A MANEIRA DE DEUS LIDAR COM OS PECADOS DOS CRISTÃOS - DISCIPLINA E RECOMPENSA


Temos de distinguir duas coisas na Bíblia: a disciplina de Deus nos cristãos desta era e a salvação deles na eternidade. Hebreus registra a questão da disciplina dos cristãos. Agora devemos ver quais os tipos de pessoas que Deus disciplina e qual é a finalidade dessa disciplina.

O MOTIVO E O OBJETIVO DA DISCIPLINA

A Epístola aos Hebreus 12:5-6 diz: “E estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe”. Aqui vemos claramente que o motivo da disciplina é o amor de Deus. Aqueles que recebem a disciplina de Deus são os filhos de Deus. Se uma pessoa não for filho de Deus, Ele não irá discipliná-la. Você nunca encontrará na Bíblia que Deus disciplina um incrédulo. Deus não gasta Seu tempo e energia para disciplinar todas as pessoas desta terra. Ocorre o mesmo conosco. Nós não disciplinamos os filhos de nossos vizinhos. Se eles não se vestem bem ou não fazem as coisas direito, nós não os disciplinamos. Somente disciplinamos nossos próprios filhos. Portanto, a esfera da disciplina limita-se somente aos cristãos, e o motivo da disciplina é o amor. Não é porque odeia o homem que Deus o disciplina. Ele disciplina o homem por amá-lo. Apocalipse 3:19 também diz que Deus disciplina por causa do amor.
Hebreus 12:7-8 diz: “É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como a filhos); pois, que filho há a quem o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo sois bastardos, e não filhos”. Portanto, a esfera da disciplina limita-se somente aos filhos. O versículo 9 diz: “Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai dos espíritos, e então viveremos?” Se aceitamos a disciplina de nossos pais na carne, quanto mais devemos aceitar a disciplina de nosso Pai, o Pai dos espíritos!
O versículo 10 diz: “Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade”. Isso nos mostra o propósito da disciplina. Não é porque gosta de disciplinar-nos que Ele o faz. Tampouco é porque Ele quer que soframos. Ele nos disciplina a fim de podermos participar da Sua santidade. Se um cristão vive de uma maneira muito relaxada na terra, sem manifestar a natureza e a santidade de Deus, a mão de Deus recairá pesadamente sobre ele. Deus não gosta de nos açoitar. Seu propósito é ter Sua santidade manifestada em nós. Ele somente cessará de nos disciplinar quando Sua santidade for manifestada em nós. Portanto, percebemos que a disciplina não prova que não somos do Senhor. Pelo contrário, ela prova que pertencemos ao Senhor. Não há necessidade de disciplina para alguém que não pertença ao Senhor. Somente aqueles que pertencem ao Senhor estão qualificados a ser disciplinados.
Há uma grande diferença entre punição e disciplina. A disciplina de Deus sobre Seus filhos não é a Sua punição sobre eles. Mesmo quando Deus os castiga, esse castigo não é uma punição, mas uma disciplina. A disciplina tem um objetivo definido, que é podermos participar da Sua santidade, para que não vivamos nesciamente dia a dia. Após um cristão crer no Senhor Jesus, embora nunca perca sua salvação, ele pode receber um severo castigo de Deus. Nunca devemos dizer que um cristão pode fazer tudo o que quer após ser salvo. A Bíblia nos diz claramente que após um cristão ser salvo, mesmo que esteja derrotado e caído, ele não perecerá eternamente e não perderá a vida eterna. Entretanto, ele receberá a correção de Deus, hoje, na terra.
Não devemos cometer o engano de pensar que por estarmos salvos eternamente, podemos viver relaxadamente nesta terra. Ninguém pode refutar o fato de que uma vez que uma pessoa é salva, ela é salva para sempre. Isso é um fato. Se um cristão dá vazão às suas concupiscências, comete pecados, cai em perversão e não tem a santidade de Deus, Deus estenderá Sua mão e o disciplinará por meio de seu ambiente, sua família, sua saúde e seus planos futuros. Ele poderá encontrar dificuldades na sua família. Poderá experimentar muita doença e infortúnio em seu ambiente. O propósito de Deus, ao permitir que essas coisas lhe sobrevenham, não é puni-lo; elas não sobrevêm para causar-lhe dificuldades, mas para fazê-lo participar da santidade de Deus e torná-lo merecedor da graça do Seu chamamento. Essa é a compreensão adequada da salvação.
Ninguém deve dizer que, se um cristão não fizer o bem, Deus negará que ele seja filho Seu e o expulsará como a um cachorro. Se alguém disser isso, ou é cego quanto à obra da cruz de Cristo, ou pensa que a obra de Cristo é uma questão muito leviana.
A Bíblia nos motra que a salvação é eterna. Ao mesmo tempo, a Bíblia também nos mostra que existem punições seriíssimas entre os que crêem. Se falharmos, haverá muita punição para nós. Deus quer que participemos da Sua santidade. Nesta terra, Ele quer que vivamos como filhos de Deus. Ele não quer intimidar-nos com o inferno para que busquemos a santidade. Ser salvo é algo totalmente da graça, mas Deus tem Sua maneira de conduzir-nos para a Sua santidade. Ele faz com que nos deparemos com muitas coisas em nossas famílias, em nosso corpo, em nossa carreira e em nosso ambiente, a fim de que nos voltemos a Ele. Esse é o propósito da disciplina.
Ananias e Safira eram cristãos; eles eram salvos. Eles cometeram o pecado de mentir ao Espírito, e receberam uma disciplina muito severa (At 5:1-10). Em certa época, eu achava que talvez Ananias e Safira não fossem salvos. Lendo a Bíblia cuidadosamente, deve-se reconhecer que eles eram salvos porque estavam com os discípulos na época do Pentecoste. Além disso, eles também fizeram uma oferta. Eles apenas buscaram alguma vanglória. Os pecados deles não foram tão graves como se possa pensar. Eles não se embebedaram nem cometeram fornicação. O fato de serem rapidamente tirados do mundo prova que eram cristãos. Se fossem pessoas do mundo, provavelmente tivessem vivido muito mais. O fato de terem sido rapidamente removidos do mundo prova que eles eram nossos irmãos.
Os cristãos coríntios não respeitavam a reunião da mesa do Senhor. Eles não respeitavam o Corpo do Senhor, e tratavam a ceia do Senhor levianamente. Quais foram os resultados de tais coisas? Paulo diz em 1 Coríntios 11:29-30: “Pois quem come e bebe, sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem”. A mão disciplinadora de Deus torna as pessoas doentes e fracas, e até mesmo as faz morrer. Deus as tratou dessa maneira porque elas trataram o Corpo do Senhor levianamente. Elas não viram a morte do Senhor nem a obra de Cristo, e não viram o Corpo de Cristo. Elas não viram o respeito que deviam ter com o Senhor Jesus, e não viram seu posicionamento adequado no Corpo de Cristo. Isso resultou em fraqueza, doença e até morte. Após terem pecado, Deus as disciplinou.
O versículo 32 diz: “Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”. Há um objetivo na disciplina de Deus. Ela visa salvar-nos da condenação no futuro. Deus nos disciplina para que não caiamos na condenação que o mundo receberá. Em outras palavras, a disciplina prova que somos salvos. A disciplina preserva nossa salvação. A maneira como Deus faz as coisas e a nossa maneira são totalmente diferentes. Nós achamos que se dissermos às pessoas que elas estão salvas, elas se tornarão levianas e sem restrição. Deus não é assim. Ele proclama claramente, absolutamente e sem limitação para todos os que crêem Nele que todo aquele que crê tem a vida eterna e não perecerá. Contudo, Ele tem a Sua maneira de guardar-nos de pecar e de guardar-nos de ser cristãos libertinos e frouxos. Sua disciplina é um subtitutivo de sermos condenados. O homem pode achar que a condenação é o melhor método de guardar-nos de pecar, mas Deus não utiliza a maneira da condenação. Em vez disso, Ele usa a maneira da disciplina. É muito evidente que Deus separa os cristãos das pessoas do mundo pela disciplina. As questões da disciplina e salvação devem ser claramente diferenciadas. A disciplina é exercida somente para o presente e nada tem que ver com nossa salvação eterna.
Há um bom exemplo em 1 Coríntios que mostra que a disciplina para um cristão é prova de que ele é salvo. Mesmo que um cristão tenha cometido um pecado muito grave, ele ainda é salvo. A Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo cinco, fala acerca de um cristão que cometeu adultério. Tal ato de adultério com a madrasta não era encontrado nem mesmo entre os incrédulos. Os que têm clareza sobre a lei de Moisés diriam que esta pessoa certamente perecerá e irá para o inferno. Mas surpreendentemente, 1 Coríntios mostra-nos claramente que aqui está alguém que cometeu grave e desprezível pecado; é um pecado que não é cometido por pessoas comuns. Paulo diz que com o poder do Senhor Jesus, ele entregou tal pessoa a Satanás para a destruição da carne, para permitir que Satanás mostrasse seu poder sobre o corpo dele, podendo levá-lo a ficar fraco, doente e até mesmo morrer. O propósito de Paulo ao fazer isso era que essa pessoa pudesse ser salva no dia do Senhor. Disciplina é algo para esta vida. Ela absolutamente não está relacionada com a salvação na eternidade. Se dependesse de nós, diríamos: “Está acabado. Embora essa pessoa tenha sido salva, certamente ela perecerá novamente por ter cometido um pecado tão grosseiro”. Entretanto, Paulo diz que essa pessoa não perecerá mesmo que tenha cometido tal pecado. Uma pessoa salva pode, temporariamente, receber disciplina, mas não pode ser punida com a perdição eterna. Esse é o ensinamento de Paulo. Um cristão pode ter disciplina temporária nesta era, mas não pode perecer eternamente. Podemos precisar de disciplina, mas ainda estaremos salvos na eternidade. Paulo fez, muitas vezes, uma distinção clara entre estas duas coisas no Novo Testamento. A destruição mencionada aqui e o dormir mencionado anteriormente referem-se somente ao corpo; não se referem ao espírito. As questões do espírito e da salvação eterna já foram decididas quando cremos no Senhor.
Algumas pessoas têm dificuldade com 1 João 5:16, onde diz que não devemos rogar por alguém que comete pecado para morte. Tais pessoas têm dificuldade porque não entendem a Palavra de Deus. Elas acham que pecar para morte como fala aqui significa perdição. Na verdade, não existe semelhante coisa. A Primeira Epístola de João 5:16 fala-nos de algumas pessoas que pecaram a tal ponto que Deus teria de fazê-las morrer e a carne delas teria de ser removida do mundo. A morte mencionada em 1 Coríntios 11, a destruição em 1 Coríntios 5, e as mortes de Ananias e Safira são todas mortes da carne e nada têm a ver com a morte do espírito. A disciplina está totalmente relacionada com o corpo. Portanto, na Bíblia, muitos lugares que parecem dizer que os cristãos podem perecer, na verdade, estão falando sobre disciplina.

RECOMPENSA E DOM

Agora veremos a terceira diferença — a diferença entre recompensa e dom; em outras palavras, a diferença entre o reino e a vida eterna. Hoje, existem muitos cristãos na igreja que não conseguem fazer distinção entre o reino dos céus e a vida eterna. Eles pensam que o reino dos céus é a vida eterna e que a vida eterna é simplesmente o reino dos céus. Eles confundem a Palavra de Deus, achando que a condição para receber o reino é a condição para a conservação da vida eterna. Eles acham que perder o reino é perder a vida eterna. Entretanto, a distinção entre os dois é muito clara na Bíblia. Uma pessoa pode perder o reino dos céus, mas ela não perderá a vida eterna. Ela pode perder a recompensa, contudo não perderá o dom.
Então que é a recompensa, e que é o dom? Nós fomos salvos por causa do dom. Deus nos deu o dom gratuitamente pela Sua graça; portanto, fomos salvos. A recompensa diz respeito ao relacionamento entre nós e o Espírito Santo após sermos salvos. Quando fomos salvos passamos a nos relacionar com Cristo. Esse relacionamento permite-nos obter o presente que somos totalmente indignos de receber. Da mesma forma, após termos sido salvos, temos um relacionamento com o Espírito Santo. Esse relacionamento permite-nos obter a recompensa que de outra forma jamais obteríamos por nós mesmos. Se alguém crê no Senhor Jesus como Salvador, aceitando-O como vida, ele é salvo diante de Deus. Após ser salva, Deus imediatamente coloca essa pessoa num caminho de modo que ela corra a carreira e obtenha a recompensa que está diante dela. Um cristão é salvo por causa do Senhor Jesus. Após ser salvo, ele deve manifestar a vitória de Cristo pelo Espírito Santo dia a dia. Se fizer isso, então, no fim da carreira, ele obterá a glória celestial e a recompensa celestial de Deus.
Portanto, a salvação é o primeiro passo deste caminho, e a recompensa é o último passo. Somente os salvos estão qualificados para obter a recompensa. Os não-salvos estão desqualificados para isso. Deus nos deu duas coisas em vez de uma. Deus coloca o presente diante das pessoas do mundo e coloca a recompensa diante dos cristãos. Quando alguém crê em Cristo, recebe o presente. Quando alguém segue a Cristo, recebe a recompensa. O presente é obtido por meio da fé, e é para as pessoas do mundo. A recompensa é obtida por meio da fidelidade e das boas obras, e é para os cristãos.
Há um grande engano nas igrejas hoje. O homem pensa que a salvação é a única coisa e que não há nada além de ser salvo. Ele considera o reino dos céus e a vida eterna como se fossem a mesma coisa. Ele pensa que uma vez que alguém é salvo quando crê, não tem de se preocupar com as obras. A Bíblia faz distinção entre a parte de Deus e a parte do homem. Uma parte é a salvação dada por Deus, e a outra parte é a glória do reino milenar. Ser salvo não tem absolutamente nada a ver com as obras da pessoa. Assim que uma pessoa crê no Senhor Jesus, ela é salva. Mas, após sua salvação, Deus imediatamente coloca a segunda coisa diante dela, dizendo-lhe que além da salvação existe para ela uma recompensa, uma glória vindoura, uma coroa e um trono. Deus coloca Seu trono, coroa, glória e recompensa diante dos cristãos. Se uma pessoa for fiel, obtê-los-á; se for infiel, perdê-los-á.
Portanto, não dizemos que as boas obras sejam inúteis. Entretanto, dizemos, sim, que as boas obras são inúteis no que se refere à salvação. O homem não pode ser salvo pelas suas boas obras, tampouco pode ser impedido de receber a salvação pelas suas más obras. As boas obras são úteis quanto às questões da recompensa, da coroa, da glória e do trono. As boas obras são inúteis quanto à questão da salvação. Deus não pode permitir que o homem seja salvo pelas suas obras; Ele também não permitirá que o homem seja recompensado pela sua fé. Deus não pode permitir que o homem pereça devido às suas obras más. Deus só pode decidir sobre a salvação ou perdição do homem por meio de ele crer, ou não, no Seu Filho. Da mesma forma, Deus não pode decidir que o homem receba a Sua glória por meio de ele crer ou não no Seu Filho. Se você tem ou não tem Seu Filho em si, determina a questão da vida eterna ou perdição. Se você tem ou não tem boas obras diante de Deus, determina a questão de receber a recompensa e a glória. Em outras palavras, Deus nunca salvará uma pessoa por ela ter méritos, e Ele nunca recompensará alguém que não tenha mérito. Se alguém tem méritos, Deus não o salvará por essa razão. Por outro lado, Deus nunca recompensará alguém que não tenha mérito. O homem deve vir diante de Deus totalmente carente e sem méritos, para que Ele o salve. Contudo, após a salvação, temos de ser fiéis, e temos de esforçar-nos para produzir boas obras por meio de Seu Filho Jesus Cristo, a fim de obtermos a recompensa.
Por favor, não pense que as boas obras sejam inúteis. Estamos dizendo que as boas obras são inúteis no tocante à salvação. Elas nada têm a ver com a salvação, de forma alguma. A salvação depende de você se arrepender ou não da sua posição anterior. Ela depende de você se lamentar do seu passado, para crer na Sua obra na cruz e na Sua ressurreição como prova da sua justificação. Esse é o ponto crucial de todos os problemas. A questão de obras está relacionada com a recompensa. As obras são úteis, mas somente no tocante à recompensa.
O problema de hoje é que as pessoas não fazem distinção entre a salvação e o reino. Na Bíblia, há uma distinção clara entre a salvação e o reino, e entre o dom e a recompensa. Devido às pessoas não diferenciarem esses assuntos, a questão da salvação é mal compreendida, e a questão da recompensa também é mal compreendida. Deus jamais colocou a questão da recompensa diante dos não-salvos. Deus somente quer que os não-salvos obtenham a salvação. Entretanto, após a salvação, Deus coloca a recompensa diante dos salvos, para que eles se esforcem, persigam e corram atrás da recompensa. A salvação não é o último passo da experiência cristã. Pelo contrário, a salvação é o primeiro passo. Após termos sido salvos, temos de correr e perseguir a recompensa diante de nós. O problema é que pensamos que nossa salvação é nossa recompensa. Os pecadores pensam que ser salvo é obter a recompensa, e assim eles confiam em suas obras. Os cristãos acham que a glória é simplesmente a graça, e assim tornam-se néscios em seu viver. Por favor, apliquem as obras somente à recompensa, e a graça à salvação.
Por meio da salvação, Deus separa os salvos dos não-salvos; Ele separa os que têm a vida eterna dos que estão condenados. De igual modo, Deus também separa Seus filhos em dois grupos por meio de Sua recompensa. Assim como a salvação separa as pessoas do mundo, da mesma forma, a recompensa também faz separação entre os filhos de Deus. Deus separa Seus filhos em obedientes e desobedientes. Para com as pessoas do mundo, a questão é ter fé ou não ter fé. Para com os cristãos, a questão é ser fiel ou não ser fiel. Para com as pessoas do mundo, é uma questão de ser salvo ou não ser salvo. Para com os cristãos, é uma questão de ter ou não ter a recompensa. O problema de hoje com os filhos de Deus é que eles exaltam demais a salvação; tudo o que vêem é simplesmente a salvação. Eles acham que somente quando cuidarem da sua obra é que poderão ser salvos. Como resultado, eles não têm mais tempo para perseguir a recompensa. Se alguém não passou pelo primeiro portão, não pode passar pelo segundo. Que Deus seja misericordioso conosco, para que compreendamos que a questão da salvação já está resolvida. Ela não pode mais ser abalada, pois já foi cumprida pelo Senhor Jesus. Ela está totalmente concretizada. Hoje, devemos empenhar-nos é com a recompensa diante de nós. Haverá uma grande diferenciação no reino: alguns terão glória, e outros não terão glória.
Agora precisamos ver sobre que base a recompensa é dada. A Palavra de Deus diz que a recompensa é dada por causa da obra. Assim como a Bíblia diz claramente que a salvação é pela fé, da mesma forma a Bíblia diz claramente que a recompensa é pela obra. A Bíblia revela-nos que a salvação é pela fé dos pecadores, e a recompensa é pela obra dos cristãos. A fé está relacionada com a salvação; isso está mais do que claro. A obra está relacionada com a recompensa; isso também está mais do que claro. Ninguém deve confundir as duas coisas.
Romanos 4:4 diz: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e, sim como dívida”. Dar uma recompensa a alguém que trabalha não é graça, mas é dívida. Em outras palavras, como alguém pode obter uma recompensa? A recompensa vem pelas obras, e não pela graça.
Apocalipse 2:23 diz: “Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mente e corações, e vos darei a cada um, segundo as vossas obras”. Esse versículo diz que o Senhor fará todas as igrejas conhecerem que Ele é Aquele que sonda as mentes e os corações, e dará a cada um segundo as suas obras. Em outras palavras, Ele recompensará cada um segundo as suas obras. Como Ele recompensa ou retribui? É de acordo com nossa obra. É claro que essa obra não é nossa própria obra. Nós apenas lavamos nossas vestes no sangue para ficarem brancas. Quando o Espírito Santo vive Cristo em nós, temos as obras de um cristão. Alguns viverão Cristo, e outros não viverão Cristo. Todo o capital provém de Cristo. Todo poder também origina-se de Cristo. Mas alguns deixarão o Senhor trabalhar no seu interior, e outros não. Portanto, esse versículo nos mostra claramente a questão da recompensa. A questão da recompensa depende de um cristão ser digno ou não. Hoje, Deus não salva uma pessoa por ela ser digna, e, no futuro, Deus não recompensará um cristão que seja indigno.
A Primeira Epístola aos Coríntios 3:14 diz: “Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão”. Aqui diz que se a sua obra permanecer, essa pessoa será recompensada. Não diz que se a sua fé permanecer, essa pessoa será recompensada. A questão da recompensa depende da obra da pessoa. A Bíblia distingue claramente salvação de galardão. Ela nunca confunde salvação e galardão, e nunca confunde fé com obras. Sem a fé, o homem não pode ser salvo. Sem as boas obras, o homem não pode ser recompensado. As obras de alguém devem resistir diante do trono do julgamento e sobreviver ao exame minucioso dos olhos flamejantes, antes que haja a possibilidade de receber galardão.
Lucas 6:35 diz: “Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, nada esperando em troca; e será grande o vosso galardão”. A recompensa é inteiramente devida à obra de alguém. Emprestar dinheiro a alguém sem esperar ser pago é sua obra, e amar seu inimigo é sua obra. Você tem de fazer isso para obter a recompensa. Nenhuma passagem da Bíblia menciona que alguém tenha de amar seus inimigos e fazer o bem para que possa receber a vida eterna. Tampouco existe qualquer versículo que diga que alguém tenha de emprestar aos outros para que possa ser salvo, ou que tenha de emprestar aos outros para que possa evitar a perdição. Mas existe o versículo que diz que se você emprestar aos outros e fizer o bem aos outros, a sua recompensa no céu será grande. A recompensa é proveniente da obra, e não da fé. A fé pode salvá-lo, mas a fé não pode ajudá-lo a obter a recompensa.
A Segunda Epístola a Timóteo 4:14 diz: “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras”. Aqui é citado um exemplo. Um cristão estava tentando prejudicar Paulo; ele tinha pecado contra Paulo. A pessoa mencionada aqui era um cristão. Ele não era uma pessoa do mundo. No futuro, os cristãos serão recompensados diante de Deus segundo as suas obras.

A RECOMPENSA É O REINO DOS CÉUS

Prossigamos. Muitas pessoas sabem que existe diferença entre salvação e recompensa. Contudo, há várias pessoas que não vêem o que é recompensa. Na Bíblia, as palavras faladas quer pelo Senhor Jesus, quer pelos apóstolos, acerca da recompensa e do reino, não foram faladas levianamente, da mesma forma que também não se falou assim acerca de dom e vida eterna. Quando o Senhor Jesus diz no Evangelho de João que Ele dá a vida eterna para as Suas ovelhas, Ele está falando a realidade e não algumas palavras vazias (João 10:28). Romanos 6 diz que o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor (v. 23). Está muito evidente que o dom de Deus é a vida eterna. Então, que é a recompensa? A Bíblia mostra-nos claramente que a recompensa é a coroa, o trono e o reino dos céus. O reino dos céus é a recompensa. Na Bíblia, existem três aspectos para o reino dos céus. No primeiro aspecto, o reino dos céus é a manifestação exterior da autoridade de Deus hoje; é a manifestação exterior da soberania de Deus. A Bíblia chama isso de reino dos céus. O segundo aspecto é a autoridade dos céus controlando e limitando o homem. Isso também é chamado de reino dos céus. Entretanto, há um terceiro aspecto do reino dos céus, que se refere à recompensa.
O sermão do Senhor no monte, em Mateus 5 a 7, fala do reino dos céus. Estes ensinamentos do Senhor dizem-nos como o homem pode entrar no reino dos céus. Mateus 5 a 7 fala repetidamente sobre a questão da recompensa. Percebemos muito claramente que as palavras “o reino dos céus” e a palavra “recompensa” são encontradas juntas várias vezes. Muitos estão familiarizados com as bem-aventuranças. Os chineses chamam-nas de oito bênçãos. Na verdade, existem nove bênçãos nas bem-aventuranças1: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que choram, porque serão consolados; bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra; bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia; bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus; bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus; e também, bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. O reino dos céus é mencionado duas vezes nessas poucas bem-aventuranças. No final o Senhor diz: “Bem-aventurados sois quando, por Minha causa, vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus”
(Mt 5:11-12). Aqui, devemos admitir que a recompensa é o reino dos céus. O Senhor começa dizendo que tais e tais pessoas são bem-aventuradas, porque o reino dos céus é delas. No final Ele diz que essas pessoas são bem-aventuradas, porque a recompensa delas é grande nos céus. Essas sentenças semelhantes mostram-nos que o reino dos céus é a recompensa de Deus. Não há diferença entre os dois.
No sermão do monte, o Senhor mencionou a questão da recompensa muitas vezes, pois tal sermão diz respeito ao reino. Mateus 5:46 diz: “Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes?” Mateus 6:1-2 diz: “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo: Eles já receberam por completo a sua recompensa”. O versículo 5 diz: “E, quando orardes, não sereis como os hipócritas. Eles já receberam a recompensa”. O versículo 16 diz: “Quando jejuardes, não vos mostreis sombrios como os hipócritas. (...) Eles já receberam por completo a sua recompensa”. O versículo 4 diz: “Para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará”. O versículo 6 diz: “Tu, porém, quando orares, entra no teu aposento íntimo, e, fechada a porta, ora a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará”. A parte final do versículo 18 diz: “E teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”. Todo leitor da Bíblia concorda que o assunto principal do sermão no monte em Mateus 5 a 7 é o reino dos céus. Mas aqui, a questão da recompensa é também mencionada repetidas vezes, porque o reino dos céus é a recompensa.
Mateus 16:27-28 diz: “Porque o Filho do Homem há de vir na glória de Seu Pai, com os Seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme as suas obras”. Deus recompensará ou punirá uma pessoa salva de acordo com as suas obras. “Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma provarão a morte até que vejam vir o Filho do Homem no Seu reino”. Há três fatos aqui. Primeiro, o homem será recompensado de acordo com suas obras. A questão da recompensa é inteiramente baseada nas obras. Segundo, em que momento a recompensa será distribuída? Ela será conhecida quando Cristo vier na glória de Seu Pai com Seus anjos. Quando Cristo vier na glória de Seu Pai com Seus anjos, aquele será o tempo em que Ele estabelecerá Seu reino sobre a terra. Portanto, somente quando o reino se iniciar é que a recompensa se iniciará. Terceiro, aqui está um tipo que fala sobre um fato. A transfiguração do Senhor no monte tipifica Sua manifestação em glória no reino vindouro. Naquela ocasião alguns cristãos serão recompensados.
Os versículos em Mateus 6 que acabamos de ler sobre dar, orar e jejuar, todos envolvem recompensa. Alguns pensam que a recompensa de orar é a resposta de Deus à nossa oração. Entretanto, esse não é o significado completo. O Senhor Jesus disse que devemos orar ao Pai que está em secreto, e nosso Pai que vê em secreto nos recompensará. É possível interpretar isso como o Pai respondendo à nossa oração. Contudo, tanto na primeira parte quando o Senhor menciona o dar esmolas, quanto na segunda parte quando menciona o jejum, Ele diz: “E teu Pai que vê em secreto te recompensará”. Essa recompensa deve referir-se a algo no futuro. Além disso, o Senhor disse que devemos orar ao Pai que vê em secreto. Não diz que o Pai ouve em secreto, mas Ele vê em secreto. Quando Deus der a recompensa no futuro, Ele dará de acordo com o que Ele vê. Deus vê com Seus olhos. Portanto, a recompensa é no futuro.
Apocalipse 11:15 diz: “O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos”. O versículo 18 diz: “Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, assim aos pequenos como aos grandes”. Esse versículo mostra-nos claramente que quando o Senhor tornar-se o Rei e o reino do mundo tornar-se o reino de nosso Senhor e do Seu Cristo, será tempo de dar a recompensa aos santos, aos pequenos e aos grandes. Em outras palavras, o tempo do reino é o tempo da recompensa. Quando o reino vier, a recompensa virá também.
Há um ponto adicional. A recompensa é a obtenção da coroa e a obtenção do trono. Certa vez um missionário ocidental disse-me: “Se não posso ter a coroa, pelo menos posso ter o reino”. Você pode perguntar ao rei Eduardo da Inglaterra2: se ele perder sua coroa, ainda terá o reino? Que é uma coroa? Não é simplesmente um chapéu esculpido em ouro e enfeitado com diamantes. Esse tipo de coroa pode ser obtido com certa quantia de dinheiro. Que é uma coroa? Uma coroa representa uma posição no reino. Ela também representa glória no reino. Se uma coroa for apenas um objeto, ela não significa muito. Se alguém tiver dinheiro, pode fazer uma de ouro. Se não tiver dinheiro, pode fazer uma de bronze ou de ferro. Mesmo se alguém for muito pobre, ele poderá confeccionar uma coroa de pano. No futuro, a questão não será de uma coroa ser maior do que a outra em tamanho, ou de uma ter mais diamantes do que a outra. Uma coroa representa algo. Quando alguém perde a coroa, perde o que a coroa representa. Temos de ver que a coroa é o símbolo do reino.
Que é o trono? A Bíblia mostra-nos que os doze apóstolos sentar-se-ão em doze tronos. A coroa é uma recompensa para os vencedores, e o trono também é uma recompensa para os vencedores. Portanto, o trono também é um símbolo do reino. Ele representa posição no reino, autoridade no reino e glória no reino. Não existe algo como perder a coroa, mas ainda ter o reino. Semelhantemente, ninguém pode perder o trono e ainda ter o reino. Se alguém perder o trono, também perderá o reino. Assim também, se alguém perder a coroa, perderá o reino. O trono e a coroa não são importantes em si mesmos; eles existem apenas para representar o reino. Em outras palavras, a recompensa é o reino. A Bíblia mostra-nos claramente que a recompensa é simplesmente o reino.

