ainda há uma diferença entre o desfrute de Cristo em nossa vida privada e o desfrute Dele na vida da igreja. Em nossa vida privada desfrutamos Cristo pelo nosso espírito e na vida da igreja também O desfrutamos pelo nosso espírito. A dife­rença é que em nossa vida privada desfrutamos Cristo pelo nosso próprio espírito, mas na vida da igreja desfrutamo-Lo pelo nosso espírito amalgamado com o Espírito Santo de uma forma corporativa. O seu espírito individual só pode conter uma quantidade limitada do desfrute de Cristo. Usando o exemplo da eletricidade, o nosso espírito é como um transfor­mador que só consegue suportar uma amperagem limitada. O seu espírito não consegue suportar a amperagem ilimitada da corrente elétrica divina. A fim de suportar uma amperagem mais alta, isso é, um desfrute maior de Cristo, você precisa da igreja. Todavia, se a igreja é muito pequena, composta de apenas trinta e cinco pessoas, a capacidade da igreja de suportar a corrente divina ainda é limitada. É claro que o desfrute de Cristo é mais elevado e mais rico numa igreja de quinhentas pessoas do que numa de trinta e cinco. Se todos esses quinhentos santos estiverem no espírito, que grande amperagem da divina eletricidade haverá! Louvado seja o Se­nhor pelas riquezas de Cristo na vida da igreja.
Se você teve a visão da igreja, jamais será posto de lado ou enganado. Isso não é uma questão de doutrina; é total­mente uma questão do espírito e de desfrute. Onde a igreja está, o que ela é e quem ela é, isso tudo depende do espírito e da verdadeira experiência e desfrute dc Cristo. Não viemos para a igreja porque fomos arrastados pela doutrina, por letras mortas ou dogmas, e tampouco somos mantidos na igreja por tais coisas. Somos guardados na igreja pelo espírito e pelo desfrute do nosso Cristo no espírito mesclado.



CAPÍTULO SETE

OS SEIS TESTES DE UMA IGREJA GENUÍNA

Nos capítulos anteriores, abordamos o aspecto real e prático da igreja. Vimos que a igreja é uma em substância, uma em existência e uma em manifestação. A igreja é uma substancialmente, tanto universal quanto localmente. Além de Deus, nada no universo é tão um quanto a igreja. A igreja é uma entidade de unidade.

A UNIDADE UNIVERSAL E LOCAL DA IGREJA

A igreja é uma universalmente e localmente. Há so­mente uma única igreja. Universalmente, a igreja é uma em existência; localmente, a igreja é uma em manifestação. A Igreja no universo é uma e a igreja manifestada numa cidade é também uma. A palavra do Senhor “sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt 16:18), está relacionada à igreja universal. Seguindo-se a isso, em Mateus 18 o Senhor falou sobre a manifestação da igreja numa localidade. Se dois ou três não conseguem resolver eles mesmos um problema, devem dizê-lo à igreja. Essa certamente não é a igreja univer­sal, mas a igreja na cidade onde aqueles crentes vivem. Nos quatro Evangelhos, o Senhor mencionou a igreja duas vezes, uma vez no aspecto universal e outra no aspecto local.

A FIGURA CLARA NA BÍBLIA

No livro de Atos, a igreja não é mencionada segundo o aspecto universal, mas segundo o aspecto local. Atos 8:1 fala da igreja em Jerusalém, não da igreja no universo. Atos 13:1 fala da igreja numa outra localidade, a igreja em Antioquia. Sabemos por Apocalipse 1:11 que havia sete igrejas em sete cidades na Asia Menor: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Igrejas também foram levan­tadas na Europa. Havia, por exemplo, uma igreja em Corinto (1 Co 1:2). É claramente retratado na Bíblia que a igreja é universalmente uma em sua existência e localmente uma em sua manifestação. Onde quer que a igreja esteja, ela é sempre uma. Embora haja uma única igreja universal, em muitas cidades há a igreja em seu aspecto local, uma igreja em cada cidade.

UM QUADRO DE DIVISÕES

Embora o quadro acerca da igreja na Bíblia seja claro, a história e a situação atual do cristianismo nos dão outro quadro – um quadro de divisões. Em vez de uma igreja numa cidade, há numerosas divisões. Entretanto, de acordo com a Bíblia é errado dizer que há muitas “igrejas” numa cidade. Isso é contrário à economia de Deus. O que é chamado de muitas igrejas numa localidade são, na ver­dade, divisões. Usando outros termos, podemos dizer que são denominações, seitas, grupos ou organizações. Isso é o que vemos em toda parte no cristianismo hoje.
Enquanto nos posicionamos aqui como a igreja em Anaheim, alguns dizem que somos meramente uma outra divisão. Eles dizem que nossa vinda para cá simplesmente acrescentou outra à lista de divisões. Alguns poderiam dizer-lhe: “Sou pastor de certo grupo nesta cidade. Tenho ouvido dizer que vocês dizem que são a igreja e que nós não; antes, somos Babilônia ou o cristianismo organizado. Não concordo com isso. Não sou eu um verdadeiro cristão? Eu nasci de novo antes mesmo de você ter nascido. Já que somos todos irmãos cristãos, por que vocês dizem que são a igreja e que nós não a somos? Parece-me que vocês são simplesmente outro grupo cristão. Vocês simplesmente se acrescentaram ao número de igrejas já existentes nesta cidade. Por que vieram para cá? Por que não vão a um lugar onde não haja nenhuma igreja e sejam lá o único grupo? Por que vocês vêm aqui para nos causar transtornos? A fim de responder questões como essa, precisamos saber o que constitui uma seita, uma divisão ou denominação.

SEM NOME PARTICULAR

Uma divisão é chamada de denominação porque foi denominada por um nome especial. Assim, o primeiro fator de uma denominação é um nome especial. Nem o sol nem a lua têm um nome particular. O sol é o sol e a lua é a lua. Jamais ouvi que alguém tenha dado um nome ao sol ou à lua. Tampouco os dois precisam de um nome. Onde quer que eu esteja: nos Estados Unidos, na Europa ou no Extremo Oriente, a lua é a lua e o sol é o sol. No máximo posso falar da lua em Sidney, a lua em Paris ou a lua em Recife. Dar um nome especial a certo grupo cristão é constituí-los numa facção, numa denominação. Isso os torna uma facção denominada, uma facção divisiva com um nome particular.
Qualquer grupo cristão que tenha um nome particular é uma divisão, uma seita. Não devíamos ter qualquer outro nome além do nome do Senhor Jesus. Cremos em Seu nome e fomos batizados para dentro do Seu nome e agora estamos nos reunindo em Seu nome. Jamais pense que a questão do nome seja algo insignificante. Tenho de usar meu nome em tudo o que faço. Usar um outro nome é ser enganador. Jamais pense que não faz diferença você chamar a si mesmo de Almeida ou Mendonça. É terrível fazer isso. O meu nome é Witness Lee. Você não pode chamar-me de sr. Almeida. O nome significa tudo. Se uma herança me fosse aquinhoada em meu nome, Witness Lee, mas eu chamo a mim mesmo de sr. Almeida, perderia o direito de reivindicar e desfrutar essa herança.
Nunca negligencie essa questão do nome. Tomar qualquer outro nome além do nome do Senhor Jesus é uma forma de fornicação espiritual. Quão errado seria minha esposa, sra. Witness Lee, sair com o nome de outro homem! Uma mulher casada tomar um outro nome é fornicação. Jamais pense que essa questão é insignificante. O Senhor Jesus louvou a igreja em Filadélfia porque eles não negaram o Seu nome (Ap 3:8). Todas as denominações têm negado o nome do Senhor porque, além do Seu nome, elas tomaram nomes como Batista, Episcopal, Luterano e Presbiteriano. Ao tomar esses outros nomes, as denominações cometeram fornicação espiritual. Se honramos o Senhor e sinceramente queremos levá-Lo a sério, com certeza renunciaremos a qualquer outro nome afora o nome do Senhor Jesus. Fomos batizados para dentro do nome do Senhor Jesus. Ao se dirigir aos contenciosos na igreja em Corinto, Paulo disse: “Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Acaso Cristo está dividido? foi Paulo crucificado em favor de vós, ou fostes porventura, batizados em nome de Paulo?” (1 Co 1:12-13). Paulo aqui parecia estar dizendo: “Por que vocês dizem que são de Paulo? Jamais poderiam dizer isso. Vocês não foram batizados para dentro do meu nome – foram batizados para dentro do nome do Senhor Jesus Cristo. Vocês não devem estar sob qualquer outro nome.”

