quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Palavra da Justiça Deificados para Ser a Noiva de Cristo

                                                               

  

             A Palavra da Justiça
                  Deificados para Ser a Noiva de Cristo
Tradução não oficial e não revisada pelo autor do artigo “The Word of Righteousness – Deified to Be the Bride of Christ” publicada em Affirmation  & Critique (www.affcrit.com), em outubro de 2002, periódico pertencente ao Living Stream Ministry - Anaheim – CA – EUA, por João Lídio de Carvalho Neto para a  edificação da Igreja do Senhor Jesus Cristo, sem fim comercial. 

T
oda a Bíblia revela que Deus é um marido para Seu povo e que Seu povo é uma noiva, uma esposa, para Ele.  Esta grande história consumar-se-á numa boda bem-aventurada na era vindoura e numa vida matrimonial universal pela eternidade.  A visão divina da união matrimonial de Deus e o homem contém a luz do cerne intrínseco da economia de Deus, que, como articulado por Atanásio de Alexandria no quarto século, “a própria palavra de Deus... tornou-Se homem para que pudéssemos tornar-nos Deus” (Incarnation 65), isto é, o mesmo que Deus em vida e em natureza mas não em Sua Deidade.  O cumprimento desta grande visão naturalmente acarreta a necessidade da noiva de Cristo estar preparada para este matrimônio, uma necessidade que implica fortemente a “palavra da justiça” (Hebreus 5:13), a verdade concernente à incumbência e responsabilidade dos crentes com Deus para sua vida na era da igreja.
                           O Alvo de Toda a Bíblia Sendo o Casamento de Deus com Seu Povo
Quatro profetas no Velho Testamento – Isaías, Jeremias, Ezequiel e Oséias – falam de Deus como o Marido do povo de Deus e de Seu povo como Sua esposa, Sua mulher.  Isaías 54:5 diz muito claramente: “Pois teu criador é teu Marido; / Jeová dos exércitos é Seu nome”.  Jeremias 31:32 diz similarmente: “Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; Minha aliança que eles quebraram, não obstante Eu fosse seu Marido, declara Jeová”.  Jeremias também fala do contrato de casamento de Israel com Deus, dizendo: “Vai e clama aos ouvidos de Jerusalém: Assim diz Jeová: Lembro-Me de ti, da  afeição da tua juventude, / O amor dos teus dias de noiva, / Quando Me seguias no deserto, / Numa terra que não era semeada” (Jeremias 2:2).  Oséias 2:19 e 20 reiteram:
Eu te desposarei para Mim mesmo para sempre; / Verdadeiramente, Eu te desposarei para Mim mesmo / em retidão e justiça / E em benignidade e compaixões; / Verdadeiramente, Eu te desposarei para Mim mesmo em fidelidade, / E conhecerás Jeová.
Semelhantemente, Ezequiel 16:8 fala da aliança de casamento entre Deus e Seu povo:
Passando Eu por junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; estendi sobre ti as abas do Meu manto e cobri a tua nudez; dei-te juramento e entrei em aliança contigo, diz  Jeová o Senhor; e passaste a ser minha.
Esta aliança foi decretada no monte de Deus, por meio do dar a lei (Êxodo 20:1-21).  O dar a lei foi uma transação na qual o povo de Deus tornou-se comprometido com Ele.
No Novo Testamento, Cristo é o Noivo e o Marido dos Seus eleitos escolhidos, redimidos e regenerados.  Em Mateus 9:15, o Senhor Jesus revelou-Se como o Noivo que tinha vindo para levar a noiva.  Anteriormente, João, o Batista, tinha declarado a respeito dEle: “Aquele que tem a noiva é o noivo” (João 3:29).  Em 2Coríntios 11:2 Paulo disse: “Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo.”   No final desta dispensação, haverá um dia glorioso de casamento, tempo no qual Cristo virá para casar-Se com Seus redimidos e levá-los como Sua noiva (Apocalipse 21:9).  Seguindo isto, pela eternidade, o Deus Triúno como o Marido gozará uma doce vida de matrimônio com Sua esposa.  Esta esposa será a Nova Jerusalém, a esposa do Cordeiro (vv. 9-10), a consumação final da união, mescla, e incorporação do Deus Triúno processado e consumado com Seus eleitos escolhidos, redimidos, regenerados, transformados e glorificados.  Desta maneira, a conclusão da Bíblia é o casamento universal de Deus e Seu povo.  Como veremos, para Deus casar-Se com Seu povo, é necessário que nos tornemos o mesmo que Ele é através de um processo de transformação durante a vida.  Finalmente, os crentes podem carregar a responsabilidade de ganhar a porção mais plena do Espírito e permitir-Lhe operar plenamente dentro deles.  Somente aqueles que vencem desta maneira estarão preparados para encontrar o Cristo vindouro como Sua noiva.
                                A Contraparte para um Marido Sendo o Mesmo que Ele é
O propósito e a intenção de Deus ao criar o homem era ganhar uma contraparte para Si mesmo (Gênesis 1:26).  Este grande propósito pode ser visto no tipo da criação de Adão e a produção de Eva como sua esposa.  Adão é claramente considerado, na Bíblia, como um tipo de Cristo, o último Adão, “Aquele que havia de vir”  (Romanos 5:14; 1Coríntios 15:45).  Como um homem, o líder na criação de Deus, Adão tipifica Deus como o Marido verdadeiro, universal Que está procurando uma esposa para Si, e a necessidade de Adão por uma esposa tipifica e retrata a necessidade de Deus de ter um complemento.  Em Gênesis 2, Jeová primeiro formou o homem com o pó da terra e colocou-no diante da árvore da vida com um rio (vv. 7-10), significando Deus mesmo como vida e o suprimento de vida para o homem que Ele criou.  Então o verso 18 diz: “E Jeová Deus disse: Não é bom que o homem esteja só;  far-lhe-ei uma auxiliadora como sua contraparte”.  O que imediatamente se segue é muito significativo na revelação divina da união de Deus com o homem.  Os versos 19 e 20 dizem:
E Jeová Deus formou do pó da terra todo animal do campo e toda ave do céu, e os trouxe ao homem para ver como os chamaria; e aquilo que o homem chamou cada animal, este foi seu nome.  E o homem deu nomes a todos os animais domésticos e às aves do céu e a todo animal do campo, mas para Adão não foi encontrada uma auxiliadora como sua contraparte.
 