JULGAMENTO NO TRONO DE JULGAMENTO DE CRISTO

Como Deus nos dará a recompensa? A época de sermos recompensados é quando Cristo vier novamente para executar o julgamento. Pedro nos diz que o julgamento começa pela casa de Deus. No futuro, antes de julgar as pessoas no mundo, Deus julgará primeiramente os cristãos. Em relação a que Deus nos julgará? Ele não nos julgará para salvação ou perdição eternas; esse julgamento foi realizado na cruz. Todos os nossos pecados foram julgados na cruz, e o problema da perdição eterna foi resolvido. Contudo, nós, cristãos, seremos julgados no futuro. Tal julgamento determinará se teremos ou não participação no reino. Para alguns, não só não haverá participação no reino, como haverá punição. Naquela ocasião, Cristo estabelecerá o trono de julgamento e julgará os Seus cristãos naquele trono de julgamento.
Vamos ler dois versículos que esclarecem ainda mais esta questão. A Segunda Epístola aos Coríntios 5:10 diz: “Porque é necessário que todos nós sejamos manifestados diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal” (IBB - Rev.). Cada um de nós que cremos no Senhor seremos manifestados diante do trono do julgamento. A palavra “trono do julgamento” é bema no original grego. Significa uma plataforma erguida. Bema é o lugar onde são decididas as questões em família. Esse versículo diz que devemos todos ser manifestados diante do trono do julgamento para cada um ser recompensado de acordo com o que praticou. Salvação eterna ou morte eterna é uma questão do crer. Mas o julgamento de um cristão é segundo o que ele praticou, se o bem ou o mal. Isso é o julgamento diante do trono do julgamento.
Com relação ao reino, existem umas poucas coisas que precisamos saber. Se alguém pode ou não entrar no reino é uma coisa. Mesmo se alguém puder entrar no reino, haverá uma diferença de posição no reino. Se alguém não puder entrar no reino, irá para as trevas exteriores, ou seja, será castigado. Portanto, após termos crido no Senhor, embora nossa boa obra não possa salvar-nos, ela determinará nossa posição no reino. Graças a Deus que a questão da nossa vida eterna ou morte eterna foi decidida, mas ainda seremos julgados diante do trono do julgamento de Cristo. Esse julgamento não é para determinar nossa vida ou morte eternas. É para determinar nossa posição no reino.
Existem muitos outros versículos na Bíblia que nos mostram que os cristãos serão julgados pelo Senhor Jesus diante do trono do julgamento de Cristo. Entre esses versículos, 1 Coríntios 3 mostra-nos muito claramente como seremos julgados pelo Senhor diante do trono do julgamento. A Primeira Epístola aos Coríntios 3:8 diz: “Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho”. O assunto aqui é como cada um será recompensado segundo o seu próprio trabalho. O versículo 10 diz: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica”. O fundamento é Jesus Cristo. O próprio trabalho de cada um é a maneira de cada um edificar. A maneira de edificarmos é determinada pelo material que utilizamos. Os versículos 12 a 15 dizem: “Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo”. Essa passagem mostra-nos que cada um que está edificando sobre esse fundamento é salvo. A obra que alguns edificam sobre o fundamento permanecerá, e eles serão recompensados. A obra de alguns não permanecerá, e será consumida pelo fogo. Eles sofrerão perda, muito embora ainda estarão salvos. Lembremo-nos de que ainda há um julgamento diante de nós. Esse julgamento não determinará se pereceremos ou não, mas determinará se receberemos ou não uma recompensa.

Capítulo Vinte e Um

A MANEIRA de Deus LIDAR com os Pecados dos Cristãos — Qualificações para entrar no Reino DOS CÉUS

Deixamos claro que o reino é o tempo em que Deus recompensará os cristãos conforme as suas obras. No reino, os cristãos fiéis serão recompensados e os infiéis serão punidos. Muitas pessoas pensam que se um cristão for infiel, mesmo que tenha de ocupar uma posição inferior, ele, contudo, estará dentro do reino. Muitos que não compreendem a Palavra de Deus e a obra de Deus, pensam que lhes está garantida a entrada no reino dos céus. Eles acham que, quando o Senhor Jesus vier para reinar, haverá simplesmente uma distinção entre as mais altas e as mais baixas posições no reino; que ninguém perderá totalmente o reino dos céus. Entretanto, no reino dos céus, haverá não só distinção entre as posições mais altas e mais baixas, como também haverá distinção entre ter entrada permitida e ser deixado de fora. A Bíblia mostra-nos que há uma nítida diferença entre dez cidades e cinco cidades, entre uma coroa grande e uma pequena, e entre a glória maior e a menor. Como uma estrela difere de outra, assim também serão diferentes as posições no reino. Não só haverá diferença entre as mais baixas e as mais altas posições no reino, como haverá também distinção de estar qualificado ou não para entrar.

FAZER A VONTADE DO PAI

A Bíblia revela-nos uma verdade muito séria. Apesar de uma pessoa ter a vida eterna, ela ainda pode ser rejeitada para o reino dos céus. Mateus 7:21 é um versículo que fala disso: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus”. Nesse versículo, todas as pessoas se dirigem ao Senhor como “Senhor”. O Senhor fará uma distinção entre os discípulos que podem entrar no reino dos céus e os que não podem. O Senhor mostra-nos claramente, aqui, que a condição para entrar no reino dos céus é fazer a vontade de Deus. Embora alguns tenham sido salvos e tenham-No chamado de Senhor, e realizado algumas obras, todavia, sem fazer a vontade de Deus, eles não podem entrar no reino dos céus. A recompensa do reino dos céus tem por base a obediência do homem. Quem não for fiel enquanto viver na terra, não perderá a vida eterna, mas perderá o reino dos céus. Quando chegar o tempo de os céus reinarem, isto é, quando o Senhor Jesus vier pela segunda vez, alguns não poderão entrar no reino, mas irão perdê-lo.
Primeiramente o Senhor mencionou esse assunto no versículo 21. A seguir, nos versículos 22 e 23, Ele explicou-nos a questão em forma de profecia. Haverá muitos, não apenas um ou dois, que não farão a vontade de Deus. “Muitos, naquele dia, Me dirão: Senhor, Senhor! não foi em Teu nome que profetizamos, e em Teu nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitos milagres? Então lhes declararei: Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, os que praticais a iniqüidade”. Aqui o Senhor Jesus nos diz o que ocorrerá diante do trono de julgamento. Ele diz: “Naquele dia”; portanto, isso não se refere a hoje, mas ao futuro. Há muitos que labutam, mas não vêem a luz de Deus em sua vida. Quando o tempo do trono do julgamento vier, e quando Cristo começar a julgar a partir da casa de Deus, esses cristãos terão luz pela primeira vez. Eles verão que estão errados em sua posição e em seu viver.
Naquele dia, diante do Senhor muitos dirão: “Não temos nós profetizado em Teu nome, e em Teu nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitos milagres?” Em uma só frase, a expressão “em Teu nome” é mencionada três vezes. Isso prova que essas pessoas são do Senhor. O fato de dizerem: “Senhor, Senhor”, prova que a posição delas é a de um cristão. Elas não apenas dizem que profetizam, expulsam demônios e fazem milagres, mas fazem isso em nome do Senhor. A menção de “em teu nome” por três vezes, mostra-nos o relacionamento delas com o Senhor.
Surpreendentemente, o Senhor lhes diz: “Então lhes declararei: Nunca vos conheci”. Por não compreenderem o significado dessas palavras, muitos acham que tais pessoas certamente não são salvas. Mas se elas não fossem salvas, então a palavra do Senhor aqui não teria significado. Mateus 7 é a conclusão do sermão no monte, dando seqüência à palavra do Senhor acerca das bem-aventuranças. Essas palavras no monte foram ditas pelo Senhor Jesus aos discípulos. Após o Senhor ter subido na montanha, Seus discípulos seguiram-No, e a partir do capítulo 5 até o capítulo 7, Ele abriu a boca e passou a ensiná-los.
O Senhor Jesus disse que eles não deveriam chamá-Lo de Senhor apenas com a boca. Se eles O chamavam de Senhor, deveriam fazer a vontade do Pai. Mesmo que tivessem as obras exteriores de profetizar, expulsar demônios e fazer milagres, essas obras não deveriam substituir a vontade do Pai. Fazer a vontade do Pai é uma coisa, enquanto profetizar, expulsar demônios e fazer milagres são coisas totalmente diferentes. Algumas vezes, pode-se profetizar, expulsar demônios e fazer milagres sem fazer a vontade do Pai. Devemos lembrar-nos não somente de chamá-Lo de Senhor com nossa boca, mas também de fazer a vontade do Pai em nosso andar. Se o Senhor estivesse falando acerca de pessoas não-salvas, essa palavra perderia totalmente o significado, pois se essas pessoas não fossem salvas, não importaria muito para os discípulos ouvirem ou não a Sua palavra. Os discípulos poderiam dizer que Sua palavra era para não-salvos, mas eles eram salvos; portanto, se fizessem ou não a vontade do Pai, o Senhor não poderia negar que os conhecia. Se fosse esse o caso, então todos os não-salvos seriam os que não fazem a vontade de Deus, e todos os salvos seriam os que fazem a vontade de Deus. Isso anularia o significado maior dessas palavras.
O Senhor Jesus, aqui, deve estar advertindo os salvos, falando sobre os salvos. Ele não pode estar advertindo os salvos, falando sobre os não-salvos. Suponha que uma pessoa tenha uma empregada e duas filhas, e dissesse para a filha mais jovem: “Você está vendo essa empregada? Ela não nasceu de mim, e estou batendo nela. Você deve ser obediente, caso contrário, castigarei você assim como estou fazendo com ela”. Essas palavras são coerentes? A criada não nasceu na família e, se for desobediente, pode apanhar. Mas a filha da família não é uma empregada. Não se pode aplicar a uma filha a maneira de tratar uma empregada. A mãe deveria dizer: “Na noite anterior castiguei sua irmã, pois ela foi desobediente. Agora, se cuide, pois se você não for obediente, vou castigá-la da mesma forma”. A mãe deve tomar a irmã como exemplo. Uma empregada não pode ser usada para comparação. Não existe motivo para o Senhor usar os não-salvos como exemplo para mostrar aos discípulos que eles precisam fazer a vontade de Deus. Se Ele fizesse isso, os discípulos poderiam levantar-se e dizer: “Eles não são salvos, mas nós somos salvos”. Se dissessem isso, ninguém poderia dizer mais nada.
O que o Senhor Jesus está dizendo é isto: “Muitas pessoas são filhos de Deus. Elas são salvas e são como você. Elas chamam-Me de ‘Senhor’ e têm realizado muitas obras. Mas, apesar disso, elas serão excluídas do reino. Por essa razão vocês devem ser cuidadosos e fazer a vontade de Deus”. Somente dessa maneira os discípulos saberiam que, mesmo que realizassem muitas obras, se não fizessem a vontade de Deus, receberiam a mesma punição. Se Ele estivesse falando a não-salvos, não haveria mais o elemento penetrante de Sua palavra. O Senhor os estava advertindo de que somente os que fazem a vontade de Deus podem entrar no reino. Se alguém confiar em sua própria obra para se achegar diante de Deus, o Senhor Jesus lhe dirá: “Não conheço você”.
Permitam que eu lhes dê outro exemplo. Suponham que o filho de um juiz dirija de modo imprudente e bata em outro carro. Ele é levado pela polícia até o tribunal para uma audiência. O juiz pergunta: “Jovem, qual é o seu nome? Quantos anos tem? Onde você mora?” Abatido, no tribunal, o filho pode pensar: “Você deve saber todas essas coisas melhor do que eu”. Ele pode responder às poucas perguntas iniciais. Mas depois de algum tempo pode gritar ao pai: “Pai, você não me conhece?” Então, que deveria o juiz fazer? Ele poderia bater seu martelo e dizer: “Eu não o conheço. Em minha casa, eu o conheço. Mas, no tribunal, nunca o conheci”. Se alguém vir a questão do reino, perceberá que no reino a questão não é se uma pessoa é salva ou não nem se é um filho de Deus ou não; o que realmente conta é a sua obra depois de tornar-se cristão. Suponha que após ser salvo, você seja muito zeloso. Apesar de não ter feito a vontade de Deus, você profetizou, expulsou demônios e realizou milagres em nome do Senhor. Se você vier diante do Senhor, pedindo para ser admitido no reino por causa dessas obras inescrupulosas, o Senhor dirá que nunca o conheceu.
Por que o Senhor disse: “Nunca vos conheci”? A próxima sentença explica: “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”. Por favor, lembrem-se de que o Senhor não lhes disse para apartarem-se da vida eterna. No original grego o significado de “os que praticais a iniqüidade” é de pessoas que não seguem regras, não guardam a lei ou não aceitam regulamentos. Aos olhos de Deus, fazer o mal não significa apenas fazer coisas más. Não importa quanto uma pessoa tenha feito; uma vez que ela não tenha atentado à exigência de Deus, ao Seu julgamento, e ao Seu arranjo soberano, isso é maligno aos olhos de Deus. Se essa palavra “iniqüidade” for traduzida para “mal”, como fazem algumas versões, muitos teriam base para argumentar. O problema aqui não é fazer o mal, mas não ter princípios. Que são os princípios? Os princípios são a palavra de Deus. Mas que é a palavra de Deus? A palavra de Deus é a vontade de Deus. Se você não estiver fazendo a vontade de Deus, não importa o que faça, o Senhor Jesus dirá que você é iníquo. Os que fazem as coisas segundo seu próprio ego não terão parte no reino dos céus.
Meu propósito ao dizer essas coisas é mostrar-lhes a importância das obras de um cristão. A Bíblia mostra-nos claramente que uma pessoa, após crer no Senhor, embora nunca perca a vida eterna, ela pode perder seu lugar e glória no reino. Se não fizermos a vontade de Deus, mas, em vez disso, fizermos obras de acordo com nossa própria vontade, seremos excluídos do reino. Podemos pensar que profetizar, expelir demônios e realizar milagres seja o mais importante, pois achamos que, se pudermos fazer essas coisas, seremos uma pessoa maravilhosa. Entretanto, essas coisas nunca podem substituir a vontade de Deus. Os que nunca aprenderam a não trabalhar para Deus, não são dignos de trabalhar para Ele. Aqueles que não sabem como parar a sua própria obra, certamente nada sabem sobre a vontade de Deus. Somente os que conhecem a vontade de Deus conseguem parar de trabalhar. Deus quer que primeiro obedeçamos à Sua vontade e, depois, trabalhemos. Deus não nos quer como voluntários para trabalhar por Ele. Quanto mais alguém conhece a vontade do Senhor, mais aprenderá a não trabalhar relaxadamente. Portanto, existe uma grande diferença entre trabalhar e fazer a vontade de Deus. Hoje, podemos apreciar as obras e estar interessados em profetizar, expulsar demônios e realizar obras de poder. Mas um dia, muitos serão despertados.

ESMURRAR O CORPO PARA AGRADAR O SENHOR

Outra passagem que alguns interpretam mal, como se referisse à perdição, na verdade, refere-se também à perda do reino e à perda da recompensa. A Primeira Epístola aos Coríntios 9:23-27 diz: “Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado”. Paulo temia que, tendo pregado a outros, ele mesmo fosse reprovado. Aqui, Paulo estava dizendo que ele também poderia ser reprovado. Qual é, aqui, o significado de ser reprovado? E em que se está sendo reprovado? Nestas mensagens, temos ressaltado o fato de que, ao ler a Bíblia, deve-se dar atenção ao contexto. Aqui também devemos considerar o contexto.
No versículo 24, Paulo se compara a alguém que está participando de uma corrida, na qual somente um levará o prêmio. Portanto, o problema aqui não é uma questão de salvação, mas de receber o prêmio. Paulo está falando sobre como uma pessoa salva pode receber o prêmio; ele não está falando de como alguém não-salvo pode ser salvo. Somente os que são salvos, os que creram no Senhor Jesus, nasceram de novo e tornaram-se filhos de Deus estão qualificados para entrar na corrida. Somente os filhos de Deus podem participar da corrida e perseguir o prêmio que Ele deseja que ganhemos. Se alguém não é filho de Deus, não está sequer qualificado para entrar na corrida. Em nenhum lugar na Bíblia é dito que a salvação é ganha por corrermos a carreira. A Bíblia nunca diz que se alguém for capaz de correr, então será salvo. Se assim fosse, poucos seriam salvos, e a salvação dependeria de obras. A Bíblia diz que o prêmio vem pelo correr; Deus colocou-nos em uma pista de corrida para corrermos a carreira.
Qual é o prêmio? O versículo 25 diz: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível”. Aqui é dito que o prêmio é uma coroa. Já mencionamos antes que a coroa representa a glória e o reino. Portanto, a palavra “desqualificado” não se refere à perda da salvação. A palavra “desqualificado”, no versículo 27, significa fracassar em receber a coroa e o prêmio. Se Paulo podia ser desqualificado, então todos nós temos a possibilidade de o ser. Se Paulo podia perder seu prêmio e sua coroa, então cada um de nós também tem a possibilidade de perder o prêmio e a coroa.
O versículo 26 indica o motivo de ser desqualificado: “Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar”. Paulo tinha um propósito e uma direção. Ele não desferia golpes no ar. O seu alvo e direção eram aquilo que ele disse em 2 Coríntios 5: que ele anelava ser agradável ao Senhor (v. 9). Quer vivesse ou morresse nesta terra, o seu desejo era agradar ao Senhor. Como ele correu a carreira? Ele não a correu desleixadamente. Ele tinha uma direção certa e um alvo definido. Ele não desferia golpes no ar nem fazia simplesmente o que outros diziam que fizesse. Tampouco fazia algo apenas porque havia necessidade. Se fosse trabalhar de acordo com a necessidade, ele teria de correr dia e noite, pois a necessidade era enorme. Nós não somos para a obra, mas somos para agradar ao Senhor.
Se quisermos receber o prêmio, que devemos fazer? “Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão” (v. 27). Muitos estimam seu próprio corpo acima do prêmio. Muitos consideram seu próprio corpo acima da vontade de Deus. Entretanto, Paulo disse que dominava seu corpo; ele era capaz de controlá-lo. Paulo podia controlar a concupiscência de seu corpo, as exigências excessivas de seu corpo e os desejos de seu corpo. Ele não permitia que seu corpo prevalecesse. Ele disse que esmurrava seu corpo e fazia dele seu escravo. Se um cristão pode ou não agradar ao Senhor, depende de se ele pode ou não controlar seu corpo. Muitos não conseguem controlar seu próprio corpo. Sempre que um pequeno estímulo chega ao corpo, toda sorte de pecados acontece. Devemos ver que todos os que não podem controlar seu próprio corpo perderão seu prêmio e sua coroa. Embora possam pregar o evangelho a outros, eles mesmos serão desqualificados.
Nós, cristãos, somos salvos uma vez por todas e jamais perderemos nossa salvação. Mas quando o Senhor Jesus voltar na Sua glória para governar a terra, Ele não dará coroas para todos. No novo céu e nova terra, embora cada pessoa salva receberá a mesma glória, quando o Senhor Jesus vier governar sobre a terra por mil anos, alguns perderão seu prêmio, sua autoridade e sua glória. Alguns não estarão aptos para entrar no reino e não estarão aptos para receber uma coroa.
A palavra do Senhor é muito clara acerca da salvação e da vida eterna: ambas são totalmente provenientes da graça. Além do mais, se alguém pode ou não entrar no reino dos céus, depende de suas obras. Acabamos de ver que temos de fazer a vontade de Deus. Aqui vemos que é necessário esmurrar nosso próprio corpo. Exteriormente, podemos realizar muitas obras, mas enquanto não restringirmos nosso corpo, não nos será permitido entrar no reino.
Na Bíblia parece haver um número fixo de coroas. Apocalipse 3:11 diz: “Venho logo. Segura com firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (BJ). Alguns que não compreendem a Bíblia, não sabem qual a diferença entre uma recompensa e um dom. Tampouco sabem a diferença entre a coroa e a salvação de Deus. Eles acham que a salvação pode ser tirada deles. A palavra “tome”, aqui, não se refere à salvação, mas à coroa. Alguém pode estar salvo e, no entanto, perder a coroa. Recentemente havia uma manchete muito sensacionalista nas revistas dizendo que determinado rei de determinada nação havia perdido sua coroa. Se uma pessoa salva não segurar com firmeza o que tem, se não guardar as palavras da perseverança do Senhor Jesus, e se negar o nome do Senhor Jesus algum dia ele perderá a coroa. Se você for frouxo, e não segurar com firmeza, também perderá sua coroa. Alguém poderá tirá-la de você.
Apocalipse 2:10 tem uma palavra semelhante a essa: “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”. Aqui não diz dar a vida, mas dar a coroa da vida. A vida é obtida pela fé; ela não é obtida pela fidelidade. Se uma pessoa não tiver fé, ela não poderá ter vida. Mas se uma pessoa for infiel depois de ter vida, ela perderá a coroa da vida. Portanto, se um cristão não tiver boas obras após ser salvo, ele não perderá a vida, contudo, perderá a coroa.

EDIFICAR COM OURO, PRATA E PEDRAS PRECIOSAS

A passagem mais clara na Bíblia acerca da recompensa é 1 Coríntios 3:14-15: “Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo”. Isso nos mostra claramente o que um cristão não pode perder e o que ele pode perder. Desde que uma pessoa seja salva, certamente está salva para sempre. Contudo, se tal pessoa receberá ou não um galardão, isso não pode ser decidido hoje. A salvação eterna de um cristão já está determinada. Mas a recompensa futura é uma questão ainda pendente. Ela é decidida pela maneira como alguém edifica sobre o fundamento do Senhor Jesus. A nossa salvação independe de como edificamos. Ela depende apenas de como o Senhor edifica. Se a Sua obra é perfeita, certamente estamos salvos. Entretanto, se receberemos ou não a recompensa, ou se sofreremos perda, depende da nossa própria obra de edificação. Se alguém edifica com ouro, prata e pedras preciosas, coisas com valor eterno, sobre o fundamento do Senhor Jesus, certamente receberá galardão. Contudo, se edifica com madeira, feno e palha, não receberá galardão diante de Deus. Ele pode ter muito diante do homem, contudo não terá muito diante de Deus. Isso nos mostra que é possível uma pessoa perder seu galardão e ter sua obra queimada.
Permitam-me repetir isto: Graças a Deus que a questão da nossa salvação eterna foi decidida há mais de mil e novecentos anos. Quando o Filho de Deus foi levado à cruz, a nossa salvação foi decidida. Mas, se vamos receber ou não a recompensa, depende de como nos conduzimos. A verdade do evangelho é muito equilibrada. A salvação depende totalmente do Senhor Jesus. Conceder a salvação depende totalmente do Senhor Jesus. Entretanto, se alguém pode obter sua recompensa ou não, depende da sua própria obra de edificação. O homem deve crer, e também deve trabalhar. Esse trabalho não é propriamente dele, mas é aquilo que o Espírito Santo tem trabalhado nele. Aqui vemos que é possível perdermos nosso galardão. É igualmente possível sermos reprovados para o reino e privados da nossa coroa. Dá-se a impressão de que a nossa posição no reino não está decidida; ela está sujeita a mudanças e não está assegurada.