Parei aqui NENHUMA COMUNHÃO PARTICULAR

      
       Fomos batizados para dentro do único nome, o nome acima de todo nome e também fomos chamados para dentro da comunhão do Filho de Deus (1 Co 1:9). Essa comunhão do Senhor Jesus tornou-se a comunhão dos apóstolos (At 2:42). Em 1 João 1:3 diz-se: “O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.” O “nós” e “conos­co” mencionados nesse versículo referem-se aos apóstolos. O apóstolo João parecia estar dizendo: “Nós, os apóstolos, proclamamos a vocês a vida divina. Nessa vida vocês podem ter comunhão conosco, e nossa comunhão é com o Pai e com o Filho”. Essa comunhão é também chamada de participação. O significado é o mesmo. Seja qual for o termo que usemos, há algo chamado comunhão, a participação comum em Cris­to, o qual é comum a todos os crentes Nele. Quem quer que tenha crido para dentro Dele está agora na comunhão do nosso maravilhoso Senhor. Essa comunhão é comum a você, a mim e a todo regenerado. Entretanto, muitos cristãos não têm essa comunhão única. Antes, eles têm uma assim cha­mada comunhão diferente, especial. Toda comunhão especial constitui-se numa divisão. Alguns cristãos podem não ter um nome denominacional, isto é, podem não ter um nome para o seu grupo, mas têm uma comunhão particular. A comunhão deles não é tão ampla quanto a comunhão comum do Filho de Deus. Pelo contrário, ela é restrita e particular.
Deixem-me dar algumas ilustrações da minha própria experiência. Quando jovem, minha mãe era uma Batista do Sul. A denominação Batista do Sul que ela freqüentava tinha comunhão somente algumas poucas vezes por ano. Toda vez que tinham comunhão, faziam um anúncio vigoroso, sério e solene para o fato de que qualquer pessoa que não perten­cesse à denominação Batista do Sul, não poderia participar do seu culto de comunhão. Quando alguns que não eram membros queriam tomar a comunhão, o pastor dizia que eles tinham de esperar, passar por um exame e ser imerso por eles. Um homem disse que já fora imerso, mas o pastor disse: “Não importa quantas vezes você tenha sido imerso. Se quiser tomar a santa comunhão conosco, então precisa ser batizado por nós. Se não estiver disposto a fazer isso, entao não é bem-vindo para partilhar a santa comunhão conosco. Isso ilustra o fato de que aqueles Batistas tinham uma comunhão particular. Embora os Batistas do Sul nos Estados Unidos perfaçam quase um quarto do número total de regenerados, eles ainda assim não têm a comunhão comum. A comunhão deles é particular e faz deles uma divisão.

NENHUM ENSINAMENTO PARTICULAR

Alguns grupos não têm um nome, mas têm um en­sinamento particular que gera uma comunhão particular. Por exemplo, alguns grupos crêem que todos os santos serão ar­rebatados antes da grande tribulação. Qualquer pessoa que não apóie esse conceito deve arrepender-se de sua própria doutrina antes de poder ter comunhão com esse grupo. Por intermédio de tudo isso vemos que aquele grupo, insistindo na crença do arrebatamento pré-tribulação, não tem somente a fé comum (Tt 1:4). Além da fé comum, eles se apegam à crença do arrebatamento pré-tribulação. Esse ensinamento particular gera uma comunhão particular e essa comunhão particular se constitui numa divisão.
Outros grupos cristãos insistem no lava-pés e no véu. Quando alguns cristãos se achegam à mesa do Senhor, sem­pre lavam os pés uns dos outros. Se você não estiver disposto a participar desse lava-pés, não terá o direito de juntar-se a eles em sua santa comunhão. Desse modo eles são também uma divisão. Alguns grupos dos Irmãos Unidos insistiam que todas as mulheres deviam usar véu. Uma mulher que tem a cabeça descoberta indica que ela não concorda com a sua crença. Esses Irmãos Unidos têm a fé comum mais a crença no véu. Isso resulta numa comunhão particular, um fator que faz deles uma divisão. Portanto, um nome, uma comunhão particular e um ensinamento particular são causas de divisão.
Quase todo grupo cristão tem um ensinamento ou dou­trina particular. Os Batistas têm uma forte ênfase no ensinamento sobre imersão; os Adventistas de Sétimo Dia, sobre o sábado; os grupos carismáticos enfatizam a manifes­tação dos dons, principalmente falar em línguas. Todos esses ensinamentos

especiais fazem desses grupos seitas, divisões.
Até aqui, vimos três causas de divisão: um nome particu­lar, uma comunhão particular e um ensinamento particular. Apenas um desses itens é suficiente para fazer de um grupo uma divisão. Uma vez que você tem um nome particular, ou uma comunhão particular, ou um ensinamento particular, você é uma divisão.

UMA DESCRIÇÃO, NÃO UM NOME

       Nós que nos posicionamos aqui como a igreja, não temos um nome particular. Não pense que o termo “igreja local” seja o nosso nome. Não é o nosso nome. Está correto dizer que somos a igreja local, mas está errado dizer que “igreja local” seja o nosso nome. Esse termo descreve a natu­reza da igreja. Não dê às pessoas a impressão de que o nosso nome seja igreja local. A igreja local numa cidade deveria consistir de todos os crentes naquela cidade. Todavia, com tristeza dizemos que muitos queridos santos estão bem longe do seu lar na igreja. Não temos qualquer nome. Por causa de comunicação e de registro legal, podemos dizer que somos a igreja em Curitiba. Entretanto, nem mesmo isso deve ser reputado como um nome. Faça o máximo para evitar termos que possam ser mal compreendidos como sendo o nosso nome. Não precisamos de um nome e não queremos ter um.