Subseqüente ao pronunciar a necessidade e desejo de uma contraparte para Adão, Jeová criou e trouxe-lhe os animais e as aves, sabendo o tempo todo que nenhum destes podia ser seu par no casamento, uma vez que seu par não devia ser apenas sua auxiliadora (azar, no hebraico), mas alguém apropriado para ele e correspondendo a ele como uma contraparte (neged, no hebraico), “um ser ajudante, no qual, logo que ele o vê, pode reconhecer-se”  (Keil 86).  Nos animais domésticos e aves do céu, Adão não se reconheceu, pois nenhum deles era o mesmo que ele.
A
 linguagem da Septuaginta é cheia de revelação aqui, traduzindo a mesma frase hebraica como sua contraparte como katauton [cat auton* - as transliterações são acréscimos do tradutor] (de acordo com ele) no verso 18 e como omoior autw [omoios auto] (como ele ou o mesmo que ele) no verso 20.  A auxiliadora para ser ainda encontrada por Adão necessitava de ser alguém de acordo com Adão e como Adão, isto é, o mesmo que Adão em espécie, vida, natureza e aparência.
Adão era para se tornar familiarizado com as criaturas, aprender o relacionamento deles com ele, e dar-lhes os nomes para provar-se seu senhor... “O homem vê os animais, e pensa naquilo que eles são e como eles parecem”  (Delitzsch)... Os pensamentos de Adão com respeito aos animais, aos quais ele deu expressão nos nomes que lhes deus, não devemos  considerar como os meros resultados da reflexão, ou da abstração das peculiaridades meramente exteriores que afetaram os sentidos; mas como uma revelação mental profunda e direta  dentro da natureza dos animais, que penetrou muito mais profundamente do que tal conhecimento como é o resultado simples do pensamento reflexivo e abstrato.  O nominar dos animais, portanto, levou a este resultado: que não foi encontrada uma auxiliadora adequada para o homem.  (Keil 88).
Deste  modo Adão ficou plenamente consciente da espécie, caráter e natureza de cada um dos animais criados e de sua relação com eles.  Conforme esta revelação profunda e penetrante, ele compreendeu que nenhum deles era omoior autw, ”o mesmo que ele” deixando-o então sem qualquer contraparte.
                                A Noiva Produzida pela Operação da Vida Divina
Gênesis 2:21 e 22 continua com nosso relato: “E Jeová Deus fez com que um sono profundo caísse sobre o homem, e ele dormiu; e Deus tirou uma das suas costelas e fechou a carne naquele lugar. E Jeová Deus edificou a costela, que
Ele tinha tirado do homem, numa mulher e a trouxe ao homem”.  O produzir de Eva a partir das costelas de Adão é uma alegoria, um tipo da igreja produzida pela morte e ressurreição de Cristo.  Nós devemos comparar o verso 21 ao relato da crucificação do Senhor, especialmente no registro de João.  João 19:34 diz: “Porém, um dos soldados perfurou Seu lado com uma lança, e imediatamente saiu dali sangue e água”.  Sangue significa a redenção realizada por Cristo sobre a cruz enquanto que água significa a vida de Cristo a fim de produzir a igreja:
Duas substâncias saíram do lado perfurado do Senhor: sangue e água.  Sangue é para a redenção, para tirar os pecados (João 1:29; Hebreus 9:22) para comprar a igreja (Atos 20:28).  A água visa infundir vida, para aniquilar a morte (João 12:24; 3:14-15) para produzir a igreja (Efésios 5:29-30)... Essa morte que infunde vida liberou a vida divina do Senhor de dentro dEle para produzir a igreja, que é composta de todos os Seus crentes, nos quais a Sua vida divina foi infundida.  Essa morte do Senhor que infunde vida é tipificada pelo sono de Adão, do qual Eva foi produzida (Gênesis 2:21-23), e é representada pela morte do grão de trigo, que caiu na terra para produzir muitos grãos (João 12:24) a fim de fazer um único pão, o Corpo  de Cristo (1Coríntios 10:17).   Portanto, é também a morte que propaga e multiplica a  vida, a morte  que gera e reproduz. (Versão Restauração, João 19:34, nota 1)
 