GUARDAR FIRME A EXULTAÇÃO DA ESPERANÇA

Hebreus 3:6 dá-nos uma palavra semelhante: “Cristo, porém, como Filho, sobre a sua casa; a qual casa somos nós, se guardamos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança”. Aqui parece incerto se somos ou não a Sua casa. O apóstolo disse que somos a Sua casa, se guardamos firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança. Que é essa casa e essa esperança? Essa esperança bendita não é outra senão a da volta do Senhor Jesus em glória, para estabelecer Seu reino na terra. Se um cristão tiver tal esperança, sabendo que o Senhor Jesus voltará novamente para estabelecer Seu reino em glória, e sabendo que todos os fiéis que fizerem a vontade de Deus reinarão com o Senhor, se ele guardar firme isso, ele será Sua casa. Hoje, nós já somos Sua casa. Somos todos pedras vivas edificadas casa espiritual. Isso é o que Pedro nos disse (1 Pe 2:5). Mas qual será nossa porção no reino futuro, depende de quão firme guardamos até ao fim a ousadia e a exultação da esperança. Essa questão não pode ser decidida de uma vez por todas. Existem muitos versículos na Bíblia sobre isso, e todos são muito claros. O problema da eternidade está totalmente decidido, mas a questão da posição e recompensa no reino depende de quão firme guardamos hoje a ousadia e a exultação da esperança.

SER MAIS DILIGENTE PARA FIRMAR O CHAMAMENTO E A ELEIÇÃO

Chegamos a 2 Pedro 1:10: “Por isso, irmãos, sede ao máximo diligentes, para firmar vosso chamamento e eleição, porque, fazendo isto de modo algum jamais tropeçareis” (lit.). Se alguém não conhece a verdade acerca da eleição, ele não verá que isso se refere a firmar a esperança do reino. Aqui diz que a eleição e o chamamento de uma pessoa não estão necessariamente firmados. Isso significa que uma pessoa se tornará não-salva novamente? Não, não significa isso, porque Romanos 11 claramente nos diz que o chamamento de Deus é irrevogável (11:29). Aqui não fala apenas sobre chamamento, mas também sobre eleição. Pedro colocou o chamamento e a eleição juntos. A Bíblia diz muitas vezes que muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. Com exceção de um trecho, sobre o qual não estou absolutamente certo, todos os outros lugares referem-se a muitos sendo salvos e poucos obtendo um galardão. Portanto, eleição aqui se refere à posição no reino.
Pedro disse: “Porque fazendo isto de modo algum jamais tropeçareis”. “Isto” são as coisas mencionadas nos versículos 5 a 7, tais como: fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade e amor. Se fizermos essas coisas, jamais tropeçaremos. Isso é o mesmo que dizer que, se formos os mais diligentes, nosso chamamento e eleição serão firmados. Essas expressões são correspondentes. A primeira dessas expressões diz que devemos ser diligentes para firmar nosso chamamento e eleição. A segunda delas diz que procedendo assim, jamais tropeçaremos.
O versículo 11 diz: “Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. A Bíblia mostra-nos que o reino de Cristo é eterno. Contudo, alguns entrarão nele somente na eternidade futura, enquanto outros entrarão nele no milênio. O reino de Cristo começa com o reino milenar. Portanto, Apocalipse 11:15 diz: “O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos”. Esse versículo nos mostra que o reino de Cristo está ligado à eternidade futura; ele perdura para todo o sempre. Entretanto, ele começa com o trombetear do sétimo anjo, isto é, com o início da tribulação. Quando Cristo começar Seu reinado, alguns entrarão no reino. Eles não apenas entrarão, mas ser-lhes-á rica e amplamente suprida a entrada. Portanto, firmar nosso chamamento e eleição é ser rica e amplamente supridos com a entrada nesse reino eterno.
Pode-se ver que a salvação foi decidida, mas a entrada no reino ainda não o foi. Uma vez que um cristão creia no Senhor Jesus, ele pode imediatamente louvar o Senhor, porque sabe que a questão de vida ou morte eternas está decidida. Entretanto, após alguém crer, há experiências diante dele; ele ainda tem o reino diante dele e a glória futura aguardando por ele. Alguns obterão estas coisas: o reino, a coroa, a glória e o galardão; enquanto outros, não. Alguns entrarão no reino de Cristo; outros não estarão aptos para entrar. Alguns não apenas entrarão, como também serão rica e amplamente supridos com a entrada no reino de Cristo. Isso não significa que aqueles que não puderem entrar no reino de Cristo não sejam salvos. Mas significa que serão retiradas a recompensa e a glória deles. Portanto, precisamos correr e nos esforçar. Se estaremos aptos para reinar com Jesus, o nazareno, no futuro, dependerá de como nos esforçamos hoje.

ENTRAR NO REINO PARA PARTICIPAR DA GLÓRIA DE CRISTO

Gostaria de saber se vocês, alguma vez, pensaram com que tipo de glória Deus recompensará Cristo no milênio, por aquilo que Ele sofreu há mil e novecentos anos. Uma recompensa deve equiparar-se ao sofrimento. Se um homem for rebaixado à mais inferior posição, sua recompensa deverá ser a maior. Suponha que sua casa pegue fogo ou que você se encontre em sério perigo, e um empregado seu arrisque-se e quase perca e a vida tentando salvá-lo. Como você o recompensaria? Você diria: “Eu o recompenso com vinte centavos”? Ninguém faria isso. A recompensa tem de equiparar-se ao sofrimento. Cristo glorificou a Deus de tal maneira e sofreu tal morte na cruz. Como Deus recompensará Cristo no futuro? E como Ele glorificará Cristo?
O reino será o tempo no qual Cristo e os cristãos receberão glória juntos. O reino será o tempo no qual Deus recompensará Cristo. Naquele tempo, nós também teremos uma porção. Se vamos ser achados dignos de receber a glória do Senhor, dependerá totalmente do resultado de nosso andar e trabalho pessoais. Não existe a questão de mérito no novo céu e nova terra. Mas no reino, somente os que tiverem mérito receberão glória. O Senhor sofreu perseguição, dificuldades e humilhação. Se hoje sofrermos perseguição, dificuldades e humilhação, da mesma forma, nós partilharemos uma porção com Ele no reino vindouro.

Capítulo Vinte e Dois

A maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos — A Disciplina no Reino (1)


A DISCIPLINA DE DEUS NA ERA VINDOURA

A Bíblia diz que o Senhor nos disciplina porque nos ama (Hb 12:6). O homem quando ama, é tolerante. Mas Deus quando ama, disciplina. Quando o homem ama, ele é negligente. Mas quando Deus ama, Ele é sério. Se Deus não nos tivesse amado, Ele não teria enviado Seu Filho para morrer pelos nossos pecados na cruz. Da mesma forma, se Deus não nos amasse, Ele não nos disciplinaria. O amor disciplinador de Deus é semelhante ao Seu amor salvador, o qual fez com que Ele enviasse Seu Filho para morrer por nós na cruz. Foi Seu amor que fez Seu Filho morrer em nosso favor. Da mesma forma é Seu amor que nos disciplina. Todo cristão deveria saber que não há contradição entre a disciplina de Deus e a graça de Deus. Pelo contrário, a disciplina de Deus manifesta a graça de Deus. Apesar de termos visto que uma pessoa não pode perecer após ser salva, jamais podemos dizer que essa pessoa nunca sofrerá a disciplina de Deus. Agora, a questão é se a disciplina de Deus restringe-se a esta era ou se ela se estende à era vindoura também. Essa é uma questão que muitos jamais consideraram. Então vamos examiná-la.
A Bíblia nos mostra que a disciplina de Deus não se restringe somente a esta era. Ela também pode ser vista na próxima era. Muitos restringiram a disciplina de Deus a esta era. Entretanto, você não consegue encontrar na Bíblia nenhuma base para tal ensinamento. Em se tratando de experiência cristã, certamente existe a possibilidade de disciplina na era vindoura. Muitos não têm sido disciplinados nesta era. Embora sejam filhos de Deus, eles não têm um viver consagrado nesta era. Fazem o que querem e em muitas coisas são desobedientes por toda a vida, até à morte. Embora alguns sejam zelosos e trabalhem pelo Senhor, e exteriormente até experimentem, muitos milagres e obras de poder, todas essas coisas são feitas segundo sua vontade pessoal e são contrárias ao propósito de Deus. Alguns têm até mesmo pecados evidentes e transgressões específicas. Não vemos muita disciplina neles. Pelo contrário, vivem tranqüilamente em paz partem deste mundo. Entretanto, além de perderem a recompensa, essas pessoas serão disciplinadas no reino. Elas experimentarão uma disciplina específica de Deus. Portanto, de acordo com a experiência, se um cristão viver na terra, hoje, sem controlar suas paixões, amando o mundo e andando nos seus próprios caminhos, ele será disciplinado na era vindoura. Temos ampla evidência disso na Bíblia.

A DISCIPLINA É PARA PURIFICAÇÃO

Segundo a Palavra de Deus, a disciplina é para purificação. O homem está sujo, portanto, precisa ser limpo. Na Bíblia não há somente um tipo de purificação. A primeira purificação é a do sangue, isto é, a purificação pelo sangue do Senhor Jesus. A Bíblia menciona-a mais de trezentas vezes, mas aqui nós citaremos somente dois versículos do livro de Hebreus: “Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” (9:22). Esse versículo fala sobre a purificação pelo sangue. E: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (1:3). Aqui podemos traduzir “depois de ter feito a purificação dos pecados” por “depois de ter feito a limpeza dos pecados”. Na Bíblia vemos que a purificação de nossos pecados é feita pelo sangue do Senhor Jesus. Após haver purificado nossos pecados, Ele ascendeu às alturas e assentou-se à direita da Majestade. Esse é o primeiro tipo de purificação na Bíblia.
Entretanto, apesar de muitas pessoas terem recebido a purificação pelo sangue do Senhor Jesus, elas ainda têm muitos pensamentos imundos, ainda estão muito corrompidas pelo mundo e têm muitos pecados carnais. Por ainda haver esse tipo de coisas, Deus utiliza outros meios para nos purificar. Esses meios de purificação são a disciplina e a punição, sobre as quais trataremos agora.
Em João 15:2 o Senhor diz: “Todo ramo em Mim que não dá fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto, Ele o limpa, para que produza mais fruto”. O limpar aqui é uma purificação. Deus poda os elementos desnecessários, supérfluos e obstáculos, para que os ramos produzam mais fruto. Isso é a disciplina de Deus. Portanto, o propósito da disciplina de Deus não é destruir-nos, mas aperfeiçoar-nos a fim de que nos tornemos mais dignos da glória de Deus, da santidade de Deus, e da justiça que é posta diante de nós.
Portanto, na Palavra de Deus existem dois tipos de purificação: Uma é a purificação pelo sangue do Senhor Jesus; a outra é a purificação que Deus faz por meio do nosso ambiente, família, saúde ou trabalho. Se formos indulgentes naquilo que não devemos ser, ou se nos recusarmos a eliminar o que for preciso, a mão disciplinadora de Deus recairá sobre nós em nosso ambiente.

A PURIFICAÇÃO NA ERA VINDOURA

Tal disciplina purificadora de Deus está restrita somente a esta era, ou ela também é encontrada na era vindoura? Pela Bíblia sabemos que a morte jamais muda alguém. Nenhuma passagem da Bíblia mostra o caso de uma pessoa que tenha sido mudada pela morte. Sabemos que no futuro estaremos com Deus eternamente. Na eternidade seremos como o Senhor; seremos santos, assim como o Senhor é santo. Mas será que podemos dizer que hoje somos tão santos como o Senhor é? que somos dignos de estar com o Senhor pela eternidade? É verdade que o sangue do Senhor Jesus nos limpou e o registro de nossos pecados foi apagado. Isso é um fato. Mas falando de modo subjetivo, temos Cristo vivendo em nós praticamente? Temos permitido o Cristo ressurreto expressar-se em nós? Nosso andar hoje ainda é muito diferente daquele que deverá ser na eternidade; os dois estão por demais distantes. Hoje estamos muito aquém da santidade, justiça e glória de Deus. Muitos cristãos ainda estão cheios de pecados e imundícies.
Sendo assim, aqui temos um problema. Se as coisas hoje estão tão ruins, mas serão tão boas no futuro, se são tão imperfeitas hoje, mas serão tão perfeitas no futuro, quando ocorrerá a mudança? Deve haver uma mudança em algum lugar ao longo do caminho. Se você não é perfeito hoje, mas o será no futuro, quando ocorrerá a mudança? Na eternidade, quando estivermos com Deus e o Cordeiro na Nova Jerusalém, estaremos na luz assim como Deus está na luz. Mas quando nos tornaremos esses tais? O conceito humano é que ao morrer mudaremos, mas a Bíblia nunca afirma que a morte física fará uma pessoa ser santa. Essa é uma doutrina que foi pregada há quinhentos ou seiscentos anos, porém a Bíblia nunca diz que a morte pode mudar uma pessoa. Se a morte pudesse mudar um cristão, então ela também poderia mudar uma pessoa não-salva. Contudo, a morte jamais muda alguém. O servo indolente ainda será indolente ao ser ressuscitado. As virgens néscias ainda eram néscias quando acordaram. Ao acordarem, a indolência e a insensatez delas não haviam sumido. Se uma pessoa não muda nesta era, mas estará diferente no novo céu e nova terra, e se a morte não muda as pessoas, então, quando ocorrerá a mudança? A Bíblia nos mostra claramente que na era vindoura haverá disciplina, e essa disciplina nos podará e purificará.

ALGUNS SERVOS DE DEUS SERÃO JULGADOS NA ERA VINDOURA

Precisamos ver alguns versículos que falam dessa disciplina futura. Lucas 12:45-48 diz: “Mas se aquele servo disser no seu coração: Meu senhor tarda em vir, e começar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera, e em hora que não sabe, e cortá-lo-á pelo meio e designará a sua parte com os incrédulos. Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, receberá muitos açoites. Aquele, porém, que não a conheceu e fez coisas dignas de açoites, receberá poucos açoites. Mas a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito foi confiado, muito mais lhe pedirão”.
Nesses versículos a primeira coisa que precisamos decidir é se o servo, aqui, pertence ou não ao Senhor. Ele é cristão? Ele é salvo? Sem dúvidas o servo aqui é salvo. Como posso dizer isso? Primeiro, porque no Novo Testamento, Deus nunca considera como Seus servos os que não lhe pertencem. Indo do Antigo Testamento para a era do Novo Testamento, o homem, primeiro, é um servo e a seguir torna-se um filho. Assim, no Antigo Testamento existem muitos servos não-salvos. Mas no Novo Testamento a ordem é invertida. Se um homem não é filho de Deus, ele não está qualificado para ser um servo de Deus. No Novo Testamento todos os servos de Deus são filhos. Portanto, o servo aqui referido, certamente é alguém salvo.
Há uma segunda prova de que o servo em Lucas 12:45-48 é salvo. A prova está nos versículos anteriores. Os versículos 42-44 dizem: “Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor constituirá sobre os seus servos para dar-lhes a razão a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Verdadeiramente vos digo que o constituirá sobre todos os seus bens”. Será o servo nesses versículos o mesmo servo dos versículos 45 e 46? ou será que existem dois servos? Há somente um servo aqui. O servo nos versículos 43 e 44 é o mesmo servo do versículo 45. Uma mesma pessoa pode ser um servo bom, assim como pode ser um servo mau. Esse servo pode ter dois pensamentos diferentes. Se ele for fiel ao encargo do senhor da casa e der aos conservos o sustento a seu tempo, o senhor o recompensará bem e confiar-lhe-á todos os seus bens. Mas se o servo disser em seu coração: “Meu senhor tarda; posso agir da maneira que quiser”, e começar a espancar os criados e as criadas, o senhor virá e julgará seus pecados. Isso prova que uma pessoa salva pode tanto ser um servo bom como um servo mau.
Se, infelizmente, uma pessoa salva tornar-se um servo mau, qual será o seu fim? O versículo 46 diz: “Virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera, e em hora que não sabe, e corta-lo-á pelo meio e, designará a sua parte com os incrédulos”. Esse castigo ocorrerá nesta era ou na era vindoura? Aqui, qual é a hora e o dia que ele não sabe? A hora e o dia que ele não sabe devem referir-se ao tempo da volta do Senhor. Isso é algo no futuro. O Senhor diz que um servo pode ser fiel ou infiel, e um servo infiel não somente perderá a recompensa, como também será condenado e receberá uma punição precisa. Os versículos 47 e 48 baseiam-se nas palavras do versículo 46, e dizem respeito ao futuro daqueles que pertencem ao Senhor e trabalham para Ele. “Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, receberá muitos açoites. Aquele, porém, que não a conheceu e fez coisas dignas de açoites, receberá poucos açoites. Mas a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito foi confiado, muito mais lhe pedirão”. Esses versículos não dizem que aquele que não conheceu não receberá nenhum açoite; dizem apenas que receberá poucos açoites. Ainda assim receberá os açoites. Deus não deixa que passem despercebidos os que não conhecem a Sua vontade, porque Sua Palavra está aqui. Aqueles que a conhecem devem ficar responsáveis diante Dele; aqueles que não a conhecem, mas fizeram coisas dignas de açoites, receberão os açoites, contudo receberão poucos açoites. Pois para todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e para aquele a quem muito foi confiado, muito mais lhe pedirão. Essa é a regra da punição futura de Deus. Lucas 12:47-48 estabelece para nós a questão da punição futura dos cristãos diante de Deus.
Meus amigos, estou aqui pregando o evangelho da graça. Quando um homem é salvo, ele é salvo para sempre. Isso é um fato imutável. Entretanto, após sermos salvos, se a nossa conduta é imprópria a cristãos, seremos punidos no futuro. Sou apenas um pregador da Palavra de Deus. Responsabilizo-me por falar apenas o que a Bíblia diz. Não me responsabilizo pelo que a Bíblia deveria dizer. Hoje, alguns podem perguntar por que os cristãos precisam ser castigados no futuro. Eu não sei. Você mesmo deve perguntar ao Senhor. Estou apenas dizendo o que a Bíblia diz. Essa é a palavra do Senhor.
Leiamos Colossenses 3:23-25: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo; pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas”. O contexto dessa passagem deixa claro que esses versículos referem-se a cristãos, não a incrédulos. Os versículos que vêm antes dessa passagem dizem como um cristão deve ser uma esposa, um marido, um pai ou uma mãe, um filho ou uma filha, um senhor ou um escravo. Em seguida Paulo diz que se um cristão comete injustiça, receberá o que fez injustamente, pois não há acepção de pessoas. Isso nos mostra claramente que um cristão receberá a recompensa no trono de julgamento de Cristo. Se ele cometer injustiça hoje, receberá recompensa segundo o que tiver feito injustamente. Se agir justamente, ele receberá recompensa segundo a sua justiça. Portanto, não podemos dizer que os cristãos não receberão certa porção de disciplina e punição.

RECEBER AS COISAS FEITAS POR MEIO DO CORPO

Agora leiamos 2 Coríntios 5:10: “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo”. Todos os leitores da Bíblia devem saber que o trono de julgamento de Cristo estará nos ares. Portanto, aqueles que estarão diante do trono de julgamento serão os que foram arrebatados. E quem pode ser arrebatado? A Bíblia nos diz que somente os cristãos podem ser arrebatados. Os que não são cristãos não podem ser arrebatados. Se um homem não é salvo, ele não é um filho de Deus e ainda não está qualificado para ser julgado naquele julgamento, pois aquele será o julgamento de Deus dentro da Sua própria família. A Segunda Epístola aos Coríntios 5:10 nos diz com que nos defrontaremos no futuro trono de julgamento de Cristo: Seremos recompensados pelas coisas feitas por meio do corpo. Em outras palavras, seremos recompensados pelas coisas que tivermos feito enquanto vivemos na terra, sejam elas boas ou más. Se fizer o bem por meio do corpo, você receberá uma boa recompensa. Se fizer o mal por meio do corpo, você receberá uma má recompensa. A Palavra de Deus nos mostra claramente que no trono de julgamento os que fazem o bem receberão um galardão e os que não fazem o bem perderão o galardão e serão recompensados segundo o mal que fizeram.
Por existir julgamento futuro, o apóstolo Paulo orou por misericórdia no futuro. A Segunda Epístola a Timóteo 1:18 diz: “O Senhor lhe conceda, naquele Dia, achar misericórdia da parte do Senhor. E tu sabes, melhor do que eu, quantos serviços me prestou ele em Éfeso”. Aqui, Paulo expressa o desejo de que Onesíforo possa achar misericórdia da parte do Senhor naquele dia. Se, no futuro, quando estiver diante do trono do julgamento, um cristão, no máximo, perder sua recompensa, e não for punido ou disciplinado, então essa palavra não tem significado. Paulo esperava que o Senhor fosse misericordioso com Onesíforo no Seu julgamento, pois ele havia ajudado muito a Paulo e tinha propagado o evangelho juntamente com ele. Se existissem quaisquer falhas que Onesíforo houvesse cometido, Paulo esperava que o Senhor fosse misericordioso com ele. Portanto, vemos que os cristãos não só precisam do perdão, mas também da misericórdia de Deus na época do julgamento no início do milênio; caso contrário, eles estarão sujeitos à punição de Deus.
No capítulo quatro da Segunda Epístola a Timóteo há outro versículo que devemos ler. O versículo 16 diz: “Na minha primeira defesa ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta!”. Essa é outra oração. Quando Paulo estava na Ásia, todos ali o abandonaram. Quando ele estava diante do rei sendo julgado, muitos cristãos ocultaram-se com medo da morte. Apesar de o haverem abandonado, Paulo orou para que tal pecado não fosse levado em conta contra eles. Portanto, vemos que no futuro Deus ainda julgará nossos pecados. Paulo orou aqui para que esse pecado não fosse contado contra eles. Há luz suficiente na Bíblia mostrando-nos que se uma pessoa salva não for disciplinada pela sua conduta desleixada nesta era, ou não se arrepender após a disciplina, ela não apenas perderá sua recompensa, como também será punida de um modo específico.
Em Mateus 12, o Senhor Jesus menciona especificamente a blasfêmia contra o Espírito Santo. Todos os pecados podem ser perdoados, todas as palavras faladas contra o Filho do Homem podem ser perdoadas; contudo, o pecado da blasfêmia contra o Espírito Santo não pode ser perdoado. Para esse pecado não haverá perdão nesta era, e não haverá perdão na era vindoura (v. 32). Na Bíblia, a era vindoura sempre se refere ao reino. Na língua original, a palavra “era” é aion, e não cosmos. Se a palavra fosse cosmos, estaria se referindo à organização do mundo. Mas, uma vez que é aion, ela se refere a um intervalo de tempo. Por isso, ela foi traduzida para era. Hoje a era é a era da graça. A próxima era será a era na qual o Senhor virá para reinar por mil anos. Ao ler Mateus 12, você percebe que o perdão de pecados está dividido em dois períodos. Alguns pecados são perdoados nesta era, e outros serão perdoados na era vindoura. Algumas pessoas, por meio de disciplina, são perdoadas nesta era. Algumas pessoas podem não ter agido bem hoje, mas elas serão perdoadas no reino. Algumas pessoas são perdoadas ao serem salvas, mas seus pecados subseqüentes não serão perdoados no reino; pelo contrário, elas serão severamente castigadas. Este é o ensinamento bíblico acerca da punição. A punição para o cristão nesta era está suficientemente clara. Alguns cristãos que pecam, cujos problemas não forem solucionados diante de Deus hoje, receberão punição no futuro.

O REINO É O TEMPO DA PUNIÇÃO FUTURA

Exatamente quando ocorrerá a punição futura? Está claro que haverá punição no futuro após o Senhor voltar; mas em que momento após a volta do Senhor isso ocorrerá? Consideremos três eras na Bíblia. A era presente pode ser chamada de era da graça. Ela pode também ser chamada de era do evangelho ou era da igreja. A era vindoura pode ser chamada de era do reino ou era do milênio, pois tal era durará somente mil anos (Ap 20:6). Após aquela era, ainda há outra era, que é uma era eterna. É a era do novo céu e nova terra.
A Bíblia apresenta-nos essas três eras. A era da igreja é a era da graça, porque a graça e o amor de Deus são manifestados nela. Nesta era Deus salva os injustos e leva o homem a receber a graça do Senhor Jesus. Tudo nesta era é proveniente da graça, mas a era vindoura será a era de justiça. A era eterna também será uma era de graça. Hoje a era é uma era de graça, e a era do novo céu e nova terra também será uma era de graça. Contudo, o reino é todo de justiça. Se você não tiver clareza sobre essas eras, sua leitura da Bíblia, sua teologia e sua compreensão bíblica estarão todas incorretas. Tanto a era da igreja quanto a era do novo céu e nova terra são eras da graça. Mas, a era do milênio é uma era parentética, especialmente preparada por Deus, para recompensar os fiéis e punir os pecaminosos. Aquele período será um período especial.
Tanto o Novo como o Antigo Testamento nos dizem que, neste período, Deus lida com o homem em justiça (Sl 72:2; 85:10-13; 96:13; 97:2; Is 11:5; 26:9; 33:5; 62:1; Jr 33:15; Dn 7:27). Podemos citar pelo menos duzentos versículos do Antigo e do Novo Testamento acerca do julgamento justo no reino.
Qual é a diferença entre o reino e o novo céu e nova terra? A Bíblia faz uma nítida distinção entre ambos. Consideremos Apocalipse 19:6-8: “Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-poderoso”. Por favor, note que aqui é o início do reino. “Alegremo-nos, exultemos, e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos”. Aqui lemos que o linho finíssimo foi dado à noiva. Embora tenha sido dado, ele é de justiça. O linho finíssimo é a justiça nos atos dos que crêem. Na língua original, a justiça mencionada aqui se refere à justiça nas ações. A palavra justiça tem o sentido de ações. Portanto, refere-se aos nossos próprios atos justos.
Agora leiamos Apocalipse 20:4-6: “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos”. Esses versículos nos dizem quem serão os reis que reinarão com Cristo por mil anos. O reino não é para todos. O reino é apenas para os mártires. É somente para os que rejeitam Satanás e o anticristo. Unicamente esses podem reinar por mil anos. Portanto, apenas os mártires podem reinar; somente aqueles que rejeitam Satanás e o anticristo serão reis. Isso nos prova que o reino milenar não é dado como um dom gratuito, mas é obtido por meio de boas obras diante de Deus. Apesar de vermos em outras passagens outros tipos de pessoas reinando, em Apocalipse vemos que deve haver justiça específica antes que possa haver participação nas bodas do Cordeiro. Somente os que são mártires podem ser reis. Sem ter a justiça específica e sem ser martirizado, nem um sequer pode ter parte no reinado. Assim é o milênio.