NENHUM ENSINAMENTO PARTICULAR
NA RESTAURAÇÃO DO SENHOR

Na restauração do Senhor não temos qualquer ensina­mento particular. Alguns podem dizer: “Irmão Lee, você não tem enfatizado há anos a questão da igreja? Não é particular esse seu ensinamento acerca da igreja?” É claro que não. Embora tenha repetidamente ministrado a respeito da igreja, o meu ensinamento a respeito disso não é particular. O meu falar a respeito da igreja é como dizer às pessoas que elas têm de respirar – é comum e não particular. Só enfatizamos as coisas que são comuns a todos, não as que são particulares. Eu poderia dizer muitas vezes que vocês precisam crer no Se­nhor Jesus e que precisam viver por Ele. Embora possa dizer-lhe milhares de vezes que você precisa viver por Cristo, esse não é um ensinamento particular. Entretanto, se insistir acerca da imersão e que somente a nossa imersão é que conta, isso será um ensinamento particular. Também, se exigir que você fale em línguas e ensine que a não ser que você faça isso, você não tem o batismo do Espírito, isso será um en­sinamento particular. Dizer que precisamos da igreja não é ensinar uma doutrina particular. É como dizer que todos precisamos de um lar. Você não pode ficar vagando pelas ruas –  precisa ter uma vida adequada em seu lar. Dizer às pessoas que todos deveriam ter um lar não é um ensinamento particular. Todavia, dizer que você precisa cortar o cabelo de certa maneira é dar um ensinamento particular. Espero que todos nós possamos fazer essa diferenciação.
Nenhum ensinamento na restauração do Senhor é parti­cular. Antes, podemos dizer que a Bíblia é a Palavra Sagrada, verbalmente inspirada pelo Espírito Santo. Isso é um en­sinamento particular? Claro que não. Também dizemos que o nosso Deus é Triúno: o Pai, o Filho e o Espírito; que o Filho de Deus tornou-se carne para ser nosso Salvador, e que Ele morreu na cruz para nossa redenção. Tenho pregado essas coisas por mais de quarenta e cinco anos. De modo algum elas são ensinamentos particulares. Além disso, dizemos às pessoas que hoje o Senhor Jesus é a nossa vida em nosso espírito e que nós precisamos amá-Lo, viver por Ele e andar de acordo com Ele. Também dizemos que todos que nas­ceram de novo têm a vida do Senhor Jesus e é um membro do Seu Corpo. Ensinamos que a intenção de Deus é ter uma vida da igreja adequada na terra para expressar Seu Filho para Sua glória. Esses não são ensinamentos particulares. Entretanto, ensinamentos tais como lava-pés, véu, imersão e arrebatamento pré-tribulação são ensinamentos particulares.

RECEBER TODOS CRISTÃOS GENUÍNOS
Na igreja recebemos todos os cristãos genuínos. Recebe­mos aqueles que falam em línguas e aqueles que não falam; os que foram imersos e os que foram aspergidos; as que usam véu e as que não usam; os que praticam lava-pés e os que não o praticam. Na verdade, receberíamos até mesmo freiras e sacerdotes católicos que sejam verdadeiros crentes no Senhor Jesus. Recebemos todos os cristãos, não importa de que tipo sejam.
Parece que nem mesmo dois cristãos são da mesma opinião. Todos têm opiniões diferentes sobre muitas coisas. Louvado seja o Senhor porque na igreja não tocamos essas opiniões diferentes. Todos nós abandonamos nossas opiniões, sabendo que se as introduzirmos na igreja, elas causarão divisão. Só nos preocupamos em que as pessoas creiam no Senhor Jesus, sejam salvas e O amem. Queremos encorajar a todos a continuarem a amar o Senhor, crescendo em Sua vida e substantificando a vida adequada da igreja para satisfazer o desejo do coração de Deus.

COMUNHÃO UNIVERSAL, NÃO COMUNHÃO ISOLADA

Pode haver alguns grupos cristãos que proclamem não ter nome, comunhão ou ensinamento particulares. Declaram que odeiam qualquer outro nome além do nome do Senhor Jesus e que não se apegam a qualquer comunhão ou en­sinamento particulares. Antes, recebem todos os tipos de cristãos genuínos. Se for esse o caso, então precisamos verificar três outras coisas, nenhuma das quais é simples. Primeiro, precisamos ver que tipo de comunhão eles têm. Embora possam não ter uma comunhão particular, a comunhão deles pode ser isolada, não universal. Embora recebam todos os verdadeiros cristãos, não têm comunhão com qualquer outra igreja. A comunhão deles é muito limitada e isolada em sua própria esfera. Não é universal ou mesmo totalmente local. Isso faz deles uma facção. Tal grupo não é a igreja naquela cidade – é uma facção local. Essa questão é muito delicada e poucos são capazes de percebê-la. É fácil ver que aqueles com um nome, uma comunhão ou um ensinamento particulares são facções. É, porém, difícil ver que um grupo sem essas coisas ainda possa ser uma facção se a sua comunhão for isolada. Embora tal grupo proclame ser a igreja em sua cidade, ele é na verdade uma facção local.

NENHUMA ADMINISTRAÇÃO SEPARADA

Pode haver um grupo que não tenha nome, ensinamen­to ou comunhão particular, e cuja comunhão não seja isolada. Entretanto, eles podem insistir em ter uma adminis­tração separada, um presbitério separado. Esse presbitério separado faz deles uma divisão. Não importa quantos crentes possa haver numa certa igreja, a igreja naquela cidade tem de estar sob um único presbitério com uma única administração. A cidade de Manaus tem um único prefeito e uma única prefeitura. A cidade de São Paulo, porém, que é muitíssimo maior do que Manaus, ainda tem somente um prefeito e uma prefeitura. Se a cidade de São Paulo tivesse mais de um prefeito, isso seria um sinal de que a cidade foi dividida. Em­bora houvesse dezenas de milhares de crentes em Jerusalém (At 21:20) e eles se reunissem em muitas casas, havia so­mente um grupo de presbíteros. Ainda havia apenas um presbitério, uma única administração.
Suponha que haja nesta cidade um grupo de cristãos cuja prática lembre a nossa. Eles não têm nome, comunhão ou ensinamento particulares, e sua comunhão é aberta a todos, a toda a igreja no mundo inteiro. Todavia, eles insistem em manter um presbitério separado com uma administração separada. Porquanto aquela administração separada é uma causa de divisão, esse grupo também é uma facção. Se houver duas administrações numa cidade, então poderá haver duas “igrejas” na cidade. É como ter dois prefeitos e duas administrações em uma só cidade. Se for esse o caso, então aquela cidade tem de ser dividida. Por intermédio de todos esses pontos podemos ver que não é algo simples conhecer a igreja.