E
m sua perplexidade exultante no acordar e encontrar  sua contraparte, Adão afirma: “Desta vez esta é osso dos meus ossos / E carne da minha carne” (Gênesis 2:23).  Novamente, as Escrituras estão ricas com metáforas divinas.  O osso significa a vida de ressurreição de Cristo.  No final da crucificação de Cristo, os judeus pediram a Pilatos para quebrar as pernas daqueles que foram crucificados (João 19:31).  Quando os soldados vieram até Jesus, entretanto, eles viram que Ele já tinha morrido e que não havia necessidade  deles quebrarem Seus ossos.  Isto cumpriu a Escritura que dizia:  “Nenhum dos Seus ossos será quebrado” (vv. 32-33,36; Êxodo 12:46; Número 9:12; Salmo 34:20).  Ainda que Cristo passou pela morte em Sua vida humana, Sua vida de ressurreição permaneceu íntegra.  Vemos novamente a vida de ressurreição de Cristo prefigurada pelo osso no registro da morte e sepultamento de Eliseu em 2Reis 13.  O verso 21 diz: “Sucedeu que, enquanto alguns enterravam um homem, eis que viram um bando [de invasores]; então, lançaram o homem na sepultura de Eliseu; e, logo que o cadáver tocou os ossos de Eliseu, reviveu o homem e se levantou sobre sues pés”.  Portanto, o osso é um símbolo, uma figura, da vida de ressurreição de Cristo, a qual nada pode quebrar, ferir ou estragar.  Esta é a vida com a qual a igreja é produzida e edificada como a multiplicação do homem-Deus para tornar-se a verdadeira Eva a fim de unir-se a Ele e completá-lO.
                                       A Noiva Tendo a Mesma Fonte e Substância que o Marido
Gênesis 2:23 continua o registro da produção de Eva: “Esta será chamada Varoa [ishah, Hebraico] / Porquanto, do varão [ish, hebraico] foi tomada”.  Do implica muitíssimo no entendimento divino.  Ele se refere à fonte e assim à identidade da substância.  Eva veio da fonte de Adão e era da mesma substância que Adão.  “A mulher foi criada, não do pó da terra, mas de uma costela de Adão, pois ela foi formada para uma inseparável unidade e comunhão  de vida com o homem” (Keil 89).  No verso 23, Lutero vê no hebraico ish e ishah um jogo particular de palavras, traduzindo Varoa mais como “um homem fêmea”  em reconhecimento da  sua fonte orgânica em e união com o homem”1.  Eva era, no sentido mais literal e espiritual, o mesmo que Adão em vida e em natureza, embora possuindo existência, ser e status distintos dele.  Por causa disto, ela estava organicamente qualificada para ser unida a Adão em matrimônio.
Moisés acrescenta a este relato: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gênesis 2:24).  Paulo interpreta e aplica esta máxima a Cristo e à igreja, o Marido e a esposa universais (Efésios 5:31-32).  Cristo e a igreja como um espírito, tipificados por um marido e uma esposa como uma carne, são o grande mistério da economia de Deus.  Primeira aos Coríntios 6:17 diz-nos que “aquele que se une ao Senhor é um espírito”.  Deus é Espírito (João 4:24), e o homem tem um espírito humano (João 4:24; Provérbios 20:27; Zacarias 12:1; 1Tessalonicenses 5:23).  Neste órgão mais interior, que é muito similar à natureza e substância de Deus, o homem contata, adora, e é unido ao Deus Triúno processado e consumado numa união orgânica com Ele.  Dessa maneira, a preparação da noiva de Cristo demanda que nós os crentes aprendamos a contatar Deus em nosso espírito e vivamos e caminhemos em e conforme o espírito (Romanos 8:4).  Aqueles que deste modo não desfrutam da união orgânica com Deus no decurso da sua vida cristã não estarão preparados para encontrar o Senhor como Sua noiva.  Novamente vemos a responsabilidade dos crentes diante de Deus nesta era.
T
odos os elementos e características salientes do relato de Gênesis da formação de Eva como a contraparte de Adão deixa-nos com uma forte e clara impressão concernente à natureza e produção da igreja como a contraparte genuína de Cristo.  A igreja procede de Cristo e é constituída com Cristo por meio de Sua morte e ressurreição, não somente na obra, de uma vez por todas, de Cristo nos Evangelhos, mas por uma experiência subjetiva de Sua morte e ressurreição através de Sua vida divina.  Por produzir a igreja desta maneira, Deus em Cristo está trabalhando para dentro do homem como vida.  É por meio do processo da morte liberadora de vida de Cristo e do infundir vida, propagar vida, multiplicar vida, e a ressurreição de Cristo reproduzindo vida, que Deus em Cristo está trabalhando dentro do homem com Sua vida e natureza para que o homem em vida e natureza possa ser o mesmo que Ele é a fim de unir-se a Ele como Seu complemento.  São somente aqueles crentes que não são apenas regenerados mas também transformados para unir-se a Deus que estarão qualificados para ser a noiva de Cristo em Sua vinda.
                                    Não Se Mesclando com uma Espécie Diferente