A ERA DO NOVO CÉU E NOVA TERRA

Consideremos agora Apocalipse 21:1-7: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as cousas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus e ele me será filho”.
A descrição do reino em Apocalipse 19 e 20 é totalmente diferente da descrição do novo céu e nova terra no capítulo 21. Ao descrever o reino, a Bíblia fala acerca daquilo que o homem fez. Entretanto, ao descrever o novo céu e nova terra, não há mais menção daquilo que o homem fez. A partir do capítulo vinte e um, a Bíblia simplesmente fala acerca daquilo que Deus faz. Deus disse que faz novas todas as coisas. Deus disse que o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe. Todas estas coisas serão realizadas por Deus. O tabernáculo de Deus estará com os homens. Ele habitará com os homens. Somos o Seu povo; Deus mesmo habitará conosco e será nosso Deus. Ele enxugará todas as nossas lágrimas, de maneira que não teremos mais morte, tristeza, pranto ou dor, pois todas as coisas anteriores terão passado, e todas as coisas serão novas. Deus disse que todas essas palavras são fiéis. Ele disse que Ele é o Alfa e o Ômega. O homem não tem parte aqui. Esses versículos prosseguem, dizendo-nos o que Deus tem feito. Não existe condição ou exigência. Se você deseja saber como obter tal maravilhoso novo céu e nova terra, apenas ouça esta palavra: “Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim” (v. 6a). Em outras palavras, tudo é feito por Deus. “Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida” (v. 6b). Após todas estas coisas terem sido ditas, tudo é resumido em uma sentença: “Eu, a quem tem sede darei de graça da fonte da água da vida”. Desde que haja sede, desde que haja a necessidade, Deus dará gratuitamente da fonte da água da vida. Isso é graça. Graça é dar da fonte da água da vida gratuitamente. O novo céu e nova terra são provenientes da graça. Deus é o Alfa e o Ômega, o início e o fim. O novo céu e a nova terra são totalmente da parte Dele.
O versículo seguinte diz: “O vencedor herdará estas coisas”. Quem são os vencedores a que João se refere? Os vencedores aqui diferem daqueles nas cartas às sete igrejas no início de Apocalipse. Aqui, por meio do uso do termo vencedores, uma distinção é feita entre as pessoas do mundo e os cristãos. A distinção aqui não é entre um tipo de cristão e outro tipo de cristão. Nos três primeiros capítulos de Apocalipse, vencer está relacionado com cristãos em meio a outros cristãos. Mas, no capítulo vinte e um, vencer relaciona-se a cristãos entre as pessoas do mundo. Como podemos beber da água da vida? Por meio da fé. Aqueles que crêem podem beber. Para que possamos beber de graça da água da vida, precisamos crer. É a fé que nos capacita a vencer o mundo. Comparado às pessoas do mundo, cada cristão é um vencedor. Entretanto, comparado a outros cristãos, muitos cristãos são falhos. Com relação às pessoas do mundo, todos somos vencedores, pois temos uma fé diante de Deus que elas não têm. Os que vencem e os que bebem da água da vida herdarão essas coisas, e Deus será o Deus deles, e eles serão filhos para Deus.
O capítulo vinte e dois também menciona o novo céu e nova terra. Os versículos 1 a 5 dizem: “Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos. Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos”. A principal coisa na Nova Jerusalém é o rio da água da vida. Esse rio procede do trono de Deus e do Cordeiro. Por ser o rio da vida, há a árvore da vida, com seu fruto da vida crescendo. Em Apocalipse 22, após tudo ter sido dito, uma coisa é proeminente, o rio da vida. Esse rio da água da vida flui por toda a cidade. Como podemos desfrutar o rio da água da vida? No final de Apocalipse, após o era do reino e a era da igreja terminarem, o versículo 17 diz: “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”. Em outras palavras, todos são bem-vindos no novo céu e nova terra. No novo céu e nova terra há um trono, e do trono sai um rio. O rio provém de Deus e tem o trono como sua fonte. O trono é o centro do novo céu e nova terra.
Além disso, a palavra Cordeiro nunca é mencionada com relação ao reino. Mas no novo céu e nova terra, o Cordeiro certamente é mencionado. O trono é de Deus e do Cordeiro (22:1); o Senhor Deus Todo-poderoso e o Cordeiro são o templo da cidade (21:22); e o Cordeiro é a lâmpada da cidade (21:23). O fato de o Cordeiro ser mencionado com relação ao novo céu e nova terra indica que aquela será uma era da graça. Quando chegamos ao final de Apocalipse, a igreja, o reino, e a tribulação não são mais mencionados. Em vez disso, descobrimos apenas que todos os que estão sedentos podem vir e tomar de graça da água da vida. Isso significa que você é convidado para o novo céu e nova terra. Tudo é gratuito. E, ser gratuito significa que provém da graça. Portanto, o novo céu e nova terra são totalmente distintos do reino. O novo céu e nova terra são gratuitamente dados a nós. Segundo o ensinamento de Apocalipse, podemos dizer que no novo céu e nova terra Deus lida com o homem baseado na graça. No reino, entretanto, Ele lida com os cristãos com base na justiça. Portanto, devemos admitir que é no reino que Deus nos disciplina. No novo céu e nova terra tudo é recebido gratuitamente.
Nisso vemos a relação entre o presente e o futuro. Se hoje amarmos o mundo, andarmos segundo a carne, e tivermos um viver desleixado, na era por vir seremos disciplinados por Deus. Mas, se amarmos o Senhor hoje e abandonarmos tudo por causa do Senhor, receberemos a graça de Deus e o Seu galardão. Esse é o ensinamento bíblico acerca destas três eras. Eu não sou responsável pelo que estou falando aqui. Estou falando apenas a Palavra de Deus. A Palavra de Deus diz que na era vindoura haverá essas coisas. Deus mesmo se responsabiliza pelas Suas próprias palavras. Eu apenas sei que o Filho de Deus disse essas palavras. É verdade que o homem pode desfrutar a vida eterna hoje. Mas o reino é o tempo no qual Deus lidará com Seus filhos. Se você tiver um viver desleixado hoje, será disciplinado no futuro. Portanto, temos uma segurança eterna, mas também temos um perigo temporário. Temos a garantia do novo céu e nova terra. Temos, entretanto, o perigo do reino. No reino poderemos sofrer severa punição e disciplina. Embora a salvação tenha sido estabelecida pela obra do Senhor Jesus, a recompensa será decidida pela obra de cada um. A salvação vem pela obra do Senhor Jesus. A recompensa vem pela nossa própria obra. Somos recompensados por obedecer à vontade de Deus e por não andar segundo a nossa própria vontade. Que possamos valorizar a graça que temos recebido, receber a advertência de Deus e perseguir a recompensa do reino.

Capítulo Vinte e Três

A maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos — A Disciplina no Reino (2)


RECEBER VIDA NO REINO NA ERA VINDOURA

Ao pregarmos o evangelho, dizemos às pessoas que recebemos a vida eterna, crendo em Jesus Cristo. Se uma pessoa crer Nele, ela terá a vida eterna. Todo aquele que compreende a Palavra de Deus sabe que na era da igreja hoje, assim que uma pessoa crê, ela tem a vida eterna. Essa é a nossa mensagem. Mas a questão agora é: Quando é que esta vida eterna é manifestada, revelada e desfrutada? Hoje, nossa mente e espírito estão sendo constantemente perseguidos pela morte. Satanás ainda é muito forte. Sendo assim, quando a vida eterna será plenamente manifestada? Será no novo céu e nova terra? ou isso ocorrerá no reino? Leiamos João 5:24-29: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra e crê Naquele que Me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão. Porque assim como o Pai tem vida em Si mesmo, assim também concedeu ao Filho ter vida em Si mesmo. E Lhe deu autoridade para exercer o julgamento, porque é o Filho do Homem. Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo”. Aqui, o versículo 24 diz que desde que uma pessoa creia, ela tem a vida eterna e não entra em juízo. Aquele que ouve a palavra do Senhor e crê no Pai que enviou o Senhor tem a vida eterna. Contudo, o versículo 29 diz que os que tiverem feito o bem sairão para a ressurreição da vida, enquanto os que tiverem praticado o mal sairão para a ressurreição do juízo. A palavra vida (zoe, no grego) no versículo 29 é a mesma palavra do versículo 24. Aqueles que tiverem praticado o bem sairão para a ressurreição da zoe, e aqueles que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo. O versículo 24 diz claramente que já temos a vida eterna. Mas o versículo 29 diz que alguns não terão a vida eterna, senão após a ressurreição. Você consegue ver a diferença aqui?
O versículo 25 ocorre na era da igreja. Diz que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus. Nós todos somos esses mortos. Ouvimos a voz do Filho de Deus e, como resultado, vivemos. O versículo 28 diz: “Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão”. O versículo 25 diz que vem a hora e já chegou. O versículo 28, entretanto, omite a frase “e já chegou”, dizendo apenas que vem a hora. Portanto, refere-se ao futuro, e não ao presente. Além disso, aqui o Senhor Jesus diz que no futuro todos os que se acham nos túmulos sairão. No versículo 25, Ele refere-se “aos mortos”. Aqui Ele refere-se aos mortos que se acham nos túmulos. O versículo 25 fala sobre os mortos, referindo-se àqueles mortos em ofensas e pecados. Quando o Senhor fala no versículo 28 dos mortos nos túmulos, Ele não está referindo-se à morte da alma em pecado; pelo contrário, Ele está referindo-se aos mortos no corpo. Todos os que estão mortos em seus corpos, isto é, os que estão nos túmulos, ouvirão a voz do Filho de Deus pela segunda vez. Os que tiverem feito o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal sairão para a ressurreição do juízo. Esta segunda vez é o tempo em que todos os que estiverem nos túmulos ressuscitarão.
Leiamos Marcos 10:30: “Que não receba cem vezes mais agora, neste tempo, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no século vindouro a vida eterna”. Aqui o Senhor Jesus menciona novamente a vida eterna. Devemos perceber que tipo de vida eterna é essa. A vida eterna em Marcos 10:30 não é a vida eterna da era da igreja referida no Evangelho de João ou a vida eterna no novo céu e nova terra. Por favor, perceba que essa vida eterna será na era vindoura. A frase “no século vindouro” na língua original significa a era seguinte ou a era subseqüente. Hoje estamos na era da graça. A próxima era será a era do reino, isto é, a era do milênio. Aqui, o Senhor diz que uma pessoa pode receber a vida eterna na era vindoura. Isso não se refere à vida eterna que recebemos quando cremos no Senhor.
Antes que o Senhor falasse essa palavra, um homem veio a Jesus, perguntando o que deveria fazer para herdar a vida eterna. Essa questão estava relacionada com as obras. Assim sendo, o Senhor Jesus lhe disse acerca da vida eterna que é ganha por meio das obras. Ele disse ao jovem que antes que pudesse herdar essa vida eterna, ele deveria guardar a lei e vender tudo o que tinha. No Evangelho de João, o Senhor Jesus nos mostra claramente que a vida eterna provém da graça e não das obras. Então, por que Ele diz aqui que devemos guardar a lei e vender tudo o que temos, antes de poder herdar a vida eterna? É porque a vida eterna descrita aqui em Marcos 10 é diferente daquela descrita em João. A vida eterna em Marcos 10 é recebida por meio de obras. A vida eterna em João é recebida pela fé.
Após o jovem partir, o Senhor Jesus olhou ao Seu redor e disse aos discípulos: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (v. 23). Ao dizer isso, o Senhor colocou a vida eterna e o reino juntos. Após o Senhor Jesus dizer isso, os discípulos quiseram saber qual o significado da Sua palavra. O Senhor disse: “Filhos, quão difícil é para os que confiam nas riquezas entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus”. Os discípulos ficaram maravilhados e perguntaram quem então poderia ser salvo. O Senhor disse que “para os homens é impossível; mas, não para Deus, porque para Deus tudo é possível”. Pedro, então, perguntou-Lhe o que ganharia por ter deixado tudo para segui-Lo, e o Senhor falou sobre as coisas que estavam por vir. “Jesus respondeu: Em verdade vos digo: Ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por causa de Mim e por causa do evangelho, que não receba cem vezes mais agora, neste tempo, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no século vindouro a vida eterna”. Eles receberão a vida eterna no reino.
Portanto, a vida eterna de que se fala aqui é a vida eterna no reino. A vida eterna no reino é obtida por meio de obras. Ela é obtida através de consagração, de sofrimento e por suportar injúrias pelo Senhor. Para o cristão, a questão da vida eterna nesta era está resolvida. A questão da vida eterna na eternidade também está resolvida. Contudo, se ele terá ou não vida eterna no reino depende de: se ele ama ou não o Senhor; se abandona tudo por causa do evangelho; se nega a si mesmo em todas as coisas e se rejeita o mundo. Depende se ele está ou não vivendo para o dinheiro, para o ganho material, para sua família, ou para as pessoas do mundo. Se ele ama ao Senhor e abandona todas as coisas por causa do evangelho, o Senhor prometeu que ele não perderá essas coisas mesmo nesta era, mas pelo contrário, ganhará centenas de vezes mais. Se alguém desistir de algo apenas um pouco, por causa do Senhor, ele colherá o cêntuplo de volta no banco celestial. Quem consegue obter um juro tão alto? O depósito de um dólar renderá cem dólares. Você não consegue encontrar nenhum banco como esse no mundo. Somando-se a isso, há a vida eterna na era vindoura.
Em muitas porções de Mateus, a frase “vida eterna” é usada como sinônimo da palavra “reino”. Nessas porções, os vivos são os que entram no reino. Por exemplo, Mateus 7:14 diz que a porta é estreita e apertado é o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que a encontram. Hoje, muitos pregam o evangelho usando essa passagem, e exortam as pessoas a entrar pela porta estreita e tomar o caminho apertado. Todavia, se alguém fosse salvo por entrar pela porta estreita e por tomar o caminho apertado, a salvação não seria pela graça, mas por obras, e se tornaria uma recompensa por entrar pela porta estreita e por se tomar o caminho apertado. A vida eterna, como é revelada no livro de Mateus, não se refere à vida eterna de hoje, mas sim, à vida no reino milenar. Para poder reinar com Cristo no reino, uma pessoa deve entrar pela porta estreita e tomar o caminho apertado. Se alguém não obedecer aos mandamentos de Deus e à Sua vontade, perderá a vida eterna. Entretanto, isso não significa que ele irá perecer, mas perderá a vida eterna no reino.
Se esse problema estiver resolvido, então o problema das eras na Bíblia estará claramente solucionado. Na era da igreja, todas as coisas são pela graça. Ao final da era da igreja, Deus estabelecerá Seu reino por meio do Seu Filho. No reino, somente os servos fiéis reinarão com Cristo ao serem ressuscitados de entre os mortos. A Bíblia nos mostra isso muito claramente.

A PUNIÇÃO NO REINO MILENAR

A Bíblia diz que muitos filhos de Deus terão uma punição específica. Muitos cristãos têm um andar inadequado. Eles não vivem de maneira piedosa. Amam o mundo e andam conforme a própria vontade. Adoram a Deus segundo a maneira do homem. Não obedecem à Palavra de Deus ao cuidar da obra de Deus, mas em vez disso fazem o que eles mesmos gostam de fazer. Eles tentam agradar a homens. Buscam a glória do homem em vez da glória de Deus e não querem ocupar o mesmo lugar de vergonha que o Senhor ocupou. Eles cometeram muitos erros e pecados e não foram disciplinados pelo Senhor nesta era. Após morrer e ser ressuscitados naquele dia, poderão eles reinar com o Senhor? A Bíblia diz que primeiro devemos sofrer e suportar injúrias com Ele, antes que possamos reinar e ser glorificados com Ele (2 Tm 2:12). Muitos cristãos, não apenas nunca sofreram, como têm muitos pecados. Eles amam o mundo e andam segundo a carne. Quando deixarem o mundo, eles ainda terão muita injustiça e muitos pecados que não foram tratados. A Bíblia nos mostra que tais cristãos terão uma punição específica e definida.
Mateus 18:23-35 fala de um servo sendo perdoado de suas dívidas pelo seu senhor. Outro conservo tinha uma dívida com o primeiro servo. Mas o servo que foi perdoado de sua dívida não queria perdoar seu conservo. O primeiro servo definitivamente representa uma pessoa salva, pois ele rogou pelo perdão do seu senhor, e o senhor, movido pela compaixão, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Todos somos pessoas desamparadas vindo ao Senhor buscar graça. O Senhor perdoou nossa dívida e deixou-nos ir. Se o primeiro servo representa um cristão, então o que quer que ele expresse, representa aquilo que iremos expressar. A maneira como o senhor lida com seu servo será a maneira como o Senhor lidará conosco.
Os versículos 28-30 dizem: “Saindo, porém, aquele servo”. Ele saiu porque agora era um homem livre. “Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu conservo, prostando-se, implorava-lhe dizendo: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que pagasse a dívida”. Essa passagem é sobre um cristão que não perdoa o pecado de outro. Você é alguém que foi perdoado, mas não deseja perdoar. O Senhor perdoou-lhe dez mil talentos. Agora seu irmão lhe deve apenas cem denários, mas você diz em seu coração que ele deve restituir-lhe. Ele deve devolver-lhe até o último centavo. Qual será, então, o resultado? Os versículos 31-33 continuam: “Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se grandemente, e foram e relataram minuciosamente ao seu senhor tudo o que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o a si, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, ter misericórdia do teu conservo, como também eu tive misericórdia de ti?” Que aquela pessoa representa uma pessoa salva é novamente provado pelo fato de que o Senhor teve misericórdia dele. O Senhor disse: Não devias tu, igualmente, ter misericórdia do teu conservo, como também eu tive misericórdia de ti? Não devias perdoar teu conservo como eu te perdoei? Isso prova que essa pessoa representa alguém que recebeu a misericórdia e o perdão de Deus. Ele deve ser alguém que já tem a vida, contudo, não perdoa outros cristãos. “E, irando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a dívida”. Essa pessoa a quem fora concedida misericórdia e fora perdoada foi entregue aos verdugos até que pagasse toda a dívida ao Senhor. Se ele podia devolver tudo o que devia é outra questão. O fato é que ele teria de sofrer. Isso nos mostra que se um cristão não perdoar a outro, naquele dia o Senhor lidará com ele da mesma forma como ele lidou com os outros. Se você não perdoar seu irmão, o Senhor lidará com você segundo a sua atitude implacável.

MISERICÓRDIA E JULGAMENTO

Sabemos que nosso Deus é um Deus justo. No futuro, no trono de julgamento, Ele nos julgará segundo a justiça. Entretanto, apesar de haver justiça no trono de julgamento, também haverá misericórdia. Se você mostra misericórdia para com os outros, o Senhor será misericordioso para com você. Se você é implacável para com os outros, e se você é tão justo e intransigente com as falhas e fraquezas dos outros, o Senhor lidará com você apenas com justiça naquele dia. Se você é misericordioso para com os outros, o Senhor mostrará misericórdia para com você. Lucas 6:37 diz que se você não julgar, não será julgado; se você não condenar, não será condenado, e se você perdoar, será perdoado. Alguns cristãos são mesquinhos demais hoje. Ao criticarem os outros, eles apontam cada erro cometido. Quando dão o melhor de si para criticar e julgar os outros, eles devem ser cuidadosos. No futuro, Deus lidará com eles da mesma maneira com que eles lidam com os outros. Com a medida com que medir, você será medido. Se você dá boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, o Senhor lhe dará da mesma forma. Aquele que perdoa, será perdoado, e àquele que mostra misericórdia, misericórdia será mostrada.
Portanto, a Bíblia diz que a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2:13). Há uma coisa sobre a qual o juízo não pode triunfar — sobre o fato de uma pessoa mostrar misericórdia para com os outros por toda sua vida. Não estamos livres de erros. Contudo, se mostrarmos misericórdia para com os outros hoje, Deus será incapaz de lidar conosco. Muitos cristãos são incapazes de perder quando lidam com os outros. Eles discutem o tempo todo com os outros, dão pouca razão aos outros e concedem a si mesmos toda a razão. Mas hoje, pelo contrário, deveríamos mostrar misericórdia para com os outros. Quando chegar o tempo do julgamento, haverá alguns contra os quais nem mesmo o Senhor do juízo será capaz de levantar coisa alguma. Isso não significa que o homem possa propositadamente alterar o mandamento de Deus. Significa apenas que, se você é misericordioso com os outros enquanto viver na terra, Deus será misericordioso com você. Sua misericórdia hoje triunfará sobre seu juízo amanhã. A maneira como você julga os outros será a maneira como será julgado. Esta graça é justa. A forma como você trata os outros será a mesma forma como o Senhor o tratará. A sua maneira de lidar com os outros moldará um vaso, com o qual Deus medirá o julgamento para você. Tiago 2:13 diz: “Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo”. Aqueles que não usam de misericórdia para com os outros serão julgados sem misericórdia. Mas, para aqueles que usam de misericórdia para com os outros, a misericórdia triunfará sobre o juízo. A sua misericórdia excederá o juízo. Isso é um fato maravilhoso.
Mateus 18 nos mostra com clareza que os filhos de Deus ainda podem cair nas mãos dos verdugos. Se isso ocorrer, eles terão de permanecer ali até pagar toda a dívida. É claro que não há como quitar toda a dívida. Mas pelo menos chegará o dia em que eles aprenderão a ser misericordiosos e a perdoar aos outros assim como o Senhor usou de misericórdia para com eles e lhes perdoou. Naquele tempo eles terão de usar de misericórdia para com outros. Por isso, no versículo 35 o Senhor diz: “Assim também Meu Pai celeste vos fará, se de coração não perdoardes cada um a seu irmão”. Essa porção da Palavra não é falada aos incrédulos, mas aos cristãos, e mostra a relação que existe entre o Pai celeste e Seus filhos, e entre os irmãos.
Antes dessa porção da Palavra, Pedro perguntou ao Senhor: “Até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe ei de perdoar? Até sete vezes?” (Mt 18:21). O Senhor lhe disse que deveria perdoar até setenta vezes sete. Em seguida o Senhor falou sobre os dois servos. Se não perdoar a seu irmão, Pedro deparará com punição. A palavra do Senhor mostrou a Pedro que existe a possibilidade de ser entregue aos verdugos; existe a possibilidade de ser lançado em prisão. Se para Pedro existe a possibilidade de ser entregue aos verdugos e atirado na prisão, para nós também há a possibilidade de ser tratados da mesma forma. Essa é a razão de o Senhor usar o plural “vos” no versículo 35. Sua palavra não é apenas para Pedro, é para cada um de nós. Se não perdoarmos de coração a cada um de nossos irmãos, o Pai celeste fará a mesma coisa conosco. Por favor, lembre-se de que a nossa salvação eterna no novo céu e nova terra é inabalável. Somos gratos ao Senhor pois isso é pela graça. Mas se hoje nossos problemas não forem tratados especificamente, ainda sofreremos punição específica no reino futuro.

Capítulo Vinte e Quatro

A maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos — A GEENA DE FOGO NO REINO


Há muitas passagens na Bíblia que mencionam a punição de Deus para os cristãos derrotados, no reino milenar. Examinaremos agora essas passagens e, posteriormente, chegaremos a uma conclusão sobre elas.

A ENTRADA E A POSIÇÃO NO REINO

Consideremos primeiramente Mateus 18:1-3: “Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando a Si uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”. Aqui os discípulos fizeram uma pergunta sobre o reino dos céus, uma pergunta acerca da posição no reino. Não se trata de uma pergunta envolvendo salvação e perdição, mas diz respeito a ser grande ou pequeno, superior ou inferior, no reino. O Senhor Jesus mostra-nos que, a menos que nos convertamos e nos tornemos como crianças, não poderemos entrar no reino dos céus. A seguir, o versículo 4 diz: “Portanto, aquele que a si mesmo se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus”. O versículo 3 nos dá a condição para entrar no reino, enquanto o versículo 4 nos dá a maneira de ser grande no reino. O versículo 3 diz que devemos converter-nos e tornar-nos como crianças antes de poder entrar no reino, e o versículo 4 diz que se continuarmos a ser crianças e nos humilharmos, seremos os maiores no reino dos céus. Isso nos mostra que no reino devemos continuar da mesma maneira que começamos. A direção que tomamos para entrar no reino deve ser a mesma para continuar nele. Para entrarmos no reino dos céus, temos de converter-nos e tornar-nos como crianças; e para sermos grandes no reino dos céus, temos de continuar a ser humildes como crianças. Aqui o Senhor continua a ressaltar a questão de sermos como crianças.
Em seguida, o Senhor diz: “E qualquer que acolher uma criança, tal como esta, por causa de Meu nome, a Mim Me acolhe” (v. 5). Quem quer que acolha alguém como esta criança por causa do nome de Cristo, isto é, alguém que se converte e se torna como uma criança e continua a ser humilde como esta criança, recebe a Cristo. “Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar” (v. 6). Essa palavra indica que fazer alguém tropeçar é um problema maior do que sofrer e ser morto. Suponha que alguém o matasse e atirasse seu corpo ao mar. Você nem mesmo seria enterrado adequadamente, o que sem dúvida seria uma tragédia. No entanto, se você fizer alguém tropeçar, seu destino será pior do que esse. O versículo 7 diz: “Ai do mundo por causa dos tropeços; porque é necessário que venham tropeços, mas ai do homem por quem vem o tropeço.”