NENHUMA LIGAÇÃO OCULTA COM OUTRAS ORGANIZAÇÕES
      
       Há outro fator que é um teste para se ver se uma igreja é genuína. Pode haver um grupo cristão que não tenha um nome particular, comunhão particular e ensinamento par­ticular. A comunhão deles é universal e não isolada, e não tem uma administração separada. Embora passem por todos esses testes, não seja afoito em dizer que eles são a ver­dadeira igreja naquela cidade. Ainda é possível que esse grupo tenha uma ligação oculta com outra organização. São como uma pipa no ar: alguém no chão está segurando o fio. A altura que a pipa voa não depende dela, mas daquele que segura o fio. No passado fomos enganados por pessoas assim e sofremos em consequência disso. Um grupo disse: “Somos exatamente iguais a vocês. Não temos um nome particular, um ensinamento particular ou uma comunhão particular. A nossa comunhão é universal e não insistimos em ter uma administração separada”. Quando ouvimos isso, pensamos que estava tudo ótimo. Entretanto, posteriormente viemos a saber que esse grupo era ligado a uma organização na In­glaterra. A pipa estava voando na China, mas aquele que segurava o fio estava na Inglaterra.
       A igreja é um candeeiro de ouro puro, mas qualquer grupo que tenha uma ligação oculta com outra organização não é puro; antes é nebuloso, opaco. A igreja, pelo contrário, tem de ser transparente e clara como cristal. A Nova Jerusalém é uma cidade transparente. Até mesmo o ouro na Nova Jerusalém é claro como vidro (Ap 21:18). Nessa cidade, nada há opaco.
       Sempre que você encontrar um grupo cristão, precisa verificar se ele tem um nome particular, uma comunhão par­ticular, um ensinamento particular, uma comunhão que não seja universal, uma administração separada ou alguma ligação oculta com outra organização. Se qualquer grupo puder pas­sar por todos os seis testes, então o grupo pode ser considerado aprovado. Mas se você aplicar esses testes nos grupos cristãos de hoje, cada um deles será exposto e achado em falta.

AQUELES QUE TÊM A POSIÇÃO ADEQUADA
SÃOA IGREJA

A igreja em Jerusalém não tinha um nome particular, ensinamento particular ou comunhão particular. O fluir da igreja posteriormente se espalhou até Antioquia. A igreja em Antioquia também não tinha qualquer nome, comunhão ou ensinamento particulares. A sua comunhão era aberta a todas as igrejas universalmente, tinha um único grupo de presbíteros e não tinha quaisquer ligações ocultas. A igreja em Éfeso era igual nesses pontos à igreja em Jerusalém e à igreja em Antioquia. Depois, o fluir da igreja chegou a Corin­to. Vimos que em 1 Coríntios Paulo tratou as contendas nessa igreja. Paulo lidou com isso a tempo, os coríntios foram ajudados e as divisões não chegaram a ocorrer na verdade. Suponhamos, entretanto, que quatro divisões tivessem real­mente ocorrido. Assim, além daqueles posicionados como a igreja em Corinto, houve a igreja de Paulo, a igreja de Apolo, a igreja de Cefas e a igreja de Cristo. Se fosse um irmão visitando a cidade de Corinto, para qual dessas “igrejas” iria? Suponha que o número total de cristãos em Corinto fosse mil, com duzentos e cinqüenta na igreja de Paulo, trezentos e cinqüenta na igreja de Apolo, cento e vinte e cinco na igreja de Cefas, cem na igreja de Cristo e o restante, setenta e cinco, na igreja em Corinto. Desses cinco grupos, quatro são divisões e um, composto dos setenta e cinco posicionados como a igreja em Corinto, é a igreja. Suponha que um dos setenta e cinco na igreja em Corinto dissesse que são a igreja e que os outros não são a igreja, e que o pastor da igreja “Paulina” dissesse: “Vocês não acham que nós cremos na Bíblia? Cremos na igreja tanto como vocês. Por que dizem que são a igreja e nós não?” Uma boa resposta seria esta: “Irmão, se quer ser a igreja, simplismente abandone o seu título, e imediatamente se tornará a igreja. Se achar impos­sível abandonar o título deixe então o seu círculo divisivo e volte à posição adequada. O quanto antes fizer isso, você estará na igreja.”

NEM TODOS OS CRISTÃOS SÃO A IGREJA

       Por causa da divisão e dispersão que há entre os cristãos de hoje, nem todos os cristãos são a igreja. Todos os cristãos são membros da igreja, mas nem todos eles são a igreja. A nação de Israel é uma excelente ilustração. Embora haja treze ou catorze milhões de judeus na terra hoje, menos de três milhões deles são a nação de Israel. Embora o número de judeus na cidade de Nova York seja maior do que o número deles na nação de Israel, os judeus em Nova York não são a nação de Israel.
       Recentemente um irmao falou-nos a respeito de um ar­tigo de jornal escrito por um grupo de judeus ortodoxos. Nesse artigo eles declaram que não reconheciam a nação de Israel. Reivindicando ser judeus genuínos, os membros desse grupo diziam que, se alguém pudesse ser considerado a nação de Israel, eles deveriam ser considerados como tal nação. As Nações Unidas, entretanto, não reconhecem esse grupo com a nação de Israel. As Nações Unidas somente reconhecerão como nação de Israel aqueles que são o povo adequado, que estão no lugar adequado e que têm um gover­no adequado para ser a nação adequada. Aqueles judeus ortodoxos que ainda estão na cidade de Nova York não podem dizer que são a nação de Israel. Talvez sejam membros da nação de Israel, mas não são a nação de Israel porque não estão na base correta ou sob o governo adequado.
       De modo semelhante, nem todos os cristãos genuínos podem dizer que são a igreja. Eles têm de levar em con­sideração onde estão. Estão na base correta? Eles precisam levar em consideração o exemplo do povo judeu. Há milhões de judeus genuínos que não são a nação de Israel. Somente aqueles judeus que retornaram à terra de seus antepassados e que se posicionam na base correta e sob o governo adequado é que são a nação de Israel. Sim, você pode ser um cristão genuíno, e como um verdadeiro cristão você é um membro do Corpo de Cristo. Entretanto, não está na base correta. Você pode estar na Igreja Católica, numa denominação ou num grupo livre. Não discuta conosco –  verifique onde você está. Se você é um membro da família, então por que não está em casa com a família?

UMA QUESTÃO DE POSIÇÃO, NÃO DE NÚMERO

Alguns podem argumentar conosco, dizendo: “A igreja em Porto Alegre inclui todos os crentes em Porto Alegre. Já que vocês são em pequeno número, obviamente não incluin­do todos os crentes nesta cidade, por que ainda dizem que são a igreja em Porto Alegre e que os outros crentes não são?” Pondere outra vez sobre o exemplo das divisões em Corinto. Embora menos de um décimo do número total de crentes na cidade de Corinto tivesse a posição da igreja em Corinto, eles ainda eram a igreja, e a maioria dos outros cren­tes, aqueles nas quatro divisões, não o eram. A maioria estava na “igreja Paulina”, na “igreja Petrina”, na “igreja Apolina” ou na “igreja de Cristo”. Porém, a pequena minoria de seten­ta e cinco ainda permanecia na base da igreja em Corinto. Se eles não eram a igreja, então que eram? Ser a igreja não é uma questão de números, é uma questão de posição, de base. É exatamente como a nação de Israel, que tem menos judeus do que Nova York. Contudo, o número menor de judeus, posicionando-se na base correta, são a nação de Israel, e o número maior de judeus, tendo perdido a base da sua nação, não são a nação de Israel. Uma vez que esteja numa divisão, terá perdido a posição da igreja local. Graças ao Senhor por­que, ao permanecermos na posição correta e não estarmos numa divisão, podemos ser parte da igreja em nossa cidade.