Ao dizer que a igreja procede de Cristo e é o mesmo que Ele é em vida e em natureza, embora não em Sua Deidade, nós estamos dizendo no sentido mais santo que Cristo e Sua noiva são da mesma espécie. Em Gênesis 1, Deus criou cada uma das coisas vivas segundo sua espécie (vv. 11-12, 21, 24-25), estabelecendo um princípio no mundo físico e refletindo o mesmo princípio no âmbito espiritual (Mateus 7:16-18).  Em João 3:6, o Senhor nos diz: “O que é nascido da carne é carne, e o que nascido do Espírito é espírito”, em 1João 3:2, o apóstolo nos diz que: tendo sido nascido de Deus como seus filhinhos, nós seremos manifestados com Ele para sermos “como Ele” (omoioi autw, cf. Gênesis 2:20, LXX (Septuagintaa), isto é, como Ele em vida, natureza, glória e expressão.
Aqui, novamente nós encontramos aplicação para a economia de Deus em Sua união matrimonial com o homem como o Marido e esposa universais.  Levítico 19:19 diz-nos: “Guardarás os meus estatutos; não permitirás que os teus animais se mesclem com os de espécie diferente; no teu campo, não semearás semente de duas espécies; nem usarás roupa de dois estofos misturados”.  Espécie diferente com relação ao mesclar-se significa uma diferença de nascimento, descendência, origem, raça, linhagem ou espécie; deste  modo, espécie, sorte.2  Os estatutos de Deus proíbem plenamente a união de duas espécies, “misturando as coisas que são separadas na criação de Deus” (Keil 410), e se tal cruzamento ilícito é contrário à natureza dos animais do campo, quanto mais é contrário Àquele que os criou, Que procura uma contraparte para o casamento de Sua própria espécie!  Quão aquém da verdade é o entendimento de muitos cristãos hoje, que aceitam seu desacordo intrínseco de vida e natureza com Deus como aceitável para Ele contanto que eles estejam justificados por fé, aguardando uma comunhão com Ele na eternidade em auto-semelhança, e por sua vida e natureza humanas somente!  Cristo como o Marido não “se mesclará com uma espécie diferente”.  O divino deve casar-se com um divino.  Ele deve casar-se com uma da Sua própria espécie, a noiva gloriosa de Cristo, que é o osso do Seu osso e carne da Sua carne, não foi apenas regenerada, mas também transformada e conformada à imagem de Cristo (2Coríntios 3:18; Romanos 12:2; 8:29) para ser omoior (omoios) auty (auto), o mesmo que Ele é em vida e em natureza.
                                      Uma igreja Gloriosa, Não Tendo Mancha ou Ruga
Efésios 5:25 a 27 diz: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que pudesse santificá-la, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra,   para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito”.  Nesta passagem, Paulo revela a igreja no aspecto da noiva de Cristo.  A igreja procede de Cristo, como Eva procedeu de Adão.  Conseqüentemente, a igreja tem a mesma vida e natureza que Cristo, e ela se torna um com Ele como Sua contraparte, da mesma maneira que Eva tornou-se uma carne com Adão.  Nós devemos prestar atenção às palavras desta passagem muito atentamente.  A igreja que Cristo apresentará a Si mesmo será gloriosa.  Glória é Deus expressado.  Daí, ser gloriosa é ser Deus-expressante.  A igreja apresentada a Cristo será uma igreja Deus-expressante.  Exceto pelo fato que não temos parte na Deidade, devemos nos tornar exatamente o mesmo que Deus em Sua vida, Sua natureza, e Sua expressão exterior, Sua glória, da mesma forma que Eva foi o mesmo que Adão.  Conseqüentemente, nós podemos considerar glória – como um atributo, condição, e característica da igreja – sendo um pré-requisito para a apresentação dela ao Cristo vindouro.
P
ortanto, a igreja como a noiva de Cristo, em preparação para a vinda de Cristo como seu Noivo, não deve ter mancha, ruga, ou quaisquer tais coisas, mas ao invés ser santa e sem defeito.  Mancha significa algo de nossa vida caída, humana, natural.  Ruga relaciona-se à velhice do velho homem em Adão (Romanos 6:6).  Ser santa é estar saturada com Cristo e transformada por Cristo, e ser sem defeito é ser sem mancha e sem ruga, não tendo nada da vida natural do nosso velho homem.  Somente nossa experiência subjetiva do Espírito como a água da vida pode tirar, pela lavagem, tais defeitos pela transformação de vida.
Nós vemos um exemplo negativo do problema do homem natural em Mateus 16.  Após ouvir acerca da vinda, crucificação e ressurreição do Senhor, Pedro levou o Senhor para o lado a fim de reprová-lO, dizendo: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá!” (v. 22).  O Senhor, imediatamente, voltou-Se e disse a Pedro: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não estás colocando tua mente nas coisas de Deus, e sim nas coisas dos homens” (v. 23).  Ao falar como o fez, Pedro exercitou sua mente natural e compaixão pelo Senhor.  Nele, entretanto, o Senhor reconheceu a fonte e elemento da vida natural, reprovando Pedro ao dizer: “Satanás!”  A vida natural de Pedro, sua vida caída da velha criação, era uma com Satanás a fim de frustrar o cumprimento do Senhor do Seu propósito na cruz.  Imediatamente, após isto, o Senhor acrescentou: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.  Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (vv. 24-25).  Nossa mente é a expressão do nosso eu, e nosso eu é a corporificação da nossa vida da alma.  Dentro de Pedro estava a mancha da vida caída, humana, natural, e a ruga da velhice do velho homem, expressando o eu, carregando a semelhança do eu e até a semelhança de Satanás.
 