A GEENA DE FOGO NO REINO

Os versículos 1 a 7 de Mateus 18 são palavras gerais do Senhor, e podemos mencioná-las de maneira breve. Queremos dar maior atenção às palavras que iniciam o versículo 8. Aqui o Senhor Jesus estende o assunto para dar ênfase que não apenas é errado fazer os outros tropeçarem, mas até mesmo fazer tropeçar a si mesmo é questão séria e grave. O versículo 8 diz: “Se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o, e lança-o de ti”. A quem se refere o “ti” aqui? Nos versículos 3 a 7, “vos” refere-se aos discípulos que fizeram a pergunta no versículo 1. Após o Senhor Jesus responder-lhes, Ele lhes disse para serem vigilantes e não serem tropeço para os outros. As palavras do Senhor o versículo 8 são dirigidas às mesmas pessoas. Se sua mão ou seu pé faz com que você tropece, é melhor cortá-los e lançá-los fora. É claro que isso não deve ser tomado literalmente. Se as suas mãos roubam e seus pés andam por caminhos indevidos, isto é, se existe pecado e lascívia em você, você deve lidar com eles. “Melhor te é entrar na vida aleijado ou coxo do que, tendo duas mãos ou dois pés, ser lançado no fogo eterno” (v. 8).
O Senhor mostra-nos aqui que se os cristãos cometerem pecados e os tolerarem, eles sofrerão: ou serão lançados no fogo eterno com as duas mãos e os dois pés, ou entrarão na vida com uma mão ou um pé. Há também os que não controlarão suas concupiscências e serão lançados no fogo eterno. O fogo é um fogo eterno, mas aqui não diz que eles permanecerão no fogo eterno para sempre. O que o Senhor Jesus não disse é tão significativo quanto o que Ele disse. Se uma pessoa tornou-se cristã, mas suas mãos ou pés pecam o tempo todo, ela sofrerá a punição do fogo eterno na época do reino dos céus; ela não sofrerá essa punição eternamente, mas apenas na era do reino.
Que significa cortar uma mão ou um pé? Quando um homem corta sua mão ou pé, ele ainda pode pecar. Se não tiver pé, ele pode andar de carro. Se uma de suas mãos é cortada, ele ainda pode pecar com a outra mão. A intenção do Senhor não é que cortemos a mão ou o pé, pois mesmo que cortemos uma mão, ainda podemos não remover nossa lascívia. Portanto, esta palavra não deve referir-se ao corpo exterior, mas à concupiscência interior. O que temos de arrancar é aquilo que nos força a pecar.
Outra coisa que temos de perceber é que a pessoa da qual se fala aqui é um cristão, pois somente um cristão já tem todo o corpo limpo e pode assim entrar na vida após lidar com a lascívia em um único membro do seu corpo. Para os incrédulos não seria suficiente cortar uma mão ou um pé, porque mesmo que eles cortassem ambas as mãos e ambos os pés, ainda assim iriam para o inferno. A fim de entrar no reino dos céus, é melhor um cristão ter o corpo incompleto do que ir para o fogo eterno por causa de um tratamento incompleto.
A seguir, o versículo 9 diz: “Se o teu olho te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho do que, tendo dois olhos ser lançado na Geena de fogo”. Isso nos mostra que se uma pessoa salva não lida com sua lascívia, ela não será capaz de entrar na vida, mas irá para o fogo eterno. O fogo eterno aqui é a Geena de fogo. A Bíblia nos mostra que um cristão tem a possibilidade de sofrer a Geena de fogo. Evidentemente, embora possa sofrer a Geena de fogo, ele não sofrerá para sempre, mas sofrerá somente durante a era do reino.
Mateus 18 não é a única porção das Escrituras que diz isso. Em outras porções da Bíblia também há o mesmo ensinamento. Por exemplo, no Sermão do Monte em Mateus 5—7 há palavras claras do mesmo tipo. Mateus 5:21-22 diz: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem disser a seu irmão: Raca, estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; e quem lhe disser: Moré, estará sujeito à Geena de fogo”. No início do capítulo cinco, lemos que o Senhor Jesus viu a multidão, contudo Ele não ensinou à multidão. Pelo contrário, Ele ensinou aos discípulos (v. 1). O Sermão no Monte é para os discípulos. Portanto, aquele que insulta a outro, no versículo 22, é um irmão. Ele chama outro irmão de “Raca”, que quer dizer “imprestável” ou tolo. Quando chama seu irmão dessa forma, ele fica sujeito à Geena de fogo. Isso não se refere a uma pessoa não-salva, pois um não-salvo irá ao inferno mesmo que não chame ninguém de tolo. Toda vez que a Bíblia fala sobre obras, ela se refere a alguém que pertence a Deus. Se uma pessoa não pertence a Deus, não há necessidade de mencionar tais coisas. Aqui, se trata de uma pessoa salva, um irmão, mas por ter ofendido a seu irmão ele está sujeito à Geena de fogo.
O versículo 23 diz: “Se estiveres apresentando a tua oferta no altar e, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti”. Muitas vezes as pessoas guardam coisas contra nós de propósito, e não há nada que possamos fazer sobre isso; mas se alguém se queixar por causa do nosso insulto, devemos ser cuidadosos ao trazer a oferta ao altar. Se pensar mal de um irmão e falar algo contra ele, você deve ir a ele e lidar com essa questão. “Deixa ali perante o altar a tua oferta e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, vem apresentar a tua oferta” (v. 24). O importante é reconciliar-se com seu irmão. O versículo 25 diz: “Entra em acordo sem demora com o teu adversário enquanto estás com ele a caminho”. Seu irmão é quem se queixa, e você é o réu. Agora ele o está levando ao tribunal: “Para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas lançado à prisão” (v. 25). Tal fato ocorrerá no reino. O reino será muito rigoroso.
Agora direi algumas palavras francas e sérias. Dois irmãos ou duas irmãs que estejam em discórdia não podem estar juntas no reino. No reino vindouro, haverá somente amor e misericórdia; apenas os que amam e têm misericórdia dos outros poderão estar no reino dos céus. Se estou envolvido em uma discussão com um irmão, e se a questão não for resolvida nesta era, então, no futuro, ou ambos seremos excluídos do reino, ou somente um de nós entrará. Não será possível ambos entrarmos. É impossível termos problemas uns com os outros e ainda reinar ao mesmo tempo no milênio futuramente. No reino todos os cristãos serão unânimes. Não haverá absolutamente quaisquer barreiras entre duas pessoas. Se hoje enquanto estamos na terra, tivermos algum atrito com qualquer irmão ou irmã, se tivermos obstáculos com qualquer irmão ou irmã, temos de ser cuidadosos. Poderá ocorrer de nós entrarmos e o outro ser excluído, ou de o outro entrar e de nós sermos excluídos, ou de ambos sermos excluídos. O Senhor diz que enquanto estiver com seu irmão a caminho, você deve reconciliar-se com ele. Isso significa que enquanto você e ele estiverem vivos e antes que o Senhor Jesus volte, você tem de reconciliar-se com seu irmão. O Senhor não irá tolerar que dois inimigos fiquem queixando-se um do outro no reino. Hoje podemos fazer queixas sobre os outros com muita facilidade; mas tais queixas vão manter a nós, ou a outros, ou a ambos, do lado de fora do reino. Parece que hoje a igreja é muito livre, mas não será assim naquele dia. “Enquanto estás com ele a caminho”, diz o Senhor. Se você morrer, se ele morrer ou se o Senhor Jesus voltar, esse caminho terá acabado. Portanto, você deve resolver a questão rapidamente, antes que o Senhor volte e enquanto você e ele estão a caminho. “Para que o adversário não te entregue ao juiz”, o juiz é o Senhor Jesus; “o juiz ao oficial de justiça”, o oficial de justiça é o anjo; “e sejas recolhido à prisão”. Isso nos mostra claramente que um irmão que tenha ofendido a outro irmão sofrerá uma punição muito severa.
Se estudar esta passagem cuidadosamente, você verá que a prisão aqui é a Geena de fogo no versículo 22, porque o versículo 23 começa com “portanto”. As palavras do versículo 23 em diante são uma explicação das palavras do versículo 22. O versículo 22 diz que qualquer um que chame seu irmão de Moré estará sujeito à Geena de fogo. Os versículos 23 a 25 seguem dizendo que aqueles que não se reconciliarem com seus irmãos serão lançados na prisão. Portanto, a prisão no versículo 25 é evidentemente a Geena de fogo do versículo 22. Está claro que não existe possibilidade de um cristão perecer eternamente; contudo, se um cristão tiver qualquer pecado de que não tenha se arrependido e confessado, o qual não foi perdoado, ele estará sujeito à Geena de fogo. Note quão severas são as palavras do Senhor no versículo 26: “Em verdade te digo: De modo algum sairás dali, enquanto não pagares o último centavo”. Existe a possibilidade de sair, se a pessoa pagar tudo. Na era vindoura, ainda há a possibilidade de perdão, mas a pessoa não poderá sair até que pague o último centavo e ponha tudo em ordem com seu irmão.
Os versículos 27 a 30 formam outra seção. Essa seção é semelhante à anterior. “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para cobiçar, no coração já adulterou com ela”. O mandamento no Antigo Testamento diz que não devemos cometer adultério, mas o mandamento do Novo Testamento diz que não podemos sequer ter pensamentos adúlteros. Aqui, a palavra “mulher”, na língua original, refere-se à esposa de outro homem. Se a mulher não fosse esposa de outro homem, não haveria possibilidade de adultério, pois adultério é a infidelidade no casamento. Se não for a esposa de outro homem, não pode ser considerado como adultério; é fornicação. A Bíblia julga a fornicação, mas não tanto quanto ela julga o adultério. Aqui se diz que um pensamento adúltero é produzido com relação à esposa de outro.
Segundo, o significado da palavra “olhar”, na língua original, não é tão amplo quanto o da nossa palavra “olhar”. A palavra “olhar” na língua original coloca muitas pessoas nesta categoria de pecado, pois ela não implica um olhar casual, mas um olhar intencional. Olhar pode ser simplesmente olhar de relance, de modo acidental para algo na rua. “Observar” é uma palavra melhor, pois observar é um olhar intencional. Além disso, na língua original o observar aqui é realizado com um propósito específico. Podemos traduzir assim: “qualquer que observar uma mulher com intenção impura”. O que o Senhor condena não são os pensamentos repentinos que entram na mente. Ele está lidando é com continuar observando com intenção impura, depois que um pensamento repentino entra. Em outras palavras, nossos pecados não residem na incitação da carne por Satanás dando-nos pensamentos sujos. Nossos pecados consistem no observar adicional, após Satanás ter-nos dado um pensamento repentino. Isso é adultério. Os pensamentos repentinos vêm de Satanás. O observar vem de você mesmo. Os pensamentos repentinos são tentações. O seu observar é a sua aceitação das tentações. Devemos saber como distinguir essas duas coisas.
O versículo 29 diz: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti”. Se o seu olho direito leva-o a observar, arranque-o e jogue-o fora. “Pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado na Geena”. Se a lascívia não for removida, se o pecado não for tratado, a pessoa será “lançada na Geena”. Em seguida o versículo 30 diz: “E se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros e não vá todo o teu corpo para a Geena”. O Senhor Jesus falou essas palavras aos discípulos. Cristo disse àqueles que Lhe pertenciam, cuja justiça deveria exceder à dos fariseus e escribas (v. 20), que eles tinham de tratar com seus pecados. Se permitissem que o pecado se desenvolvesse neles, embora não fossem perecer eternamente, havia a possibilidade de que fossem para a Geena. Isso é o que o Senhor nos mostra no livro de Mateus.

TEMER AQUELE QUE TEM AUTORIDADE PARA LANÇAR NA GEENA

Agora vejamos o que dizem outras passagens da Bíblia acerca desta questão. Lucas 12:1 diz: “Aglomerando-se, entrementes, as miríades da multidão, a ponto de se atropelarem uns aos outros, pôs-se Jesus a dizer primeiro aos Seus discípulos”. Ele não falou a todos, mas aos discípulos primeiramente. “Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”. A palavra do Senhor aqui prova que os discípulos não são os hipócritas; eles são o povo de Deus. A seguir, nos versículos 4 e 5, o Senhor disse: “Digo-vos, amigos Meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei Aquele que, depois de matar, tem autoridade para lançar na Geena”. A palavra de Deus é suficientemente clara. Ela nos diz, não uma vez, mas muitas vezes, que é possível um cristão ser “lançado na Geena”. Isso está dito claramente aqui. O Senhor disse aos discípulos para não temerem aqueles que matam o corpo, mas depois disso nada mais podem fazer. Eles não deveriam temer o que alguns poderiam fazer ao corpo deles, uma vez que isso é tudo o que conseguiriam fazer. No entanto, eles deveriam temer Aquele que pode lançá-los na Geena.
Os versículos seguintes também provam que aqui o Senhor está se referindo aos discípulos, isto é, aos cristãos. Os versículos 6 e 7 dizem: “Não se vendem cinco pardais por dois asses? E nenhum deles é esquecido diante de Deus. Mas até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais; mais valeis do que muitos pardais”. Apenas os cristãos são pardais. Os não-salvos não são pardais; eles são corvos. Em Mateus, os lírios do campo e também os pardais referem-se aos cristãos. Os pardais não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros (Mt 6:26). Isso se refere aos cristãos e não aos incrédulos. Aqui se diz claramente que é possível os “pardais” de Deus serem “lançados na Geena”. Note também que é dito que os cabelos dessas pessoas foram todos contados. Deus não teria tamanho cuidado com incrédulos. Portanto, o que se quer mostrar aqui é que os que pertencem ao Senhor não precisam temer o que possam fazer a seus corpos. O único a quem eles devem temer é Deus, pois Ele tem autoridade para lançá-los “na Geena”. Devemos temer a Deus que possui a autoridade para lidar com nossa alma, e não os que apenas podem matar nosso corpo.
Os dois versículos seguintes, 8 e 9, são muito preciosos. “Digo-vos ainda: Todo aquele que, em Mim, Me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem, nele, o confessará diante dos anjos de Deus; mas aquele que Me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus”. Os cristãos podem ser divididos em duas classes: os que confessam e os que não confessam o Seu nome. Alguns confessam Seu nome, enquanto outros não. Alguns estão preparados para ser perseguidos, enquanto outros não estão. Alguns só serão cristãos secretamente; são os que desejam a glória do homem. Outros confessam o Senhor abertamente e estão prontos a ser mártires. Portanto, vocês podem ver a quem o Senhor se refere nesses versículos de Lucas 12. Não devemos temer qualquer sofrimento que venha por confessar Seu nome. Se não confessamos o Seu nome, nosso pecado é mais sério que todos os outros pecados. Conseqüentemente, Ele não confessará nossos nomes diante dos anjos de Deus. Quando você considerar os versículos 1 a 9 como um todo, verá que o “lançar na Geena” no versículo 5 é equivalente ao Senhor não confessar o nome deles diante dos anjos no versículo 9. A confissão diante dos anjos pode ser ilustrada com um exemplo. Suponha que um jovem tenha feito algo errado e termine numa cadeia. Seus pais ou outros membros da família podem pagar a fiança e livrá-lo do problema. Mas suponha que o jovem seja realmente mau, e seus pais sintam que ele precisa de algum sofrimento. Como resultado, seus pais não pagam a fiança. O mesmo ocorre com os cristãos. A não ser que o Senhor confesse nossos nomes, seremos punidos.
Há uma palavra maravilhosa em Apocalipse 3:5: “O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos”. No início do reino, antes do trono de julgamento, os anjos de Deus levarão os cristãos até Deus. O livro da vida estará ali. No livro da vida estão registrados todos os nomes dos cristãos. Haverá muitos anjos e muitos cristãos. O Senhor Jesus também estará ali. Um ou mais anjos, então, lerão em voz alta os nomes do livro da vida, e o Senhor Jesus confessará alguns dos nomes. Aqueles cujos nomes Ele confessar, por conseguinte, entrarão no reino. Quando outros nomes forem lidos, o Senhor não dirá nada. Em outras palavras, Ele não confessará seus nomes. Os anjos, então, colocarão um sinal negativo nesses nomes. Portanto, os nomes dos vencedores estarão sem marca no livro da vida, enquanto os nomes dos derrotados estarão marcados. Quanto aos não-salvos, seus nomes nem sequer aparecem no livro da vida. Um grupo de pessoas não terá seus nomes no livro; outro grupo terá seus nomes ali, mas os nomes estarão marcados; e um terceiro grupo, à época do reino, terá seus nomes preservados tal qual quando inicialmente foram escritos no livro.
Se o seu nome estiver marcado no trono de julgamento, isso não significa que você estará acabado e não mais será salvo. Apocalipse 20:15 diz: “E, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago do fogo”. Isso nos mostra que aqueles cujos nomes não estiverem registrados no livro da vida estarão eternamente no lago do fogo. Aqueles cujos nomes não aparecerem no livro da vida serão lançados no lago do fogo. Isso ocorrerá no início do novo céu e nova terra. Não podemos dizer que os que são citados em Apocalipse 3 não têm seus nomes escritos no livro da vida. Podemos dizer apenas que seus nomes foram marcados. Por conseguinte, eles não serão lançados no lago do fogo, pois seus nomes já estão no livro da vida. A salvação eterna é muito segura; ela jamais pode ser abalada. Por outro lado, porém, há um perigo. Se formos tolerantes com o pecado, se não perdoarmos aos outros, se cometermos adultério, se insultarmos os irmãos, se temermos sofrer, ser envergonhados, perseguidos e se temermos confessar o Senhor, temos de ser cuidadosos, pois Deus nos lançará “na Geena” para sermos punidos temporariamente.

O DANO DA SEGUNDA MORTE

Na Bíblia existem outras passagens similares que também falam destas questões. Apocalipse 2:11 nos diz que os que vencerem não sofrerão o dano da segunda morte, e Apocalipse 20:6 diz que um grupo de pessoas não morrerá novamente e a segunda morte não terá autoridade sobre elas. A segunda morte é o lago de fogo citado no final de Apocalipse 20. Isso significa que os derrotados sofrerão o dano da segunda morte. Ainda que não sofram a segunda morte, irão sofrer o dano da segunda morte. Uma vez que uma pessoa seja salva, ela não sofrerá a segunda morte. Contudo isso não garante que ela não sofrerá o dano da segunda morte.
Sabemos que o tempo do lago do fogo e enxofre será o tempo no qual terá início o novo céu e nova terra. Naquela época, Satanás, o mundo e a morte serão todos lançados no lago do fogo (Ap 20:10, 14). Também naquele tempo quem não tiver seu nome registrado no livro da vida será lançado no lago do fogo. Aquele será o tempo em que os incrédulos serão oficialmente postos no lago do fogo. Entretanto, durante o milênio, os cristãos derrotados sofrerão o dano da segunda morte. Obviamente tal tratamento não será igual ao que os incrédulos terão, pois não será para a eternidade. Se um cristão estiver unido ao mundo e se ele amar o mundo e as coisas do mundo, o Senhor permitirá que ele participe da corrupção, para sofrer um pouco daquilo que os incrédulos sofrerão. Este é o significado de sofrer o dano da segunda morte em Apocalipse 2, e esta palavra é dita aos cristãos. A palavra “dano” na língua original significa machucar alguém e prejudicá-lo. A segunda morte causará sofrimento em alguns. A partir do grande trono branco, haverá a própria segunda morte, que é o sofrimento eterno no lago do fogo e enxofre. No milênio, porém, haverá somente o dano da segunda morte. Se alguns cristãos não tiverem lidado com seus pecados, eles ainda sofrerão o dano e a dor da segunda morte.

O FIM É SER QUEIMADO

Leiamos agora duas passagens do livro de Hebreus. Hebreus 6:4-6 diz: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento”. Esses versículos descrevem uma pessoa que possui muitas qualificações. É impossível que ela seja uma pessoa não-salva. Ela viu a luz, e viu o Deus revelado, o Unigênito do Pai; conheceu o amor de Deus e provou o dom celestial, o único dom, Jesus Cristo. Na Bíblia, dons, como um substantivo plural, refere-se aos dons do Espírito Santo, e dom, como um substantivo singular refere-se ao único dom, o unigênito Filho de Deus, como está em João 3:16. Esse dom é diferente dos dons do Espírito Santo. Essa pessoa não apenas tem Deus e o Senhor Jesus, mas também tornou-se participante do Espírito Santo. Ela conhece a Deus, provou do Senhor Jesus e tem o Espírito Santo vivendo dentro de si. Além disso, ela provou a boa palavra de Deus e os poderes da era vindoura. Os poderes da era vindoura são os poderes do reino milenar. Os dons e os poderes do Espírito Santo são particularmente abundantes no reino milenar. O reino milenar será repleto de obras de poder, milagres, maravilhas e outras coisas semelhantes. Dizer que alguém provou os poderes da era vindoura significa dizer que ele provou as coisas do reino milenar. Portanto, esta pessoa é definitivamente uma pessoa salva.
Se tal pessoa deixa hoje a palavra de Cristo, que ela recebeu quando creu, e escorrega e cai, não há arrependimento para ela. Ela não pode começar tudo de novo para crer no Senhor Jesus, pois já tem uma longa história com o Senhor. Ela recebeu muita chuva, porém caiu, não produz mais coisas boas para Deus, mas tem produzido cardos e abrolhos. Tal pessoa é como “a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela, e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada, recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada” (vs. 7-8).
Perceba três coisas acerca desta pessoa e seu fim. Primeira coisa, ela é “rejeitada”. A palavra “rejeitada” aqui é a mesma usada em 1 Coríntios 9:27, onde Paulo disse que temia que embora tivesse pregado o evangelho a outros, ele mesmo fosse desqualificado e não fosse mais usado por Deus nesta era e no reino. Ser rejeitado, ser desqualificado, significa que Deus rejeitará tal pessoa e não a usará mais no reino. Segunda coisa, esta pessoa “perto está da maldição”. O versículo não diz que ela receberá maldição, mas a punição que receberá é semelhante a uma maldição. Ela não perecerá eternamente, mas sofrerá o dano da segunda morte e padecerá a Geena de fogo no reino. Terceira coisa, “seu fim é ser queimada”. Que é isso? Por exemplo, há algumas semanas eu quis fazer uma queimada em algumas terras em Jen-ru. Poderia eu queimar a terra eternamente? Poderia queimar a terra pelo menos por cinco anos? O queimar aqui se refere a algo temporário.
Aqui se fala sobre queimar, enquanto Mateus 5 diz que alguns estarão sujeitos à Geena de fogo. Se você puser essas duas passagens juntas, elas se combinarão. Se um cristão recebe todas essas coisas maravilhosas, mas não produz bom fruto para Deus, e sim, cardos e abrolhos, ele será queimado. Entretanto, esse queimar será apenas por breve tempo. Até mesmo um aluno do primário sabe que se você atear fogo em um terreno, o fogo irá parar após todo o mato ser queimado. A queimada no reino durará no máximo mil anos. Quanto tempo vai durar a queimada, na verdade, dependerá de você. Se você tiver produzido muitos cardos e abrolhos, então haverá mais queima. Se tiver produzido poucos cardos e abrolhos, então haverá menos queima.
Quantas coisas há em nós que ainda não foram tratadas? Quantas coisas não foram limpas pelo sangue do Senhor, e quantas coisas ainda não foram confessadas, tratadas e resolvidas com os irmãos e as irmãs? São esses os cardos e abrolhos a que o Senhor se refere. Mateus 5 diz que ninguém poderá sair dali enquanto não pagar o último centavo. Toda dívida terá de ser paga. Quando tudo houver sido queimado, toda dívida terá sido paga.
Um cristão é semelhante a um campo, e seu comportamento indevido é comparado a cardos e abrolhos. Suponha que eu possua um terreno de cinco alqueires. Seria possível, depois da queimada, que somente dois alqueires tenham sido deixados intactos e três tenham sido queimados? Isso é impossível. O que é queimado são os cardos e abrolhos. O terreno em si não pode ser queimado. Em outras palavras, somente aquelas coisas que foram amaldiçoadas em Adão e deveriam ser removidas, mas não foram, é que serão queimadas. Elas serão o material que será queimado na Geena de fogo. A vida que Deus nos concedeu não pode ser tocada pelo fogo. Portanto, depois que os cardos e abrolhos forem queimados, o terreno ainda permanecerá. Nenhuma parte dele será tirada. Não há absolutamente nenhum problema com a nossa salvação, mas sim com o que vier a crescer sobre ela, com o que for proveniente da carne. Se tais coisas não forem tratadas com o sangue de Jesus, deveremos sofrer algum tratamento.
Agora vejamos Hebreus 10:26-29: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança”. Esses versículos referem-se a alguém que rejeitou a Cristo e voltou ao judaísmo. Ele acha que gastando alguns dólares pode comprar um touro ou um bode como oferta pelo pecado. Se, porém, alguém conheceu a Cristo e voltou ao judaísmo, ele calcou aos pés o Filho de Deus e considerou Seu sangue como algo comum. Ele está tratando o Senhor como um touro ou um bode. Para ele não existe diferença entre o Senhor e um touro ou um bode. O versículo conclui: “E ultrajou o Espírito da graça”. Enquanto o Espírito Santo está lhe dando graça, ele O está insultando por voltar ao judaísmo. Esses versículos nos mostram o caminho de um apóstata. Eu não diria que tal pessoa seja salva; somente diria que pode ser que ela seja salva; talvez nem seja salva. O apóstolo não nos diz se tal pessoa é salva ou não. Ele diz apenas que, se uma pessoa veio a Cristo e depois voltou ao judaísmo, ela sofrerá pior punição. Seu fim é uma expectação de juízo e fogo vingador. Aqui vemos uma espécie de fogo.
Juntamente com todas essas passagens, temos também as próprias palavras do Senhor em João 15. O versículo 2 diz: “Todo ramo em Mim que não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto Ele o limpa”. Esses não são ramos que nada têm que ver com Ele; são ramos que estão Nele. O que é mostrado aqui, pode não referir-se à punição temporária, mas à disciplina nesta era. Mas atente para o versículo 6: “Se alguém não permanece em Mim, é lançado fora, como o ramo, e seca; e os apanham, lançam no fogo, e são queimados”. Alguns ramos serão lançados no fogo e queimados. Alguns ramos cresceram e produziram folhas verdes, mas não têm fruto. Embora tenham vida interiormente, eles não têm fruto exteriormente. O Senhor Jesus disse que eles serão lançados fora, secarão, e queimarão no fogo. Aqui vemos claramente que os cristãos podem ter de passar pelo fogo.
Tendo lido todas essas passagens, podemos concluir que se um cristão não lidar adequadamente com seus pecados, haverá punição à sua espera. A Bíblia nos mostra nitidamente que tipo de punição será. Não será uma punição comum, mas a punição da “Geena de fogo”. Contudo será o fogo no reino, não o fogo na eternidade.
A questão agora é esta: Que tipo de pecado levará a essa condição? Desde que uma pessoa seja salva, é importante que ela lide com seus pecados. Nenhum dos pecados que ela tenha confessado, se arrependido, tratado e feito remissão pelo sangue do Senhor Jesus, voltará a ela no trono de julgamento. Tais pecados terão passado. Até mesmo o maior dos pecados terá passado. Mas existem muitos pecados que não serão omitidos; são os pecados que alguém contempla em seu coração. O Salmo 66:18 diz: “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido”. Quais são os pecados que o coração contempla? O coração é o lugar onde residem nosso amor e nossos desejos. O coração representa nossa emoção. Ele representa o homem psicológico. Se o coração contemplar a vaidade, o Senhor não nos ouvirá. Muitas confissões são feitas só porque a pessoa sabe que pecou, não há aversão pelo pecado, tampouco condenação do pecado. Tal pessoa o Senhor não ouvirá. Além disso, se temos com alguém um problema que não foi resolvido, ou se há coisas que precisam ser perdoadas e não foram, ou se procedemos mal com as pessoas ou com o Senhor, temos de tratar com estas coisas de modo específico. Ao mesmo tempo, temos de colocá-las debaixo do sangue do Senhor. Só então tais coisas estarão tratadas, e estaremos livres do julgamento vindouro.