UMA QUESTÃO DE BASE, NÃO DE CONDIÇÃO


  Consideremos agora um outro aspecto da igreja como está revelado nesse exemplo das divisões em Corinto. Supo­nha que os crentes na “igreja Paulina” fossem muito bons: espirituais, celestiais e amáveis; mas os setenta e cinco restan­tes na igreja em Corinto fossem, pelo contrário, negligentes. Se você fosse um crente visitando aquela cidade, a qual grupo se dirigiria? Talvez dissesse: “Amo os santos puros, celestiais, espirituais na igreja Paulina. Não me importo com a base ou posição deles –  só me importo com a sua condição espiritual. A posição deles não é correta, mas eles, como Da­niel, são muito espirituais.” Precisamos fazer uma distinção clara entre a condição da igreja e a base da igreja. A igreja pode ser correta em sua base, mas fraca em sua condição. É claro, buscamos no Senhor poder estar corretos tanto na base como na condição. Entretanto, a decisão acerca de se reco­nhecer uma igreja não deve ser tomada de acordo com a condição, mas com a base. Essa é a maneira de se discernir o que é uma igreja correta.























CAPÍTULO OITO

A BASE DA GENUÍNA UNIDADE

Nestes capítulos temos tratado de várias questões cruciais concernentes à igreja. A igreja não é algo superficial, mas algo muito profundo. Se você for simplesmente religioso, ético e moral, poderá dizer: “Uma vez que amemos Jesus, tenhamos um bom procedimento e amemos aos outros, não importa se estamos na Igreja Católica, nas denominações, nos grupos livres ou no movimento carismático. Uma vez que todos nós creiamos no Senhor Jesus e saibamos que vamos para o céu, tudo está bem. Embora possa dizer que tudo está bem, Deus não vai concordar com você. E quanto ao propósito de Deus? Há mais de mil e novecentos anos, o Se­nhor Jesus disse: “Edificarei a minha igreja” (Mt 16:18). Entretanto, é muito difícil ver onde a igreja tem sido real­mente edificada. Sem dúvida, o cristianismo tem exercido alguma influência sobre a sociedade humana. Onde, todavia, a igreja tem sido edificada para cumprir o propósito de Deus? Aparentemente, a palavra do Senhor não tem sido cumprida.

A SUTILEZA DE SATANÁS
VISTA NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

Ao longo dos séculos, Satanás, o inimigo de Deus, tem feito todo o possível para frustrar a edificação da igreja. A sutileza de Satanás é demonstrada na história do cristianismo. Imediatamente após a morte dos apóstolos, a igreja começou a decair para uma religião organizada. Muito antes de Cons­tantino, o Grande, ter introduzido o cristianismo no favor imperial (313 d.C), a igreja já havia sido organizada numa hierarquia. Durante a época de Constantino, o mundo foi in­troduzido na igreja, e a igreja, no mundo. No sexto século, o sistema papal foi plenamente estabelecido e a Igreja Católica completamente formada. A Igreja Católica é sutilmente satânica e permeada de fornicação. Nas palavras das Escrituras, a Igreja Católica Romana é a grande prostituta (Ap 17:1). A Grande Babilônia de Apocalipse 17 é a Igreja Católica Romana apóstata. Muitos, entretanto, têm sido drogados no catolicismo, jamais percebendo que, aos olhos de Deus, a Igreja Católica é a grande prostituta. A Igreja Romana tem sido uma grande frustração para o Senhor edificar a Sua igreja. Entretanto, para o Senhor, mil anos são como um dia (2 Pe 3:8). Para Ele, esperar vinte séculos é como esperar dois dias. Deus é sábio. Mediante a Sua sabedoria, todas as loucuras do inimigo serão expostas e Ele virá para fazer a Sua obra. Se Ele quiser, poderá esperar por outro período para a edificação da Sua igreja. Porém, creio que agora é a hora em que o Senhor está intervindo para exe­cutar a Sua obra. Talvez o Senhor diga ao inimigo: “Satanasinho, você já fez o máximo? Há ainda alguma coisa mais que possa fazer?” Satanás terá de confessar que não há nada mais que ele possa fazer.
Depois de o catolicismo ter existido por séculos, o Se­nhor começou a Sua restauração. Segundo o conceito humano, o início da restauração do Senhor foi a reforma começada com Martinho Lutero. A reforma, na verdade, pouco fez para realizar a edificação da igreja. Pelo contrário, ela principalmente restaurou a justificação pela fé. Isso é útil para a salvação, mas não o tem sido muito para a edificação da igreja. Nenhuma das denominações que resultaram da Reforma se importa com a edificação da igreja. Pelo contrario, elas têm dividido o corpo e têm-no cortado em pedaços. No cristianismo reformado hoje há centenas de divisões.
O  assim chamado movimento pentecostal começou no início do século passado. Nada tem sido mais divisivo do que o movimento pentecostal no passado e o movimento caris­mático no presente. Isso tem cortado o Corpo do Senhor em ainda mais pedaços. Todos nesse movimento são totalmente individualistas e muitos sentem-se livres para estabelecer uma reunião cristã da maneira que escolherem. Alguns podem freqüentar uma pequena reunião domiciliar por algum tempo. Quando já não se sentem mais tão bem com as pessoas lá, podem formar sua própria reunião. Vemos aqui a sutileza do inimigo. Ele tem introduzido distrações, frustrações e divisões. A assim chamada cristandade de hoje está cheia de divisões e confusão.
A restauração do Senhor veio para os Estados Unidos em 1962. Durante os últimos catorze anos nós temos apresentado, pela misericórdia do Senhor, o que Ele nos tem mostrado acerca da genuína unidade da igreja. Alguns queridos amigos advertiram-me a nada dizer acerca da igreja. Em 1962, raramente alguém no cristianismo falava a respeito da igreja. Na restauração do Senhor, porém, temos liberado mensagem após mensagem sobre essa questão, e hoje o termo “a igreja local” é popular. Agora, muitos pregadores pelo rádio estão usando este termo, e muitos grupos chamam a si mesmos de igreja local.