Com certeza, naquela hora, Pedro não esteve à altura de Cristo como um membro glorioso da Sua noiva gloriosa.  Uma igreja composta de “Pedros” naturais não é da espécie de Cristo, qualificada para unir-se a Cristo como Sua contraparte.  Em contraste, Colossenses 3:10 diz-nos que a igreja é o novo homem, que está sendo renovado conforme a imagem de Cristo como a expressão de Deus.  O verso 11 continua a dizer que na igreja não há nem esta pessoa nem aquela pessoa, mas “Cristo é tudo e em todos”.  Que Cristo é tudo significa que ele é a pessoa intrínseca de todos os membros que constituem o novo homem.  A igreja em sua condição verdadeira e gloriosa é uma parte de Cristo; ela é nada menos que o próprio Cristo.  A igreja é o elemento de Cristo nos crentes, a totalidade da porção orgânica de Cristo nos crentes.  Isto implica fortemente que ainda que nós os crentes que somos um povo regenerado, se vivemos e agimos conforme nossa constituição e disposição naturais, não somos, na realidade, os membros  do novo homem, que consumará como a noiva de Cristo para Seu retorno.  A vida natural, expressante do eu que ainda permanece nos crentes não pode ser considerada parte da noiva de Cristo.  Somente aquela que procede de Cristo pode ser reconhecida por Ele como Sua contraparte, e somente aquela que procede de Cristo pode retornar para Ele e unir-se a Ele.  Se não temos nos despojado do velho homem e ganhado Cristo como o elemento intrínseco, orgânico em todo o nosso ser, então para todos os propósitos práticos nós ainda não somos Sua noiva.  Até que nos tornemos o mesmo que Ele é em vida, natureza, e expressão não estamos qualificados para casarmos com Ele no Seu retorno.  A velha vida natural com suas manchas e rugas não é da espécie de Cristo, e Cristo não “se mesclará com uma espécie diferente”. 
 