RESUMO

Vamos agora resumir o que vimos. O futuro dos cristãos é muito simples. Para uma pessoa salva o assunto do novo céu e nova terra, incluindo toda a eternidade, está resolvido. No entanto, a era do reino é duvidosa. Ninguém ousa dizer algo sobre o que ocorrerá. O que temos de resolver hoje é o problema do reino. No reino há muitas posições de cristãos. Muitos reinarão com Cristo por ter trabalhado fielmente e por ter sofrido perseguição, vergonha e sofrimento. Alguns podem não ter sofrido perseguição, vergonha e sofrimento, contudo eles também não têm pecados. Eles viveram uma vida limpa. Apesar de não terem feito nada que mereça um mérito especial, eles pelo menos deram um copo de água para um pequenino por causa do nome do Senhor (Mt 10:42). Eles também receberão uma recompensa; entretanto, sua recompensa será bem pequena.
Na era do reino, alguns cristãos receberão recompensa no reino. Alguns receberão uma grande recompensa; outros receberão uma recompensa pequena.
Os que não receberão recompensa também estão divididos em algumas categorias. Um grupo não entrará no reino de modo algum. A Bíblia não nos diz para onde eles irão; diz apenas que serão mantidos fora do reino, nas trevas exteriores (Mt 8:12; 22:13; 25:30; Lc 13:28). Eles serão deixados fora da glória de Deus. Haverá também muitos que, além de não terem trabalhado bem, têm pecados específicos que ainda não foram tratados. Eles são salvos, mas ao morrer, ainda têm pecados com os quais não trataram e dos quais não se arrependeram; eles ainda têm o problema do pecado. Esses tais serão temporariamente submetidos ao fogo, e sairão somente depois de terem pago todo seu débito. Eu não sei, na verdade, de quanto tempo esse período será, mas durará no máximo até o final do reino.
Ainda há muitas coisas das quais não estamos esclarecidos acerca do futuro, mas a Bíblia mostrou-nos o suficiente. Embora haja detalhes que ainda não vimos, nós de fato sabemos o que os filhos de Deus enfrentarão. Alguns receberão uma recompensa; alguns experimentarão corrupção. Alguns serão aprisionados, e outros serão lançados no fogo e serão queimados.
A questão da nossa salvação está muito clara. Quando um homem crê no Senhor Jesus, tanto a salvação como a vida eterna estão determinadas para ele. Mas, da salvação até sua morte, as obras de uma pessoa, isto é, seus fracassos ou suas vitórias, determinarão seu destino no reino. Nosso Deus é um Deus justo. Por um lado, nossa salvação é livre, e os que crêem terão vida eterna. Ninguém pode contrariar esse fato. Por outro lado, não podemos pecar à vontade, simplesmente porque recebemos a vida eterna. Se produzirmos cardos e abrolhos, seremos queimados. Se o Senhor Jesus não pode desligar-nos de nossos pecados e se não resolvermos todas as coisas em nossa vida, Deus não terá escolha a não ser castigar-nos no futuro; Ele não terá escolha, senão purificar-nos com punições específicas, de maneira que possamos estar juntos com Ele no novo céu e nova terra. Deus é um Deus justo. O que Ele preparou também é justo. Desde que tenhamos visto estas coisas, devemos aprender a lição e acatar as advertências de Deus.

A ATITUDE ADEQUADA AO LER A BÍBLIA

Com relação à maneira de estudar a Bíblia, eu gostaria de mencionar algumas coisas. Primeiro, há um grupo de pessoas que acredita apenas na graça. Sempre que lêem alguma coisa sobre o reino na Bíblia, eles a aplicam aos judeus. Se ouvir seus sermões e ler seus livros, perceberá que, invariavelmente, eles empurram para os judeus tudo o que se refere ao reino. Tudo o que se refere à graça é para a igreja, e todas as coisas terríveis são para os judeus. Para eles, todas as coisas penosas e difíceis e as exigências são para os judeus, não para nós. Isso é tolice. A Palavra de Deus é para Seus filhos, quer sejam judeus quer sejam gentios. Alguns dizem que Paulo nunca disse especificamente que suas epístolas foram escritas a gentios e, portanto, elas não são para os gentios. Contudo, esse tipo de explanação nada explica e mutila a Palavra de Deus. Outros dizem que as porções das Escrituras citadas anteriormente referem-se somente aos incrédulos. Mas como pode existir distinção entre vencedores e não-vencedores dentre os pecadores? Isso é conversa tola. A Palavra de Deus nos mostra essas questões de forma clara e definida. Devemos comer aquilo que Deus nos tem dado, quer seja doce quer seja amargo. Quando as pessoas ouvem sobre graça, elas ficam alegres; quando ouvem sobre o reino, ficam tristes. A Palavra, porém, é equilibrada. Por um lado, vemos graça; por outro lado, vemos justiça.
Existe a fábula da águia e o gato. Certa vez um gato encontrou uma águia. A águia disse ao gato: “O céu é realmente vasto. Ele tem isso e aquilo. Você quer que eu o leve para o céu?” O gato disse: “Não, eu não tenho interesse em ir para lá”. Quando a águia perguntou por que não, o gato disse: “Não há camundongos no céu. Se houvesse camundongos lá, eu iria. Mas uma vez que não há, eu não irei”. O céu é tão santo; o pecado, o mundo e Satanás não estão ali. Se Deus levá-lo ao céu, você será capaz de viver ali? Se não mudarmos hoje, nós teremos de esperar até que sejamos dignos de entrar nele. É verdade que o Senhor Jesus nos salvou, mas subjetivamente falando, se não permitirmos que o Espírito Santo trabalhe o Senhor Jesus em nosso interior, Deus terá de nos castigar para que possamos receber benefício e ser considerados dignos de estar com Ele. Se apenas pregarmos a graça sem pregar o reino, a igreja sofrerá e os filhos de Deus sofrerão; e quando o reino vier, haverá sofrimento ainda maior. Eu devo falar, porquanto tenho o dever de falar.
Admito que depois do meu falar nestes poucos dias, alguns aumentarão sua oposição contra mim. Se estas palavras são minhas, estou disposto a vê-los se oporem. Eu mesmo me oporia a elas. Contudo, se estas coisas são a Palavra de Deus e se Deus as tem dito, que posso eu fazer? Como desejaria não ter de falar sobre essas coisas. Como desejaria poder pregar algo que todos gostassem de ouvir. Eu não sou Mateus, não sou Marcos, não sou Paulo. Não escrevi o livro de Hebreus, e não escrevi Apocalipse. Se eu fosse o escritor, poderia mudar as coisas. Mas essas coisas são a Palavra de Deus. Deus tem-nas falado e tem determinado que elas sejam assim. Meus amigos, ao ler a Bíblia, vocês têm de ler aquilo que Deus disse. Vocês não devem considerar aquilo que o homem diz. Vocês devem cuidar somente do que Deus disse.
A maior dificuldade hoje ao estudar a Bíblia reside no preconceito na mente dos filhos de Deus. Eles têm aquilo que consideram como verdade e aquilo que consideram como heresia. Eles acham que tudo o que combina com eles é verdade, e tudo o que não combina com eles e difere deles é heresia. Não obstante o quanto a base seja bíblica, qualquer pensamento ou conceito contrário ao deles é considerado heresia. Mas se alguém tem tal atitude, tal pessoa está acabada. O que está em questão hoje é aquilo que Deus disse.
Estou alegre em meu coração porque posso pregar a “heresia” da Palavra de Deus e posso opor-me à “verdade” do ensinamento do homem. Hoje temos de estar esclarecidos diante do Senhor. Não podemos estar sob nenhuma outra autoridade que não seja a Palavra de Deus. Não conheço nenhuma outra autoridade. Não sei o que é teologia; não sei o que é a palavra do homem; não sei o que é a tradição da igreja. Eu sei apenas o que a Bíblia diz, e somente o que ela diz é que interessa. Devemos sujeitar-nos somente a ela. Não podemos mudar a Palavra de Deus. A Palavra de Deus relata-nos o destino de Seus filhos. Ela nos conta o que experimentaremos no reino. Devemos prestar atenção a estas questões, pois cedo ou tarde nos depararemos com elas novamente. Se dermos atenção a elas, seremos cuidadosos na maneira de viver na terra hoje.
A segunda coisa que devemos perceber é que somente os que compreendem a verdade podem opor-se à heresia. Uma heresia não pode opor-se a outra heresia. Mas todas as heresias não são heresia pura; elas são a verdade acrescentada de um pequeno erro. Heresia é acrescentar coisas erradas a coisas certas. Adicione um pouco do pensamento do homem ao pensamento de Deus e você terá uma heresia.
Por não conhecer plenamente a verdade na Bíblia, o catolicismo prega a doutrina do purgatório. Se você não conhece a verdade que temos liberado nas últimas reuniões, você não será capaz de dizer se a doutrina do purgatório está certa ou errada. Agora que você ouviu essas palavras, perceberá que a doutrina do purgatório está absolutamente errada. Você pode dizer que é heresia. Na Bíblia vemos que a disciplina de Deus sobre os cristãos ocorre no milênio, mas os católicos dizem que há um purgar ocorrendo hoje. Eles dizem que se um cristão não viver à altura do padrão na terra hoje, ele não será capaz de ir para o céu. Por conseguinte, ele terá de ser purgado. Portanto, eles dizem que tão logo um cristão morra, ele começa a ser purgado e é purgado até que a obra seja completada. Entretanto, não existe absolutamente tal ensinamento na Bíblia. A Bíblia nunca diz que assim que um cristão morre, ele será purgado no Hades. A Bíblia nos mostra que haverá a disciplina no reino no futuro, mas não há o purgar no Hades hoje.
Em segundo lugar, os católicos cometem outro grave engano. Eles pensam que se assegurarem para si mesmos indulgências enquanto estiverem vivos ou se após morrerem os padres orarem por eles, eles serão aliviados de alguma purificação do purgatório. Contudo, a Bíblia nunca diz algo semelhante a isso. A Bíblia diz somente que aquele que tem misericórdia dos outros obterá misericórdia. A oração dos padres não fará nada pelos mortos. A Bíblia nunca nos ensina a orar pelos mortos.
Em terceiro lugar, os católicos dizem às pessoas que um homem não será salvo até que tenha sido completamente purificado no purgatório. Isso é uma completa reviravolta do ensino da Bíblia. A Bíblia nos mostra que não há outro nome no céu ou na terra além do nome do Senhor Jesus pelo qual devamos ser salvos (At 4:12). Somente Ele pode salvar-nos. Fora do Senhor Jesus, não há salvação. Disciplina e punição não são para salvação, mas para santificação. A questão da nossa salvação está determinada bem antes de Deus disciplinar-nos, mas ainda há coisas em nós que não combinam com Ele. Ainda existem imperfeições e áreas que não estão à altura do padrão. Portanto, existe disciplina nesta era e disciplina no reino vindouro.
Uma vez que uma pessoa esteja clara sobre a verdade bíblica, ela verá heresia no catolicismo romano. A Igreja Católica Romana toma uns poucos versículos e os utiliza para seu próprio proveito. No entanto, se conhecermos a verdade bíblica, perceberemos que a doutrina do purgatório anula a graça. Agradeço a Deus que, embora eu seja um pecador imundo, por meio do Senhor Jesus agora estou salvo. Quando eu morrer, não tenho mais de ser purgado, pois a salvação não depende de mim, mas do Senhor Jesus. Certamente estou salvo. Agora sabemos o que é disciplina. A disciplina é o meio de Deus fazer-nos perfeitos como Ele é perfeito. Ele nos castiga a fim de sermos como Ele, até mesmo para sermos o que Ele é. Isso nada tem a ver com nossa salvação. É um assunto dentro de Sua família.
Finalmente, somente depois de conhecermos isso seremos capazes de lidar com a heresia no protestantismo. Hoje, entre os protestantes, estão sendo difundidos dois tipos de erros. Primeiro, um grupo de teólogos protestantes propõe que desde que um homem é “salvo, salvo para sempre”, e pode fazer qualquer coisa em sua conduta. Uma vez que um cristão é salvo eternamente, eles dizem, ele pode ser mau até morrer e ainda estará no reino. Ele, entretanto, ocuparia uma posição bem inferior no reino. Sua maior perda consiste em ocupar uma posição mais baixa no reino. Esse tipo de ensinamento fará com que o homem seja desleixado e irresponsável. Então, que é graça para eles? Para eles a graça é uma desculpa para desleixo e licenciosidade.
Há outro grupo de protestantes que diz que depois que uma pessoa crê, ainda existe a possibilidade de ela não vir a ser salva. Talvez ela esteja salva e não-salva três ou quatro vezes ao dia. Se esse fosse o caso, o livro da vida seria sem dúvida muito confuso. Um irmão certa vez disse que se não estamos eternamente salvos assim que cremos, então o livro da vida seria extremamente volumoso. O meu nome sozinho poderia ser apagado e inserido muitas e muitas vezes. Se um homem é condenado tão logo peque e se vai para o inferno tão logo transgrida, devemos questionar se a salvação é pela graça ou pelas obras.
Ambos os grupos são extremistas demais, muito embora ambos tenham sua base bíblica. A Bíblia claramente nos mostra que quando um homem é salvo, ele está eternamente salvo. A Bíblia também nos revela com clareza que é possível um cristão ser “lançado na Geena” temporariamente. Mas o problema é que alguns irmãos, por um lado, insistem que a salvação é eterna e não há tal coisa de disciplina no reino, enquanto outros irmãos, por outro lado, insistem que se podemos ser “lançados na Geena”, então a vida eterna é incerta e, portanto, podemos ir para a perdição eterna. Contudo, se virmos a diferença entre a era do reino e a eternidade, e a diferença entre a punição temporária do milênio e a punição eterna, nós estaremos esclarecidos de que um cristão pode receber punição no futuro, mas ao mesmo tempo, Deus tem dado a vida eterna às Suas ovelhas, e elas jamais poderão perdê-la. Esse conhecimento dá-nos a ousadia de dizer que uma vez que fomos salvos, estamos eternamente salvos. Depois que uma pessoa é salva pela graça, ela jamais perecerá novamente. Dessa forma, nós não somente resolvemos adequadamente o problema do purgatório do catolicismo, como também fizemos uma clara distinção entre salvação eterna e disciplina. Que o Senhor nos conceda graça e nos mostre que a questão da salvação eterna está resolvida devido à obra de Jesus de Nazaré, mas a situação de alguém no reino é determinada pela própria pessoa.

Capítulo Vinte e Cinco

A maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos — Purificação E Confissão


Depois que uma pessoa crê no Senhor Jesus, todos os seus pecados passados são perdoados pela obra redentora do Senhor. Mas que deve ela fazer, se pecar novamente depois de crer e ter sido salva? Não é correto pecar, mas pecar é um fato que ocorre na vida. É uma vergonha um cristão pecar, mas também é um fato inegável que os cristãos pecam. Sabemos que não devemos falhar nem cometer erros. Mas devemos admitir que realmente temos momentos de fracasso e de fato cometemos erros. Então, que faremos com esses pecados? Para sermos mais específicos, o que Deus fará com esses pecados? Já mencionamos a punição temporária. Deus nos adverte que, se nos tornarmos apóstatas, seremos punidos no reino milenar. Mas se quisermos lidar com nossos pecados e ser purificados deles, que devemos fazer? Como podem nossos pecados ser lavados e perdoados? Embora em toda a Bíblia haja somente três ou quatro lugares que mencionam esse problema, eles nos proporcionam uma clara luz. A fim de sabermos como lidar com esse problema, tudo o que temos de fazer é ler essas poucas passagens.

UMA ÚNICA PURIFICAÇÃO POR MEIO DO SANGUE

Comecemos pelo princípio. Sabemos que quando o Senhor Jesus foi crucificado na cruz, Ele verteu Seu sangue para lavar todos os nossos pecados. Depois de lavar nossos pecados, Ele assentou-se à direita de Deus (Hb 1:3). Se, depois de sermos salvos e purificados de nossos pecados, nós pecarmos e nos corrompermos de novo, o sangue do Senhor Jesus lavará nossos pecados novamente? O homem pensa que se pecar, o sangue do Senhor Jesus terá de purificar os seus pecados novamente. Mas não há tal verdade na Bíblia. O sangue purifica os nossos pecados somente uma vez; nunca purifica duas vezes. Não há repurificação dos pecados do homem.
O livro de Hebreus mostra-nos claramente que há somente uma purificação de pecados. Hebreus 10:1-14 diz: “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados? Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que sangue de touros e bodes remova pecados. Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, corpo me formaste; não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade. Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”.
Vemos que o Senhor Jesus ofereceu a Si próprio uma vez como oferta pelo pecado por nossos pecados. Ele efetuou a redenção eterna uma vez por todas. Pela Sua obra única estamos eternamente aperfeiçoados. O versículo 2 mostra que os que foram purificados, não mais têm consciência dos pecados. Por isso, há somente uma oferta do Senhor Jesus. Não há uma segunda oferta. Se alguém rejeitar esta oferta pelo pecado, não haverá outra oferta pelo pecado para ele. Este é o motivo de o versículo 26 dizer que, se pecarmos deliberadamente, já não restam mais sacrifícios pelos pecados. Os pecados de um pecador são perdoados por meio da cruz de Cristo. Depois que um cristão é salvo, mesmo que ele peque, o Senhor Jesus não pode morrer por seus pecados novamente. A Sua realização passada consumou tudo eternamente. Tudo está incluído Nele.
Leiamos agora alguns versículos do capítulo 9. Os versículos 25, 26 e 28 dizem: “Nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado (...) assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”. Sua vinda pela segunda vez não terá nada que ver com seus pecados; antes, será para a salvação deles. Os versículos 12 a 14 dizem: “Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo!” O versículo 9, falando do primeiro tabernáculo, diz que ele é “uma alegoria para o tempo presente” (VRC). Nesse tabernáculo “se oferecem assim dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto”.
Lendo os capítulos 9 e 10 vemos que os sacrifícios do Antigo Testamento diferem do sacrifício do Novo. Se eu estivesse no Antigo Testamento e cometesse um pecado, haveria somente uma maneira de lidar com ele. Se eu tivesse bastante dinheiro, compraria um touro; se não tivesse o suficiente, compraria um bode e se não tivesse recursos para nenhum deles, compraria uma rola. Depois eu pediria a um sacerdote que ofertasse o sacrifício por mim para expiação do meu pecado. Quando visse o touro ou o bode, meu coração se alegraria, porque saberia que a oferta servira como substituto para minha punição. Por ser o sangue de touro ou bode semelhante ao meu, Deus me perdoaria. Eu iria para casa satisfeito e com júbilo no coração, e seria a pessoa mais feliz da terra, porque os meus pecados teriam sido perdoados; eu não teria mais meus pecados. As trevas em minha consciência seriam removidas, e eu não mais sofreria. Mas, dois dias depois, eu poderia começar a pensar: “E se não valer aquele sacrifício oferecido outro dia? E se o sacerdote não houver feito o serviço corretamente?” Por causa desses pensamentos, eu ficaria preocupado e sofreria novamente. Finalmente, eu decidiria comprar outro touro ou bode, levá-lo-ia ao sacerdote e diria a ele que a oferta de pecado do outro dia não fora bem feita, e pediria para refazer a oferta. O sacerdote, então, sacrificaria o touro ou o bode, e oferecê-lo-ia mais uma vez a Deus, e eu me certificaria de que o touro ou o bode havia sido oferecido pelos meus pecados.
No Antigo Testamento, quando a consciência incomodava, podia-se sempre trazer outro touro ou bode como oferta pelos pecados por intermédio do sacerdote. Isso é o que Hebreus 9 nos mostra. Ele diz que o sangue de touros e bode não faz uma obra completa. O capítulo 10 diz que, se uma obra completa tivesse sido feita, não haveria mais consciência de pecados. Deus considerava incompleta a obra de animais no tocante à consciência, porque cada vez que uma pessoa perdesse a paz em sua consciência, ela sentiria que seus pecados ainda não haviam sido plenamente tratados, e haveria necessidade de mais ofertas.
Entretanto, o apóstolo mostra-nos que um cristão não deve agir da mesma forma. O sacrifício propiciatório que Deus estabeleceu no Novo Testamento não é um touro ou um bode, mas o Seu próprio Filho. Quando Seu Filho veio à terra, Ele disse claramente que Deus não desejava touros e bodes nem se agradava deles. Em vez disso, Deus preparou um corpo para Ele, a fim de que Ele pudesse morrer para completar a obra da eterna redenção. O Senhor cumpriu na cruz o sacrifício pela redenção eterna. Agora podemos obter essa redenção eterna. Ele ofereceu um sacrifício pela redenção eterna, consumando assim a eterna redenção. Por causa desta redenção eterna, estamos eternamente aperfeiçoados. Ele é o Filho de Deus. Por causa de Sua obra eterna uma vez consumada, não precisamos mais fazer ofertas pelo pecado. Não mais podemos fazer oferta pelo pecado para o mesmo pecado, porque o Senhor Jesus consumou toda a obra.
O Filho de Deus não pode novamente ser crucificado pelos nossos pecados. Ninguém pode pisar o sangue do Filho de Deus e torná-lo algo comum. E se algo é o único do gênero, é precioso. Mas se houver duas coisas do mesmo gênero, elas são comuns. Tratar o sangue do Filho como algo comum significa considerá-lo igual ao sangue de touros e bodes. Mas se honrar Seu sangue e considerá-lo como algo único, ele lhe será precioso. A oferta pelo pecado, consumada por Ele, está aqui. Depois que o Senhor realizou Sua obra, Deus disse que não pode haver nenhuma outra obra. O Filho de Deus não pode morrer novamente. Sua obra está consumada. Se você a quiser, terá de crer Nele. Você não pode acrescentar nada a ela. Ou você depende Dele ou nada tem. Depois que alguém recebe a luz por meio da verdade, para ele não há mais sacrifício pelos pecados. Há somente uma oferta pelo pecado. Isso é o que pregamos. Aqueles que vêm adorar por meio desse único sacrifício terão sua consciência purificada; eles não mais terão consciência dos pecados. Todos os pecados deles foram lavados e eles não terão mais consciência dos pecados. Além disso, não há necessidade de outra purificação. A Bíblia nunca ensina a doutrina de uma segunda purificação. O sangue do Senhor Jesus não pode purificar-nos novamente. Uma vez purificados, estamos purificados para sempre.