O MAU USO DE
A VIDA NORMAL DA IGREJA CRISTÃ

Deixem-me agora compartilhar uma palavra sobre o livro A Vida Normal da Igreja Cristã. Esse livro é composto de uma série de mensagens dadas pelo irmão Nee em 1937. Eu estava presente quando aquelas mensagens foram dadas. De fato, o irmão Nee até mesmo pediu-me para dar uma das mensagens para ele. Uma manhã, o irmão Nee chamou-me à sua casa, disse-me que estava doente e pediu-me para substituí-lo na liberação da mensagem. Quando lhe disse que não tinha idéia sobre o que ele haveria de falar, ele me deu todos os pontos daquela mensagem, que abordava a linha de Antioquia. Anotei os pontos, corri de volta à reunião e infor­mei aos ouvintes que o irmão Nee estava doente e que ele me encarregara de liberar a mensagem. Transmiti-lhes, então, todos os pontos a respeito da linha de Antioquia que o irmão Nee me havia dado. Outra vez o irmão Nee liberou ele mesmo a mesma mensagem. Mais tarde, em 1937, os co-obreiros reuniram-se em Hankow, uma cidade na China central, a fim de escapar da invasão japonesa. Naquela época o irmão Nee liberou aquelas mensagens uma segunda vez. Ele então deu-lhes uma polida e imprimiu-as como livro em 1938. Depois disso, dispendeu mais de um ano visitando diversos países na Europa. Durante a sua estada em Londres, ele traduziu o seu livro para o inglês com o auxilio de uma irmã inglesa. Ele foi publicado em 1939 sob o título Acerca da Nossa Missão. Em 1962, um irmão nos Estados Unidos sentiu o encargo de publicar uma edição americana do livro, in­titulada A Vida Normal da Igreja Cristã. Foi-lhe dada permissão e o livro foi publicado pela International Students. A edição americana foi amplamente distribuída e muitas pes­soas a leram. Após lerem esse livro, alguns tentaram praticar a vida da igreja. Eles usaram esse livro para causar mais divisões. Não devemos culpar esse livro por essas divisões: aqueles que usam este livro para edificar a sua própria obra devem se responsabilizar por isso.
Certos assim chamados obreiros cristãos estavam esperando estabelecer uma nova obra. Entretanto, eles não têm quaisquer conceitos novos. Tendo o livro do irmão Nee, eles descobriram alguns conceitos novos para alimentar o seu desejo e começaram a estabelecer igrejas locais. Todavia, o que estabeleceram não era genuíno nem puro. Se fossem genuínos e puros, certamente teriam sabido que a restau­ração do Senhor já chegou a este país e nos teriam contactado. Isso teria sido a verdadeira unidade e um genuíno início de vida da igreja. Entretanto, muitos dos que leram A Vida Normal da Igreja Cristã começaram a sua própria obra sem contactar-nos. Alguns desses estavam no movimento carismático e viram que falar em línguas não era a maneira de se edificar a igreja. Perceberam também que o velho cristianismo já terminara e que eles nada mais tinham a ver com ele. Contudo, não tinham o modo adequado de pros­seguir. Após lerem o livro do irmão Nee, sentiram que haviam encontrado o caminho.
Alguns que foram influenciados pelo livro do irmão Nee disseram que a prática da restauração do Senhor é franca e ousada demais. Por isso, eles inventaram um outro modo. Esse modo é fingir ser algo que você não é. Aqueles que seguem essa maneira proclamam estar praticando a vida da igreja, mas não querem chamar isso de a igreja.
Aqueles que desejam sinceramente ter a vida da igreja haverão de contactar-nos. Entretanto, em vez de contactar-nos, alguns têm usado A Vida Normal da Igreja Cristã para causar novas divisões. Aqueles que têm feito isso são os que estão fora da restauração do Senhor.

DIVISÕES CAUSADAS PELOS QUE ESTÃO DENTRO

Em alguns poucos casos, divisões têm sido causadas por aqueles que estiveram uma vez dentro da restauração do Se­nhor. Um irmão, que tem sido ajudado pela restauração do Senhor, esteve na conferência em Los Angeles em 1964. Em uma das reuniões ele testificou que, ao me ver saindo do avião em certa cidade, o Espírito Santo lhe disse que ele tinha de se submeter a mim. Ele deu um forte testemunho disso publicamente, e submeteu-se a mim. No ano seguinte ele deu esse testemunho uma segunda vez em nossa conferência. Entretanto, não muito depois, ele foi desviado por um famoso pregador da Inglaterra, e juntos falaram numa conferência anual na costa leste dos Estados Unidos. Quando fui insistentemente convidado para ser um dos prin­cipais oradores nessa conferência, recusei o convite. No ano seguinte fui convidado outra vez. Também rejeitei esse con­vite, dizendo-lhes que não tinha unção para tomar parte naquele tipo de conferência. Então, aquele que começara aquela conferência virou-me as costas e começou a com­bater-me. Por fim, aquela conferência anual se tornou um fracasso e cessou. Agora, esse amado, que tem o seu próprio grupo em certa cidade, foi totalmente desviado.
Em 1963, certo pregador itinerante que nada sabia acer­ca da restauração do Senhor, visitou o treinamento que eu realizava em Los Angeles. Aparentemente ele fora conquis­tado pela restauração do Senhor. Ele interrompeu a sua obra e veio para ficar conosco. Permaneceu por algum tempo e aprendeu muitas coisas, inclusive as verdades sobre o propósito eterno de Deus e a árvore da vida. Depois de cerca de três anos, ele de repente proclamou ter visto outra linha além da linha de Jerusalém e da linha de Antioquia. Como resultado, ele nos deixou em 1969, levando consigo tudo o que aprendera na restauração do Senhor. Depois disso, con­tinuou a voltar ao nosso salão de reuniões, após as reuniões, para apanhar material. Não muito longe de Los Angeles, ele fundou uma obra à qual chamou de igreja local.
Outra divisão ainda foi causada por um irmão que que­ria ter o seu próprio ministério. Ele pensou que a restauração era a melhor oportunidade para edificar seu ministério. Por causa da intenção de irmãos como esse, de estabelecer sua própria obra, mais cedo ou mais tarde eles causarão divisões. Em especial esse irmão, posteriormente iniciou sua própria obra numa outra cidade. Alguns dos santos aqui, sendo ino­centes, receberam ajuda das nossas conferências e treinamentos. Gradualmente começaram a perceber que o que haviam visto em outros lugares não estava sendo praticado em suas localidades. Esses santos tinham uma inclinação genuína pela restauração do Senhor. A intenção desse irmão, todavia, não era puramente pela restauração. Por fim, a ver­dadeira situação foi exposta e alguns daqueles na liderança rejeitaram a restauração do Senhor.
Desse modo, alguns fora da restauração do Senhor usaram o livro A Vida Normal da Igreja Cristã para começar as assim chamadas igrejas locais. Na verdade, eles criaram mais divisões. Além disso, alguns de dentro que estiveram conosco por algum tempo, mas que não renunciaram à sua intenção, foram expostos e não foram mais capazes de se ocultar sob a capa da restauração. Posteriormente, saíram para realizar a sua própria obra independente.