                    Nossa Necessidade de Transformação e Maturidade na Vida e Natureza Divinas
 
Neste ponto, nós temos estabelecido o princípio governante do cumprimento da economia de Deus e Seu grande desejo de obter uma contraparte para Si mesmo num casamento glorioso, eterno.  A contraparte de Cristo deve ser orgânica e intrinsecamente semelhante a Ele, o mesmo que Ele é em vida e em natureza.  Ela deve ser constituída através da morte todo-inclusiva de Cristo e com Sua vida de ressurreição inquebrantável para ser, em cada detalhe, “osso do Seu osso e carne da Sua carne”.  Ela deve ser do mesmo tipo, origem, linhagem, raça e espécie.  Além do mais, ela deve ser uma igreja gloriosa, não corrompida ou desfigurada por mancha, ruga, ou quaisquer coisas da velha vida natural do velho homem.  Nós devemos considerar todos estes assuntos à luz da nossa responsabilidade de crescer em direção à maturidade da vida divina. 
Paulo apresenta a chave para o nosso ganhar a semelhança orgânica de Cristo em 2Coríntios 3:18: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”.  É a responsabilidade dos buscadores amorosos de Cristo perseguir o Senhor e ganhá-lO no ser inteiro deles para sua completa transformação.  Nós devemos usufruir o dispensar da Trindade Divina na transformação divina para a conformação divina à imagem de Cristo e ser maturados neste processo como um pré-requisito para o nosso casamento com Ele.  É por esta razão que Apocalipse 19:7 declara: “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se aprontou”.  Quão significantes são as palavras a si mesma já se aprontou!  A noiva a si mesma se aprontou por sua cooperação com o Deus Triúno para sua plena transformação na vida divina.  O preparo da noiva, portanto, depende da maturidade dos crentes vencedores, que serão galardoados pelo Senhor em Sua vinda por ser convidado para a ceia das bodas do Cordeiro (v. 9).
 
Cântico dos Cânticos 8 apresenta uma figura poética pungente da imaturidade dos crentes. O verso 8 diz: “Temos uma irmãzinha que ainda não tem seios; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que for pedida?”  “Não ter seios” significa imaturidade e o não desenvolvimento de vida no amor e fé do Senhor.  Mesmo no tempo da vinda do Senhor, muitos crentes genuínos, embora justificados por fé e regenerados no seu ser mais interior pelo Espírito, serão encontrados numa condição de imaturidade na vida divina.  Eles podem ser considerados como uma “irmãzinha”, pré-adolescentes espirituais impróprios e despreparados para o matrimônio.  Em contraste à irmãzinha, a buscadora de Cântico dos Cânticos, finalmente maturada por meio de todos os estágios da operação do Senhor nela, é chamada Sulamita (6:13).  Sulamita é a forma feminina de Salomão, indicando que o crente buscador vencedor torna-se o mesmo que Cristo.  A Sulamita era uma garota do campo, mas agora como uma contraparte para Salomão, ela se tornou a mesma que Salomão – uma figura da noiva que se torna o mesmo que Cristo em vida, em natureza, e em expressão para o levar a cabo da economia de Deus.
 