RECEBER A PURIFICAÇÃO ININTERRUPTA DEPOIS DE CRER

A questão agora é esta: Que devemos fazer, se pecarmos novamente? Que faremos, se ficarmos imundos novamente? Todos os pecados que cometemos antes de sermos salvos foram lavados pelo sangue do Senhor Jesus. Mas, que fazer com os pecados que cometemos depois de salvos? Não queremos ser punidos. Não queremos perder o reino. Não queremos sofrer o dano da segunda morte. Que fazer diante de Deus? Consideremos 1 João 2:1: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis”. Um dos objetivos do cristão é não pecar. João escreveu-nos essas palavras para que não pecássemos. Segundo a posição, é possível um cristão não pecar. Infelizmente, segundo sua história real, ele peca com freqüência. Posicionalmente falando, não deveríamos pecar. Mas, falando da experiência, de fato pecamos com freqüência. Não há necessidade de pecar. O pecado, contudo, é um fato inabalável.
João continua: “Se, todavia, alguém pecar”. Aqui estamos tratando do problema de um cristão que peca. Ele é um pequenino de Deus; pertence ao Senhor. Se ele pecar, que deve fazer? “Temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. Não diz que temos Advogado junto a Deus; antes, é-nos dito que temos Advogado junto ao Pai. Portanto, esse versículo refere-se aos filhos de Deus. Refere-se aos que foram salvos. Se alguém entre os salvos, os filhos de Deus, pecar, ele tem um Advogado junto ao Pai. Isso não é um debate num tribunal de justiça, mas é um assunto de família.
A palavra advogado na língua original é paracletos. Para significa ao lado de; estar ao lado quer dizer que você está em algum lugar e outra pessoa também está ali. Você está em Xangai e essa pessoa ambém está em Xangai. Quando você vai para Cantão, ela também vai para Cantão. É semelhante aos trilhos de um trem. Você não pode ter um trilho em São Paulo e outro em Maceió. Cletos significa auxiliador. Um paracletos, portanto, é alguém que está ao lado, auxiliando. Você pode fugir, mas para onde quer que corra, o paracletos também estará lá. Os que ajudam são muito bons, mas muitas vezes eles chegam tarde demais. Pode haver bastante arroz no Sul, mas os famintos no Norte não poderão obtê-lo, porque o arroz não está ao lado. Os gregos usavam a palavra paracletos para referir-se ao advogado de defesa no tribunal. Suponha que você não entenda a lei, e alguns o acusem; eles podem processá-lo ou tirar vantagem de você, mas você não tem como defender-se. Agora há um paracletos para responder por você. As pessoas acusam-no de ter pecado. Mas o seu paracletos dirá que você não possui pecado. Ele o defenderá como um advogado de defesa. O significado aqui é ter alguém próximo de si para falar por você. Se um cristão pecar, há Alguém junto ao Pai falando por ele.
Satanás não desiste de fazer acusações contra os cristãos. Apocalipse 12:10 nos diz que ele acusa os irmãos dia e noite. Dia e noite somos os réus e ele é o acusador. Mas temos um Advogado que é Jesus, o Justo. Aqui diz que Ele é o Advogado; não o que tem a graça, mas o justo. Por que não diz que Ele é o que tem a graça? Porque no tribunal de justiça celestial não se fala a respeito da graça, da mesma forma que não se fala a respeito da graça nos tribunais terrenos. Qualquer juiz que queira perdoar aos outros é um juiz injusto. Somente os que são a favor da justiça podem ser juízes. Deus é a favor da justiça. Ele não perdoa nossos pecados injustamente. Ele não faz pouco caso de nossos pecados, não encobre nossos pecados, nem nos deixa passar despercebidos com nossos pecados. Pelo contrário, Ele julgou nossos pecados com justiça.
O Senhor não nos defende dizendo que a tentação foi muito forte, que, como criancinhas, não poderíamos lidar com ela, e, portanto, Deus tem de nos conceder graça. O Senhor Jesus não diz que os cristãos são pequenos demais, que o conhecimento deles é pequeno demais, que a carne é fraca demais e a atração do mundo é forte demais. Ele não diz que as artimanhas de Satanás são astutas demais e não há como rejeitar Satanás. Não é dessa maneira que o Senhor Jesus nos defende. Ele não apela para a graça, nem está ali como despenseiro da graça. João diz que Jesus Cristo é o justo. Ele diz a Deus que, por causa Dele e do que Ele fez, Deus tem de nos perdoar.
Como esse Advogado nos defende? É-nos dito no versículo seguinte: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2:2). O Senhor Jesus faz Sua defesa por nós baseado em Sua obra consumada, ou seja, em Sua propiciação na cruz por nós. Como resultado, podemos achegar-nos a Deus. Esse é um sacrifício propiciatório completo. Inclui todos os pecados de todos os cristãos no tempo e no espaço. Quando esse sacrifício propiciatório é mostrado a Deus, Ele não tem mais razão para punir os cristãos. O sacrifício propiciatório do Senhor não é apenas para os pecados do passado, mas também para todos os pecados do presente e do futuro. O verbo em 1 João 2:2 está no presente e não no pretérito. Deus não pode condenar-nos baseado nas acusações de Satanás, porque a obra redentora de Cristo, consumada na cruz, inclui todos os pecados de hoje e todos os que serão cometidos até o dia de Sua volta. Todos os nossos pecados foram incluídos em Sua obra. Deus tem de nos perdoar. Ele não pode agir de outra forma, porque esse perdão tem uma base.

O SENHOR JESUS COMO ADVOGADO DOS CRISTÃOS

A obra do Senhor Jesus como Salvador é para os pecadores. A obra do Senhor Jesus como Advogado é para os cristãos. Como Salvador, o Senhor Jesus consumou a obra da cruz. Como Advogado, o Senhor Jesus aplica a obra da cruz. Os pecados dos pecadores são perdoados por meio da redenção da cruz. Os pecados dos cristãos são perdoados por meio da defesa que é baseada na redenção da cruz. Essa defesa apresenta a obra da cruz a Deus. Ela mostra a Deus o que o Senhor Jesus fez, para que Ele não castigue o homem por seus pecados. Nós temos um Advogado diante de Deus. A morte do Senhor Jesus é a prova apresentada a Deus.
O Senhor Jesus tornou-se Advogado para todo cristão que peque, da mesma forma como se tornou Salvador para todo pecador. Não é que primeiro nos arrependemos, cremos, somos regenerados e depois o Senhor morre por nós; antes, foi enquanto ainda éramos pecadores que Cristo se tornou nosso Salvador (Rm 5:8). Da mesma forma, não é que primeiramente nos arrependemos, e depois Ele se torna nosso Advogado. Pelo contrário, mesmo enquanto estamos pecando, Ele se torna nosso Advogado. Não é que Ele se torna nosso Advogado quando confessamos nossos pecados diante de Deus; mas, mesmo enquanto estamos pecando, Ele se torna nosso Advogado. Essa é a razão de João dizer que, se algum homem pecar, temos um Advogado junto ao Pai. Ele não diz para primeiro nos arrepender, confessar os pecados e pedir perdão, para que, então, Ele se torne nosso Advogado diante de Deus. Em vez disso, João diz que, se alguém pecar, já temos Advogado junto ao Pai. Sempre que pecar, naquele momento o Senhor Jesus já é seu Advogado diante de Deus. Naquele exato momento, o Senhor Jesus mostrará a Deus Sua obra na cruz, e Deus terá de deixar passar nossos pecados. Um cristão pode confessar e arrepender-se, porque Jesus é seu Advogado. Por termos o Senhor Jesus como nosso Advogado, defendendo e falando por nós enquanto pecamos, nós, por fim, nos arrependemos, confessamos os nossos pecados e pedimos perdão. A obra de defesa do Senhor não acontece no momento em que nos arrependemos; antes, ela acontece enquanto estamos pecando. Quando pecamos, o Senhor Jesus já é nosso Advogado. Posteriormente somos levados ao arrependimento e à confissão. Ele cumpriu toda a obra em um dia e tudo está incluído naquela obra. Hoje, o Senhor pode apresentar essa obra a Deus. Deus não pode mais castigar-nos, porque todo o débito foi pago. Todos os débitos, passados e futuros, foram pagos. Todos os nossos pecados foram lavados pelo sangue de Jesus.

ANDAR NA LUZ COMO ELE ESTÁ NA LUZ

Ele é o Advogado. Mas, de nossa parte, que devemos fazer? Leiamos 1 João 1:7: “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Que significa estar na luz? O homem acha que estar sem pecado e ser santo é estar na luz. Mas não é este o significado aqui. João não diz que devemos andar na luz como Deus anda na luz. Não é dito aqui que Deus anda. Se assim fosse, o significado seria totalmente diferente. Diz aqui que devemos andar na luz como Ele está na luz.
Que significa essa diferença? Por exemplo, neste salão de reunião há muitas lâmpadas, mas nós as chamamos de luz. Estamos agora sentados na luz. Por outro lado, quase sempre, enquanto estamos reunidos, muitas pessoas sentam-se nas escadas junto à porta. Elas estão no escuro. Elas podem não ter pecado; podem não ter roubado os outros lá fora; talvez sejam até melhores e mais santas que nós. Mas os que estão sentados na luz conseguem ver, enquanto os que estão sentados no escuro não conseguem ver. Para Deus, estar na luz significa que Deus agora pode ser visto.
No Antigo Testamento, no Santo dos Santos, Deus estava no escuro e o homem não podia vê-Lo. No Lugar Santo havia uma lâmpada e no átrio exterior havia o sol, mas no Santo dos Santos não havia nenhuma luz. Deus, ali, era um Deus desconhecido. O homem podia somente fazer suposições sobre Ele. Mas graças ao Senhor, pois hoje Deus foi manifestado em Jesus de Nazaré. Deus agora está na luz; Ele não está mais na escuridão. Hoje, Deus é um Deus conhecido, um Deus revelado. Quando você vê Deus hoje, você sabe que Ele é Deus. O evangelho sobre Jesus de Nazaré é a revelação de Deus. O resplandecer da luz do evangelho é o resplendor de Deus. Quando a luz do evangelho resplandece, nós vemos Deus. Não estou dizendo que não devamos ser santos ou que não devamos rejeitar o pecado. Estou dizendo que esse versículo nos diz que por Deus estar na luz, devemos, portanto, andar na luz. Já que Deus se manifestou na luz do evangelho, por isso mesmo devemos ver Deus na luz do evangelho. Não mais buscamos a Deus no Antigo Testamento. Hoje Deus manifestou a Si mesmo. Se Ele não tivesse se manifestado, estaríamos sem esperança, desnorteados, sem saber que tipo de Deus Ele é. Ainda teríamos que fazer suposições sobre Ele. Graças a Deus que Ele foi manifestado. Hoje nosso Deus não é mais um Deus de “bastidores”. Ele agora está no “palco”, é o Deus revelado. A palavra revelação, em grego, é apocalypsis. Apo significa fora, e calypsis, significa véu. Assim apocalypsis significa tirar o véu. Eu costumava assistir apresentações teatrais. No palco havia sempre uma cortina grossa. Você não sabe o que está atrás da cortina. O apocalypsis é o abrir da cortina.
Hoje Deus está na luz. Ele é um Deus exposto. Que devemos fazer então? Devemos andar na luz. Isso significa que veremos Deus e conheceremos Deus na luz. Não conhecemos Deus por suposição como faziam os que viviam no Antigo Testamento. Hoje Deus tem falado. Não há mais necessidade de fazer suposições. Hoje Deus já está na luz. Ele já se revelou no evangelho. Se andarmos nessa revelação, o resultado é a comunhão. Haverá comunhão entre os cristãos e comunhão com Deus.
Desde que Deus e nós sejamos participantes no evangelho, o sangue de Seu Filho Jesus nos limpa de todo pecado. Se você verdadeiramente conhece a Deus no evangelho, verá que o sangue de Seu Filho Jesus está contínua e eternamente nos purificando de todo pecado (1 Jo 1:9). Na língua original, esse versículo nos diz que o sangue de Jesus, Seu Filho, está continuamente purificando-nos de todo pecado. A Bíblia jamais nos mostra que o sangue do Senhor Jesus faz uma segunda obra de purificação. Ela nos mostra que o sangue de Jesus purifica-nos o tempo todo. Não há múltiplas purificações. Há somente uma purificação contínua. A Bíblia nunca traz a idéia de múltiplas purificações. A verdade bíblica é a purificação contínua.
O sangue do Filho de Deus continuamente nos purificando de nossos pecados é a obra do Advogado. A obra da cruz é uma vez por todas. Mas a obra de Seu sangue e da purificação é contínua. A cruz lidou com os nossos pecados e purifica-nos de nossos pecados uma única vez. Contudo, ela é eficaz para sempre. Por que ela é eficaz para sempre e nos purifica continuamente? É porque o Filho está continuamente apresentando a Deus a obra consumada. Não é uma repurificação, mas uma demonstração contínua a Deus de que Ele já morreu e todos os pecados foram tratados. Hoje Ele está continuamente nos purificando de todos os nossos pecados. Todos os nossos pecados estão incluídos aqui. A eficácia de Seu sangue dura para sempre, porque o Senhor Jesus é nosso Advogado no céu continuamente. Sua obra como Advogado é uma continuação e extensão de Sua obra como Salvador. A obra do Salvador aconteceu somente uma vez, mas ela tem prosseguimento na obra do Advogado. Essa é a parte de Deus na obra.

O PERDÃO POR MEIO DA CONFISSÃO

Nunca devemos negligenciar a parte de Deus. Entretanto, nós também jamais devemos esquecer a nossa parte. É verdade que o Senhor Jesus está apresentando Seu sangue e Sua obra diante de Deus continuamente. Mas se pecarmos deliberada e continuadamente e sem arrependimento, repúdio ou disposição para lidar com os nossos pecados, a obra do sangue do Senhor perderá seu efeito e sua eficácia em nós. A obra da crucificação não é apenas para nós, mas também para o mundo inteiro. A obra do Senhor Jesus incluiu a todos. Mas essa obra do Senhor pode ser realizada somente naqueles que crêem Nele. A obra de defesa de Cristo em princípio é a mesma coisa; ela é contínua. Quer um cristão confesse e se arrependa de seus pecados, quer não, a obra de Cristo de purificação é continuamente eficaz. Mas como tal obra pode ser realizada nos cristãos é outra questão.
A Primeira Epístola de João (1:7) nos diz que um cristão tem seus pecados perdoados diante de Deus por causa da obra de Cristo. Por outro lado, o versículo 9 nos mostra o que devemos fazer de nossa parte. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. Em 1 João 2:1 é-nos dito que o Senhor Jesus é nosso Advogado, mas 1 João 1:9 nos diz que de nossa parte temos de confessar nossos pecados. Isso não significa que é a nossa confissão que nos concede o perdão. Se a confissão por si só pudesse obter perdão, o perdão seria injusto. Suponha que eu roube cem dólares de um irmão, vá a ele e confesse meu pecado. Se ele me perdoar por causa da confissão, ele seria justo? Se esse fosse o caso, eu roubaria outros cem dólares e confessaria novamente. Se a confissão sozinha pudesse conceder-nos perdão, essa seria a coisa mais injusta que existe. Se esse fosse o caso, nós não poderíamos dizer que Deus é fiel e justo. Teríamos que dizer que Deus é um Deus injusto e desleixado, que não leva em conta nossos pecados.
Por que João diz que Deus é justo para perdoar? Porque o Senhor Jesus se tornou nosso Advogado. Seu sangue purificou-nos de todos os nossos pecados. Nossos pecados foram julgados e condenados em Cristo. Portanto, quando confessamos nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar. Se eu tivesse roubado dinheiro de um irmão e alguém o tivesse devolvido por mim, então a confissão, certamente me traria perdão. Sem o sangue do Filho de Deus, o perdão de Deus seria injusto. O sangue do Filho de Deus foi derramado. O Filho de Deus tornou-se o Advogado diante de Deus. Deus agora tem de nos perdoar. Se não perdoar, Ele será injusto. Hoje quando confesso meus pecados, Deus é fiel e justo para me perdoar os pecados. A Palavra de Deus nos diz que o Senhor Jesus morreu. Deus tem de ser fiel à Sua própria Palavra. Ele também tem de ser justo com relação à obra do Senhor Jesus. É por essa razão que Ele tem de perdoar nossos pecados e nos purificar de toda injustiça.
O perdão de nossos pecados por Deus está totalmente baseado no sangue do Senhor Jesus. Os pecados dos pecadores são perdoados por meio do sangue do Senhor. Os pecados dos cristãos também são perdoados por intermédio do sangue do Senhor Jesus. Por ser o Senhor Jesus o Salvador, Deus pode perdoar os pecados dos pecadores. E por ser o Senhor Jesus o Advogado, Deus pode perdoar os pecados dos cristãos. Pelo fato de o Senhor Jesus ser tanto o Advogado quanto o Salvador é que Seu sangue nos concede perdão de nossos pecados e justificação.

CONFISSÃO

Então, que é confissão? O apóstolo não disse que confissão é orar para que Deus perdoe os nossos pecados. Muitas orações e súplicas a Deus por perdão não são confissões. Tampouco disse o apóstolo que confissão é apenas falar algo com a nossa boca. O que o apóstolo disse foi que temos de reconhecer o pecado e tratá-lo como pecado. Confissão significa colocarmo-nos no mesmo lugar que Deus está, admitindo diante de Deus que o que fizemos é, sem dúvida, um pecado. No momento em que você confessar o seu pecado, você será perdoado. Confessar não é suplicar por perdão. O perdão é tarefa do Senhor Jesus. O que você deve fazer é julgar o pecado como pecado. Você deve julgá-lo, reconhecê-lo e confessar que ele é errado. Você tem de tomar o pecado como pecado e tratá-lo como pecado. O que você deve confessar diante de Deus é que um pecado é, sem dúvida, um pecado. Se você confessar, Deus é fiel e justo para perdoar todos os seus pecados e injustiças. Assim como um pecador recebe o perdão de pecados por meio da obra do Senhor Jesus, um cristão recebe da parte de Deus o perdão dos pecados, por intermédio da obra de Cristo e por julgar seu pecado como pecado. Resumindo: confissão é nossa declaração de que alguma coisa é pecado, porque Deus diz que isso é pecado. Por exemplo, suponha que o filho de um irmão saia à rua para brincar com algumas crianças más. Por ele adquirir linguagem suja e fazer travessuras, o irmão reúne as crianças que levaram seu filho a fazer essas coisas e diz a elas que estão erradas e não devem mais brincar com seu filho. Ele também diz ao seu filho para não mais brincar com elas. A criança diz que ela quer confessar que está errada e pede perdão. Mas, embora ela diga isso com sua boca, em seu coração ela está pensando em uma forma de fugir pela porta dos fundos e brincar novamente. Ela não se posiciona junto com seu pai. A questão aqui não é o perdão, mas se reconhecemos ou não algo como pecado.
Confissão significa que tudo o que Deus considera como pecado, eu também considero como pecado. Significa que eu digo a mesma coisa que Deus disse. Se Deus diz que isso está errado, eu também digo que está errado. A confissão é o nosso reconhecimento e declaração do pecado. Quando você confessa, Deus perdoa seus pecados e o purifica de toda injustiça. Ele não está perdoando você por causa de sua confissão; Ele o está perdoando por causa da obra do Senhor Jesus. Seu sangue é a base de tudo nesta questão. Mas por meio da confissão, o sangue produz o perdão. A salvação é pelo sangue por meio da fé. Mas o perdão é pelo sangue por intermédio da confissão. É como se dissesse que a água da torneira vem pelo depósito de água através dos encanamentos. Da mesma forma, o perdão vem pelo sangue por meio da confissão.