A NECESSIDADE DE DISCERNIMENTO
COM RELAÇÃO À IGREJA
      
       Vimos que a igreja é uma unidade genuína. A igreja é totalmente uma em substância, tanto universal quanto localmente. Em cada aspecto, a igreja é uma. Porquanto a igreja é uma, nada do que é de natureza divisiva pode ser a igreja. Toda divisão perde a posição, o padrão, a base da igreja. Hoje vivemos numa era trevosa de divisão e confusão, e é difícil discernir a igreja de uma divisão. Esse é o motivo de eu ter-lhes dado os seis testes da genuína igreja em uma cidade no capítulo anterior.
Nessa questão da igreja, precisamos discernir bem. As Igrejas Católica Romana e Grega Ortodoxa proclamam ser a igreja. Nós, entretanto, jamais admitiríamos serem eles a igreja. Em certo sentido, a Igreja Católica Romana crê na Bíblia. É claro que ela crê na Bíblia à sua própria maneira torcida, proclamando que a Bíblia só pode ser compreendida pela hierarquia clerical da igreja. Por intermédio desses meios sutis, o povo é privado da Bíblia. A Igreja Católica Romana até mesmo inclui os livros apócrifos como parte das Escrituras. Esses livros apócrifos não foram nem mesmo reconhecidos pela Igreja Católica até 1645, quando o Papa decretou que eles deviam ser reconhecidos como Escritura Sagrada. Alguns livros apócrifos, entretanto, são como len­das. Você reconheceria lendas como a Escritura inspirada? Certamente que não. Não obstante, a Igreja Católica Romana pratica isso. A Igreja Católica realmente crê em Deus e um pouco em Jesus Cristo.
Quando dizemos que a Igreja Católica não é realmente a igreja, alguns poderiam replicar: “Não é justo dizer isso. Os católicos têm a Bíblia, crêem em Deus e têm Jesus Cristo.” Embora isso seja verdade, a Igreja Católica ainda é a grande prostituta. De acordo com a Bíblia, ela porta o nome: “Mistério: BABILÔNIA, A GRANDE. A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA” (Ap 17:5). Deus e um divino mistério. Além desse divino mistério, há um mistério satânico. Esse segundo mistério é uma mistura. Nesse mistério, coisas terrenas estão misturadas com celestiais, e o paganismo com verdades da Bíblia. Além disso, esse mistério está cheio de ídolos. Visitei certa vez uma catedral católica para estudar a situação lá. Ao longo das paredes da catedral havia ídolos. Sob esses ídolos havia cartões dizendo que qualquer que rezasse à imagem por certo tempo seria capaz de reduzir o sofrimento de um parente no Purgatório. Isso, como o budismo, é supersticioso e blasfemo para com Deus. Não consigo compreender como pessoas educadas numa nação moderna podem acreditar em tal tolice. Cientificamente, como podem pessoas treinadas orar para um ídolo? Que tolice dizer que a Igreja Católica érealmente a igreja!
Além da Igreja Católica, há todas as denominações protestantes, inclusive as igrejas estatais, como a Igreja da In­glaterra e a Igreja da Dinamarca. Mesmo hoje, a Alemanha Ocidental* ainda tem uma igreja estatal, e todos os cidadãos daquele país têm de pagar o imposto eclesiástico. Os pastores da igreja estatal são pagos pelo governo. Como todos sabemos, a rainha da Inglaterra hoje ainda é a chefe da Igreja da Inglaterra e todos os cidadãos britânicos natos são membros daquela igreja por nascimento. Você reconheceria isso como a igreja? Certamente que não é.
Após o surgimento das igrejas estatais, as igrejas independentes, tais como presbiterianas, batistas e metodistas, vieram a existir. No início deste século, o movimento pen­tecostal atingiu os Estados Unidos, começando em Massachusetts e se espalhando país adentro até a Califórnia. Em 1915, a Assembléia de Deus foi formada. No início, A. B. Simpson estava lá. Entretanto, quando se tomou a decisão de dizer que falar em línguas era a única manifestação do batis­mo do Espírito Santo, Simpson e outros se opuseram a isso, retiraram-se do movimento pentecostal e formaram a Aliança Cristã e Missionária. Poderia a Igreja Católica, as igrejas es­tatais e todas as igrejas independentes serem realmente reconhecidas como igrejas? Não, elas são divisões.
Após a Segunda Guerra Mundial, um grande número de grupos livres surgiu nos Estados Unidos. Em 1963, soube que no sul da Califórnia havia centenas de pequenos grupos li­vres. Se todos esses grupos livres pudessem ser reconhecidos como a igreja, então deve haver um número incontável de igrejas no universo. A Igreja Católica, as denominações, as igrejas pentecostais e os grupos livres, todos proclamam ser a igreja. Qual grupo é a igreja? Que deveria o Senhor fazer nesta situação? Para respondermos a essa pergunta, preci­samos voltar à Palavra Sagrada. Além das palavras claras do Novo Testamento, devemos também considerar as figuras e os tipos no Velho Testamento.
A FIGURA DA RESTAURAÇÃO
NO VELHO TESTAMENTO

Consideremos agora a figura da restauração da base cor­reta em Jerusalém, após a dispersão. Como já enfatizamos, muitos mestres cristãos negligenciam o significado tipológico da história de Israel depois de seu cativeiro em Babilônia. Esdras, Neemias, Ageu e Zacarias são livros de restauração. Até mesmo Daniel é um livro de restauração. É claro, não vemos a restauração real em Daniel, mas vemos um homem segundo o coração de Deus. Embora ele não houvesse vol­tado a Jerusalém, ele orou pela economia de Deus, abrindo suas janelas em direção a Jerusalém, Rodapé *N. do R.: A primeira edição deste livro é anterior à união das Alemanhas.
três vezes por dia (Dn 6:10). Ele orava pela restauração de Jerusalém da parte do Senhor e esperava vê-la. Posteriormente, o Senhor respon­deu à sua oração. A última parte do Velho Testamento diz respeito à restauração. Nesta era de confusão, a única maneira de Deus executar a Sua economia é por meio da restauração. Restauração significa que, em meio à confusão e divisão de hoje, o Senhor está convocando um remanescente do Seu povo para voltar à base original, voltar à posição original. Depois de setenta anos de cativeiro, um pequeno número de judeus voltou a Jerusalém e reconstruiu o templo. Embora esse templo fosse inferior ao templo original construído por Salomão, o lugar, a base do templo era a mesma. Isso é a restauração do Senhor.
De acordo com o livro de Deuteronômio, o povo judeu percebeu que Deus queria que Seu povo edificasse Seu templo somente no lugar que Ele escolhera. Esse lugar era o monte Moriá, que mais tarde se tornou monte Sião. Nenhum judeu jamais teve a ousadia de edificar o templo em qualquer outro lugar. Os judeus hoje estão ansiosos para reconstruir o templo, mas não têm o local. Quando os antigos judeus foram espalhados, eles foram levados para o Egito, Síria e principalmente para Babilônia. Um dia, Deus chamou-os de volta à sua própria terra, e uma pequena minoria retornou. Aquilo foi a restauração. Suponha que quando Daniel estivesse orando, um dos escribas dissesse: “Deus é onipresente. Se Deus pode estar lá em Jerusalém, não pode Ele estar também aqui conosco em Babilônia? Edifiquemos um templo aqui.” Todavia, mesmo que eles tivessem edificado um templo exatamente igual em projeto, tamanho e materiais ao templo construído por Salomão, ele não teria sido reconhecido como o templo porque estaria na base errada, no lugar errado.
Aqueles que realmente retornaram a Jerusalém não eram tão bons quanto Daniel. Quando jovem, não conseguia compreender por que, segundo Esdras e Neemias, tantos judeus pobres voltaram à boa terra. Parecia que eles estavam numa situação miserável. Entretanto, embora construíssem um templo que era menor em tamanho, inferior em material e de projeto diferente do templo de Salomão, porquanto foi edificado no lugar correto, Deus confirmou por intermédio de Sua glória que aquele era o templo. Os judeus hoje estão aguardando a devolução desse local, que atualmente está ocupado por uma mesquita muçulmana. Debaixo dessa mes­quita supõe-se que seja o lugar onde Abraão ofereceu Isaque em sacrificio. Ao longo dos séculos, muitos têm reconhecido que o lugar no qual essa mesquita agora se encontra é o lugar do templo. O fato do assim chamado Muro das Lamentações não ser longe da mesquita, confirma isso. Embora os judeus possam ter todo o necessário para a reconstrução do templo, eles não têm ainda o lugar. Mediante isso vemos que o lugar, a base, tem grande significado.

A BASE DA IGREJA

       Precisamos agora ponderar acerca de o que é a base da igreja. A base da igreja é a genuína unidade. A igreja é uma. Nenhuma divisão tem a base da igreja porque divisão é opos­to de unidade. A maneira de discernir se um grupo cristão é uma divisão ou não é aplicar os seis testes dados no capítulo anterior. Precisamos perguntar se o grupo tem um nome par­ticular, uma comunhão particular, uma doutrina particular, uma comunhão que não é universal, uma administração separada ou uma ligação oculta com alguma organização.