Nestas coisas – vida, natureza, e expressão – nós nos tornamos o mesmo que Deus e Cristo, mas não na Deidade, por meio da operação do deificar da Palavra encarnada, Que “Se tornou homem, a fim de que Ele pudesse deificar-nos em Si mesmo” (Atanásio, Letters 576).  Deus tornou-Se homem através da encarnação; o homem torna-se Deus através da transformação.  É através de um processo de vida inteira, iniciando com a regeneração, prosseguindo por meio da santificação, do renovar da mente, e transformação, culminando com nossa conformação à imagem de Cristo, e consumando em nossa glorificação para que nos tornemos Deus.  Quando atingirmos este ponto, 1João 3:2 diz que: “seremos semelhantes a Ele”.  O resultado final deste processo é a Nova Jerusalém, a esposa do Cordeiro.  É somente por Deus tornar-Se homem para fazer o homem Deus em vida e em natureza mas não na Deidade que a noiva de Cristo pode ser preparada e a Nova Jerusalém pode ser consumada.
 
A preparação da noiva como a Sulamita para o Salomão verdadeiro é um assunto de nossa maturidade na vida e natureza divinas como plena extensão do processo  de transformação e conformação à Sua imagem.  Sem a maturidade de vida, nós não estamos prontos, preparados, ou qualificados para casar com Cristo.  Não podemos presumir ser a contraparte gloriosa de Cristo em nossa condição natural, e não podemos ser aceitáveis a Ele como Sua noiva numa condição imatura.  Aqueles que não amadurecem nesta era encontrarão o Senhor vindouro em sua auto-semelhança, não em Sua imagem gloriosa.  Eles serão encontrados pelo Noivo na expressão e aparência do eu, desfigurados com as manchas e rugas da velha vida natural.  Eles serão uma “irmãzinha”, pré-adolescentes espirituais, despreparados para o casamento do Cordeiro.  Eles serão – numa significante parte do seu ser interior – uma outra espécie, não da espécie de Cristo, com a qual Cristo não pode unir-se.  Eles não serão semelhantes a Ele orgânica e intrinsecamente.  Portanto, eles serão excluídos da ceia das bodas do Cordeiro.
John Campbell
Notas
1 “Man wird sie Männin nennen, weil sie vom Manne genomen ist”  (Gênesis 1:23).  “Com ‘Männin’  e  ‘Mann’,  Lutero tenta traduzir um jogo de palavras hebraicas” (Bibel 6), onde em outras partes ele traduz o esperado Mann e Weib.  Compare este uso de palavra irregular e particular pelo velho latim vira (varoa)* de vir (varão)*  (Keil 90).
* N.T.
2 “Kilayim [espécie diferente, hebraico] de kele  separação, significa duae res deversi generis, heterogeneae  [duas coisas de gêneros diversos, heterogêneas] “ (Keil 421).
 
                                                                                                                   Obras Citadas
Atanásio.  “Incarnation of the Word.”  Nicene and post-Nicene Fathers of the Christian Church, Second Series.  Ed. Philip Schaff and Henry Wace.  Vol 4. Grand Rapids: Eerdmans, 1978.
 
         .  Letters of Athanasius.”  Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, Second Series.  Eds. Philip Schaff and Henry Wace.  Vol 4.  Grand Rapids: Eerdmans,1978.
 
Die Bibel.  Wien: Österreichische Bibelgesellchaft, 1980.
 
Keil, C. F., and F. Delitzsch.  Commentary on the Old Testament in Ten Volumes , Vol 1: The Pentateuch.  Grand Rapids: Eerdmans, 1980.
 
Lee, Witness.  Footnotes.  Recovery Version of The New Testament.  Anaheim; Living Stream Ministry, 1991.

 


a designação por que é conhecida a mais antiga tradução em grego do texto hebreu do Antigo Testamento, feita para uso da comunidade de judeus do Egito no final do século III a.C. e no II a.C.; teria sido realizada por 72 tradutores, donde o nome (por simplificação: LXX, em latim); versão dos 70 (Dicionário Houaiss – N.T.)
 
            

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