A FIGURA DA NOVILHA VERMELHA NO ANTIGO TESTAMENTO

Há um tipo de purificação no Antigo Testamento que é um tipo do perdão dos cristãos no Novo Testamento. As palavras em 1 João 1 e 2 estão tipificadas no Antigo Testamento. Leiamos aquela que pode ser considerada como a única parte no Antigo Testamento que trata com o perdão dos pecados dos cristãos.
Números 19:1-13 diz: “Disse mais o Senhor a Moisés e a Arão: Esta é uma prescrição da lei que o Senhor ordenou, dizendo: Dize aos filhos de Israel que vos tragam uma novilha vermelha, perfeita, sem defeito, que não tenha ainda levado jugo. Entregá-la-eis a Eleazar, o sacerdote; este a tirará para fora do arraial, e será imolada diante dele. Eleazar, o sacerdote, tomará do sangue com o dedo e dele espargirá para a frente da tenda da congregação sete vezes. À vista dele será queimada a novilha; o couro, a carne, o sangue e o excremento, tudo se queimará. E o sacerdote, tomando pau de cedro, hissopo, e estofo carmesim, os lançará no meio do fogo que queima a novilha. Então, o sacerdote lavará as vestes, e banhará o seu corpo em água, e, depois entrará no arraial, e imundo será até à tarde. Também o que a queimou lavará as suas vestes com água, e em água banhará o seu corpo, e imundo será até à tarde. Um homem limpo ajuntará a cinza da novilha, e a depositará fora do arraial, num lugar limpo, e será ela guardada para a congregação dos filhos de Israel para a água purificadora; é oferta pelo pecado. O que apanhou a cinza da novilha, lavará as vestes, e será imundo até à tarde: isto será por estatuto perpétuo aos filhos de Israel e ao estrangeiro que habita no meio deles. Aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, imundo será sete dias. Ao terceiro dia e ao sétimo dia, se purificará com esta água, e será limpo; mas, se ao terceiro dia e ao sétimo não se purificar, não será limpo. Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar, contamina o tabernáculo do Senhor; essa pessoa será eliminada de Israel; porque a água purificadora não foi espargida sobre ele, imundo será: está nele ainda a sua imundícia”.
Em Números 19 um sacrifício é descrito. Esse sacrifício é único no Antigo Testamento. O livro de Números não é um livro sobre ofertas. O livro sobre ofertas é Levítico. Mas esse sacrifício não é mencionado em Levítico, e sim, em Números. Sabemos que o cordeiro pascal foi morto no Egito. Isso tipifica a morte do Senhor Jesus pelos nossos pecados. No monte Sinai, Deus mostrou-nos novamente o que é o cordeiro pascal. As cinco ofertas em Levítico são o cordeiro pascal examinado e partido. Elas nos mostram os diferentes aspectos do Senhor Jesus e como Ele satisfaz as exigências de Deus ao redimir os pecados do homem. Todas elas são para os pecadores e foram citadas no monte Sinai. O livro de Números, entretanto, é um livro sobre o deserto; é a história dos filhos de Israel, vagueando no deserto de Parã, onde os filhos de Israel viviam como peregrinos. Eles eram uma nação, peregrinando no mundo. Ali, Deus lhes deu outro sacrifício, que é o sacrifício da novilha vermelha.
Todas as ofertas são para Deus, e assim sendo o sangue delas devia ser vertido. Este é o único sacrifício cujo sangue é primeiramente espargido diretamente diante do tabernáculo, e em seguida queimado. A maioria das ofertas é composta de touros e bodes, mas apenas este sacrifício é uma novilha, uma fêmea. A maioria dos sacrifícios não tem especificação de cor. Mas este sacrifício tem de ser de uma cor específica; ele deve ser uma novilha vermelha. A maioria dos sacrifícios é oferecida no altar; somente este sacrifício é queimado fora do arraial. Outros sacrifícios são para o perdão de pecados; todavia, a segunda metade deste sacrifício é para purificação. As cinco ofertas de Levítico descrevem o cordeiro pascal. Elas são preparadas para os pecadores. É por isso que elas estão registradas em Êxodo e Levítico. Esse sacrifício, entretanto, é preparado para o povo de Deus. Essa é a razão de estar registrado em Números. É um sacrifício para a experiência do povo de Deus no caminho do deserto. Os outros sacrifícios são para pecado. Somente este sacrifício é para a impureza no deserto. Os outros sacrifícios são de animais machos; este sacrifício é de fêmea. Tudo o que está relacionado com os pecadores é macho, e tudo o que está relacionado com o povo de Deus é fêmea (Dt 21:3-9). Levítico 5:6 diz que uma cabra pode ser oferecida como oferta pela transgressão. A oferta pela transgressão não é apenas para pecadores, mas freqüentemente é para cristãos. Não é como a oferta pelo pecado, que é estritamente para pecadores. A oferta pela transgressão é tanto para pecadores como para cristãos. Quando alguma coisa é oferecida pelo povo de Deus, pode ser fêmea. Essa é a ordenança no Antigo Testamento.
Esse sacrifício, embora lide com as ofensas do homem para com Deus, é, na verdade, oferecido pelos cristãos. A cor vermelha significa redenção diante de Deus. Esse sacrifício não é oferecido no altar, porque não é por pecadores; um pecador tem de passar pelo altar antes de poder vir a Deus. Esse sacrifício é queimado fora do arraial, que é o lugar onde o povo de Deus está. Por isso, o arraial é um tipo da igreja. Estar fora do arraial é ser cortado da comunhão. Entretanto, se você está cortado da comunhão, há um sacrifício esperando por você. Esse sacrifício é para tratar com os pecados dos cristãos. É para a restauração da comunhão.
Vamos agora considerar o sacrifício em si. Esse sacrifício é composto de duas partes. Na primeira parte, o sangue do sacrifício é oferecido; na segunda, o sacrifício é queimado. A primeira parte começa na segunda metade de Números 19:2: “Dize aos filhos de Israel que te tragam uma novilha vermelha sem defeito, que não tenha mancha, e sobre a qual não se tenha posto jugo” (IBB - Rev.). Todos os que conhecem a Bíblia sabem que isso se refere ao Senhor Jesus. Hebreus 10 indica que essa novilha vermelha refere-se ao Senhor Jesus. Quais são as qualificações do Senhor Jesus para tornar-se esse sacrifício? Números 19:2 diz que esse sacrifício devia ser sem mancha e sem defeito, e que não tivesse levado jugo. O ser sem mancha e sem defeito refere-se à Sua vida. Nunca ter estado sob jugo refere-se à Sua obra. Quanto à Sua vida, Ele é sem mancha; quanto à obra, Ele nunca esteve sob jugo. Com relação à Sua vida e pessoa, o Senhor é sem mancha e sem defeito. Não somente é sem mancha, mas também em Sua experiência Ele é puro, isto é, Ele nunca esteve sob jugo. Ele é um homem puro, e tem uma experiência pura. Muitas pessoas não têm mancha, mas têm estado sob jugo. Em Sua experiência, contudo, o Senhor nunca foi subjugado. Ele nunca tocou as coisas pecaminosas, e nunca foi oprimido ou dominado pelo pecado. Ele nunca foi induzido a pecar. Ele era completamente livre do jugo. Hoje, não podemos dizer o mesmo de nós, pois não somos pessoas livres. Temos sido oprimidos e dominados pelo pecado, temos sido induzidos pelo pecado e não somos senhores de nós mesmos. O Senhor Jesus não tem defeito. Somente o Senhor Jesus nunca esteve sob o jugo de pecado.
Isto é a novilha, a vitela, indicando que esse sacrifício foi oferecido pelos cristãos. Ela é vermelha. Isso significa que ela é oferecida pela redenção de pecado. Na Bíblia, o vermelho indica a redenção de pecado. Toda vez que a Bíblia menciona o escarlate ou o vermelho, isso significa pecado. A mulher em Apocalipse 18 monta um animal escarlate e usa uma vestidura escarlate, os quais se referem aos seus pecados.
Números 19:4 diz-nos o que acontece depois que a novilha é imolada. “Eleazar, o sacerdote, tomará do sangue com o dedo e dele espargirá para a frente da tenda da congregação sete vezes”. O sacerdote não fazia muitas coisas; ele somente espargia um pouco de sangue diante de Deus, no tabernáculo. Isso nos indica que a morte do Senhor Jesus satisfez as exigências de Deus. O sangue não era espargido nos filhos de Israel, mas diretamente diante da tenda da congregação. O tabernáculo é o lugar onde Deus se encontrava com os israelitas; ele é um tipo da comunhão entre Deus e o homem. Onde o tabernáculo de Deus está, aí Deus também está. Cristo é o tabernáculo; Ele é Deus vivendo entre os homens. Ele está cheio da graça e da verdade de Deus. Ele tabernaculou entre nós (Jo 1:14). Isso é a comunhão. Como podemos ter comunhão? Deve haver o sangue, ou seja, o pecado deve ser julgado. Se não houver sangue, o homem não poderá achegar-se a Deus.
Há somente duas maneiras de o homem achegar-se a Deus. Ou ele vem sem pecado, ou ele vem com o sangue. Se estiver sem pecado, você pode ir a Deus com passos corajosos, pois Ele nada pode fazer a você. Mas se você tiver pecado, deve haver o derramamento de sangue (Hb 9:22), porque Deus deve julgar o pecado. Se o pecado não for julgado, o homem não pode ter comunhão com Deus. Deus não pode ignorar os pecados do homem. Deus não pode deixar passar os pecados do homem. Se o homem tiver pecado, ele deve ir a Deus com o sangue. Deus é um Deus que julga. Sem passar pelo julgamento, o pecado não pode ser removido. O julgamento exige o sangue, portanto, deve haver o derramamento de sangue antes que a comunhão seja restaurada. O sangue foi espargido sete vezes; sete significa perfeição. A morte do Senhor Jesus satisfez a Deus; Seu sangue é suficiente para lavar os nossos pecados. Aqui, todos os problemas são completamente resolvidos; as justas exigências de Deus são satisfeitas. Deus disse que a obra está consumada. E tal obra é a obra do Senhor Jesus na cruz. Ela foi realizada uma única vez e está consumada para sempre. Não há necessidade de outra novilha vermelha. A morte de uma novilha vermelha é suficiente. Na primeira parte desta oferta vemos que a aspersão do sangue significa que o problema do pecado está resolvido. Esta parte da oferta é igual a todas as outras ofertas no Antigo Testamento. Todas elas são o cordeiro pascal.
Agora temos de considerar a segunda parte da oferta, a qual nos mostra o que deve ser feito com relação aos pecados dos cristãos. Números 19:5 diz: “À vista dele será queimada a novilha”. Esse sacrifício é único, porque a novilha não era simplesmente queimada, mas “o couro, a carne, o sangue e o excremento, tudo se queimará. E o sacerdote, tomando pau de cedro, hissopo, e estofo carmesim, os lançará no meio do fogo que queima a novilha”. Deus julgou o pecado. Pouco depois de o sangue ser espargido, o resto do sangue era despejado no fogo. Então, a novilha inteira também era lançada no fogo. O sacerdote queimava a novilha inteira — couro, carne, sangue, excremento, tudo. Além disso, pau de cedro, hissopo e estofo carmesim eram todos lançados no meio da fogueira. No versículo 9 é-nos dito o que acontecia depois que a novilha era queimada: “Um homem limpo ajuntará a cinza da novilha, e a depositará fora do arraial, num lugar limpo, e será ela guardada para a congregação dos filhos de Israel, para a água purificadora: é oferta pelo pecado”. Depois que a novilha era imolada, o sangue era aplicado. Mas depois que a novilha era queimada e tornava-se cinzas, as cinzas deviam ser aplicadas.
Que são cinzas? Cinzas são o estado final de tudo no mundo. Não estou me referindo às evidências da química, mas à nossa experiência diária. As cinzas são o último estado de todas as coisas. Se uma mesa passar seguidas vezes pela destruição, seu último estado será cinzas. Portanto, as cinzas representam o estado final. Quando alguma coisa chega ao seu fim máximo e não pode ser transformada em nada mais; ela é cinzas.
Tudo da novilha é queimado. Note particularmente aqui o sangue. Nessas cinzas estão o couro, a carne e o sangue. Isso significa que nessas cinzas estão a redenção de Cristo e a eterna eficácia de Sua redenção. Cristo é eternamente eficaz diante de Deus. Ele tornou-se as cinzas. O derramamento de Seu sangue é eternamente eficaz. Até mesmo o sangue tornou-se cinzas. A obra de redenção está consumada. A novilha vermelha retrata a obra redentora do Senhor, e essa obra agora tornou-se cinzas.
Há três outras coisas adicionadas à oferta: o pau de cedro, o hissopo e o estofo carmesim. Na Bíblia, quando o pau de cedro e o hissopo são colocados juntos denota todo o universo criado. O primeiro livro dos Reis 4:33 diz que Salomão tinha grande sabedoria; ele discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro até ao hissopo; ele foi do alfa ao ômega. Ele esgotou todo o assunto. A Bíblia usa o cedro e o hissopo para representar o mundo todo. O cedro e o hissopo colocados no fogo indicam que, quando o Senhor Jesus foi julgado pelo pecado, Ele não somente foi queimado, mas todos nós também fomos. Deus julgou todos os homens na pessoa de Jesus de Nazaré. Quando o fogo passou sobre Ele, você e eu, o pau de cedro e o hissopo, tudo passou através do mesmo fogo. Tudo no mundo, seja grande ou pequeno, doce ou amargo, rico ou pobre, foi colocado sobre Ele e julgado por Deus. Aqui, o estofo carmesim também foi colocado no fogo. Isaías 1:18 diz que os nossos pecados são vermelhos como o carmesim. Por isso, carmesim significa pecado. Deus não somente nos julgou, como também julgou os nossos pecados; todos os pecados foram incluídos no Senhor Jesus. Quando Ele foi julgado por Deus, os pecados também o foram. Todos os problemas relacionados com o pecado também foram julgados. Portanto, o pau de cedro, o hissopo e o carmesim serem lançados ao fogo indicam que o mundo inteiro e todos os pecados do mundo conjuntamente passaram pelo fogo com o Senhor Jesus e tornaram-se cinzas. As cinzas incluem toda a obra do Senhor. Elas também incluem a nós e nossos pecados. Essas cinzas são eternamente eficazes. Portanto, essa obra tem uma eficácia que satisfaz todas as exigências de Deus perante Ele. Essas cinzas foram mantidas fora do arraial, num lugar limpo.
Números 19:11 em diante diz-nos sobre a função das cinzas. “Aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, imundo será sete dias. Ao terceiro dia e ao sétimo dia se purificará com esta água”. O versículo 9 diz-nos sobre essa água purificadora. “Um homem limpo ajuntará a cinza da novilha, e a depositará fora do arraial, num lugar limpo, e será ela guardada para a congregação dos filhos de Israel, para a água purificadora; é oferta pelo pecado”. A purificação aqui se refere à purificação por tocar num cadáver. Por que o fato de tocar num cadáver é considerado impuro? Porque a morte é a evidência do pecado. Sem pecado não haveria morte. Portanto, onde a morte estiver, o pecado também estará. Um cadáver indica que o pecado realizou sua obra. O resultado da obra do pecado é a morte. Por essa razão, o Antigo Testamento usa a lepra como um símbolo de pecado curável e um cadáver como um símbolo de pecado incurável. Quando um homem está morto em pecado e transgressões e está, portanto, morto em sua carne, ele é um cadáver. O Senhor Jesus fala sobre esses mortos. Ele nos disse para deixarmos os mortos enterrarem os mortos (Mt 8:22). Se você tocar nesses mortos, se tiver relacionamento com o mundo, se fizer amizade com ele e viver no meio dele, você estará tocando cadáveres. Se tocar em cadáveres, você certamente será contaminado, ficará manchado com impurezas. Quando os cristãos pecam e fracassam contatando o mundo, as cinzas são necessárias.
As cinzas são a obra da cruz. Elas são colocadas em água viva (Nm 19:17 - IBB - Rev.), e tornam-se a água purificadora. A água viva tipifica o Espírito Santo. Certa vez, enquanto os filhos de Israel viajavam, eles feriram a rocha, e dela saiu água (Êx 17:6). A Primeira Epístola aos Coríntios 10:4 diz que a rocha era Cristo. Portanto, a água corrente refere-se ao que flui de Cristo, que é o Espírito Santo. Tomar água e fazer dela a água purificadora significa que há necessidade de que o Espírito esteja sobre nós. Sem a obra do Espírito Santo, a obra do Senhor Jesus será em vão. Se houver somente as cinzas da novilha vermelha, sem água viva, elas não serão muito úteis. Juntamente com a obra do Senhor Jesus, ainda há a necessidade do Espírito Santo. Seremos purificados e lavados somente pela união dos dois. O Senhor Jesus não tem de morrer novamente. Para nossa purificação simplesmente aplicamos a eficácia da obra única do Senhor. As cinzas da novilha vermelha representam a eficácia eterna e imutável da obra do Senhor na cruz. É esta eficácia que está nos purificando. Por causa da morte do Senhor Jesus, a eficácia de Suas cinzas tornou-se eterna, e por meio do Espírito Santo Ele agora está aplicando essa eficácia a nós.
Toda vez que pecamos, não precisamos novamente trazer um touro a Deus. A eficácia da obra do Senhor há dois mil anos continua até hoje. Por meio destas cinzas somos purificados.
Que acontece se um homem não for purificado? Números 19:12 diz: “Ao terceiro dia o mesmo se purificará com aquela água [a água purificadora], e ao sétimo dia se tornará limpo: mas, se ao terceiro dia não se purificar, não se tornará limpo ao sétimo dia” (IBB - Rev.). Por que tal pessoa fica impura até ao sétimo dia? O homem purifica-se ao terceiro dia, mas não fica puro até ao sétimo dia. Ele não fica puro até ao sétimo dia, porque a meta é o sétimo dia, não o terceiro. O terceiro dia é o dia da ressurreição do Senhor Jesus. Depois que o Senhor ressuscitou, Ele nos deu a palavra do perdão de pecado. Então, que é o sétimo dia? Na Bíblia, o sétimo dia é o sábado. Hebreus 4:9 nos diz que há outro sábado. É o grande e universal sábado que ocorrerá no milênio. Isso significa que, se uma pessoa não for purificada na era da ressurreição do Senhor, ela não será limpa na era do reino. Se ela for purificada hoje, estará limpa ao sétimo dia, a era do reino. O terceiro dia é para o sétimo dia. O problema é com o sétimo dia. A eternidade foi estabelecida. O fato de sermos filhos de Deus nesta era também foi estabelecido. Todas as outras questões foram estabelecidas. O único problema hoje é se estaremos puros no reino.
No final desta parte, Números 19:13 diz: “Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar, contamina o tabernáculo do Senhor”. Que é o tabernáculo do Senhor? O tabernáculo do Senhor, hoje, não é um salão de reuniões nem alguma capela; é o nosso corpo. Se um homem destruir o seu corpo, Deus o destruirá (1 Co 3:17). Se um homem contaminar o seu corpo, Deus dirá: “Essa pessoa será eliminada de Israel” (Nm 19:13b). Tal pessoa será eliminada de Israel. Não diz que ela será eliminada do Egito, mas de Israel. Isso significa que na época em que os filhos de Deus reinarem no milênio, essa pessoa será mantida fora. Se uma pessoa não for purificada hoje, ela será mantida fora do reino no futuro.
Em seguida lemos: “Porque a água purificadora não foi espargida sobre ele, imundo será: está nele ainda a sua imundícia”. Todos os pecados não confessados e todos os pecados que não passaram pelo sangue do Senhor Jesus deixam suas imundícias na pessoa. Essa imundícia levará tal pessoa a perder sua parte no reino vindouro. Por outro lado, aqueles que tiverem sido limpos pela água purificadora estarão puros no reino. Deixe-me dizer-lhe uma coisa: Nenhum pecado de que se tenha arrependido, confessado e posto debaixo do sangue do Senhor Jesus, e sobre o qual as cinzas tenham sido aplicadas, poderá manifestar-se no trono de julgamento. A água purificadora é capaz de remover as impurezas, porque o poder do sangue está nela. É o poder da redenção nessa água que a capacita a remover a impureza. Todo pecado que não tiver a eficácia da redenção do Senhor aplicada a ele, deixará a pessoa impura até ao “sétimo dia”. Portanto, não deixe que seus pecados permaneçam em você. As impurezas devem ser removidas com as cinzas do Senhor Jesus. Agradeço ao Senhor que o Filho de Deus não precisa mais morrer por mim. Por Suas cinzas estou purificado. Contudo, é tolice, e também é perigoso, permitir que qualquer impureza permaneça.

Capítulo Vinte e Seis

A maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos — LAVAR-OS-PÉS


AS CINZAS DA NOVILHA VERMELHA NO ANTIGO TESTAMENTO

Em Números 19, Deus nos mostra que se alguém tocar num cadáver fica imundo e precisa purificar-se com as cinzas de uma novilha vermelha. Para se usar as cinzas deve-se colocá-las em água corrente (Nm 19:17). Se alguém tiver qualquer impureza, a água com as cinzas pode ser espargida sobre ele, e ele ficará limpo. A obra de Cristo está completa. Não é necessário Cristo ser crucificado novamente. Nossa necessidade atual é aplicar as cinzas a nós, ou seja, é aplicar a nós a eficácia da obra de Cristo. A maneira de aplicá-la é misturá-la com o Espírito Santo. Somente a obra do Espírito Santo pode transferir-nos a eficácia da obra de Cristo.
Portanto, a questão hoje não é a obra do Senhor Jesus. A questão hoje é a obra do Espírito Santo. Não há dúvidas sobre o fato de que o Senhor morreu por nós. A dúvida é se essa obra tem produzido ou não algum efeito em nós, se o Espírito Santo tem aplicado ou não a obra do Senhor Jesus a nós. Ao confessarmos nossos pecados, o Espírito Santo aplica a nós a obra da redenção do Senhor. Ele nos fará lembrar do Senhor e perceber como Sua obra é completa. O Espírito Santo faz-nos recordar em nosso coração a obra redentora do Senhor. Ele nos faz lembrar e entrar nessa verdade. Por isso nosso coração tem paz e alegria. O Espírito Santo vem e aplica a obra das cinzas, isto é, a eterna obra do Senhor Jesus, a nós. O Senhor cumpriu toda a obra. Não há necessidade de pedir nada nem de fazer nada. Agora, quando confessamos nossos pecados, o Espírito Santo vem e faz-nos considerar essa verdade, para que recebamos os benefícios da redenção do Senhor.

O LAVAR-OS-PÉS NO NOVO TESTAMENTO

Não somente o Antigo Testamento nos mostra a purificação por meio da morte do Senhor Jesus, mas o próprio Senhor Jesus, no Novo Testamento, também fez algo para mostrar-nos a mesma coisa. João 13 mostra-nos um quadro do que um cristão deve fazer quando peca. João 13:1 diz: “Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Após essa palavra, o Senhor Jesus fez algo que mostra não apenas o Seu amor, mas o Seu amor ao extremo. João 13 é diferente de João 3. João 3 é sobre o amor inicial de Deus. João 13 refere-se ao amor de Deus no ápice. Uma vez que Deus ama a Seus filhos, Ele os ama ao extremo.
João 13:3 a 10 diz: “Jesus, sabendo que o Pai tudo entregara nas Suas mãos, e que Ele saíra de Deus e ia para Deus, levantou-se da ceia, tirou as vestes de cima e, tomando uma toalha, cingiu-Se. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Chegou, então, Simão Pedro. Este Lhe disse: Senhor, Tu me lavas os pés? Respondeu-lhe Jesus: O que Eu faço, tu não o sabes agora, mas compreendê-lo-ás depois. Disse-Lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se Eu não te lavar, não tens parte Comigo. Simão Pedro Lhe disse: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça. Declarou-lhe Jesus: Quem já se banhou não tem necessidade de lavar senão os pés, mas está todo limpo”.
O lavar-os-pés possui dois significados na Bíblia. Jesus lavando os pés aos discípulos tem um significado, e os discípulos lavando os pés uns aos outros tem outro significado. Lavar os pés uns aos outros é restaurar uns aos outros e reavivar uns aos outros. Jesus lavar os pés aos discípulos possui outro significado.
Todos nós temos sapatos e meias; portanto, lavar os pés não é algo tão necessário para nós. Contudo, alguns de nós vêm de países do sudeste asiático. Ali, o lavar-os-pés é necessário, porque muitos usam só sandálias; eles não usam meias. Os judeus eram como os asiáticos do sudeste; eles calçavam sandálias e não usavam meias. Freqüentemente andavam por regiões desertas e seus pés estavam sempre sujos. Seus pés não apenas se sujavam quando viajavam, mas às vezes sujavam-se ao caminhar pela casa logo após o banho. Mesmo que o corpo já estivesse limpo, os pés ainda precisavam ser lavados para que eles ficassem de fato completamente limpos.
Que deseja o Senhor Jesus mostrar-nos nesse quadro? O versículo 10 diz: “Declarou-lhes Jesus: Quem já se banhou não tem necessidade de lavar senão os pés, mas está todo limpo”. Quem são os que já se banharam? Ananias disse a Paulo que se levantasse, recebesse o batismo e lavasse os seus pecados (At 22:16). Lavar-se, na Bíblia, significa a limpeza total dos pecados de uma pessoa, quando ela crê no Senhor Jesus. No início desse livro vimos o sacrifício e a queima da novilha. O sacrifício é para nossa redenção, e o queimar é para nossa purificação. Hoje, também temos de considerar estes dois tipos de purificação: um deles é o lavar-os-pés; o outro é o banhar-se. Há dois lados na obra do Senhor: o imolar e o queimar; e ao aplicarmos os efeitos dessa obra em nós, também há dois lados: o lavar-os-pés e o banhar-se. Ele nos lavou com Seu próprio sangue. A obra de redenção foi cumprida uma vez por todas. Quando cremos Nele e O recebemos, somos lavados na poça de Seu sangue e ficamos totalmente limpos. Graças ao Senhor que todos tomamos esse banho. Todos os nossos pecados foram lavados pelo Senhor Jesus. Mas agora que cremos no Senhor e fomos lavados, enquanto estamos em nossa jornada pelo deserto, não podemos evitar o contato com o mundo. Não conseguimos evitar certas impurezas. Em nossa jornada no deserto, espontaneamente entramos em contato com o mundo, e espontaneamente o pó da terra suja nossos pés.

BANHAR-SE E LAVAR OS PÉS

Apesar de nós, os cristãos, sermos banhados somente uma vez, a Bíblia nos mostra que lavar os pés ocorre muitas vezes. Há somente um banho, mas há muitos lavar-os-pés. É semelhante à purificação: Há somente uma purificação pelo sangue, mas há muitas purificações pela água das cinzas. O cumprimento da redenção de Cristo ocorreu somente uma vez. No entanto, há muitas aplicações que o Espírito Santo faz a nós desta obra consumada. Somos banhados somente uma vez, e todos os nossos pecados são lavados. Mas requer-se muitos lavar-os-pés para limpar toda a sujeira que se acumula na jornada pelo deserto. Somente um banho é necessário. Contudo, o lavar-os-pés é uma tarefa diária diante do Senhor. O lavar-os-pés ocorre por meio da Palavra de Deus, através da obra do Espírito Santo, tendo por base a obra do Senhor Jesus. Se fomos limpos uma vez pelo Seu sangue, devemos também continuar a ser lavados por ele diariamente. O Senhor Jesus não precisa vir e realizar outra obra. Somos limpos continuamente tendo como base aquela única obra. Não são as cinzas que estão nos limpando, mas a água das cinzas. As cinzas da novilha vermelha são o sinal do nosso julgamento.
Deus não substituiu nosso julgamento pelo do Senhor Jesus. Pelo contrário, Ele nos julgou em Cristo Jesus. Hoje as pessoas acham que o Senhor Jesus morreu no lugar do homem; mas na verdade, nós morremos no Senhor Jesus e com Ele. Em outras palavras, somos julgados em Cristo. Somente isso nos purifica. Minha purificação diária está baseada na morte do Senhor Jesus.
Sabemos que já nos banhamos, isto é, nossos pecados foram purificados. Uma vez salvos, estamos salvos eternamente. Todos os problemas estão resolvidos. Então, que devemos fazer quando tocamos coisas imundas, enquanto vivemos na terra e contatamos o mundo todos os dias? Nem todos podemos ser como o ladrão na cruz que, depois de limpo pelo sangue, foi direto ao paraíso sem que seus pés tocassem a terra. A maioria das pessoas não é salva em seu leito de morte. A maioria ainda tem de seguir jornada pelo deserto. E cada um de nós sabe que nessa jornada não deveríamos pecar. Contudo, pecar é um fato que ocorre com todos nós. Como resultado, nossos pés ficam sujos. Muitas vezes somos precipitados e falamos coisas que não deveríamos falar. Muitas vezes temos pensamentos impróprios. Portanto admitimos que fomos contaminados. No entanto, Deus preparou-nos o lavar-os-pés do Senhor Jesus. Isso não é apenas um sinal do Seu amor por nós, mas é um sinal do Seu amor ao máximo. Ele nos amou; por isso, Ele foi crucificado por nós. Agora Ele nos ama ao máximo; por isso, Ele lava os nossos pés. Falando de modo figurado, o lavar-os-pés não é o amor antes do casamento. O lavar-os-pés é o amor após o casamento. O Senhor nos faz estar continuamente limpos diante Dele. Essa é a razão de o Senhor ter dito que quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais está todo limpo. Agradecemos ao Senhor, pois Seu Filho já nos deu um banho.
O Senhor permitiu que a insensatez de Pedro fosse manifestada como uma lição para nós. Quando Ele se aproximou de Pedro, este lhe disse: “Senhor, Tu me lavas os pés?” Pedro achava que aquilo era uma questão de educação e cortesia. O Senhor lhe disse que o que Ele fazia Pedro não entenderia no momento, mas compreenderia depois. Há muita verdade espiritual aqui. Quando o Espírito Santo vem, nós enxergamos. Agora não temos clareza. Tudo o que vemos é uma bacia de água e o lavar do Senhor. Não vemos o que significam. No futuro, entretanto, compreenderemos. Mas Pedro sempre tinha suas opiniões. Ele exclamou que o Senhor jamais lavaria seus pés. O Senhor lhe disse que o lavar-os-pés era muito importante. Se o Senhor não lavasse os pés de Pedro naquela noite, ele não teria parte com Ele.
Não pense que seja suficiente tomar um banho uma vez e ser purificado pelo sangue do Senhor uma vez. Não pense que podemos continuar vivendo relaxadamente, quando somos contaminados pela sujeira em nosso caminho pelo mundo. O Senhor disse que, se nossos pés não forem lavados, não teremos parte com Ele. Isso significa que hoje Sua comunhão conosco terminaria, e Sua comunhão conosco no reino vindouro também estaria perdida. Quão importante é a limpeza diária! Devemos permitir que o Senhor lave nossos pés todos os dias. Temos de nos voltar ao Senhor cada dia, para ser restaurados e receber a aplicação do poder da redenção de Cristo. Não precisamos do sangue do Senhor Jesus para lavar-nos novamente diante de Deus. A obra do Senhor perante Deus já foi finalizada uma vez por todas. Contudo, podemos experimentar o lavar muitas vezes. O sangue de Seu Filho lava nossos pecados seguidas vezes, continuamente. Portanto, repetidamente nossos pés devem ser lavados todos os dias. Temos de zelar pela limpeza de nossos pés todos os dias.
Pedro era como nós somos. Ele sempre ia aos extremos. Primeiro ele foi a um extremo, e em seguida foi ao outro extremo. Num instante ele disse que o Senhor jamais lavaria seus pés. Então, ao ouvir o Senhor dizer que ele não teria parte com Ele, se não tivesse os pés lavados, ele pediu que sua cabeça e suas mãos também fossem lavadas. O Senhor Jesus mostrou-lhe que o outro extremo também está errado. O Senhor disse que quem se banhou não necessita lavar senão os pés. Ninguém pode arrepender-se e crer no Senhor duas vezes. Ninguém pode ser regenerado duas vezes. Ninguém pode receber o Salvador duas vezes. Desde que você venha ao Senhor Jesus e O aceite como Salvador, isso é suficiente. Talvez você duvide por alguns dias. Talvez você ache que ao aceitá-Lo como Salvador, não o fez direito, e talvez comece a ter dúvidas depois de alguns dias; você quer aceitá-Lo novamente. Mas o Senhor disse que não há necessidade disso. A cabeça não precisa ser lavada outra vez, tampouco as mãos. O Senhor Jesus disse que os que já se banharam precisam apenas lavar os pés para estar totalmente limpos. Precisamos de apenas um banho para o corpo todo. Apesar de tocarmos o mundo e sujar nossos pés freqüentemente, isso não afeta a limpeza de nosso corpo inteiro. A necessidade é de apenas um banho para o corpo todo. O banho não precisa ser repetido. Aleluia! Mesmo que ande na lama e seus pés fiquem imundos, isso não prejudicará a limpeza de todo o corpo. Seu corpo não precisa ser limpo novamente. Desde que tenha recebido o Senhor Jesus como Salvador, seu corpo está limpo. A partir de então, você não precisa lavar seu corpo de novo. Quando uma pessoa é limpa uma vez, ela está limpa eternamente. Ninguém pode negar isso. Ela pode sujar os pés e ser cortada da comunhão do Senhor. Ela pode não ter parte no reino, mas todo o seu corpo ainda está limpo. Todos os que são banhados precisam lavar somente os pés, e estarão totalmente limpos. O que estamos fazendo dia após dia é relembrar do nosso Salvador. O Senhor Jesus completou uma obra eterna. Dia após dia, enquanto vivemos na terra, só precisamos manter nossos pés limpos e livres da sujeira. Se por acaso ficarmos sujos, ainda poderemos receber um lavar diário, a fim de podermos desfrutar uma comunhão ininterrupta com o Senhor hoje e reinar com Ele amanhã. Esse é o nosso caminho. Que o Senhor mantenha nossos pés limpos dia após dia, para que glorifiquemos Seu nome aqui na terra.

F I M


Transforme-se em personagens engraçados e coloque no Messenger. Clique e veja como.

Quer usar o Messenger sem precisar instalar nada? Veja como usar o Messenger Web.

Transforme-se em personagens engraçados e coloque no Messenger. Clique e veja como.