A NOSSA NECESSIDADE DE SERMOS PURIFICADOS


Agora precisamos ponderar um pouco mais sobre a questão do motivo. Ao virmos para a igreja, precisamos ter um motivo puro, nada buscando para nós mesmos. O nosso motivo tem de ser singelo pela restauração do Senhor. Em­bora possamos ser ignorantes até certo ponto, se o nosso motivo for puro, estaremos sempre prontos para receber luz. Entretanto, se não estivermos dispostos a receber luz, isso in­dica que o nosso motivo não é genuíno. Precisamos refletir se o nosso motivo é totalmente pela restauração do Senhor. Se não, o nosso motivo é errado. Exteriormente podemos estar certos em todos os aspectos, mas ainda estar errados inte­riorrnente.
Fui a Xangai pela primeira vez em 1933. Naquela época, encontrei-me com um irmão que entrara na igreja bem no início da prática da vida da igreja naquela cidade. Ele se­quiosamente queria ser um presbítero. Embora na aparência ele zelosamente amasse o Senhor, não era a pessoa adequada para ser um presbítero. Ele simplesmente não tinha aquele tipo de capacidade. Ele entrou na vida da igreja em 1928. Quando vinte anos mais tarde, em 1948, ele ainda não era um presbítero, estabeleceu outra reunião em sua cidade natal e sustentou um pregador, fazendo a mesma coisa que Mica fez em Juízes 17.
Durante os últimos catorze anos, tem havido uns poucos entre nós nos Estados Unidos que esperavam tornar-se presbíteros. Quando não eram designados presbíteros numa localidade, mudavam-se sob pretexto de migrar para outra localidade. Quanto mais esperavam tornar-se presbíteros, mais óbvio se tornava de que não deveriam sê-lo. Depois de ir de cidade em cidade, sem serem colocados no presbitério, eles por fim voltaram suas costas à igreja e saíram. Nada testa mais os nossos motivos do que a igreja. A igreja é um candelabro de ouro puro, e não pode tolerar qualquer mistura. Todos precisamos ser purificados. Precisamos orar, dizendo: “Senhor, faça-me puro. Agora que estou em Tua restauração, peço-Te que me purifiques.”
Nenhum de nós na restauração do Senhor deve ser ambicioso. Na restauração, a ambição acabou. Além disso, nenhum de nós deve se importar com posição. É muito me­lhor não ter posição alguma. Além disso, nunca espere ser um líder. De modo semelhante, você não deve dizer que jamais será um líder ou que você não gosta de ser um líder. Se na vida do Senhor você tem ou não capacidade de ser alguém que lidera, isso é com o Senhor, mas você tem de ser o mesmo, líder ou não. Se não é um líder, então tem de ser um membro vivo, que funciona. Senão, o Senhor não terá caminho entre nós. Você não deve ser humilde e dizer: “Jamais serei um líder”; tampouco deve ser ambicioso e desejar ser um líder. Se não se sente bem quando um irmão ou irmã torna-se um líder, isso revela que a sua motivação não foi purificada.
O meu coração constantemente sofre por causa da situação entre os cristãos. Olhe a situação no catolicismo, protestantismo, pentecostalismo e grupos livres. Onde está o meio de o Senhor edificar a Sua igreja? Precisamos estar claros a respeito da restauração do Senhor e de Sua economia, e precisamos ser puros em nossa motivação.

EXERCITANDO A SABEDORIA

Nenhum de nós deve ter uma atitude de condenação para com os outros. Vocês precisam exercitar a sabedoria ao aplicar o que ouvem nessas mensagens. As mensagens no ministério do Senhor devem ser fiéis ao Seu encargo e dizer às pessoas qual é a verdadeira situação. Entretanto, isso não significa que vocês devem sair e criticar aqueles no catolicis­mo, nas denominações ou grupos livres, dizendo-lhes que são divisivos e que somente vocês estão certos. Isso não é sábio. No outro extremo, não devem ser políticos, fingindo ser algo que não são. Todos precisamos ser o que somos, ainda que exercitando a sabedoria. Ao contactarmos pessoas, preci­samos ajudá-las de acordo com a condição e situação delas. Não falem aos incrédulos acerca da igreja; antes, ministrem-lhes algo acerca do perdão de pecados e da transmissão de vidá. Vocês podem encontrar alguns salvos, mas que nunca se cosagraram ao Senhor. Assim, vocês devem ajudá-los a se tórnarem pessoas consagradas. Em dado momento podem encontrar uma pessoa que realmente ama o Senhor e está buscando o coração do Senhor. Então, com discernimento, você pode compartilhar com ela algo concernente à economia do Senhor e Sua restauração hojo.
Nestes dias de divisão e confusão, vocês precisam estar alertos a fim de não serem enganados, ludibriados ou influen­ciados por ninguém. Ao mesmo tempo, precisam ter muito contato com o Senhor, orando individual e corporativamente, e tendo comunhão para buscar a orientação do Senhor ao contactar pessoas de acordo com a condição e situação delas. Espero que os jovens se reúnam em grupos para orar e ter comunhão a respeito de todas essas questões. Isso tornará vocês mais claros sobre elas e os ajudará a contactar os ou­tros.

FORTES NO ESPÍRITO
E RICOS NA EXPERIÊNCIA DE CRISTO

A necessidade mais crucial entre os jovens é aprender como ser forte no espírito e rico na experiência de Cristo. Toda vez que você vem às reuniões da igreja, deve ter um espírito forte e ser rico na experiência de Cristo. Esses são os dois itens abordados pelo Senhor Jesus em João 4:24. Nesse versículo, o Senhor disse: “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” Ver­dade ou realidade aqui se refere a Cristo experienciado por nós. Como já enfatizamos, nos tempos antigos, ao povo de Deus era ordenado fazer duas coisas em sua adoração pública a Deus. A primeira é que eles deveriam ir ao lugar escolhido por Deus, que era Jerusalém. A segunda coisa e que tinham de trazer o rico produto da boa terra para oferecê-lo a Deus. Hoje não estamos mais na tipologia; estamos na realidade. O lugar para o qual precisamos ir não é a Jerusalém física: é o nosso espírito humano. Precisamos nos reunir para encontrar, em nosso espírito, a Jerusalém do Novo Testamento. Devemos não só estar em nosso espírito, mas também vir com nossas mãos cheias de Cristo, cheias do rico produto da boa terra. Devemos estar no espírito e devemos ter as riquezas de Cristo para oferecer a Deus para Sua satisfação. Então, com os outros, desfrutaremos essa satisfação diante de Deus e com Ele.
Jovens, vocês precisam estar claros a respeito de quatro pontos: a igreja, a maneira de se contactar as pessoas, o espírito e a experiência de Cristo. Não venham às reuniões na mente – venham em seu espírito forte. Reunir-se com os outros na mente é estar em Babilônia, mas reunir-se com eles no espírito é estar em Jerusalém. Precisamos nos reunir em nosso espírito, o lugar designado por Deus. Entretanto, não venha de mãos vazias – venha com suas mãos cheias de Cris­to. Venha às reuniões num espírito forte, ousado, cheio de frescor, e venha cheio de experiências de Cristo. Por favor, orem acerca desses pontos e pratiquem-nos.



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